domingo, 26 de setembro de 2010

Os 12 seguidores

Quando comecei este blogue em 2007, fui alimentada por um desejo de colocar todos os tipos de sentimentos, escrever livremente sem pensar nas mentes que porventura iriam me ler. Apesar de estar na net, percebi o blogue como algo que passaria invisível, sem audiência. Isso me dava certo acalanto. Eu, invocando a rede em nome da minha híbrida literatura de dores e devaneios, passaria ao largo dos internautas. Com esse pensamento fui escrevendo e me sentia liberta para rascunhar na casa das minhas palavras. Meus escritos, ruins, bons ou medíocres, só para mim. Eu, a própria plateia.
Até que um dia eu percebi um, dois, dez, 12 seguidores. Meus Deus, eu tenho 12 seguidores!!Uma dúzia de pessoas que vez ou outra acessam meu reduto virtual para vasculhar o que eu penso e invariavelmente, analisar: - "este foi um bom texto" ou "a postagem anterior estava bem melhor". Comecei a cuidar mais da forma e do conteúdo, no entanto, minha espontaneidade foi engessada. E não era o que eu queria. Neste espaço me dispus a gerenciar literariamente as ideias que vagavam nos porões da mente, sem necessariamente, ter de agradar a ninguém. Porque eu sendo eu, minha essência emergeria, e é assim que eu teria de cativar, de cara e letra limpa.
Fiquei refém dos 12 seguidores. Queria postar cada vez mais, mas não tinha tempo e nem vontade para isso. Isso me angustiava. Abria o blogue diariamente para ver se todos estavam lá. Temia que algum dos internautas me apagasse da lista, por não gostar do conteúdo, pelas poucas postagens ou algo parecido. Não era esse o propósito inicial do blogue. Comecei a ter sede de audiência e isso me incomodou. Desabilitei o gadget. Matei meus seguidores virtuais. Não sei se me visitam, mas espero que entendam minhas razões as quais tem a ver com escrever sem máculas ou influências. Quero me mover invisivelmente neste território de ninguém. Sei que alguém vai me acessar, mas o fato de eu não saber rostos e nem nomes não me coloca sob o jugo de plateia. Assim, aqui, eu consigo impor as minhas verdades, que nem sempre são bonitas ou bem escritas.

sábado, 25 de setembro de 2010

Vaidosos e tapados

Jornalistas dentro da redação foram divididos em dois perfis: vaidosos e tapados. A diferenciação costumeira envolve o conceito de "bom" e "ruim" mas dessa vez a segregação considerou o lado comportamental e não técnico. Talvez. Porque aos vaidosos cabe o topo da pirâmide. Os tapados seriam a rabeira da cadeia alimentar. Eu estou dentro do esquema desse último grupo. Vamos às explicações à la Freud.
Os primeiros envolveram-se na jactância porque dentro deles mesmos, traçaram o caminho do triunfo e venceram, porque julgam bons os seus textos. É isso mesmo, ainda que essa vitória esteja circunscrita às letras e não à faixa salarial (maioria dos jornalistas em termos de salário beija a lona), eles inflam o peito. Dentro da redação,a soberba dos bons os ajudam a serem autônomos. Abrem a pauta e vão de imediato fazer o serviço. Traçam sozinhos o norte da matéria, sem precisar da ajuda do editor. E lá vão eles, embora ligar para as fontes. Conseguem se motivar com o entusiasmo próprio, porque estão cheios de si com a possibilidade de serem admirados com mais uma materia espetacular publicada no folhetim. Compilam os dados em um texto simples, claro e conciso (Uhuuuuuu..como eu sou bom!!). Coroam o trabalho com a foto de capa estampada na manchete do jornal. Eis mais motivo para impáfia. Com o favorecimento dos deuses, conseguem uma, duas, três, cinco sucessivas capas.Saem da condição de operário das palavras para paladino das letras. Assim, as paginas nobres do jornal se infestam de orgulho e o leitor nem nota, empenhado que está em ler as notícias.
No outro lado da gangorra, os pobres-diabos, as topeiras-tapadas. Estes se esforçam bem mais do que os vaidosos. Não é questão de falta de neurônio, diria que é mais um despojamento de eficiencia mental. E assim, tentam compensar com um empenho que chega a ser comovente. Primeiro ponto negativo: são dependentes do editor. Abrem a pauta e se desesperam por não saberem como começá-la. Aí, consultam o chefe 42 vezes durante o dia. O cara, que nao é vaidoso nem tapado, mas um bipolar na fase intermediária para aguda se exaspera com as perguntas e enxovalha a falta de atitude.
Apáticos, os topeiras sentam para escrever. As horas avançam e surgem mais indagações, mas eles se fixam na cadeira, tentando se ajudar mutuamente, à distância do chefe, que está com uma cara de boi que vai engolir uma anta. Os topeiras sabem que é preciso ter iniciativa, destrinchar uma solução por si mesmos e se tornarem resolutivos. O problema é que quem nasce toupeira nunca chega a abelha rainha.
A grande vantagem do tapado é seu ego estupidamente curto. Tapados são mais bonzinhos e por nao terem tido a alma imaculada com a soberba, compreendem as limitações do colega. Assim, são altruístas, se ajudam entre si. Eles também têm possibilidade de crescer infinitamente maior do que os vaidosos, que acham que já chegaram lá, é cuidam apenas pela manutenção da "fama". Mas os topeiras se esforçam porque sabem que o percurso é grande. E esse trajeto é marcado pela humildade, marca que levam adiante até sairem da condição de topeiras. Tapados e vaidosos ajudam a girar a roda das letras, produzindo o jornalismo da alma humana.