terça-feira, 31 de agosto de 2010

Desce o pano!

Ao longo de minha carreira jornalística, tive a oportunidade de elaborar três matérias sobre suicídio, essa tragédia silenciosa que assola o Rio Grande do Sul, o estado líder no rankig do autoextermínio no Brasil. E dentre as regiões gaúcha, o Vale do Taquari desponta com destaque nessa negra estatística. O número de pessoas que cometem assassinato contra sí, aumentou em 23 por cento de 2008 para 2009. Ano passado, 63 pessoas decidiram pelo gesto final e deixaram suas famílias estarrecidas. Optaram pelo último ato, puxaram o pano (como se diz no teatro) para sair do palco da vida. O que choca a sociedade é o índice de jovens que interrompem o futuro. Decepam as esperanças e num impulso defintivo, viram algoz de si mesmos.
Uma das reportagens mais emblemáticas e a qual pairou muito tempo na minha cabeça foi escrita por Eliane Brum em 2009 na revista Época. Ela retrata a história de um garoto que foi estimulado ao suicidio e auxiliado por pessoas anônimas da internet. Sua morte, foi assistida por internautas de diferentes cantos do mundo, que diziam: "Sim, mate-se". Sua morte foi executada por ele mesmo pelo metodo barbecue. Colocou grelhas queimando no banheiro, para morrer por inalação de monóxido de carbono. Elas estavam em chamas, uma ao lado da outra, enquanto ele morria assim, assistido pelo mundo virtual. Em dado momento, o menino suicida escreve: "Ah, meu Deus. Eu não consigo suportar o calor. Está tremendamente quente no banheiro. O que eu devo vestir para se tornar mais suportável? O que eu devo fazer para desmaiar, por Deus?"
Alguém o orientou a retirar as roupas e encharcá-las para aguentar até desmaiar. Muito tempo depois, outro internauta escreve: "Acho que funcionou, já que ele não entrou mais em contato."
Não foi a primeira vez que ele tentou se matar. Mas foi a primeira vez que havia vozes torcendo para ele morrer. Dizendo como ele podia morrer. E desta vez ele morreu.
No mundo todo, adolescentes são incentivados a morrer pela internet. No Japão, os suicídios ligados à rede aumentaram 70%. O crime de instigação ao suicídio é previsto no artigo 122 do Código Penal Brasileiro. A pena é de 2 a 6 anos de prisão, dobrada se a vítima for menor de 18 anos. Essa é uma das faces de quem escolhe a morte como subterfúgio. Uma matéria retratada com detalhes pela repórter da Época que serve de alerta para deixar vigilantes as autoridades e os profissionais ligados a saúde. O assunto é pesado, as estatísticas são sinistras, mas é preciso começar a falar do assunto e deixar de lado o tabu que envolve o tema.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

A menina que matou os sonhos

Indicada por um colega, leio uma matéria fantástica que saiu na Zero Hora neste final de semana. Com um texto desenhado em palavras e frases indefectíveis, Ricardo Stefanelli, diretor de redação da ZH relata o reencontro com Tatiane, uma ex-interna da Febem que fora notícia ha 18 anos sob a manchete: "As crianças que ninguém quer". Tatiane morava na ala que era considerada o "ferro velho" da instituição, porque estas eram crianças rejeitadas por serem mais velhas ou negras. Stefanelli revolveu a história e foi buscar sua velha amiga, que na época, de tanta atenção que queria, enroscava-se em suas pernas. Hoje, mulher feita, 25 anos, com um marido e nos planos, um filho para o futuro, Tatiane é protagonista de uma nova versão da sua vida: com sonhos e esperanças que se concretizaram. A menina de tiara que sorria se transformou em uma jovem esposa de largo sorriso, cuja trajetória foi salva por uma adoção: um ato de afeto da professora Rosemari Faleiro.
Esse preâmbulo todo foi para me referir ao título da reportagem recente: A menina que sorria. Tatiane conseguiu vencer a rejeição e descartar os vestígos de um passado não venturoso. Emerge com planos que vão ser costurados a dois, quem sabe a três, quando o filho que ainda não está no ventre nascer.
Eu me comparei. Vi que tive muito mais do que ela. Vi que tenho muito menos. Me sinto roubada. Sequestraram meus sonhos. Por Deus, ou eu os matei. Todos. Não sobrou um para contar história. Não tenho desejo de fazer família. Adormeci a ideia de cativar um namorado. Não me atiça o gosto por subir degraus no meu trabalho. Não me assanha nenhum tipo de desejo. Sou uma mulher ausente e autômata. Liguei o piloto automático e vou sobrevivendo. Mas, como esclarece Osho, sobrevivência não é vida.
Talvez meus sonhos estejam sepultados nos porões da mente. Talvez trezentas sessões de psicanálise os façam vir à tona. Não sei como vai acabar a minha história. Uma trajetória insossa, mas um caminho que é o meu. Pelos céus, eu queria que esse meu caminho valesse ao menos um bom sonho, com perspectiva de realização.

domingo, 15 de agosto de 2010

Os passeios de Babe


Uma pesquisa revela que passear com o cão diminui o estresse. O simples hábito desencadeia sensações profundas de alegria e calma nas pessoas. É a ciência jogando a favor dos animais. Mas o que a ciência diria de uma porquinha que anda de peiteira, passeia pela rua fuçando o barro e a relva e reclama se o dono não a leva a dar uma voltinhas?Tais peripécias suínas estão bem pertinho, no Bairro Conventos. Fui lá fazer a matéria, e Babe, a porquinha, apesar de mansa com o dono, não queria trela comigo. Ficou histérica ao perceber que eu queria fotografá-la. Os oincs-oincs dela foram a 40 decibéis (to chutando).

O verdureiro AdelinoSchmitz (49) fez uma peiteira: amarra uma corda de náilon grossa no pescoço e atrás das pernas dianteiras . Depois de se certificar que ela não vai fugir, a orienta pela estrada de chão batido, à vista dos vizinhos. É uma graça. Motoristas que passam pelo local, esticam o olho. Os mais animados tiram o tempo para fotografar. O dono não diz, mas se percebe o orgulho por tal façanha: domesticar um suíno.
O nome da porquinha – que de pequena não tem nada, pois pesa 80 quilos – foi inspirada no filme “Babe, o porquinho atrapalhado”, produção australiana de 1995. “Ela é bem limpinha, dou banho de mangueira”, conta Schmitz.Babe é tratada com ração e resto de alimento. Na fase adulta deverá atingir os 300 quilos. Os passeios acontecem próximo ao meio-dia. A porca, que não é burra, segue faceira perambulando pela via. Parece ter nascido para a vida canina.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Queremos sapos!

A vida é assim. A mulher engravida, fica sabendo que é menina, prepara o quarto com fitinha mimosa e sonha quão feliz será sua filhinha. Aí a Laura nasce. Paparicos, princesa prá cá, princesa prá lá. Os pais dando vazão ao tradicional dilema de que se existe princesa, há de se ter um príncipe. Um cavalheiro, gente fina, boa praça. Sõ não salva do dragão porque os bichos mais perigosos estão confinados no zoológico. Mão hão de tirá-la da solidão e do duro estigma, depois dos 30 de tiazona.

Então crescemos com esse paradigma. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. O príncipe sempre está lá. Firme e forte, para salvá-la, como tem de ser um final feliz. Dormimos com isso na caxola.

A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu.

Na adolescência, cheia de ruge e batom, permeia seus sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejam a cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end.

Ao entrar prá faculdade percebe que as coisas não são bem assim. Uma olhada no jornal - da região mesmo - e a constatação: o censo diz que há 1390 mulheres a mais no Vale do Taquari. Outros tantos - não detectados no levantamento porque isso seria discriminação, segundo o IBGE - de hermafroditas, homossexuais.

Bom, é preciso campear um príncipe com isso que está aí. Então ela arregaça as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.

Ele também já não está muito disposto a esperar você entrar em casa para arrancar o carro e mostrar com quantos cavalos de aço se faz um cara bom de braço.

Você vai dormir com a sensação de um soco no estômago e com a comida que você pagou ainda entalada na garganta. Lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do clã da Távola Redonda. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado na tela do cinema. Quem não tem Sir Lancelote, caça com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...

Mesmo que seu príncipe nem seja corajoso para erguer uma lança, mas estóico o suficiente para atrelar sua mão à dela durante uma passeadinha no shopping...

Bravo o suficiente para chamarem-na de princesa em frente a seus iguais

Heróis o bastante para assumirem um único compromisso. Não estamos enclausuradas na torre do Castelo, não queremos o enfado de uma vida regrada e virginal sem emoções ou paixões..não queremos compaixões

Queremos sim um principe real. Mesmo que ele seja boy, metaleiro, pedreiro, padeiro, empresário, repórter ou picareta de carros. E para ser príncipe, não é preciso muito. Para nos salvar da boca do dragão, basta nos dar amor e afeto exclusivos. Queremos sentir-nos as princesas únicas. Será que é pedir de mais de um homem?

Então, por favor Deus, dai-nos sapos. Pelo menos assim a gente sabe como transformá-los em principes. Basta um simples ósculo. Um apenas.

Sim, porque com os homens de hoje, a gente beija, beija e não dá nada!

* Crônica escrita em 2003

domingo, 8 de agosto de 2010

Penso com os dedos

Imagine caro amigo virtual, que eu tenho uma bizarra mania (sim, no meu caso é bizarra e explico o motivo). Me apeguei ao costume de escrever no papel, todos os meus textos, todinhos, eu rabisco em um bloco para só depois digitar no computador. Em qualquer outra circunstância, e não sendo jornalista este hábito não seria considerado esquisito, mas como repórter de jornal impresso, eis uma tarefa hercúlea.É muito trabalho. Enquanto escuto o tec tec do teclado dos meus colegas, eu - só eu - faço as matérias no bloquinho. Um colega ri, o outro se exaspera e diz que nunca viu disso. Argumenta que minha teimosia dá retrabalho. Sim, concordo. Depois que coloco o ponto final no bloquinho, lá vou eu começar a escrever no computador.
Veja só: ttenho 17 anos de profissão e nunca senti essa necessidade de manuscrever.Mas há um ano este hábito parece encravado em mim. Já tentei sentar na cadeira e digitar direto, parece que a inspiração não vem. Quando empunho a caneta, o texto flui e as palavras voam sem dificuldade da minha cachola. Eu penso com os dedos!!Que paradoxo estou vivendo. Em pleno século 21, uma mulher da net como "jo" (tenho Orkut, Facebook, Twitter, Badoo, Blog e 3 MSN) sou forçada por meu cérebro a posar com uma atitude jurássica em meu ambiente de trabalho. Sou a que mais gasta canetas e blocos dentro da redação. Consumo um tubo de tinta em três dias. E ai vem outro problema. Como adoro canetas e não aceito escrever com qualquer Bic, tenho de me virar e procurar aquelas com as quais eu me afino. Geralmente, a farmácia é a vítima. Quando lá vou comprar meus remedinhos, lanço mão de algumas bem bonitinhas (canetas de laboratório são mui formosas, pode ir por mim). Pena que elas terminam logo em minhas mãos. Só consigo colecionar caneta vazia. Humpf.
Estou a fim de dar mais um tempo nesse lance de matérias manuscritas e depois passar para a fase moderna, mesmo que meu cérebro não queira. Vou insistir com fórceps para que ele chegue junto e seja páreo para a massa cinzenta de meus colegas. Sabe o que é misterioso, caro leitor, é que escrevi esse post todinho no computador. Meu cérebro é enigmático.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Felicidade perdida

Há uma semana, a morte me expulsou da vida e fez cadeira cativa em mim. Tentei voar mas sem asas, cai no mais entranhado precipício. Fui querer bordejar pelo leme do amor e me ferrei na mais profunda concepção da palavra. Tudo o que esteve neste blog, o que eu disse sobre alegria, sobre felicidade vai ficar. Pensei em retirar os posts, mas não, irão permanecer como prova do que eu posso sentir e do que podem fazer comigo. Hoje mais do que nunca acredito na lei do carma. Andei relembrando e vendo que muitas vezes não cuidei do bem estar das pessoas. O Dalai Lama sempre diz: não menospreze jamais o bem-estar de alguém. E quantas vezes fiz o contrário. Pois a lei do retorno veio e me deixou abatida e amargurada, mortificada. Espero que eu aprenda a lição e a lição é de que tenho de me fortificar espiritualmente. Preciso ser completa para dividir a atenção com alguém. Sabe, hoje eu queria algumas respostas. Eu fico horas na cama inquirindo: Por que? Por que? Por que? “Olhe, você não reparou até agora, não desconfiou que tudo que você pergunta não tem resposta?"
Nos meus cenário verdejantes a felicidade seria plena. Mas não adianta, a duras penas que a gente aprende que ela nunca está fora, ela está dentro, mas a gente quer tentar, talvez porque domar o interior dá mais trabalho, dai a gente coloca a salvação em alguém. Só que esse alguém nunca salva, a melhor coisa dos heróis é que eles são seres humanos, buscando a felicidade igual a nós e também não querem sofrer. Todo mundo anseia a mesma condição (felicidade), uns porém, conseguem com mais facilidade, talvez por terem aprendido com mais velocidade as lições que a vida traz, talvez por terem mais maturidade ou até por estarem em uma encarnação superior. Fui ferida no flanco e no coração. Não me envergonho o mínimo bocado de dizer que sofro. Escrever isto aqui é minha maneira de exorcizar meus demônios e talvez seja o inicío de um bom retorno a vida. Fica a lição de Nietzsche: "Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama. Como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?”

*** O que não nos dá sossego é o si-mesmo. Aquilo que nós realmente somos e, também, aquilo que não somos. (Jung)

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Dentro

Assim ensinou-me a vida nos últimos dias: a felicidade tarda, e às vezes anda de marcha-ré. Olho para o horizonte e para todas as coisas que me são pertinentes, subitamente percebo que ela não está fora, mas dentro de mim. Só que não apreendo esse conceito. Acontece que ela estão tão bem guardada, que não a encontro nos recônditos do meu ser. Mas eu sei que, genuinamente, ela está em minha essência. Como está na essência de todos. Este é o mundo dos sentidos e até a realidade é ilusão, por isso é perigoso depender desse universo sensorial. Preciso olhar devagar para mim mesma e buscar o pote da felicidade, aquele a que tenho direito e que só eu, inegavelmente eu, posso resgatá-lo.

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O vazio do budismo

" O homem que realiza a consciência de si mesmo sente que já não é o servo obediente de um impulso cego, senão que é seu próprio amo. Sente então que a gente comum, cega ante sua consciência inata e clara, percorre a rua como cadáveres vivos.!
(Chang Chen Ch)

sábado, 19 de junho de 2010

Hora marcada

Faltam três dias. Compactuo com Einstein que concebeu a ideia de que o tempo é relativo. Há duas semanas, eu chegava às sextas-feiras sob um torpor bom, degustando cada minuto que eu teria do fim de semana. E a segunda-feira parecia chegar num flash, como se entre a sexta e o domingo à noite,transcorresse apenas um milésimo de segundo. Bem se diz que tudo está em constante movimento. Eu não imaginaria nas minhas cenas mais férteis que ansiaria tanto pela segunda-feira. Agora, este segundo que está passando, este mesmo que você está lendo essa palavra. Foi rápido para você? Para mim são gotas de eternidade. Tudo porque estou na luta pelo Bom Combate, aquele travado em nome do meu coração. Um episódio (com toda a ebulição dos sentidos) dará uma guinada em minha vida. Eu já tracei mil imagens sobre esse encontro. Já tive medo de que fosse um desencontro, um desencanto. Mas estou cheia de enlevo. Sou a donzela moderna que está no alto da torre do castelo da solidão. E para quem espera o resgate, o tempo se arrasta como um cavalo coxo.
Mas as batidas do coração parecem entrar em frenesi. Tem um livro, que acredito eu, meio mundo leu. O Pequeno Príncipe, de Saint Exupery conta um ritual de pessoas que se cativaram: "se chegares às quatro, desde as três começarei a ser feliz". É assim, você se torna eternamente responsável por aquilo que cativas. Os passos do Lancelote em questão, terão um som diferente, porque é o caminhar dele que eu vou ouvir chegando na hora marcada. Vou morrer de felicidade uma hora antes, antecipando a fruição do encontro, que eu espero, seja de almas.

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Homenagem a Saramago
"Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele."

(morreu nesta sexta-feira, de falência múltipla dos órgãos.Este sim, o seu ponto final)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

É o que tem de ser!

*** Você valeu cada segundo da minha espera dos meus quase 40 anos. Mas como eu não sabia que você viria, eu me desesperei, entrei em prantos muitas vezes, lamentando esse Deus injusto que não forneceu o meu outro eu. E eu tentava fazer as coisas acontecerem. Na pressa, eu acelerava relações efêmeras que terminavam num piscar de olhos. Na ânsia, eu me iludia que gostava para não ficar pagando o pato por carência. Tantas vezes ouvi a referida frase: calma, na hora certa tudo acontece" que fiquei receosa dela. Na verdade, cética. E quando aconteceu, foi como a explosão de uma estrela. Não encontrei explicações de o porquê você se ligou em mim. Não entendi o que foi que te cativou. Alias jamais entendi o motivo pelo qual te encontrei solitário, querendo alguém, sendo que tu é PPA (parceiro potencialmente atraente). Mas então agora eu creio ter entendido a tão propalada frase sobre os acontecimentos: o que tem de ser, será. A gente planeja, Deus ri e faz do jeito dele, na engrenagem do tempo que gira de acordo com seu relógio. E tudo o que eu tenho no meu peito é uma vontade contida de chorar, porque um dia eu duvidei desse relojoeiro. Mas essa vontade de verter lágrimas vem pelo fato de estar plena desse encontro: quatro décadas a espera. Muitas vezes, cabisbaixa, eu observava outros casais e a inveja pulsava como uma navalha que fere a carne. Mas então simplesmente aconteceu, como tudo o que é simples, como tudo o que deve acontecer. E eu percebi que a mão divina faz uma força imensa a nosso favor.

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Jogue suas mãos para o céu e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você... se não... não faça nada!O acaso constrói, a inércia destrói... não fazer nada é tão errado quanto fazer tudo pra forçar uma situação. A única coisa que sabemos é que quando tem que acontecer... acontece! (retirado do Orkut)
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Colocar a razão acima das emoções não é tarefa fácil. É como tentar esmagar a lama, as vezes ela cobre seus pés. (Adeus, Eros)
Eu amo esse texto, não sei se é realmente de Arthur da Távola, mas as palavras servem bem para o meu momento. Mas sim, eu creio que cada encontro está carregado de perda. Quando a gente tem um encontro feliz, inevitavelmente associaremos a ele, a ideia de que tudo passa. E como a vida é fugaz, este instante também o será. Há saudade embutida em cada encontro. Há o amor, que carece de zilhões de encontros. (O texto é bem mais logo, só postei os trechos que mais me comovem. Eu choro lendo esse texto)

"Cada encontro está carregado da perda, ou de perdas. A perda é mais adivinhada do que sentida. E no ato de sentir-se feliz, intensamente feliz, associa-se a idéias do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. E uma tristeza muito particular se instala: a tristeza feliz. É a que se associa ao momento bom, como a perda inerente a cada encontro, como sentimento de certeza de que tudo aquilo passará… Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Eu diria que a alegria não é felicidade, e que a felicidade, muitas vezes, está mais perto da tristeza do que da alegria. Felicidade está mais perto da tristeza, porque a certeza da perda sempre se instala a cada vez em que estamos felizes. Cada encontro está carregado de perda. Nesta vida. E até na outra, que se existe (e permitirá o encontro redentor), precisou da perda desta vida. E esta certeza – a da perda – a que provoca aquela lágrima ou aquela angústia, que a gente não sabe porque às vezes se instala após os verdadeiros encontros. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um ‘e depois’, após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada."
Algum dia em qualquer parte, em qualquer lugar indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas."
( Pablo Neruda)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Coração Galopante

Sou um estardalhaço de existir, só para citar Clarice Lispector. É incrível como um sentimento pode invadir com tanto ímpeto a alma, o corpo e a mente. Estou num pavor galopante, que se eleva aos píncaros, dobrou a curva e vem descendo.
Schopenhauer, o filósofo da melancolia salienta que o homem e a vida estão fadados ao fracasso. Porque o homem deseja e todo desejo uma vez satisfeito vira um outro desejo. E assim o ciclo não para é igual a samsara, a roda dos desejos budistas.
Mas eu sei bem que estou caminhando em uma corda bamba. Estou me sentindo mais vulnerável do que nunca, na dependência desse súbito e feroz sentimento.
Assim como me torno eufórica neste instante, noutro posso me corroer de aflição. Que angústia mordaz. É a instabilidade provocada por esse prazer - prazer bom e ruim - que me remete a um estado de embriaguez. Tenho em mim todos os sonhos românticos do mundo, mas acompanhados de um alto teor etílico.
Baudelaire exortou seus leitores a se embriagarem. "Para não sentirdes o terrível fardo do tempo que vos abate e vos empurra para o chão, embriagai-vos incessantemente."
Eu pareço tomar grandes picos de anfetamina. Meu centro da fome não acusa mais que é hora de comer, passo o dia sem me alimentar. E da mesma forma, a noite eu não durmo. Sou capaz de conversar comigo por horas e horas imaginando diálogos, fazendo perguntas, construindo situações e lembrando detalhes de conversas. Eu passo tim tim por tim tim tudo o que foi dito e me vem um estado febril de euforia como se a jovem adolescente que eu fora voltasse a encarnar em mim. Eu busco me policiar. Mas a insensatez virou me destino. Sei que quanto maior a altura, maior o tombo. Esse sentimento de felicidade me invade, mas assim também sera retumbante a tristeza, que virá na epoca propícia.. O meu coração se rasga de medo. Palpita num descompasso acelderadíssimo. Estou sempre na expectativa de que algo vai acontecer por conta dessa sensação que me abocanhou e soca a boca do estômago. E se porventura fico saciada do desejo nessa hora, na próxima quero mais. É algo que preciso regar todos os minutos das 24 horas. Uma sensação inflamável, incômoda que nem urtiga. Me amedronto com o que vai ser de mim. Esse medo me amordaça o estômago. Azeda o meu feijão. Me deixa a beira do penhasco. Só porque eu ouso voar a seis mil pés de altura.Mas eu não tenho asas. Só um coração que anda a galope.
Tudo o que foi prazer torna-se um fardo quando não mais o desejamos. (Proust)

quarta-feira, 16 de junho de 2010

O fosso

O desejo nasce e com ele, a vontade que feneceu. Somos assim, queremos sempre mais. Porque um desejo depois de satisfeito não é mais desejo, vira descarte. Por isso Buda disse que aqui é maia, o mundo das ilusões. Schopenhauer também pensava parecido. Dizia que o mundo é uma ilusão e não devemos nos preocupar com ele, e sim repudiá-lo. Ando pensando muito nisso porque meus desejos estão latentes. Eu faço força para contrariá-los mas eles vêm em uma explosão de sentimentos dificil de acorrentá-los. Fico apavorada com minha falta de domínio. Descobri que o amor é um poço sem fundo. Você fala, fala com a pessoa. Fica horas confabulando ladainhas, coisas desinteressantes, pelo simples fato de estar aí com ela. E cinco minutos depois, você já sente falta dela e quer tudo de novo. Parece um fosso, tudo se esvai em questão de minutos e você fica precisando eternamente desse zelo. É um buraco negro que se agiganta no peito quando você fica mais do que, cinco horas sem ter contato com ela. Tudo culpa do circuito cerebral. Se eu fosse budista, poderia tentar domar isso, mas como não sou, fico procurando referencias de Schopenhauer para conseguir dar ordem nessa balbúrdia interna. Queria que a paz deitasse sobre mim e viesse com um amor terno, diligente e sereno.

*** A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos."Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável"
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O desejo e a posse

Um homem não se sente totalmente privado dos bens aos quais nunca sonhou aspirar, mas fica muito satisfeito mesmo sem eles, enquanto outro que possua cem vezes mais do que o primeiro sente-se infeliz quando lhe falta uma única coisa que tenha desejado. A esse respeito, cada um tem também um horizonte próprio daquilo que lhe é possível atingir, e as suas pretensões têm uma extensão semelhante a esse horizonte. Quando determinado objecto, situado dentro desses limites, se lhe apresenta de modo que o faça acreditar na possibilidade de alcançá-lo, o homem sente-se feliz; em contrapartida, sentir-se-à infleliz quando eventuais dificuldades lhe tirarem tal possibilidade. Tudo o que estiver situado externamente a esse campo visual não agirá de forma alguma sobre ele. Por esse motivo, as grandes propriedades dos ricos não perturbam o pobre, e, por outro lado, para o rico cujos propósitos tenham fracassado, serve de consolo as muitas coisas que já possui. (A riqueza assemelha-se à água do mar; quanto mais dela se bebe, mais sede se tem. O mesmo vale para a glória).

(Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz')
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Na tenebrosa visão de Schopenhauer, o desejo é como que a semente de todo o sofrimento (e nesse ponto, como em muitos outros, ele se aproxima muito do budismo). Nâo há nenhum sofrimento que não seja frustração de um desejo ou demora na satisfação de um desejo. Somos infelizes pois a vida não é como desejamos que seja. Simples assim. Se conseguíssemos desejar que a vida fosse exatamente como é, se conseguíssemos deixar de querer que ela seja algo de diferente, algo de aperfeiçoado, algo de melhor, não estaríamos enfim reconciliados com ela?
Mas, dirão alguns, pretendendo refutar o sombrio alemão, que nem todo desejo é impossível de satisfazer, e que é inegável a existência do prazer quando conquistamos o objeto dos nossos desejos. Sem dúvida que é assim. Schopenhauer não nega. Negar a existência do prazer seria ridículo de um filósofo dessa categoria. O problema, claro, é que o prazer não dura. Todo desejo satisfeito nos causa um pequeno momento de prazer, o rápido fulgor subjetivo da alegria, um pequeno brilho na escuridão do sofrimento, mas logo ele, o prazer, destrói o desejo que o precedeu, e então o que sobra?... O tédio, o aborrecimento, o enfado. O prazer é o carrasco do desejo. E morto um desejo, assassinado pelo prazer, corre a nos dominar um novo desejo, e assim segue a vida, nessa “constante marcha adiante do desejo”, como diz Hobbes. O prazer é como um aliviante balde d’água que se despeja sobre o fogo do desejo. E, apagado o fogo, infelizmente, não é o repouso que se encontra: das cinzas renasce, como Fênix, um novo desejo. E saímos então, mundo afora, à caça de numerosos baldes d’água para apagar fogos que se sucedem numa fila sem fim, bombeiros no incêndio do desejo...

terça-feira, 15 de junho de 2010

Colo

"Eu me dou melhor comigo mesma quando estou infeliz:há um encontro. Quando me sinto feliz, parece-me que sou outra"

Lispector sempre teve o maior talento com as palavras e em várias frases suas eu identifico-me. Não saberia como costurar tão bem as frases. Na felicidade, eu tenho medo do próximo instante que pode não ser mais feliz. Eu tenho medo de me acostumar a felicidade e depois ter de chorar para voltar aos doces campos inócuos, onde nem alegria, nem melacolia se criam. Eu sinto essa agonia estapafúrdia que não quer parar de palpitar no meu peito. Me amedronta o que ela vai fazer comigo. Vai engolir um por um meus largos pensamentos a respeito da alegria, vai retirar com a pinça minhas ideias de ir avante. Vai solapar minha vontade de me sentir viva. Tenho medo de me iludir com a felicidade. Quero me olhar na poça da água e sentir que este é o riso real, aquele opaco refletido no chão, sem presunção de grandes alturas. Deus, cansei de andar de roda-gigante da felicidade. Prefiro o chão, a terra firme e um sentimento estabilizador, porque é com eles que sei lidar. Prefiro Deus, que tu me nine com tuas canções de ninar e me acolha no colo como uma garotinha que necessita de segurança. É este todo conforto que eu quero. Quero o aconchego de um colo mais do que a escalada para a felicidade. Um colo humano, também tá valendo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Vuvuzelas nos meus olhos!


Ando aturida. Não sei de que forma, mas a alegria está atirando pedrinhas na minha janela. Escuto o sibilar dos canários e a Terra me parece mais azul do que a do Iuri Gagarin. O frio me açoita a pele branca e eu perco a mobilidade em função do acúmulo de casacos. Mas não é porque esses pagos verdejantes se cobrem de geada que eu deixo de sorrir de um canto a outro da boca, mostrando o metal que emoldura meus dentes. É bem apropriado esse aparelho ortodôntico à beira dos 40. Eu estou esfuziante igual a uma adolescente. Não me perguntem que bicho me mordeu. Mas tem a ver com adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, serotonina e as endorfinas. Quem for antenado sacou que se relaciona a uma reação química.
No jornal, costumo ser a Dona Reclamona. Não pago pedágio para largar um "Ah, que saco", ou outra coisa que o valha. O pessoal já se acostumou. Bem, alguns não e confesso que minha "distimia" pega de jeito certos colegas. Eu me queixo por hábito, não é nem que está tão ruim assim, mas o ranço sai maquinalmente da minha boca. Mas tem três dias que estou melhorzinha. Estar contente não é nenhuma descoberta da América, mas no meu caso tem uma conotação especial. Sempre tive medo de ser feliz. Medo de atingir um ponto de contentamento e depois ter de voltar a submergir na tristeza. A melancolia sempre foi minha zona de conforto, sendo assim, relutava em sair dela. Mas dessa vez eu fugi das garras da dita cuja e sabe o quê? Eu não estou com um pingo de temor. Ando me surpreendendo com esses sentimentos. Sim, eu descobri a África em plena Copa do Mundo. Estou vendo vuvuzelas orbitando ao redor dos meus olhos. Este vai ser o meu Mundial, ando de marcação cerrada com a alegria. E não tem impedimento que ataque os melhores lances desse meu frenesi. Quero a vida em jogo para desempatar qualquer drible infeliz.
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*** "Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação".
(Clarice Lispector)
*** Conservo sempre uma aspa à esquerda e a direita de mim (Clarice Lispector)
***Eu tenho medo do instante que é sempre único."[Clarice Lispector]
***"Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me."[Clarice Lispector]

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mais de mim

Hoje o dia tem um sol lindo, parece que se abriu para inalar as festividades de Corpus Christi que replicam pela região. Esses raios solares não me atingem. Parece que nasci com um escudo contra a felicidade. Alma privada de luz, envolta em uma manta sombria de ideias que não me levam a lugar nenhum. Um amigo meu me disse, há dois anos que eu era uma errante. Tal lucidez ante essa estapafúrida constação na época me chocou. Mas eu retive a informação e concordo com ele. Deixamos de nos falar, eu e ele, mas se pudesse, lhe diria que ele tinha razão. E sempre que eu penso na palavra errante, lembro da sua presença centrada e decidida, nada do que eu sou.
Esta semana eu fui ao psiquiatra. Vou lá para manter a medicação e avaliar se eu preciso aumentar a dose ou trocar os fármacos. Tomo antidepreessivo e estabilizadores de humor. Sempre pendemos nossa conversa para um viés filosófico, en passant, ele fala de Marcel Proust, eu emendo com a teoria do "eterno retorno" de Nietzsche. Ele diz que são poucas as mulheres com as quais se pode falar sobre isso e aproveita para me elogiar: "Viu como você tem qualidades". Mas eu não engulo esse louvores pessoais. E ele então ressalta: "quando você começa a se criticar, sai de baixo".
Eu não sei o que esperar da vida. Não sei o que ela quer de mim. Eu estou com uma certa idade, quase quarenta anos rodando na face da Terra. Eu não construi nada em minha vida. Eu, com um sopro de inspiração, consigo escrever histórias bonitas de outras pessoas para estampar nas páginas de jornais. Eu sou volúvel, cheia de dúvidas, indecisa, um certo egoísmo que não me larga. Eu penso em budismo e leio sobre o assunto para me tornar melhor. Todas as segundas-ferias, eu vou ao Centro Espírita e saio de lá com o firme propósito de ser mais caridosa. Essa semana também aprendi o significado da palavra "alteridade". Gostei, refleti sobre. Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se fizéssemos esse exercício com certeza desenvolveriamos a tolerância e a benevolência.
Eu estou escrevendo tudo isso para dizer que não me acho boa como pessoa. E talvez por isso, as coisas boas não cheguem até mim. Eu considero o amor um dos episódios mais auspiciosos na vida de uma pessoa. Eu sinto vergonha de não ter um. Eu me sinto desamparada. Ser solteira às vésperas dos 40 anos é ratificar o fracasso pessoal. Sim, eu me cobro, eu me sinto excluída dos universo dos pares. Na cabeça das pessoas, deve passar o questionamento: "algum problema ele deve ter para estar sozinha". A solidão mutila. Ela te arranca uma por uma as esperanças, cada vez que um relacionamento não dá certo. Estar banido do mundo dos pares, para mim é a pior exclusão. E quando eu me olho no espelho, eu vejo uma mulher amputada sentimentalmente.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fait Divers

Por um tempo me aborrecia porque todas as matérias que eu fazia, todinhas, eram direcionadas para as páginas de Variedades. E quando eu abria a pauta no outro dia, lá vinha mais reportagem do "gênero leve" para a moça aqui realizar. Cheguei a me dar a alcunha de "Tia Variedades", o que provocou alguns risos na redação. Ocorre que - e isso eu não posso negar - sempre busquei histórias pitorescas. O inusitado cai bem em mim. Adoro viajar com as histórias, criar metáforas e fazer trocadilhos, quando a ocasião assim permite.
Comecei a perceber que quando "cavo" uma pauta, meu olhar sempre recai para assuntos de comportamento ou para aquelas notícias curiosas. Da seção "Pesquisa revela que...", ah, essa eu adoro: Pesquisa revela que casar engorda; Pesquisa revela que mulheres não administram bem seu tempo; Pesquisa revela como a internet está afetando o mundo dos adolescentes e por aí afora. Eu saio no encalço do recreativo. Notícias diferentes me atraem mais do que a Dilma e o Serra. Tá, tá, tá, eu sei, eu sei que como uma jornalista lúcida eu deveria ler tim tim por tim tim de economia, política e educação. Assumo a mea culpa. Também não sou alienada, nem estou relegada a futilidades. Curto um bom texto, filosófico até. E me empenho em mergulhar nas revistas, pois o estilo magazine me atrai muito. Mas pardón, caro leitor, não nego meu lado bizarro. Um pouco do incomum abre caminho para outras narrações.

***O fait divers tem uma ressonância negativa no mundo do jornalismo que o relega apenas a um segundo ou terceiro plano entre as informações dos jornais. "É apenas um fait diver", falarão os nobres jornalistas "sérios", aqueles acostumados a entrevistarem ministros e deputados.
O fait diver pode contar um drama incomum de uma pessoa ou relatar um episódio casual de difícil coincidência. "É a notícia minando o chavão um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar", diz Roland Barthes.

*** Fait divers é uma palavra francesa, e seu signficado é simples: trata-se daquela notícia especial que vai provocar empatia no leitor. O Grande Dicionário Universal do Século 19 relaciona alguns significados para fait divers: "Pequenos escândalos, acontecimentos misteriosos, casos de antropofagia, sonambulismo. E ainda: casos de salvamento e fenômenos esquisitos da natureza, como gêmeos xifópagos, bezerros com duas cabeças..."

*** "Quando eu estava na faculdade de jornalismo, ensinaram-me que um fait-divers era, entre outras coisas, um facto não necessariamente importante mas decididamente interessante. O conceito nunca me saiu da cabeça. A verdade é que, salvo raras excepções, o que é interessante não importa e o que importa não é interessante”
(Edson Athayde, in Diário de Notícias )

sábado, 22 de maio de 2010

Ela aprendeu a enxergar o mundo com outros olhos

Taís Cauduro (23) nunca se resignou com sua condição. Também jamais lutou contra, como se fosse alguém rebelde em uma batalha infrutífera. Ela - e esse sim é seu mérito - extrapolou as fronteiras de suas limitações. Taís não enxerga, mas quem sabe veja mais do que muita gente. Tem a personalidade bem resolvida, pois vislumbra uma vida cheia de possibilidades. Seu tato é o grande trunfo. Ela se formou ano passado em massoterapia e corre atrás para angariar clientela. A sensibilidade não está apenas na ponta dos dedos. Ela também é manifesta em seu coração. A história de Taís começa no ventre de sua mãe.Nasceu com seis meses. Pouco mais do que um embrião, algo tão frágil e ao mesmo tempo querendo viver. Lutando por um pouco mais de fôlego. Permaneceu 72 dias na incubadora. Naquele tempo, sem a tecnologia existente de hoje, era normal o oxigênio do aparelho queimar a retina. E ela, pequena demais para guardar na memória as feições da mãe viu a luz se apagar. Ali mesmo, no hospital. A incubadora foi sua salvação e carcereira. O azul do céu em tempo nenhum fulminará o olho de Taís. A cor da nação tricolor a qual ela faz parte não existe nem em imaginação. É um foco obscuro. Mas nada de lágrimas. A existência dela é pontuada pela intrepidez.Cresceu uma pessoa de fibra, que rejeita o rótulo do "coitadismo" e da superproteção. "Eu até esqueço que ela não enxerga", enfatiza a mãe Leda. Taís é uma filha que nunca deu trabalho. Poderia se revoltar com o preconceito, muitas vezes evidente. Decidiu relevar. Tem, dentro do seu conceito de vida, um dom importante, o altruísmo, que ajuda e encoraja deficientes visuais. O seu exemplo é de motivação. Ela já passou por peripécias. Sozinha. Ao decidir fazer o curso de massoterapia, perambulou dez meses por Porto Alegre. Morou na capital durante quatro meses, na casa de amigos. Aprendeu a se deslocar na cidade grande, sentindo as paredes que nunca vira antes. Concluiu o treinamento no final de 2009 e montou uma sala de massagem na garagem de casa, em Lajeado. A freguesia existe, mas pode melhorar. Falta marketing. Ela tem cartões de visitas que fornece aos conhecidos e divulga boca-a-boca, o segredo de suas mãos. "Eu tenho o tato aguçado. O professor elogiou e disse que eu tenho o dom."A coragem de Taís não fica só por Porto Alegre, atravessa as fronteiras do estado. No Carnaval, foi se divertir bem longe de casa. Tomou o ônibus para uma aventura interestadual. Só parou em Ribeirão Preto. Foi encontrar uma amiga que conheceu pela internet. A moça fez tudo isso sozinha, com um certo temor, mas sem se intimidar perante o desconhecido - porque o que a gente não enxerga é sempre tão mais sombrio, que amedronta. Taís rejeita a posição fetal. Brinda a vida com a potência de sentimentos e não verga, porque se recusa a perder para as dificuldades.A viagem a Ribeirão Preto foi crucial para reforçar sua independência. Ela pensa em repetir a dose. A família aprova e orgulha-se da autossuficiência da filha. Até lá, vai falando com seus amigos pela internet. Gosta de leitura e informática e aliou os dois prazeres fazendo do computador sua janela para o mundo. A sua máquina tem leitores de tela e ela pode ouvir a voz mecânica que narra histórias das obras. É sua maneira de ler. O mundo de Taís é sensorial e cheio de desafios. Ela não os nega, pelo contrário, os quer. À medida em que estipula novas metas, luta para transpor os obstáculos e toma ciência de sua força, que está na sua forma de ver o mundo. "A vida não é uma festa, porque não dá para viver viajando, mas é cheia de oportunidades. É só a gente saber aproveitar da melhor forma."
(Histórias de vida que dão orgulho de escrever. Gostei de ter sido a intermediária entre Taís e o leitor. A reportagem saiu no Informativo de hoje)

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Ele quer uma mulher perdigueira!

Ele se diz doido. Doido varrido e limpo. Mas na verdade é um canalha das palavras. Adorável, como ele bem sabe. E estará aqui em agosto, eu como sua súdita, não vou deixar de prestigiá-lo. Hoje, fazendo a matéria da 5ª Feira do Livro me alegrei por saber que ele dará uma palestra aos pais em agosto. Fabrício Carpinejar, o homem que desafina do coro dos contentes, quer a mulher que ninguém quer. Ele a define como "perdigueira", aquela possessiva, "que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu".
Ah que bom construtor de frases. Como sabe alinhavar palavras esse homem. Tenho ele no Twitter. E ele é capaz de dar "oficina de literatura" no microblog. "Acredito que 140 caracteres não são uma limitação, mas um afrodisíaco na arte do corte e da captura do que é essencial a ser escrito. É uma oportunidade criativa para sugerir mais e acentuar a ambiguidade e a duplicidade das experiências do cotidiano". Ainda há pouquinho tuitou uma frase fantástica: "Eu me atraso sempre que tenho tempo de sobra." Intelectual excêntrico, que retira poesia até em entrevista por e-mail. Não me canso de ler o seu blog.

É dele:
"Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém"
"Não quero chegar a nenhum lugar, sou um lugar viajando"
"Esconder o vexame sempre foi o maior vexame"
"Sofro em vão pelo medo de sofrer. Falta-me a simplicidade de um pano de prato"
"Aniversário tem desses paradoxos, a gente não avisa, mas quer ser lembrado."

Ele por ele mesmo
Quando e como surgiu teu "eu" escritor?
CARPINEJAR: Acho que surgiu o "ele" escritor. A literatura me motiva a tomar a vida dos outros como se fosse minha. É um pessoalismo altruísta, meio santo meio maldito: esvaziar-se de si. Sou o último a me ouvir. Acredito que minha infância barulhenta de sinais me inspirou a deixar lentamente um testamento por escrito. Ou pode ser meu modo de devolver todas as frutas que roubei de meus vizinhos.

O que mais te inspira a escrever?
CARPINEJAR: O que ninguém amou ou percebeu o suficiente. Literatura é dar valor ao que estava na garagem, no porão, no quartinho de tralhas, e convencer de sua importância para a casa.

Uma característica essencial do Fabrício?
CARPINEJAR: Amor incondicional - vou ao inferno para buscar o melhor buquê de fogo.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Mulher de palavra!

Sou uma pessoa de palavra. Juro. Adoro aprender um novo vocábulo. Sim, é a isso a que me refiro, até porque em relação a promessas, não me "fio" em mim. Mas gosto de expandir o meu vocabulário, incorporar o significado de um tal "silogismo", ula-la, que coisa boa. A etimologia é o estudo das palavras e eu não me aprofundo tanto a ponto de ser uma especialista. Só sou uma diletante. E tem épocas em que as palavras novas parecem florescer aos nossos olhos. Esse outono, por exemplo, foi frutífero. Conheci, através do secretário de Cultura e Turismo, Gerson Junqueira, o tal "etnocentrismo". O Aurélio, tem uma definição sucinta, então fui para o Google. Em duas ou três páginas é possível se situar no conceito: "etnocentrismo é uma visão de grupo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são sentidos através de nossas vidas. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença." A palavra me intrigou e eu fiquei um bom tempo ao redor dela. Ela carrega em si a questão da hostilidade e do choque cultural. Interessante. E antropológico.
Também me deparei com um vocábulo (alguém ai sabe um sinônimo para "palavra" e "vocábulo"?) utilizado no meio publicitário. Expertise, cuja pronúncia foi aportuguesada, está em voga na economia e nas agências de comunicação: "Chineses tem expertise para explorar mercado de transmissão". Significa que os loucos tem vasta experiência no assunto. De certa forma, substitui-se o antigo "Know-how" por essa nova palavra, a queridinha da moda. É, as palavras também sofrem com as oscilações. Em algumas vezes estão por cima, noutras, por baixo. É a dança das cadeiras dos vocábulos, uma dança, aliás, sempre tão presente no mundo jornalístico. Por falar nele, vi a manchete em cima da minha mesa, na redação. Estava impressa em um jornal da categoria: "Jornalismo é dissensão". Não precisei pensar muito para concluir que era o contrário de coesão. Mas para ter certeza, abri o amansa burro novamente: Dissensão=divergência de opiniões. Bingo. Mais uma palavrinha arquivada na minha cachola. Já sei, já sei, não posso usar tudo que inoculo. Dia desses, meu editor embestou porque coloquei a palavra miríade, mas a deixou no texto. Que venha mais, torrente de palavras. Para que eu tenha mais sapiência. Oba, no meu blog eu posso usá-las. Que deleite. (Eu adoro essa palavra).

Para pesquisar:

Admoestar – conselho, leve repreensão.
Alarido – confusão , algazarra , farra.
Alcunha – apelido.
Âmago – parte muito interior , cerne.
Ardiloso – manhoso , esperto.
Arroubo – entusiasmo , fervor , encanto.
Balbúrdia – baderna , bagunça , confusão.
Belicoso – que incita à guerra.
Curra – abuso sexual , esturo com a participação de várias pessoas.
Dilapidar – desperdiçar , estragar , destruir.
Dândi – que procura se vestir com elegância.
Engodar – mentir , enganar.
Fenecimento – fim , término.
Fugaz – passageiro , que passa rápido.
Fleumático – imperturbável.
Frugal – simples.
Homizio – refúgio, guarida, abrigo, esconderijo
Ígneo – próprio do fogo.
Ignóbil – sem caráter , vergonhoso.
ImplÍcito – escondido , não expresso , omisso.
Insolente – desaforado , desagradável.
Irrupção – entrada violenta , pancada forte.
Incólume – intacto.
Inócuo – inofensivo.
Jaez – tipo , categoria.
Janota – bem vestida.
Justapor – colocar perto.
Loquaz – falador.
Nódoa – sujeira , mancha. pode ser também a alcunha de uma pessoa de má fama.
Pachorrento – calmo , sereno , acomodado.
Pacóvio – imbecil , ignorante.
Parco – moderado , econômico , diminuto.
Pedante – nojento , exibido , audacioso.
Perdulário – que gasta mais.
Perene – que dura muito , imortal.
Permuta – troca , câmbio.
Pernóstico – pretensioso , esnobe.
Petiz – criança , adolescente.
Plissado – com rugas.
Prescrutar – vasculhar , procurar , revirar.
Pândego – feliz , alegre.
Pérfido – cruel , traidor , desgraçado.
Ruar – sair sem destino , andar à toa.
Recôndito – escondido, encoberto, secreto, oculto
Rubicundo – avermelhado.
Sumidade – personalidade importante , sábio.
Suscitar – fazer surgir , encorajar , provocar.
Tergiversar – desculpar-se.
Taciturno – calado.
Tênue – fraco , frágil.
Veneta – ataque , acesso de loucura.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Sempre fico de olho nos pensamentos do Varal da Laura. Ela lê um monte e rabisca os livros, (igual a mim). Logo, está cheia de subsídios para compor um arquivo "maneiro" de frases. Volta e meia, encontro um texto que mexe muito comigo a ponto de eu guardá-lo. Desta vez, é do cantor Oswaldo Montenegro. Estou fazendo uma "retuitada" do site da Laurinha. Achei tri a frase, porque me identifico com ela. Sou indecisa para mais de metro, então, a sentença me convém.

Nunca vi um débil mental hesitar.
Todo imbecil é convicto.
O inteligente não tem certeza de nada”

(Oswaldo Montenegro)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Como eu me sou!

Uma adulta bordejando pelos seus oceanos dentro de si, ora pacífico, ora tormentosos. Uma criança que não percebe a hora de parar de comer do doce de aniversário e vai se enchendo de mais e mais. Adulta e criança se fundem com suas características mais expoentes e eu me vejo ali, tentando procurar o amor, a serenidade e um pouco de lastro espiritual.

sábado, 24 de abril de 2010

A minha é maior


Minha pimpolha (que já nem é tão cotoco assim, está quase da minha altura) carrega dentro de si, no alvorecer da vida, todo o inconsciente coletivo que nunca foi domado nem no tempo das cavernas. Digo isso porque ontem, estávamos falando na conjuntivite que se abateu coletivamente na minha família. Ela, eu e minha mãe pegamos. Meu pai agora, mais tardiamente. Sorte que não passei a meus colegas de redação, que volta e meia esfregavam os olhos, temerosos de terem se contagiado pelo "mal da Pita". Ao mencionar a doença, ela logo fez questão de dizer: "a conjuntivite do vô está mais fraquinha. Quem pegou a mais forte fui eu."
Desde criança queremos medir as tragédias e gostamos quando as nossas são maiores. Creio que somos projetados para vermos nossas vicissitudes com lente de aumento. Não é que a grama do vizinho seja mais verde, é que nós fizemos questão de termos o drama maior. Nos esforçamos para isso. "O teu problema é grande, mas o meu é bem maior". Por incrível que pareça, constatarmos que o nosso problema é grandão, mais maxi que o do outro, nos da certa recompensa. E até uma gratificação.
Ainda não li nada na psicologia sobre a nossa obsessão por termos tragédias maiores e eu nem falo de grandes tormentas emocionais, tragedinhas pequenas mesmo, como a tal conjuntivite. Foi quando ficou patente, até em minha filha, a vontade de ter conflitos superlativos. Queremos que nossos dramas sejam maiores do que o dos outros para dizermos depois que sofremos mais, que nossa cruz foi barra pesada de carregar. Mas que conseguimos, apesar do torvelinho de dores, nos reassentar no caminho da paz reinante, nem tanta paz assim, mas enfim, uma serena tranquilidade que se acomoda no nosso cotidiano e que não se configura nem como felicidade nem como infelicidade. Um paz tíbia que vem bem a calhar no decorrer dos dias.
Queremos seguir em frente como heróis mais super do que o outro. Afinal, se minha dor é maior e eu fui capaz de superá-la, tendo a ser mais apto que ele. A grande tragédia da vida é que nossas dores são maiores, só para nós mesmos. E se ela acontece comigo, ela sempre será a mais sofrida. Até mesmo minha conjuntivite é mais forte que a sua.

"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."
(Mário Quintana)

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Castigo de Tântalo

Ouvi esta expressão hoje pela primeira vez e imediatamente fui procurar no Google, a que se referia meu amigo de emeesseene nesse papo muito elucidativo para mim: "Pita, a felicidade sempre esteve ao seu alcance, mas voce invariavelmente transformou ela em uma castigo de Tântalo"
Em tempo, a expressão "Suplício de Tântalo", refere-se ao sofrimento de quem, desejando muito uma coisa, sempre a vê escapar quando está prestes a alcançá-la.

No Tártaro
O mito grego do rei Tântalo desvela a ambição de um mortal que, não satisfeito em ser notoriamente o "predileto dos deuses", almeja transmutar-se num "deus" propriamente, incorrendo num erro brutal.
Apontando a hýbris (desmedida) em Tântalo, na obra intitulada "O simbolismo na mitologia grega", o renomado estudioso francês Paul Diel, afirma que: "Afoito por sua conquista e esquecido de sua condição mortal e seus limites, Tântalo chega a se exaltar com tal intensidade que lhe sobrevém a tentação de querer se tornar um igual entre as divindades, puros símbolos do espírito".
A fim de obtermos maior clareza sobre esse latente desejo humano e de sua possível perversão, descortinemos o mito legado pelo premiadíssimo tragediógrafo Ésquilo (524-456 a.C.).
A desfrutar néctar e ambrosia, Tântalo, o próspero e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
Presunçoso, no afã de confirmar seu estatuto de "igual" entre os deuses, Tântalo convida a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes oferece o alimento terrestre sob sua forma mais abjeta: a carne de seu próprio filho, Pélops.
Servir essa funesta iguaria, fruto de sua obsessão doentia, simboliza a maior perversão empreendida por um mortal. Eis que os deuses são mesmo oniscientes, reconhecem a blasfêmia e, horrorizados, repudiam a ofensiva dádiva. Somente a deusa Deméter, da agricultura, perturbadíssima com o recente desaparecimento da filha Perséfone (Prosérpina ou Kore para os romanos), desatentamente ingere um pedacinho da carne.
Malsucedido, Tântalo nem se igualou aos deuses, nem os rebaixou a seu nível, pois Zeus, o soberano do Olimpo, restaurador da ordem, ressuscita Pélops reconstituindo o pedaço faltante do ombro por mármore (daí "hamartía", a marca) e delibera sobre qual seria o pior castigo para o herege. Lançaram Tântalo ao Tártaro (a região mais profunda do Hades) como castigo, no qual sofreu enormes suplícios.Na Odisseia (11, 584), Homero coloca o Ulisses a descrever o Suplício de Tântalo. Ele refere que Tântalo estava sempre mergulhado em água até o pescoço e sob uma árvore carregada de saborosos frutos. Sofria incessantemente de fome e de sede, quando tentava mergulhar para beber, a água fugia dele; e quando levantava os braços para agarrar os frutos, os galhos da árvore elevavam-se para fora do seu alcance.
(Luciene Félix/ Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana)

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Cachorros de palha

“Os humanos pensam que são seres livres, conscientes, quando na verdade são animais enganados.” (John Gray)

Em Cachorros de Palha, o professor da London School of Economics, John Gray, causa bastante polêmica ao afirmar que a técnica evolui, mas a ética humana não. Ele diz que a ciência pode ter aumentado o poder humano, mas também permitiu que o homem causasse maior destruição. O conhecimento, segundo o autor, não nos torna livres, e sim “nos deixa como sempre fomos, vítimas de todo tipo de loucura”.

* Mais no site do Rodrigo Constantino http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/08/cachorro-de-palha.html

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O que é mais improvisado, a cada vez, do que a primavera? E o que é esquecido mais depressa? A própria repetição, tão impressionante, não passa de um logro: é por se esquecerem que as estações se repetem, e justamente por causa do que torna a natureza sempre nova que ela só inova raramente.

"Porque o que dura ou se repete só ocorre mudando, e nada começa que não deva acabar. A inconstância é a regra. O real, de instante em instante, é sempre novo e essa novidade cabal, essa novidade perene é o mundo"

(Acho lindo esse trecho do filósofo Andre Comte-Sponville (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Só para constar a virtude em questão é a Fidelidade)

Neruda põe a cachola para perguntar!

* Qual é o trabalho forçado de Adolf Hitler no inferno?

* Onde terminará o arco-íris: dentro da alma ou no horizonte?

* Que vim fazer neste planeta? A quem dirijo esta pergunta?

*E que importância tenho eu no tribunal do esquecimento?

*Não era verdade que Deus vivia no mundo da lua?

* Por que andam as ondas me indagando sobre as mesmíssimas perguntas?

*Por que não nasci misterioso?Por que cresci sem companhia?

* Onde está o menino que fui:anda comigo ou evaporou-se?

* Quando minha infância se foi por que nós dois não fomos junto?

*Ainda ontem disse aos meus olhos:quando de novo nos veremos?

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Eu, eles e a blogosfera

Andei navegando no circuito familiar da blogosfera. Perambular pelos blogs eu faço sempre, mas dessa vez transitei por aqui mesmo, por mares próximos, nas ondas de meus colegas de redação. Entrei pela primeira vez no blogue do Ermilo Drews e fiquei sabendo que ele está escrevendo um livro. Caraca, falo mil coisas com ele e desconhecia tal façanha. Lendo-o, percebi que adora Carlos Drumond de Andrade e a mais pura MPB, Maria Bethânia. Olha só!!! Isso me deixou surpreendida, mas fiquei mais ainda ao passar pela "casa" do Márcio Souza e descobrir que ele tem um gato. Que Márcio é um típico libriano calmo e alegre eu já sabia. Mas um gato, nunca me contaram. O bichano é persa e ronrora em suas pernas quando chega ao apê. Que surprise. Eu sei, eu sei, é algo tão simplório. Mas justamente por ser uma informação tão comezinha, eu fiquei pasma por não ter tomado conhecimento antes.
Também me "assustei" ao fuçar o mundo do Carlos Vogt. No seu blogue recém lançado descubro que ele tem inclinação para contos eróticos. Tão comedido nos seus comentários do dia a dia, ele envereda na sensualidade literária virutal. Uau, tem cada vocábulo ali. Eu não me atrevo a escrever. Mas que ele gosta de "lamber sexo", ah isso sim, foi ele quem disse. Está lá na sua página para não me deixar mentir.
E o Hygino, ignorava que meu colega de ilha mantém um reduto cibernético em que conta seus percalços bem humorados. Hydjaine, como o chamam seus amigos de Santa Maria. Carrega uma certa timidez (nem tão visível assim, mas eu o considero calmo, na dele) dentro da redação. E no entanto, se intitula um jornalista meio fora de si. Não poderia imaginar que ele se concebe mezzo rebelado. As percepções também surpreendem.
Quanto espanto meu nesta rápida passagem virtual. Me dou conta de que passo horas com eles e sei tão poucas coisas. Será que eu não escuto o que dizem e por isso estou tão alheia a suas atividades subjacentes as lidas jornalísticas?Não serei eu amiga suficiente a ponto de me confidenciarem suas "coisitas" extramuro (fora da redação)? Ou será que é a blogosfera que tem uma potente capacidade de arrancar intimidades?Engraçado, no plano virtual, a gente se confessa. Nos sentimos bem expondo fatos de cunho tão privado, nesse território livre que é a internet. Um espaço tão público, destinado a abrigar segredos tão pessoais.
Só assim, passeando por "estes mares nunca dantes navegados" tive oportunidade de conhecer um pouco mais de meus colegas. Não contarei este fato a eles. Deixarei que descubram que eu não sabia o que agora eu sei, quando eles passarem por aqui. E viva esse universo virtual, infinito particular.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Me inauguro!

Me inauguro nas vertentes que nascem das minhas emoções
e escorrem por uma gama de sentimentos.
Nos meandros da alma, inauguro mil ações para a vida
todas focadas ao pensamento racional
Desestimulo. Não rola focar nesta técnica
Sou uma mulher mergulhada. Eis o meu predicado: não ter medo de chorar
Eu me inundo no meu próprio pranto, ora airado, ora airoso
O meu destino, eu vaticino
Estou fadada a não me corromper por rasos sentimentos
Por isso choro aos borbotões
Mergulho no caos, ou emerjo e achego-me as correntes marítimas
Em todas as maneiras, eu me banho
Me inauguro em cada encontro que tenho dentro de mim!
Nem que seja para me desviar depois,
derrapar na minha pista molhada,
pranteada!

sábado, 3 de abril de 2010

Deus tem twitter e bom humor

Estou lendo simultaneamente dois livros: Os Desafios da Terapia, de Irvin Yalon (o mesmo autor de Quando Nietzsche Chorou) e relendo o de Dalai Lama, Como Praticar o Caminho para uma Vida Repleta de Espiritualidade. Retirei esses dois porque creio que com um pouco de análise e autoconhecimento e reforma íntima, no caso do budismo, minha vida iria impulsionar para o nirvana, ou para a tranquilidade, o que seria uma benção divina. Falando em divino, restou tempo nesta Páscoa para eu "dissecar" o site do Supremo. Sim, Deus tem uma conta no Twitter e tem bem mais seguidores que Jesus Cristo. O genial O Criador foi considerado o melhor fake de 2009, por suas atiradas inteligentes, muito sarcásticas e criativas. O nome do serviço é SAC Divino e foi criado por um tal Léo, um estudante de Direito de 24 anos, acho que ele é do nordeste, informações sobre ele são incógnitas.
No Twitter do Criador tem 220 mil seguidores (eu e o Emílio, meu colega de redação, estamos na parada). Ele se define "onipresente, onisciente, onipotente e online" e tem uma pá de criatividade para responder as perguntas dos internautas. Virou uma das sensações do site. Suas mensagens são retuitadas, como esta sensacional: "Pensando bem, não foi uma boa ideia deixar o mundo sob responsabilidade de dois jovens pelados." Ou então: "eu acredito em beijo técnico, Judas que o diga."
Há décadas, quando a internet não era nem um ciberprojeto, Raul Seixas compôs DDI (Discagem Direta Interestelar):"Alô, aqui é do céu, quem tá na linha é Deus, tô vendo tudo esquisito, o que que há com vocês??Por favor, não deixem a peteca cair, que o diabo diz que vai baixar de uma vez por aí". A música também é hilária e bem humorada, bem ao estilo Raulzito. Quem procurá-la no Google vai ter uma ideia do que "Deus" enfatizava na visão do músico e quando o telefone era o máximo da comunicação. (Imaginem, só depois foi criado o 138 e bem mais tarde, o ICQ).
Mas trocando de era (já que Raul se foi e deve estar confabulando com o carpinteiro do Universo), segue a dica hi tec: vale a pena seguir o Supremo no Twitter e se transformar em numa ovelha cibernética divina. O Altíssimo da web pastoreia bem o rebanho, porque além de demonstrar conhecimento do ciberespaço (ele diz que dá para baixar espírito via torrent), também saca um montão do contexto bíblico. Sim, o seu Léo, autor do fake parece ter estudado as Escrituras. Através do SAC Divino, é possível o reles ser humano resolver a problemática do amor, tirar dúvidas bíblicas e recorrer para assuntos diversos. Mas não fique bravo com a resposta, perguntou, vai ter o direito de ouvir o que o Uno ditar, tudo com muito bom humor e um jeito sui generis. É hilário e extremamente inteligente. As pessoas topam a brincadeira, indicando que o Deus da Web tem um baita ibope. As dúvidas são sanadas sem rodeios. Prestem atenção nesta:
- Pai, devo casar virgem pq isso está escrito na Bíblia? Ou posso transar antes, ainda que com poucos?
"Filha,Se nunca recebeste a visita do um tal de Arcanjo Gabriel, há uma razão para eu ter dado-lhe um clitóris. Atenciosamente, O Altíssimo."
Falei tanto no SAC Divino que esqueci de discorrer sobre os dois livros. Faço isso em outra ocasião. Fica o Criador como protagonista desta postagem. O endereço é: http://www.sacdivino.org/

A voz de Deus no Twitter
"Se não fosse pelo melhor curso de marketing, vocês jamais acreditariam em uma cobra falante"

"Não fui Eu quem inventou o exame de próstata. Deve ter dedo do diabo nisso... "

"Fiz um pacto com o Diabo: ele pode ser o pai do rock, contanto que Eu não seja responsabilizado pelo Axé. "

"O papo de “Jesus te ama” começou porque ele, quando transformava muita água em vinho, saia dizendo isso para todo mundo."

sexta-feira, 26 de março de 2010

Tédio, inferno e eterno retorno

Adoro mitologia. Sou fascinada pelos relatos míticos e creio que eles representam os desejos e refletem o mundo contemporâneo. Os humanos são muito iguais mesmo, mesmo que se passe uma eternidade de tempo. Inventaram os mitos que ainda nos fazem sacudir e pensar de modo a nos identificarmos com eles. O tédio é um dos sentimentos mais angustiantes do ser humano. Sartre escreveu "Entre quatro paredes" - que imortalizou a frase "o inferno são os outros" (três pessoas são confinadas entre quatro paredes e no início, se conhecem, descobrem seu sentimentos e até seus egoísmos. Mas também percebem que estão condenados a se verem eternamente. São torturados a ficarem uns com os outros por toda a eternidade. Eis o inferno: olharem um para a cara do outro e se aguentarem). Ó tédio. Segundo Sartre, a famosa frase denuncia duas situações interligadas. Primeiro, se dependemos unicamente dos julgamentos e das ações dos outros, abdicando de nossa liberdade essencial e intransferível, criamos nosso próprio inferno, queimamos na fornalha alimentada por nossos próprios medos, pela má-fé, pela incapacidade de autonomia. Os outros não são necessariamente os causadores do meu sofrimento. Eu mesmo faço do outro o carrasco de minha tortura. Em segundo lugar, a situação exposta na peça refere-se a pessoas mortas, a existências para sempre definidas e que se tornaram, desse modo, definitivas, imutáveis, fixas, congeladas como a estátua de bronze. Denuncia, portanto, aqueles que, ao negarem sua liberdade, preferem morrer em vida, como se pudessem coagular o sangue da existência. Estão mortos-vivos, penando no inferno ainda vivos. Para muitos, não é preciso morrer e muito menos sofrer a tortura dantesca para descer ao inferno...
Pior que tudo é saber que a condenação dos três personagens estende-se por toda a eternidade, mas o inferno sartreano é simbólico: somos homens e nossa condição humana é a liberdade. Negar tal fato é condenar-se voluntariamente ao inferno, sem haver o deus da absolvição e o demônio da tentação e da culpa. Em suma, não há desculpas, não há tábua da salvação. “Nenhum de nós pode se salvar sozinho; ou nos perdemos de uma vez juntos, ou nos salvamos juntos.” (Garcin)

Na mitologia, há Sísifo.
Sísifo fora condenado pelos deuses a realizar um trabalho inútil e sem esperança por toda a eternidade: empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha de onde ela rolaria encosta abaixo para que o absurdo herói mitológico descesse em seguida até o sopé e empurrasse novamente o rochedo até o alto, e assim indefinidamente, numa repetição monótona e interminável através dos tempos. O inferno de Sísifo é a trágica condenação de estar empregado em algo que a nada leva.

Parece esse ser o eterno retorno de Sísifo. O que me remete a Nietzsche. O filósofo questiona se desejaríamos viver eternamente a mesma vida, com toda dor e deleite, com cada pensamento e suspiro."E tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio." Você toparia viver tudo de novo...exatamente tudo igual, a mesma pedra no sapato, a mesma aranha te picando, os mesmos problemas te assombrando naquela mesma época da vida. Os mesmos amores latejando em tua cabeça e no trabalho, tudo exatamente igual. Acharia você isso obra de Deus ou do Demônio?Tudo isso se repetindo infinitas vezes?E de novo e de novo.
"Amamos a vida a tal ponto de a querermos, mesmo que tivéssemos que vivê-la infinitas vezes sem fim? Sofrendo e gozando da mesma forma e com a mesma intensidade? Seríamos capazes de amar a vida que temos - a única vida que temos - a ponto de querer vivê-la tal e qual ela é, sem a menor alteração, infinitas vezes ao longo da eternidade? Temos tal amor ao nosso destino? - Eis a grande indagação que é o Eterno Retorno. Será que eu quero passar a eternidade fazendo o que estou fazendo agora? Será que a decisão que estou tomando hoje merece ser tomada sempre e infinitas vezes? Minha vida é satisfatória o suficiente para eu querer viver de novo? Cada decisão vale para sempre! E Nietzsche, fala do amor fati. A ideia de amar o próprio destino a ponto de vivê-lo inúmeras vezes.
****

As ideias de Nietzsche são correlatas. Quando ele descreve sobre "aceitar o destino", está dizendo ele que o homem deve fazer o destino, escolher suas decisões, enfim é do homem a autonomia para ser feliz. Ele é o seu super homem. E não Deus. Declarou ele que Deus está morto. E diz que os homens é que devem se declarar deuses. E a pergunta fundamental que surge com as morte de Deus é: " Tu és poderoso o suficiente para suportares ser criador? Nossa. que pergunta que retumba em minha cabeça..acho essa uma das perguntas mais inteligentes da humanidade....
Mas eu, eu não sou forte o suficiente para deixar de acreditar em Deus. Eu preciso dele. Ok, creio que nao pratico a fé,só fico na vontade de fazê-lo. Talvez por isso me sinto tao distante de Deus,,talvez para mim, ele so esteja no mundo das ideias. E eu vou procrastinando a vontade de recebê-lo verdadeiramente em minha vida. Eu vivo um tumulto interno muito grande. Creio que não vou conseguir sufocar esse tumulto nesta vida. Todos os dias, e isso sintomaticamente, ando rezando a Deus, pedindo que ele entre na minha vida e opere reviravoltas, algo até no sentido neopentecostal. Mas o dia acaba e eu, ao fazer meu exame de consciência diário, percebo que me irritei com as mesmas coisas, fui mesquinha nos mesmos momentos, pequei nos meus mesmos egoísmos. Enfim, o meu eterno retorno!

domingo, 21 de março de 2010

Ele disse, eu disse!!!

Há uma pessoa que se interessa verdadeiramente por meus problemas. É genuíno, um interesse tão fiel que todos os dias me pergunta como eu estou. Mas descubro que esse interesse não é baseado na tão altruísta característica da bondade. O interesse está centrado no egoísmo. Um paradoxo fácil de explicar: meus problemas são como uma montanha russa, vivo pipocando nas emoções, ora estou num arranha-céus, noutra a beira de um precipício. Essas oscilações são o pano de fundo de minha personalidade e conferem um roteiro atraente a quem de longe se torna espectador. Alguém centrado demais, faz de mim seu filme principal. Eu sou o efeito borboleta.

"O meu interior é certinho demais, organizado demais, equilibrado demais. De forma que ele me sufoca as vezes. Por mais que minha vida esteja numa merda sem fim (não é o caso agora, mas em outras oportunidades) meu eu interior sempre se comporta de forma previsivel, estrategica, diciplinada. Então minha vida não tem altos e baixos no campo sentimental, não tenho tristeza nem alegria em excesso. Entende porque eu me atraí por voce agora?Você é meu oposto!!! Compreende agora o meu sincero interesse em seus problemas?

Pita diz:

Sim...eu não caibo nos estreitos. Eu vivo nos extremos. Eu nao sei ser estável. Exagero é o meu nome. Eu não consigo viver uma rotina inteira sem ter altos e baixos. Ou eu enfio o pé na jaca e vou ate o fundo do poço ou exulto de alegria. Mesmo que seja por um segundo apenas. A rotina de ser eu permanentemente inalterada me provoca arrepios. Tédio com um t bem grande prá vc. Eu preciso me sentir emocionalmente abalada prá me sentir viva!!!

quarta-feira, 17 de março de 2010

Idade da loba

Faltam cinco horas para eu completar 39 anos de vida. Leio que para os britânicos, a juventude termina aos 36 anos e a terceira idade começa aos 58. Sendo assim, estou na segunda idade e meia. Mezzo jovem, mezzo velha. Uma sagaz representante das lobas. Meu uivo de quarentona eu só escuto da garganta prá dentro. Não engulo essa idade. Mesmo que te digam que está com tudo em cima, vem essa rocha cronológica que te esmaga os "gambitos" Pernas, prá que te quero, para correr da idade. Mas não adianta, estou avançando em um mato sem cachorro. Se eu não arrumar um "gato" agora, mais tarde é que vai ficar impossível. Pode ser um príncipe de segunda mão, tudo bem eu não me importo, contanto que não esteje desgastado dos outros relacionamentos. Engraçado, essa semana eu ouvi duas considerações sobre a idade. A primeira, de um homem. A observação foi essa: de que na minha faixa etária, as pessoas que estão solteiras desesperam-se por um par. E nessa corrida contra o tempo em busca do amor, elas aceitam até baixar o nível de seus pré-requisitos. Se contentam com menos, topam se apaixonar por pessoas que, fosse na juventude, não se encantariam. "Mas tu, Pita, corre ao contrário, eleva ainda mais tuas exigências." Quanto mais o tempo galga os meus degraus da maturidade, mais eu incluo requisitos nos meus candidatos a parceiros em potencial. Eu vou ficando para titia e me acostumando com isso, talvez por isso eu eleve o meu padrão de qualidade. Por uma questão de resignação. Talvez esteja acostumada com a ideia de ser uma "isolada sexual". Alguem sem anexo, desatarrachada da minha tampinha. Logo, se não espero nada. Eu des-espero. E quando você não espera, está liberada para maximizar suas expectativas. Continuando assim eu aos 50 vou querer um galetinho de 25. Rico e inteligente. E que goste de filosofia. Hahahahaha. E que escreva certo o português. E que tenha acima de 1,75. Que não fume e seja atraente. Jesus, só falta eu ter síndrome de Madonna. Bem, estamos aí, aos 39, às vésperas de entrar nos "enta", cuspo fogo pelas ventas. Leio uma outra pesquisa que diz para eu não esquentar. Diz que as pessoas que se sentem mais jovens do que a propria idade, ou seja, pessoas com a idade subjetiva menor do que a idade cronológica, conseguem retardar o processo de envelhecimento.
Os especialistas descobriram que as essas pessoas que se sentiam jovens para a própria idade tinham mais chances de ter uma segurança maior sobre as suas capacidades cognitivas. Os estudiosos não sabem contudo, o que vem primeiro: se o bem-estar e a felicidade da pessoa afeta as suas capacidades cognitivas ou se as capacidades cognitivas é que afetam a sensação de bem-estar. Então eu estou bem demais na foto: mentalmente, eu me sinto com 23 anos. Juro. Nada mais do que isso. Se eu conseguir chegar aos 60 com a mente de 40, vou ter de usar muito pouco "renew" na cara e na alma. Oba.

quinta-feira, 4 de março de 2010

A túnica da alegria

Fermenta em mim uma nova vontade de renascer. Depois de tantos meses me sentir um zumbi, sucumbindo a cada hora diária, o fel que dizimava minh"alma se esvai para o ralo. Dou o cano nele. Sinto subir, estou escalando o precipício. Alpinista de mim mesma, subo segurando as paredes. Emerjo da dor. Vestida de cor de rosa, saio parida da vida. Sacudida como a árvore forte, já não escuto mais o meu choro mudo. Não me cabe revolver as circunstâncias pelas quais volto a me reconstruir como pessoa. Mas sinto um baque. Uma estocada do medo que me atormenta sempre que saio dos braços da tristeza. Assalta-me a impressão de que não sei viver sem ela, essa melancolia, bile verde que se espraia e faz tocas no meu espírito. Juro juradinho que a alegria me desencoraja. Me deixa em frangalhos. Não sou íntima dela, portanto estou pouco a vontade com ela. Entre mim e a alegria, há um silêncio mordaz. Essa estranha que agora ousa se aproximar, me faz temer. Ela me abraça, eu afrouxo os braços. Temo possui-la. Esse pote de mel tão doce me embaraça. São fios de ouro que se deitam na palma da minha mão. Mas não ouso tocá-los. Pode ser uma tarântula pronta a dar o bote, a soltar seu veneno. Tenho medo de despencar da árvore da alegria. Ficar no raso não produz tombo. A tristeza é rasa, opaca, mas quem cai, daí não passa. Queria me sentir amada pela alegria, inoculo o desejo de deixá-la me abraçar. Mas meu medo é mórbido. Sou um aborígene fugindo dela. Preciso vir a tona, a civilização. Que meu coração se amanse, que eu termine me desprendendo da rede da tristeza, que ouça o canto da consolação. Que a alegria jogue pedrinhas em minha janela. Que ela seja meu cachecol no inverno, minha esteira no verão, minha túnica em noites de gala.

Virei comida da dor!

Fucei em um blog hoje que eu adicionei como meus favoritos na minha página. Textos Inteligentes. Encontrei um monte de frases interessantes, bem ao meu gosto, que gostaria de ter criado. Sendo assim, vou modificar um pouco as palavras e literalmente copiar as ideias, em uma forma de homenagem ao blog interessantissimo. São trechos que vou adaptar ao meu feitio, com a devida licença dos autores. Posso né, não estou "pegando" escondido.

"Estou sozinha com os meus peitos, as minhas coxas, o meu colo. Eu desenterro o relógio que era o meu coração para fora do meu peito. Vou para a rua, vestida no meu sangue. Deixo entrar o vento e lanço um brado ao ar. O pó se acumula todos os dias sobre minhas emoções. Espano a dor. A dor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. Devorou minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. A dor comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome. Famita a dor devorou meu prazer, minhas musicas cantaroladas no chuveiro, minhas tardes de sol, meus dias brandos. A dor bebeu a lágrima dos meus olhos que estavam cheios de água. A dor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome. A dor engoliu minha infância, degluta meu futuro e desova meu corpo inerte na barranca do rio da vida. A dor cria vincos na minha face e dobra meus joelhos. A dor me verga, me expele do útero e me afronta. Só não me mata. Me engole, lentamente.Deixo a baba dela escorrer. São inuteis os panos, as vassouras os espanadores. Tira tua pata de mim dor. Mas ela não cede, arranha minha crina. E de novo me engole. Lentamente."
(Inspirado em João Cabral de Melo Neto, Heinen Muller, Caio Fernando Abreu)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Sobre alegrias na janela e principes!

Hoje eu só trabalhei na tevê. Foi ótimo e folgado. Não precisei correr a tarde inteira, dividida entre televisão e jornal, duas redações distintas. Fiz duas matérias. Uma me impressionou bastante, de uma garota de 15 anos que já leu mil livros. Nossa, senti inveja (branca) dela. Não tenho este sentimento por mulheres cheias de jóias ou roupas, mas me acometeu uma invejazinha boa e salutar dessa menina que com tão pouca idade lê obras de filosofia e psiquiatria. A desenvolvura e a conversa articulada dela são fantásticas. Grande bagagem cultural. Foi uma materia prazeirosa de fazer. Devo dizer que este é o segundo dia consecutivo que está sendo bom.Nossa eu estou até desacostumada a ter um dia bom. Eu sempre tenho a impressão que tudo vai voltar a ruir. Não estou acostumada a que a bonanza e a alegria toquem pedrinhas em minha janela!!!

*****
Papo de emeesseene às vezes surpreende. Gostei particularmente de uma conclusão espetacular que uma pessoa escreveu e que talvez seja a síntese de um sentimento oculto em mim. Eis a observação:
"Acho que ao longo de sua vida você ja conheceu tantas pessoas, acreditou em tantas promessas, se machucou com tantos sentimentos que hoje mesmo que seu "principe encantado" aparecer montado num cavalo, você ainda vai acreditar que ele é apenas um papeleiro que esqueceu da sua carroça." Hehehehehe - ótima analogia. Gostei. Acho até que ela é verdídica. Vou pensar sobre isso. Essa inteligente conclusão credencia o dono do papo a postular uma vaga para príncipe encantado. Tem chances.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Uma pergunta no horizonte

Existe uma pergunta que se projeta em cada um de nós, seja tolo, empresário, diretor de cinema ou garçonete. Mesmo que nem estamos conscientes dessa indagação, mesmo que ela não sera formulada oficialmente em nossa mente, ela palpita viva nos porões do subconsciente. Estamos vivos para descobrir "o sentido da vida". Qual o sentido da vida?Por que estamos cobrindo a terra com filhos, nos alimentando, tentando ter prazer, nos realizarmos emocional e profissionalmente, galgando degraus de poder ou requisitando a atenção de nossos afetos familiares. Há quem responda simploriamente que o sentido é viver, levar o impulso da existência adiante para criarmos a prole e sermos feliz no amor e subir na carreira. Pronto, está formatada a resposta para uma pergunta tão intrincada, diriam muitos que não gostam de pensar com profusão de detalhes. Filósofos se posicionam com suas mentes reflexivas na tentativa de desvendar o questionamento. Cientistas procuram uma resposta exata. Gente comum como eu...revolve as ideias na cabeça para tentar discernir porque estamos aqui. Ou por que estou aqui. Achei uma resposta satisfatória lendo parte do pensamento do filósofo Viktor Frankl. Ele inventou a logoterapia. A logoterapia cuida do sentido da vida. Todo ser humano, em realidade, anseia por um sentido pelo qual valha a pena viver e lutar, uma tarefa valiosa para cumprir. Quem consegue descobrir o seu sentido de vida, consegue ser forte nas maiores privações da vida, porque tem um motivo para lutar, um razão para sobreviver, uma vez que encontrou o seu sentido.
O budismo de certa forma, ensina um caminho para a vida ter sentido. A compaixão, o amor por tudo e todos de forma incondicional seria, na visão budista, a única coisa pela qual a vida vale a pena. Eu concordo, queria ser compassiva a ponto de me doar a tudo e todos, a ponto de encontrar este sentido . Afinal, Madre Teresa de Calcutá, que viveu uma rotina de pobreza no meio dos excluídos, morreu plena de serenidade. Improvável que ela quisesse estar no lugar de reis do petróleo, princesas ou donos de impérios econômicos. Viveu uma vida plena na sua frugalidade porque encontrou o seu sentido de vida: ajudar aos necessitados. Ocorre que o sentido de vida não é igual para todos. Cada um tem que encontrar a fenda na roda da vida que enche de razão a existência. Frankl gosta de citar uma frase de Nietsche: "Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como."

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Um pouco de aventura liberta a alma cativa do algoz cotidiano. (Caio Leonardo)

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Nave mãe

O dia está quente, mas o trabalho rendeu. Estou há três horas em casa burilando o que pode servir de crônica. Ideias vêm e vão, fica o pensamento fixo de querer procurar frases aleatórias e de efeitos. Sim, sou uma colecionadora de frases. Adoro citar filósofos e autores conhecidos ou desconhecidos, tanto faz o estilo, contanto que me aprazem. Acho frases de efeitos uma sacada fantástica dos seus autores. Eles conseguem colocar em poucas palavras um pensamento extenso que levaríamos várias linhas para verbalizá-los. Por isso, quando encontro uma frase que me chama a atenção, faço questão de guardá-la, claro, com o devido crédito ao seu autor.
Agora é hora do Big Brother e ouço, aqui na frente da televisão ouço o Pedro Bial falar que faz contato com a nave mãe. Isso quando não chama os participantes de "nossos guerreiros". Essa história de considerá-los guerreiros já rendeu uma pequena polêmica que salpicou na mídia. Cade a intrepidez por ficar o dia inteiro atirado em uma pisicina, fazendo fofocas e pensando no paredão? Bial teria retrucado, que os brothers são sim, guerreiros e continuou usando o termo. Fico pensando como essa cambada de brothers fazia antes do programa? Será que nenhum trabalhava, será que conseguiram tirar licença por três meses do trabalho? Com certeza não tinham funções relevantes, porque ninguém com alta responsabilidade ganha aval para se ausentar por tanto tempo. Mas enfim, os brothers conseguem agradar até os jornalistas. Sim, lá na redação do jornal, o BBB é assunto recorrente. Tem colega bem antenado sabendo quem saiu, quem vai para o paredão ou torcendo para determinado participante. Eu acho até legal esse momento descontração, mas não participo porque não estou muito atualizada sobre as fofocas bigbrothianas. Mas quer saber de uma coisa? Não acho que uma tropa de brothers sejam guerreiros, que me desculpe o Bial, mas o máximo que eles são é uma cambada de folgados. Folgados que dão audiência. Só isso. Ou melhor, tudo isso!
***
"A vida oscila, como um pêndulo, de um lado para o outro, entre a dor e o tédio." (Schopenhauer)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Aparição

Tanto tempo sem visitar meu blog. Vim dar sinal de fumaça. Tenho me ausentado com muito mais frequencia do que queria porque minhas ideias estão amolentadas. Ando preocupada com isso...com essa falta de mente criativa. Será que virei demente? Ó mente raquítica, quando tu vais vir à tona, com toda tua tônica de humor ou desamor? Quero crer que essa indolência mental seja apenas uma fase passageira. Como diz minha colega Laura Peixoto, um dia tudo se ajeita. Falando em Laura, vez ou outra passo no blog dela para conferir as notícias alternativas de Lajeado e região. Laurinha tem um texto fluido, apimentado e filosófico, que gosto muito. Fui lá agora e "furtei" um pensamento que achei muito tri. Ando com tanta saudades das minhas aporrinhações mentalmente filosóficas...mas qualquer dia eu volto a ler sobre isso...preciso atualizar minhas elucubrações relativas ao tema...por enquanto, ai vão umas palavrinhas de Platão!

Podemos facilmente
perdoar uma criança que tem medo do escuro;
a real tragédia da vida
é quando os homens têm medo da luz."

Platão (filósofo grego)

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Boa-fé

Quero falar aqui de algo que eu possuo em abundância e por isso às vezes sou enquadrada como ingênua: a boa-fé. Já falei vários posts abaixo, sobre a necessidade de ser boba, mas não burra. Boba no sentido de sempre acreditar no outro e não perder a fé na humanidade, crer sempre que as pessoas dão de si o seu melhor. Julgo que isso é ser de boa-fé. Saber acreditar nas pessoas e também acreditar em si mesmo, agindo de boa-fé para com outrem, mesmo que você possa dizer uma grande bobagem. Mas se você acredita piamente nela, a intenção não pode ser desqualificada.
O filósofo Andre Comte Sponville, no Pequeno Tratado das Grandes Virtudes, relaciona a boa-fé como uma delas. Ser de boa-fé não quer dizer estar acompanhado na verdade, mas esta virtude tem mais a ver com uma crença. Diz ele: "Ser de boa-fé não é sempre dizer a verdade, pois podemos nos enganar, mas é pelo menos dizer a verdade sobre o que cremos, e essa verdade, ainda que a crença seja falsa, nem por isso seria menos verdadeira."
Ele distingue a sinceridade da boa-fé: ser sincero é não mentir a outrem; ser de boa-fé é não mentir nem ao outro nem a si. A boa-fé é uma sinceridade reflexiva e deveria tanto reger nossas relações com o outro mas como com nós mesmos. Quantos de nós temos boa-fé para esquadrinharmos nosso interior e retiramos a máscara social que muitas vezes colocamos como modo de defesa e para sobreviver nessa sociedade caótica e hipócrita? E para preocuparmos mais com a verdade do que com a opinião pública?Às vezes, ter boa-fé com os outros é mais fácil do que ter conosco, muito do que acreditamos está tão enterrado, submerso em nosso íntimo que nem cremos mais que tais valores estão dentro de nós.
Conforme Sponville, a boa-fé não substitui a justiça, a generosidade e o amor. Mas que seria de uma justiça de má-fè? O amor à verdade, eis o que é a boa-fé, mas o amor à própria verdade interna, como dizia Freud, “o que deve excluir toda e qualquer ilusão, todo e qualquer logro”.

Nasce outra década

Último dia do ano. Entraremos em uma nova década, 2010 tem que ser dez no campo profissional e das emoções, mas eu confesso que estou fazendo diferente. As esperanças que se renovam para todo mundo nesta virada não fazem parte do meu arsenal para melhorar o novo ano. Eu desafino do coro dos contentes e não projeto nada, não vou emitir nenhuma resolução (e eu teria muitas), justamente para não me frustrar no fim do próximo ano. Mas eu acho bacana esse clima pressentido de alegria e leveza que toma conta de muita gente nesta época. Aqui em casa, mesmo que meus familiares não verbalizam, eu sinto que eles esperam 356 dias melhores. Em clima de festa, eles vão arrumar o salão para a meia-noite e minha mãe fará as tradicionais palhaçadas, animando a turma, que depois de explodir os fogos que explodir também na alegria. Que nasça 2010, e que como um bebê que ilumina o lar, que possa vir na carona desta década uma força contagiante e se instale dentro de cada um de nós.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Tristeza na alegria

Entre as páginas da minha agenda do ano anterior - porque eu sempre anoto coisas importantes e perenes no folhear dos meus dias - releio um trecho atribuído a Arthur da Távola e uma frase percorre a espinha porque a identificação com o que ele diz é tal que pareço entrar nas palavras dele. Quanto mais eu leio, mais eu me introduzo no contexto e sinto que sentimentos aparentemente dissonantes se grudam para uma desfecho de sensações.
Távola escreveu que quem se alegra demais se distancia da felicidade. A felicidade está perto da tristeza porque a certeza da perda se instala a cada vez que estamos felizes. Bingo. É isso. Quanto atingimos o ápice de um sentimento de alegria e mesmo desfrutando do momento extremamente apreciado, no fundinho, lá na berlinda do coração, sabemos que esse apogeu de sensações não vai durar para sempre. Sem querer nos despedimos do momento de extrema alegria antes mesmo que a despedida se faça presente. É por isso que julgo que um instante de extrema felicidade nunca contém uma dose tão alta dela assim, porque automaticamente a gente trata de ter saudades desse momento que ainda nao passou.
Nosso cérebro e pensamentos são extreamente ágeis e funcionam por vias inconscientes e terminações neuronias complexas e tão profundas que mesmo sentindo tudo isso a gente não consegue explicar em palavras. AS vezes, nem nos damos conta de que sentimos assim. Só percebemos isso quando outra pessoa consegue verbalizar tais tormentas emocionais. Aí nos identificamos e dizemos: "Ah , é isso". E vem uma gratificação por sabermos que o que sentimos não são sentimentos inéditos. Percebemos que tem alguém que sente igual. Ufa, ainda bem.

** A tristeza feliz, não a que deriva das grandes dores, frustrações ou amarguras. É a que se associa ao momento bom, como a perda inerente a cada encontro, como sentimento de certeza de que tudo aquilo passará.

*** Felicidade está mais perto da tristeza, porque a certeza da perda sempre se instala a cada vez em que estamos felizes. Cada encontro está carregado de perda. Nesta vida. E até na outra, que se existe (e permitirá o encontro redentor), precisou da perda desta vida. E esta certeza – a da perda – a que provoca aquela lágrima ou aquela angústia, que a gente não sabe porque às vezes se instala após os verdadeiros encontros. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um ‘e depois’, após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada.

domingo, 29 de novembro de 2009

Pilotando a vida

Eu adoro metáforas. Creio que a vida pode ser sorvida de forma prazeirosa como um sorvete de chocolate ou então ser cozinhada em banho maria, em fogo brando, em templo nublado para aqueles que esperam uma decisão. Eu não sei qual a forma certa para degustar a vida, talvez ela possa ser posta na mesa e se reverter em um lauto banquete. Mas desconfio de quem pega leve no tempero. Eu não tenho mão para cozinhar. Eu nem ao menos sei onde se acende a boca maior do fogão. Eu admiro uma mulher de forno e fogão, que sabe entornar o óleo na medida exata da panela. Me satisfaz mais quem sabe azeitar a vida e pilotar receitas não híbridas, manejando os ingredientes tanto doces quanto amargos, estalando a língua diante dos contatos mais saborosos mas também desabridos. Mulheres apetitosas são as que petiscam a vida, tanto em época de farta colheita quanto no momento em que o período amargo sova o pão. São as que fazem happy hour em cada minuto diante da existência, porque sabem que podem e crêem na sua mão para descortinar sempre um novo horizonte.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Me quero de volta, eu pago o resgate!

Estou há quatro dias trabalhando na redação do jornal O Informativo. Pareço uma foca, uma novata que vê o recinto com olhos não domesticados. Como se fosse a primeira vez que trabalhasse ali (mas não é, atuei no local por 15 anos, conheço o mofo das paredes e os velhos ramais telefônicos). É interessante esse aspecto de retornar a um local que você precisa se ambientar novamente, mas que já lhe é velho conhecido. Não é uma sensação de "déja vu". É diferente. Sei que vou me readequar, mas o que "tá pegando" em mim é a percepção de eu não ser mais eu no ambiente de trabalho. A Pita antiga era irrequieta, com a mente encharcada de idéias e parecia uma ventania ao passar pela redação. Sem titubear, ia em busca das matérias mais impactantes ou as quais ela considerava boas para o público ler. De um jeito um tanto ensandecido tirava fotos, muitas das quais pitorescas, como o seu jeito pitônico de ser. Um dia, um colega lhe disse: "Pita, você é uma história em quadrinhos". Por muito tempo a Pita aqui ficou pensando em suas particularidades e dizia querer ser uma pessoa normal, sem rompantes, nem impulsos nem exageros, que na minha ótica, eram considerados "crimes" em ambientes sociais. Esforcei-me tanto que pareço ter conseguido. Agora, consigo - pelo menos profissionalmente - agir com bom senso, não subo em cima das mesas mas também não vibro com qualquer matéria. Aquela adrenalina que me movia o tempo todo parece ter arrefecido. Eu tanto queria ser "normal" que me surpreendo ante minha própria insatisfação contra essa nova Pita, mais contida que se incorpora em mim. Oh, God!!! Eu quero voltar ao meu "pique" que nada tem de normal, me extravasar todos os dias com minhas ideias, mesmo que sejam esdrúxulas. Voltar a ser chamada de "louquinha", mesmo que na hora eu não goste, porque se esse é o preço que eu tenho de pagar para andar de mãos dadas com a minha criatividade, produtividade e prazer pelo trabalho...então eu topo. Me quero de volta, eu pago o resgate.

domingo, 22 de novembro de 2009

Multidão de gente sós


"Sempre me senti isolado nessas reuniões sociais: o excesso de gente impede de ver as pessoas"

Esse Mário Quintana dizia em breves palavras o que a maioria das pessoas tergiversa em rodas de amigos. Eu curtia mais essas reuniões sociais, hoje quando vou a algumas delas, tento "apreender" a pessoa. Ver se ela realmente está satisfeita, se seu sorriso é de fato genuíno ou se tem um gesto contrafeito. Eu acho legal observar a linguagem não-verbal das pessoas. E onde minha curiosidade é mais incitada é na rodoviária em Porto Alegre, para mim, destes pequenos pagos, é a maior que já conheci. Gente em abundância, adoro olhá-las correndo passando com suas malas, ou observar a garota descendo do coletivo para abraçar o namorado que está a espera. Tem pessoas apreensivas aguardando alguém. O pessoal que trabalha nas lanchonetes com movimentos rápidos para atender a toda a demanda e os seguranças que ficam estaqueados nos pilares, prontos para abater qualquer arruaceiro. Tanta gente e ao mesmo tempo estou tão só comigo mesma. Uma frase de Sartre não me sai da cabeça. Ela é verídica: "O homem está só em sua solidão visceral".

sábado, 21 de novembro de 2009

Eu sou o que não vem à tona


O que está no meu inconsciente que eu não consigo trazer à tona? Eu penso, tento escrutinar, perscrutar meus cantos mais escondidinhos, mas mesmo assim fato submersos permanecem cobertos pela névoa da psique. E é tão interessante saber que esse inconsciente faz parte de mim e reflete nas minhas atitudes que eu acho isso fascinante. Mas eu sou o que eu percebo ou será que eu sou o que ainda nem percebo em mim? Eu sou os dois!!! A polarização está em mim. E quando esse eu oculto virá a deriva? Para o meu conhecimento, eu sou só a ponta do iceberg. Ou melhor, todos nós somos. Existe uma montanha do Himalaia escondida em cada um de nós.

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Eu nunca li muito Jung mas acho que ele escreve bem. Em um trecho de "O Homem e seus Sìmbolos" ele diz que a maldição do homem moderno é a sua divisão de personalidades. Ele ta falando do consciente e do inconsciente, o qual nunca nos damos conta. Jung diz que há aspectos inconscientes mesmo na nossa percepção da realidade. Todas as nossas experiências contém um número indefinido de fatores desconhecidos. E os acontecimentos que não tomamos consciência foram absorvidos sem nosso conhecimento consciente. E só vamos percebê-los em algum momento de intuição. Mas apesar de ignorarmos de início, os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento, o qual pode aparecer em forma de sonho. Entenderam??? Bem, é complicadinho, mas vale a leitura e a reflexão.