Ao longo de minha carreira jornalística, tive a oportunidade de elaborar três matérias sobre suicídio, essa tragédia silenciosa que assola o Rio Grande do Sul, o estado líder no rankig do autoextermínio no Brasil. E dentre as regiões gaúcha, o Vale do Taquari desponta com destaque nessa negra estatística. O número de pessoas que cometem assassinato contra sí, aumentou em 23 por cento de 2008 para 2009. Ano passado, 63 pessoas decidiram pelo gesto final e deixaram suas famílias estarrecidas. Optaram pelo último ato, puxaram o pano (como se diz no teatro) para sair do palco da vida. O que choca a sociedade é o índice de jovens que interrompem o futuro. Decepam as esperanças e num impulso defintivo, viram algoz de si mesmos.
Uma das reportagens mais emblemáticas e a qual pairou muito tempo na minha cabeça foi escrita por Eliane Brum em 2009 na revista Época. Ela retrata a história de um garoto que foi estimulado ao suicidio e auxiliado por pessoas anônimas da internet. Sua morte, foi assistida por internautas de diferentes cantos do mundo, que diziam: "Sim, mate-se". Sua morte foi executada por ele mesmo pelo metodo barbecue. Colocou grelhas queimando no banheiro, para morrer por inalação de monóxido de carbono. Elas estavam em chamas, uma ao lado da outra, enquanto ele morria assim, assistido pelo mundo virtual. Em dado momento, o menino suicida escreve: "Ah, meu Deus. Eu não consigo suportar o calor. Está tremendamente quente no banheiro. O que eu devo vestir para se tornar mais suportável? O que eu devo fazer para desmaiar, por Deus?"
Alguém o orientou a retirar as roupas e encharcá-las para aguentar até desmaiar. Muito tempo depois, outro internauta escreve: "Acho que funcionou, já que ele não entrou mais em contato."
Não foi a primeira vez que ele tentou se matar. Mas foi a primeira vez que havia vozes torcendo para ele morrer. Dizendo como ele podia morrer. E desta vez ele morreu.
No mundo todo, adolescentes são incentivados a morrer pela internet. No Japão, os suicídios ligados à rede aumentaram 70%. O crime de instigação ao suicídio é previsto no artigo 122 do Código Penal Brasileiro. A pena é de 2 a 6 anos de prisão, dobrada se a vítima for menor de 18 anos. Essa é uma das faces de quem escolhe a morte como subterfúgio. Uma matéria retratada com detalhes pela repórter da Época que serve de alerta para deixar vigilantes as autoridades e os profissionais ligados a saúde. O assunto é pesado, as estatísticas são sinistras, mas é preciso começar a falar do assunto e deixar de lado o tabu que envolve o tema.
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