sexta-feira, 11 de junho de 2010

Vuvuzelas nos meus olhos!


Ando aturida. Não sei de que forma, mas a alegria está atirando pedrinhas na minha janela. Escuto o sibilar dos canários e a Terra me parece mais azul do que a do Iuri Gagarin. O frio me açoita a pele branca e eu perco a mobilidade em função do acúmulo de casacos. Mas não é porque esses pagos verdejantes se cobrem de geada que eu deixo de sorrir de um canto a outro da boca, mostrando o metal que emoldura meus dentes. É bem apropriado esse aparelho ortodôntico à beira dos 40. Eu estou esfuziante igual a uma adolescente. Não me perguntem que bicho me mordeu. Mas tem a ver com adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, serotonina e as endorfinas. Quem for antenado sacou que se relaciona a uma reação química.
No jornal, costumo ser a Dona Reclamona. Não pago pedágio para largar um "Ah, que saco", ou outra coisa que o valha. O pessoal já se acostumou. Bem, alguns não e confesso que minha "distimia" pega de jeito certos colegas. Eu me queixo por hábito, não é nem que está tão ruim assim, mas o ranço sai maquinalmente da minha boca. Mas tem três dias que estou melhorzinha. Estar contente não é nenhuma descoberta da América, mas no meu caso tem uma conotação especial. Sempre tive medo de ser feliz. Medo de atingir um ponto de contentamento e depois ter de voltar a submergir na tristeza. A melancolia sempre foi minha zona de conforto, sendo assim, relutava em sair dela. Mas dessa vez eu fugi das garras da dita cuja e sabe o quê? Eu não estou com um pingo de temor. Ando me surpreendendo com esses sentimentos. Sim, eu descobri a África em plena Copa do Mundo. Estou vendo vuvuzelas orbitando ao redor dos meus olhos. Este vai ser o meu Mundial, ando de marcação cerrada com a alegria. E não tem impedimento que ataque os melhores lances desse meu frenesi. Quero a vida em jogo para desempatar qualquer drible infeliz.
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*** "Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação".
(Clarice Lispector)
*** Conservo sempre uma aspa à esquerda e a direita de mim (Clarice Lispector)
***Eu tenho medo do instante que é sempre único."[Clarice Lispector]
***"Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me."[Clarice Lispector]

Um comentário:

Fabricio Santos disse...

Fico muito contente em ler isso. Sempre desejei muito que a felicidade tocasse sua alma e sua vida. E que seus medos e angustias se dissipassem no calor da alegria. Que a velha pita seja novamente bem vinda ao mundo, e melhor, “sem pagar resgate”...