quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Chuva de bençãos!


"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, silêncio que respeita, alegria que contagia. E isso é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa, mas intensa, verdadeira, pura enquanto durar".


(Cora Coralina)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Dia de Milha


Eu e a Nanna ontem tivemos um Dia de Milha. Dia de "Mãe e Filha". Fomos para o rio. Juntas, no rio, eu sorrio. Mais pela intimidade do que o momento conferiu do que por qualquer outra coisa. Fiquei ciente de que minha filha precisa ter intimidade comigo e só comigo. Até cogitei em levar outras pessoas, mas descartei ante a idéia convicta dela: "Mãe, esse é o nosso Dia de Milha, lenbra?".
O Dia de Milha foi um neologismo inventado na hora, e pelo jeito vai ficar. Acho que vamos instituí-lo uma vez por mês. Daria até para fazer igual às companhias aéreas. Quanto mais dias assim, mais milhas. Em um ano, seriam 12 Dias de Milhas, que daria um dia adicional. Seria do Dia da Pilha. Mãe e filha, pilhadas, imaginem! Pilhadas no amor, até que seria legal, né. No final, tudo é parceria e o sentimento de que temos de ser acolhidos no coração de alguém, que não seja apenas o nosso coração. E o que dá sentido à vidas é o fato de termos um regaço. No rio, percebi que minha filha me regala com uma vaidade e um orgulho infantil de quem quer me proteger. Julgando-se potente, ela confidenciou-me: "Mãe, vamos um pouco mais para o fundo, eu te protejo. Confia em mim". Inquestionavelmente, me senti protegida, não do rio, mas pelo senso de proteção dela, mais forte que o perigo. Mais fluente que a correnteza. No rio, eu sorrio. Vi um amor corrente.


*** Um bebê é a opinião de Deus de que o mundo deve continuar(Carl Sagan)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Que canalha, o que!

Tem muita mulher que acredita que porque o cara não gosta dela, ele é um canalha. Quanta confusão de sentimento. Sentimento é independente de índole. Bonzinhos e canalhas se apaixonam. Não é porque um cara te faz sofrer que é porque ele é mau caráter. Grande leva do sexo feminino pensa que porque o gatinho a rejeitou é porque é falcatrua. Elas misturam falta de sentimento com falta de índole. Creio ser um mecanismo de defesa para poder "culpar" a outra parte, porque afinal, rejeição incorre em senso de desvalorização. Então o rejeitado quer demonstrar seu valor, culpando o outro lado, porque só assim vai processar na cabeça dele que ele tem valor. O errado é o outro porque é mau caráter. Porque se fosse bom caráter, ficaria com ela. É um sentimento de compensação errado, mas se tem funcionado há milhares de anos para as pessoas se reerguerem do açoite de um amor mal-sucedido, então, que prossigamos com a idéia. Mas eu tento não cair nela e nem levar o cara por falcatrua se ele não gostar de mim. Eu tento, né!

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Monstro interior

Eu fico triste comigo. É uma derrota tudo isso que eu senti. Porque na verdade eu luto contra esse monstro interno que tem contra mim e nao consigo vencer, entao mesmo "meu pseudo amor" venha falar comigo e me acalmar, eu perdi. Eu perdi pra mim mesma. Eu nao consigo sozinha me administrar, esse monstro me come e isso me mata. Porque eu fico sempre com medo que ele esteja ai na esquina e vai me pegar - esse sentimento de desespero, parece que está sempre a espreita. Agora eu não sei quando isso pode voltar. Toda hora eu temo. Se dá um frio na barriga, isso pode ser uma pista de que ele está de volta. Aí entro em pavor e penso: "tá vindo, tá vindo". EU NÃO TENHO CONDIÇÕES DE TER NENHUM RELACIONAMENTO. EU TO SENTENCIADA A SOLIDÃO. POR BONITA, POR QUERIDA, POR LEGAL QUE EU SEJA. EU SOU O MEU MONSTRO. EU ESTOU DESTINADA A VIVER NO VAZIO.

Receita para ser conquistado

Sabemos que o amor não é como sopa Maggi que já vem pronta. Mas existem certos quesitos que transformam a pessoa em um potencial parceiro. Qual a receita prá aquecer seu coração? Todas as pessoas, todo o tempo tem um monte de pré-requisitos. Afinal, temos de ter né. Mas o legal da fórmula do amor é achar que ela existe, e ir em busca dela. É caminhando que se faz o caminho. Dizem que a gente não tem que esperar e nem correr atrás do amor. Ai, que papinho. Ninguém é tão passivo emocionalmente a ponto de ter um vácuo no coração e não fazer nada para resolver isso. A gente corre atrás sim, a gente tem que ir a luta de alguma forma. E se a gente encontra uma pessoa pela qual ficamos atraídos, então por que não tomar a iniciativa de mostrar o sentimento? A gente sempre quer se preservar das coisas, ser comedido em termos de sentimentos porque podemos demonstrar demais e afugentar a pessoa. Mas no fundo, se a outra pessoa gostou de você, não vai ser sua intensidade que vai atrapalhar. É sempre melhor terminar um caso com a sensaçao de dever cumprido, de que fez tudo pra dar certo, do que com a sensação de que "só nao deu certo porque eu não me esforcei o suficente". É preciso "gastar" as tentativas...entao vc pode rumar para outras possibilidades.

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Intensidade cedo demais incomoda?
Para a maioria, sim. E se alguém faz tudo por você. E se alguém faz sempre a mesma coisa por você? Eu tenho medo do mesmo. Eu tenho medo do tudo. Como ser gente é complicado.

*** Vamos ali onde não se espera nada e achamos tudo o que está esperando." (Neruda)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Cada dia é menos um dia




2009 chega cantando canções de ninar. Um ano novinho, ainda nas fraldas que cresce e se desenvolve com o decorrer dos dias. Eu tenho pressa em ser feliz ainda em 2008, neste finzinho que não é comparado a nadica de nada. Se não conseguir ser feliz na cauda de 2008, tenho pressa em ser logo, ainda no começo de 2009. Tenho pressa em não ficar patinando no mesmo lugar. Não, eu não vou fazer as resoluções de ano novo - essa coisa de: este ano vou emagrecer, vou me qualificar, me espiritualizar e vou ser melhor para mim, para os amigos e para a família. É porque isso eu penso toda a segunda-feira, nem espero os 365 dias fecharem o ciclo. Reflito no equinócio da primavera, no solstício de verão, eu penso sempre no tamanho da minha pressa.
O tempo corre e com ele decorre a possibilidade de ser feliz. E o tempo que a gente deixou de ser feliz ontem escorregou pelas frestas vazias. Cada dia é menos um dia. Existe muita possibilidade em um ano que se renova, porque um outro fechou-se encerrando os ciclos. Os finais também são dotados de novos horizontes. Tem um desejo que habita em mim que eu queria, se realizasse durante essa estrada, essa infinita highway de 2009. Internamente, suplico por ele todo instante. Ele reverbera em mim como um eco, cada vez que meu grito interno engasga na garganta. Mas Deus como está em tudo, também está dentro do meu grito, então ele vai saber traduzir esse meu sonho. Se não for realizado, vira nó, instalado no meio do sossego.
A vida é mesmo uma pista de via rápida. Passamos por ela velozmente, muitas vezes sem nos depararmos para olhar as placas impressas com as nossas sensações. Cento e dez, cento e vinte, cento e sessenta...o coração turbinado indica um horizonte cheio de possibilidades. É muito bom permitir ao vento de nossas emoções corar o rosto.Deslizemos pois, por 2009.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Zimzum


DEUS É NOSSA FAIXA DE SEGURANÇA



No início, era Deus, infinito, ilimitado. Mas como era tudo, tudo estava cheio de Deus. E se Deus era tudo, nao podia ver a si mesmo. Rosto não olha o próprio rosto.
Sendo grande, sendo tudo, sendo onipresente e multiplo de tudo, não tinha espaço para o mundo fisico, que ele queria criar, entao ele teve de se encolher um pouco. Deus renuncia a sua onipresença para deixar um vazio, uma brecha por onde entra o mundo. Contraiu-se deixando espaço para que mundo nasça, um mundo que seria seu espelho. Eis a teoria da contração do mundo: Zim Zum. "A entrada de Deus em Si mesmo". Deus primeiro "se contrai" para dar espaço, e depois "sai de si" para vir morar com suas criaturas.
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Teoria interessante, eu então concluo com meus botões: "Até Deus tem sua vaidade,ele criou a Existência porque queria ser visto como Deus "
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Deus é múltiplo, então é grande e pequeno: grande, assim o múltiplo é infinito, segundo a grandeza" - Este é o pensamento de Zenao de Eléia. Meu Deus, que cara complicado e fascinante. É como ele mesmo diz: É uma dificuldade superar o pensamento e é somente ele que causa esta dificuldade."
** Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão infinitas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho.

ELE DISSE
A flecha em vôo repousa", porque "o que se move sempre está no mesmo agora" .

Eis o paradoxo de movimento, recebeu esse nome.Zênon afirmava que, para ir de um ponto a outro, primeiro você tem de percorrer metade do caminho. Para percorrer a outra metade do caminho, primeiro você deve percorrer metade da distância restante, ou seja, mais um quarto do caminho. Para percorrer o resto do caminho, você deve percorrer metade da distância restante, ou seja mais um oitavo do caminho. E assim por diante, ad infinitum. Em outras palavras, por mais que você esteja perto do segundo ponto, você ainda tem que vencer metade da distância que falta e você ficará nessa situação, sempre. Portanto, concluía Zênon triunfantemente, o movimento é impossível, já que nunca se pode chegar aonde se está indo, mesmo que seja um palmo adiante.

No correto está o incorreto e no falso também o verdadeiro".

Heráclito diz: "Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo". E Platão ainda diz de Heráclito: "Ele compara as coisas com a corrente de um rio - que não se pode entrar duas vezes na mesma corrente"; o rio corre e toca-se outra água.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Polvos entre o povo

Olha, gente, eu nem gosto de política. Muito menos de falar no assunto. Não me interessa, não me apetece, não me gusta. Sou cega a político, pior que o Steve Wonder: nem me viu. Mas nem é questão de falar no tema. Eu sei, eu sei que em época natalina nosso espírito tem que confraternizar, entrar no clima. Talvez por isso, por ser data estratégica, os caras querem aumentar o número de vereadores no país. Serão cinco mil a mais nesse império tupiquinim, onde tudo dá-se um jeito, inclusive para inflar os bolsos alheios. O nosso não, né, somos povinho. O país do Lula vai ter mais braços de polvo alcançando os cofres públicos. Ninguém é cheio de dedos para meter a mão na cumbuca alheia. Mas cheio de braços, para agarrar a pataca dos outros, ah, isso sim. Em Santa Catarina, os donativos que a gente mandou com tão boa vontade para o povo estão sendo saqueados. Furtados por cidadãos comezinhos. O nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, segundo o Banco Mundial (Bird), num relatório divulgado no ano passado. A corrupção é democrática.Não é só em Brasília que ela ocorre. Aqui no Vale, teve prefeito tentando dar golpe no INSS. Tem político "arroz de festa" que estão nas páginas dos jornais todo o tempo, tanta façanha que fazem às custas do povaréu. Santa Klaus!!! Dai-nos força para acreditar no ser humano e no ser político. Parece irônico, mas Santa Klaus, celebrizou-se por sua dedicação e sincera bondade que o levaram a fazer milagres, tanto em vida como após a morte. É o bom velhinho do Natal. Quando a gente vai ter um Klaus tão abnegado assim? Um dia, Premeditando o Breque cantou, todo mundo ouviu e fez coro: "Aqui não tem terremoto, aqui não tem revolução, e um país abençoado, onde todo mundo mete a mão"
Como viver neste país e sobreviver ao jeitinho e continuar sendo ético? Essa é uma pergunta que não quer calar e está inclusive nas páginas do livro de Lourenço Rega, chamado "Dando um jeito no jeitinho". Brasil, mostra tua cara, não aquela que canta Cazuza. Senhores, inclusive os nossos representantes que foram empossados essa semana, nos ajudem a retirar o estigma de "pátria desimportante". Vamos fazer do jeito certo, para que os músicos possam tocar outros acordes. Políticos, vocês são responsáveis por novos acordes. Acordem! E parem de tirar nosso sono.
Postcript: já sinto o sentimento de impotência por essa crônica não surtir nenhum efeito, em nenhuma consciência ou mente política.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pé na estrada da alma

Fechou na cara da vida a porta do comodismo. Saiu ataboalhadamente, escorregando no tapete da ansiedade. Foi pra rua fazer o itinerário inverso. Se moveu apoiando-se no corrimão das esquinas. Mas a vida não tem ombros. Viu escombros. Roçou no braço da dor. Tropeçou nos pés do desespero. Pensou em voltar com o rabo no meio das pernas. Tentou mais um pouco. Viu que tinha jeito. No olho da rua, descobriu a si mesmo. Retornou com um nova bagagem: a alma lavada.

Prateleira da instrução

O professor da Univates, Gerson Bonfadini tem uma mente privilegiada e alto grau de elaboração mental. Discorre sobre marketing e política com a mesma facilidade que os televisivos comentam sobre o BBB. Pois o grande olho do professor mira na cultura avançada. Ele elaborou uma lista com 60 livros que impreterivelmente deveriam ser lidos por universitários. Vale conferir o grau de conhecimento e comparar quantos a gente já leu.

"Grande Sertão: Veredas" - João Guimarães Rosa
"Crime e Castigo - Dostoiévski "
A Metamorfose" -Franz Kafka
"Odisséia -Homero
"Ulisses" - James Joyce
"A Divina Comédia"-Dante Alighieri
"Os Lusíadas" -Camões
"Dom Quixote"- Miguel de Cervantes
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" -Machado de Assis
"Os Irmãos Karamazovi -Dostoiévski
"O Estrangeiro" -Albert Camus
"Antologia Completa"- Carlos Drummond de Andrade
“Guerra e Paz” -Leon Tolstoi
"Ponto de Mutação"
Fritjof Capra "Ilíada -Homero
“Édipo Rei”-Sófocles
“A República” -Platão
“O Tao da Física” -Fritjof Capra
“Satiricom” -Petrônio
“Decamerão” -Boccacio “
O Príncipe”-Nicolo Maquiavel
“Dom Quixote” -Miguel de Cervantes
“Hamlet” -William Shakespeare
“O Pequeno Príncipe” -Saint-Exupéry
“Madame Bovary”-Gustave Flaubert
“Os Miseráveis” -Victor Hugo
“Os Três Mosqueteiros” -Alexandre Dumas
“Vinhas da Ira” -John Steinbeck
“O Senhor das Moscas” -William Golding
“A Revolução dos Bichos” -George Orwell
“Casa Grande & Senzala” -Gilberto Freyre
“O Povo Brasileiro” -Darcy Ribeiro
“1984” -George Orwell
“O Velho e o Mar” -Ernest Hemingway
“Admirável Mundo Novo” -Aldous Huxley
“Os Sertões” -Euclides da Cunha
“A Interpretação dos Sonhos” -Sigmund Freud
“Macunaíma” -Mário de Andrade
“Vidas Secas” -Graciliano Ramos
“O Tempo e o Vento” -Érico Veríssimo
“A Hora da Estrela” -Clarice Lispector
“Assim falou Zaratustra” -Friedrich W. Nietzsche
“Genealogia da Moral” -Friedrich W. Nietzsche
“Crítica da razão pura”-Immanuel Kant
“Fausto” -Johann W. von Goethe
“Parerga e Paralipomena” -Arthur Schopenhauer
“Introdução à metafísica” -Martin Heidegger
“O ser e o nada” -Jean Paul Sartre
“Micro-física do Poder” -Michel Foucault
“Sincronicidade” -Carl G. Jung “
Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”-Jacques Lacan
“Discurso sobre o método” -René Descartes
“O Corvo” -Edgar Allan Poe
“O Capital” (1867)-Karl Marx
“Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”-Carl G. Jung
“Crítica da razão dialética” -Jean Paul Sartre

FRASES

"Nunca perco a oportunidade de dar uma resposta sincera e fazer a pessoa rir achando que é uma piada.”


Sempre acho que do jeito que a gente escreve a primeira vez é como tem que ficar. Porque o momento aquele, é a fotografia do pensamento

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Amontoando idéias

Um monte de gente coleciona um monte de coisas. Eu gosto de amontoar idéias dos outros. Tenho sempre uma citação para tudo - economizo os pensamentos originais.Um dos meus maiores prazeres é passar horas na internet cavoucando frases de efeito, ou defeituosas mesmo. Eu me abro para quem diz muito com pouca coisa. São as "máximas" em formato mínimo. Adoro aforismos. Frases e citações resumem a visão expandida da vida de uma forma sábia, bem humorada, sarcástica ou filosófica. A gente lê e pensa: "é bem isso, mesmo."
Sublinho frases em livros que leio, de alguma citação que alguém diz em jornal, de uma idéia que me atrai. Tem uns caras que são prá lá de inteligentes ao amarrarem as palavras em pensamentos. O cineasta Woddy Allen é campeão em criatividade. Não é a toa que a perspicácia do cara é ovacionada no mundo. É dele a hilária citação: "Minha primeira mulher era muito infantil quando nos casamos. Um dia, eu estava tomando banho na banheira e ela afundou todos os meus barquinhos sem o menor motivo". Há que se dar crédito para autores brasileiros, como o Barão de Itararé. Ele fez observações satíricas, moralistas ou irônicas impagáveis, que não podem ficar de fora da lista dos colecionadores de frases."O homem que se vende recebe sempre mais do que vale", dizia ele para delírio dos politicamente corretos. As frases polêmicas e cheias de humor do jornalista Nelson Rodrigues se propagam em sites da internet. Em época natalina, vem bem a calhar uma citação dele:" O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento."
Não posso deixar de listar Raul Seixas, grande Raulzito que ilustrou minha juventude embalada por suas canções. Dele, eu descubro uma fonte infindável de boas idéias. Raulzito dá a letra quando se trata de acreditar no Olho que Tudo Vê, o grande Arquiteto do Mundo: " O Universo me espanta e não posso imaginar que esse relógio exista e não tenha um relojoeiro", relatou ele em tom filósofico, assegurando a existência de Deus.
Fica uma dica a quem não gostar dessa crônica: não precisa engoli-la. Faço minhas as palavras do ótimo Millôr Fernandes: "“Certas coisas só são amargas se a gente as engole.”

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não somos de palha




Dói ver o flagelo pela televisão. Em uma das tantas cenas repetidas da tragédia catarinense, havia uma menina loirinha, chorando desesperadamente com a voz quase inaudivel, tamanha era sua perplexidade. As chuvas levaram seus sonhos de infância e sua melhor boneca. Falar de boneca quando tantos perderam a vida parece escárnio, mas não é. É só uma tentativa de personalizar a tragédia. E essa guriazinha com seus soluços me veio como um tapa na cara. Eu, que gosto tanto de falar em relacionamentos e natureza humana, puxo o tema para o outro lado: a solidariedade tem alma. Gestos de grandeza foram narrados por repórteres. Atores,cantores e apresentadores mobilizam-se em campanhas. Mas o que comove mesmo é o esforço anônimo de quem não tem nada para dar, e mesmo assim arranja forças para doar tempo e arriscar a vida, salvando outrem. A tragédia aproxima as pessoas. Graças a Deus, não somos de palha a ponto de assistirmos imóveis tamanha derrota humana. Enternece até o esforço das pessoas mais "casca grossa", que a priori, não sensibilizariam-se com nada.
Não estamos inertes à desgraça vizinha porque sabemos que não estamos incólumes. O Rio Grande do Sul foi o primeiro país a prestar ajuda aos irmãos de Santa Catarina. Irmãos porque a tragédia confraterniza. Há uma dor que jamais saberemos como ela realmente é, do filho que foi soterrado por escombos. Mas que permanece insepulto no coração de mães e pais. Quantas histórias atrás das mais de cem vidas que foram ceifadas, aterradas pelo barro. Os números são estanques, não dão a dimensão do sofrimento moral, psicológico e físico. Um senhor, com o olhar parado, conta na televisão que ele está fazendo caixões voluntariamente. Grudou a motossera nas árvores e ajuda os conterrâneos, tentando talvez, dar sentido a sua vida.
Daqui do Vale do Taquari, bem alimentada, aquecida e protegida, fico com um nó na garganta. Um grito meu que não eclode, mas que irrompe nos meus olhos com lágrimas. Considero grande a alma de quem se desvicula de todos aqui para ir para lá ajudar. E sim, vejo pequeneza na minha, que não arredo o pé daqui. Sinto culpa por não sair da minha zona de conforto. Vou ajudar, mas não da forma que eu quero.
A tragédia humaniza porque de alguma forma queremos ajudar a tirar a dor do outro. No fundo, há também um sentimento de culpa. Quem aqui por esses pagos ao ouvir a notícias da calamidade não pensou: "ainda bem que não foi aqui". Somos também solidários porque carregamos um pouco da culpa por pensar: "ufa, não é comigo". Mas, vejam vocês, não importa as motivações. O ser humano, se é egoísta, também é solidário por natureza. Seria o cúmulo do coração de pedra observar tudo isso e ficar parado, bem paradinho, sem nem botar o a mão no bolso para ajudar com algum dinheiro ou algum tipo de doação. Não somos de gesso. Mexemo-nos.