Estou me obrigando a escrever em um exercício para calçar as sandálias da humildade. Nada que me faça bem, mas é que é a primazia de uma alma sedenta por algum tipo de evolução. Em 48 horas eu vi meu mundo de escritora promissora ruir. Eu que tanto me achei este ano. Eu que me sentia uma peróla perdida no Vale ainda nao descoberta. Eu que acreditava que deveria ter adesivos com meu rosto nos veículos do jornal, a exemplo de Martha Medeiros: Leia hoje, Andreia Rabaiolli!.Eu sou o que? Uma jornalista sufocada pela propria jactância. A frustração roeu meu estômago ontem quando descobri que nao havia conquistado o premio de reportagem dos jornais diários gaúchos. Ôrra, não ganho nem no pampa. A frustração me comeu toda hoje quando descobri que não tive vez no concurso da Alivat. Ôrra, não ganho nem no Vale. Uma raiva me comeu. Raiva de mim mesma, de nao ser a melhor. De estar aquém do que eu achava. Eu perdi e não coloco a culpa na incapacidade de os jurados me compreenderem, de o outro texto ter menos qualidade, de que o assunto estava fora do contexto. Eu perdi e o erro é meu e hoje é dia de vitimizar. Como eu gozo o meu momento de vítima. Há um prazer, uma profunda fruição no fato de eu me dar dó. A minha pena neste momento é a pena que me redime.
Meu cio emarfanhado de eu. Meu mio. Meu unico som nesta sexta-feira que evoca balada, mas que para mim nada tem além de uma nota fracassada. Meu flanco desguarnecido se chama rejeição. Não Freud, não me dê conselhos acerca disso porque sou absolutamente irracional, criança e birrenta quando se trata de aprovar ou rejeitar. Eu odeio rejeiçao em qualquer instância e qualquer plano. E tudo eu vejo como uma rejeiçao pessoal. Nao ganhei? fui rejeitada. Não tirei o segundo lugar? Nem estou ai. Segunda opção eu nunca quis ser. Não me chamem para ficar no podium ao lado do primeiro lugar. Se nao posso segurar a taça nao quero servir de chuveiro para a champanhe do senhor vencedor. Irredutivelmente ridicula, sigo as palavras de Airton Senna: o segundo colocado é o primeiro perdedor. Sou alpha ou nao sou nada e sendo nada vim de onde sempre tive de estar. Trágica? Sim, tragicômica. Hoje é meu dia de fazer tempestade no seu copo de água. Mas para você, é so um copo de água, para mim é tempestado e é bom que seja grande. Porque gosto de vitória até nas derrotas. Elas também devem ser de boa envergadura.
![]() |
Eu: tabula rasa |
Eu devia aprender com a derrota. Mas ela se torna tão grandiosa que eu viro sua inimiga infima. Eu posso conviver com a solidão mas nao consigo derrotar o temor da rejeição. Não namoro porque tenho medo de ser abandonada. Não lanço olhares de flerte porque temo não ser correspondida. Não faço teste em televisão porque tenho horror a ser recusada. Arriscar nada é arriscar tudo. Não arrisco nada porque tenho esperança de que um dia, quando eu arriscar, vou ganhar tudo. Uma doce ilusão que vou protelando no dia-a-dia para viver na minha casa grande, dentro da redoma que me protege da rejeição. Dentro da masmorra que me livra da ação. Dentro da minha perda, do meu pior vício, do meu sonho sem quinhão. É o meu porão, é a minha história e a minha derrota e ela merece ser contada por mim. Com todas as palavras que eu utilizaria para reverenciar a minha vitória. A minha derrota é só minha e eu a celebro no podium do meu fracasso. Um texto sem acento, no qual me assento.