sábado, 30 de maio de 2009

Um pouco eu, um pouco ela

* Sou emblemática. Eu marco em mim na carne as minhas dores. Depois, na sucessão dos dias, eu volto atrás e lembro como fiquei agoniada ante a minha lástima. Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)

* Eu não tenho enredo.Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver. E eu só sei viver as coisas quando já as vivi. (Clarice)

* O que 'não sei' dizer é mais importante do que eu digo " (Clarice)

* O que eu digo não faz calar a minha alma, que tem sempre necessidade de repetir as palavras, como se o fato de verbalizá-las, fosse fazer meus sonhos se concretizarem. (Pita)

* "Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão....tranqüilidade e inconstância, pedra e coração." (clarice)

* Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada. Em seu silêncio retumbante, ela espirra a necessidade: amor. Mora. Não ali. (Pita)


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CLARISSANDICES (A estrela sem hora )
A história de Macabea fascina porque assomba. Nunca vi alguém tão acostumada a ser ninguém. Ela, que estava habituada a esquecer de si mesma. Nunca quebrava seus hábitos, tinha medo de inventar. Ela que não conhecia a tristeza, porque a tristeza era um luxo, era coisa de quem podia chorar. Ela que de um modo geral, não se preocupava com o próprio futuro. Ter futuro era luxo.
Macabéa era, como bem definiu seu namorado, que também pouca sombra fazia no chão, dizia: Macabéa é um cabelo na sopa, não dá vontade de comer. Ela tinha fome de ser outro. Não tinha anjo da guarda, mas se arranjava como podia. Macabea achava Gloria, sua amiga um estardalhaço de viver. E se doía o tempo todo por dentro. Macabea nunca tinha tido coragem de ter esperança. Essa pelo menos eu tenho. Sou uma pessoa grávida de futuro. Devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. A morte é um encontro consigo. E se eu morrer? Morrer é um instante, passa logo.


* As coisas estavam de algum modo tão boas que podiam se tornar muito ruins porque o que amadurece plenamente pode apodrecer.
(Show de bola essa constatação. Você não tem medo de quando uma coisa sua está muito feliz, você não tem medo de que isso é bom demais que logo vai acabar? E parece que estar embaixo, estar menos feliz é sua condição normal, portanto estar muito feliz é uma forma de estar infeliz)

* A eternidade é o estado das coisas neste momento

* Que se há de fazer com a verdade que todo mundo é um pouco triste e um pouco só

* Quem cai, do chão não passa

* Me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades


*Quem não se enfeita, por si mesmo se enjeita

* Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentiu tamanho desespero.

* O Ao dar o passo de descida da calçada, o destino atravessou a rua e sussurou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez. O destino havia escolhido para ela um beco no escuro e uma sarjeta.

* Fui longe demais e já não posso mais retroceder.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Com jeitinho

É sempre bom se bandear para o outro lado da meia noite. Ficar sempre à espreita dos entrevistados cuidando,olhando, analisando é tarefa salutar para o repórter, mas quando o jornalista vira entrevistado, muitas vezes ele não sabe bem o que dizer, acostumando está a fazer inquirições, questionar e retrucar. Mas tá, lá fui eu para a coluna do Mazzarino bancar a dona entrevistada. Tá bom, boooooom, boooooooooom, bommmmmmmmmm não, mas tá bom, tá bom, tá bom.
Esta é umas dessas reportagens que eu gosto de fazer, com um texto literário, em que eu posso criar dentro dos sentimentos e brincar com a reação que um delito tão vil e invisível possa causar no  leitor. É gratificante folhear o jornal e verificar uma matéria publicada com pleno êxito. Êxito que eu digo sem erro em grafia e com uma diagramação atrativa. Já disse aqui, no Pitônicas, que a vida real é que fornece as melhores histórias e as mais literárias.E da melancolia que se gera a poesia. Os casos de incesto, infelizmente,  fenecem no silêncio.  Um delito invisível que está entre nós. 

domingo, 17 de maio de 2009

Dia de solidão

Não gosto do domingo que me faz perceber minha bruta solidão , tampouco da segunda-feira, dia de ir pro mundo e laborar, sabendo que o domingo não foi de amar!!

sábado, 16 de maio de 2009

A distância torna as coisas azuis

Quando eu era pequena, costumava ler dentro do roupeiro. Levava comigo uma lanterna com as pilhas fortes e me introduzia dentro de um mundo particular. Era ali que lia as histórias de Laura Ingalls, aquela do seriado Os Pioneiros, quem tem menos de 30 anos nem tente puxar pela memória, não vão lembrar mesmo. Dentro do cubículo, entronizada nas delgadas paredes daquele móvel roto e antigo eu conseguia me deslocar para campos verdejantes, travava contato com rostos sorridentes ou aventuras feéricas. Encarapitada nos cobertores, porque era exigência de mãe que eles não saíssem da li, eu me travestia dos personagens que lia. Nas minhas lembramças de infância, não me vem à mente momentos extremamente felizes com crianças de minha idade. Eu me reporto para aquele tempo e vejo o sabor da leitura meu assaz alimento. A vida depois passou tão rápido quanto as folhas manuseadas apressadamente de uma obra. Quinze, 19 e aos 23 lembro que pensei: como estou velha. Aos 26 me sentia uma idosa, a alguns passos de ser balzaquiana, eu suprimia a apreensão da idade. Os 30 chegaram e com ele, a saudosa lembrança dos tempos de outrora. E é aqui que quero comentar. Creio piamente que a gente idealiza as lembranças. Recordo de uma reportagem que li, com um senhor de Arroio do Meio, chamado Gente Boa. Tosco, humilde e vivido. Ele dizia que a distância torna as coisas azuis. Talvez Gente Boa, jamais tenha ouvido falar - e é certo que não - do astronauta russo Iuri Gagárin que do espaço sentenciou que a Terra era azul. Eu acredito que sim, que a distância e a isso estou me referindo ao espaço temporal modifica a cor dos acontecimentos passados. É natural nos pegarmos a dizer sempre no presente: "como nós éramos felizes, que saudades daquele tempo". E não nos damos conta de que aquele tempo poderia ser tão insípido quanto o gosto do chuchu ou então deleitoso quanto o agora. Mas a gente vivifica tanto na memória as sensações pretéritas que às vezes, desabonamos os nossos pequenos e atuais tormentos cotidianos ou nossas alegrias correntes. É legal trazer à tona o passado e todas as matizes de sentimentos os quais já vivemos, mas é recompensador açular a emoção para prender dentro da gente as sensações presentes, aquelas que pulsam na alma, sejam as que a gente desanca de dor ou aquelas em que nos regozijamos. Se a distância torna as coisas azuis, a proximidade pode ser fulgente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cena bucólica


A foto é em um dos municípios que ficam ao redor de Lajeado, uma paisagem verdejante e agreste encobre os segredos de dois irmãos que utilizam suas bucólicas noites para atos sexuais e o fazem sorrateiros à família. Em regiões interioranas, o incesto é mais comum do que se imagina. A união sexual entre pessoas da mesma família vem impregnada de mácula e despudor e se tudo que é proibido é perigoso, é verdade também que o fato de ser ilícito possa instigar, açular os desejos. E eu, como adoro histórias incastas, me bandeio para esses lados, onde o canto dos passáros encobre casos de amor impudicos.

domingo, 3 de maio de 2009

Como estou sendo


Incrustrado dentro de mim, todos os meus sonhos. Cheiro pelos cantos, os meus prazeres que estão escondidos, não os acho. Há tantos recônditos, que eu não encontro um sinal do amor. Um vestígio que seja. Há uma marca. Indélevel. Algo que regurgita na minha garganta, a marca de um desamor. A ausência de um ser me fere o flanco. Não me foi incumbido de amar. A solidão é inexpugnável, mas eu insisto contra ela. Eu existo. Eu quero ser sem ela. Eu quero me ter, vívida, amada, amante. Eu quero a alegria de conjugar qualquer verbo no plural. Sou pura pressa. Quero me perder no rumo de alguém. Assim, eu me aprumo. (Pita)

* Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão.” (Clarice Lispector)

*Estou cansada da rotina de me ser..." (Clarice Lispector)

* Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. (Clarice)