sexta-feira, 29 de abril de 2011

O sim do século

Lady Kate casa em poucas horas com o homem mais cobiçado do mundo. Ela terá um sudito a seus pés. Bem diz a lei: mulheres boazinhas vão para o céu, e as espertas para o castelo. Bom, façamos nós o nosso conto de fadas tupiquinim já que monarquia nessa terra tupi guarani seria ruim de aturar. Mas eu dou um resumo do que toda mulher quer:
A vida é assim. A mulher engravida, fica sabendo que é menina, prepara o quarto com fitinha mimosa e sonha quão feliz será sua filhinha. Aí a Laura nasce. Paparicos, princesa prá cá, princesa prá lá. Os pais dando vazão ao tradicional dilema de que se existe princesa, há de se ter um príncipe. Um cavalheiro, gente fina, boa praça. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu. Mas só quem realmente encontra o seu é a Kate, Waite Kate, que vai morar numa cidade que tem 58 letras e de nome intraduzivel.Tendo as ovelhas como vizinhas. Péssimas amigas dos paparazzi.
Mas bem,nós, na adolescência, cheias de ruge e batom, permeamos nossos sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejamos cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end. É Grace Kelly lascando um beijo grego em Gregori Peck. Alias o vestido da duquesa foi inspirado na atriz que virou princesa. Um luxo de discrição e requinte. Clean, como tem de ser a realeza.
Saímos do cinema e vamos para a faculdade campear um principe com isso que está aí. Então arregaçamos as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.
Percebemos que o cara não nos salva do dragão, até porque o dragão costuma ser a sogra. Não há salvação possível. E você lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do trono real britânico. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado do Reino Unido. Quem não tem William casa com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...Quem não tem William casa com Harry. Ele foi Top Trend no Twitter, tem brasileira jurando que vai ser a próxima princera. Harry e rebelde e dado a arroubos alcoolicos. Minha própria colega ja disse que gostaria de protagonizar cenas com ele e com vodka. Achei que a Pippa - não aquela do No Limite - a irmã da noiva mesmo, é bem bonita. Linhagem nobre. Merece ser crème de la créme. O que eu acho mesmo é que toda história de amor vale uma audiência de dois milhões de pessoas e uma vida longeva...todo conto de fadas merece credibilidade mesmo que seja vivido aqui no Vale do Taquari!

PS: Porque tanta balbúrdia em cima de um casamento??
Márcia Ely tem a explicação: "Ha uma superpopulação de sapos no mundo, por isso essa festa toda quando aparece um principe de verdade"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Anos 80



Ninguém sabe o que é realmente nostalgia antes de chegar aos 40. Eu fui numa festa anos 80 e senti isso. Eu que gosto tanto do Egito e da Idade Média, tenho uma duzia de Peter Pans dentro de mim dizendo para eu não envelhecer. Mas talvez eu so queira ter aquela liberdade da juventude de outrora, aquela calça velha desbotada e aquela cambada que eu chamava de amigos e com os quais eu ia acampar ao som de B52, The Police e Men at Work. Confere a matéria.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A morte nua e crua

Todo mundo deveria ganhar um choque de realidade prá poder perceber o imperceptível: que a vida de uma pessoa não vale mais do que um átimo. Que todos os esforços grandiosos para se chegar a fama, todos os atos vis, todo o escarceu em torno de uma existência boa e confortável, tudo isso e nada disso, resiste ao que? Ao choque de um caminhão. A gente sonha e labuta tanto pra ser menos do que ferro. Eu vi muitas mortes na minha profissão de jornalista. Eu vi 13 corpos juntos, em série, era uma visão forte. Densa. Mas nada foi tão impactante quanto a cena que presenciei hoje. Eram 8h30 min, eu chegava ao jornal, pensando no cafe da manha. Nesse instante, um aposentado, pai de família, cruza a rodovia estadual e colide de frente com o caminhão. Morte instantânea. Trimmmm, toca o telefone da redação: sou incumbida de fotografar. Seria mais uma morte qualquer, estamos tão banalizados com ela que fazemos a função automaticamente. Não foi assim. A curiosidade me impulsiona e me trai. Me envolve e me faz regurgitar o gosto cruel do fel da vida. Eu teimei em abrir a porta do veículo. O senhor curioso do meu lado, alertou: "a visão lá dentro é horrível". A frase me atiçou. Ao abrir a porta traseira vi os miolos num montinho, bem pertinho de mim. Alguns pedaços do tutano explodiram no vidro traseiro. Mas o impacto final foi ver o cadáver sem calota craniana. O homem estava escorado ao vidro, mas sem a tampa da cabeça. Dava pra ver os vasos e o esqueleto do cérebro ali, aberto, num show de horrores que me fez franzir o cenho e enjoar. Eu olhei para ele e olhei para mim: sou assim também. Somos todos assim. Por que então a gente luta por status, beleza e poder? Somos tão feios, mas tão feios, que nós mesmos temos nojo da gente. Nós olhamos a tragédia na televisão para sanar nosso desejo de tânatos. Mas nós somos a propria tragédia. Queremos comer banquete, mas tanto o caviar quanto o pão endurecido do dia anterior produzem o excremento humano. E isso tudo sai dentro de nós, sejamos operários ou reis. E no entanto, queremos sempre ser reis. Todo mundo sabe que o nosso destino é a morte. Mas quem a vê assim tão nua quanto eu vi hoje, consegue compreender o que está escrito no livro do Eclesiastes.O livro registra a busca de Salomão por significado e propósito na vida, mas o resultado final é deprimente: "tudo é vaidade e vento que passa". Salomão percebeu que a vida é vazia e sem significado. Ele disse que era como caçar o vento: nunca se consegue pegá-lo. Estaremos constantemente frustrados se procurarmos ganhar algo na vida que não está nela. E no fim, todos vamos para a vala comum. A coisa mais democrática da vida é a morte: há uma para todos.


O que o Rei Salomão descobriu




  1. Nenhuma realização. Nada realmente acontece na vida. Há uma infindável e cansativa sucessão de acontecimentos, mas não há resultado. O sol se levanta, põe-se, e levanta-se novamente. Muita atividade, nenhuma mudança. O vento sopra para o norte, sopra para o sul, e sopra para o norte novamente. Muito movimento, nenhuma realização. Os rios correm para o mar, e correm para o mar, e correm para o mar. Estão em constante movimento mas jamais se esvaziam e o mar jamais se enche


  2. Não se pode mudar nada. Nunca se consegue, realmente, fazer muita diferença. As coisas vão acontecer quando acontecerem e pouco haverá que se possa fazer para mudar isso. Há muitas coisas importantes sobre as quais não temos, absolutamente, nenhum domínio: o clima, as condições econômicas, a guerra, a doença, a morte. - Não se pode prever nada. Há tantas incertezas, tantas perguntas sem respostas na vida Podemos nos juntar a Jó ao perguntar por quê, e acompanhá-lo no passar de muitos dias agonizantes sem nenhuma resposta.


  3. - O mesmo destino para todos. A mesma coisa acontece aos homens bons e aos perversos. "Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo". A morte é muito democrática; há uma para todos.


  4. - O acaso governa. "Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso" O sucesso não está sob o nosso comando. O melhor sujeito nem sempre ganha. Às vezes a vitória é apenas uma questão de sorte.


  5. - Nenhuma retenção. Aqui nada é durável. Poucos anos depois que morrermos ninguém se lembrará de nós nem se importará conosco. Nosso legado será passado para alguém que não trabalhou por ele e que, conseqüentemente, não o apreciará nem usará como nós o faríamos. (***Gary Fischer)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A tristeza de Bethoven

Durante todo o dia chuvoso, ouvi queixas ferrenhas sobre a chuva e a destruição que dela decorreu. Os humanos vociferaram alto, mas é de um cão que trago o resumo da desolação. Bethoven, um cusco peludo de 12 anos, semi-cego e amarrado à madeira da casa, não sabia para onde ir. A água nas patinhas, nos pelos longos e ele ali, com os olhinhos brancos - a cegueira formava umas bolinhas brancas nas vistas. Ele não sabia que os canos estavam entupidos, que os bombeiros não tinham a mangueira adequada para sugar a água. Ele não sabia que o asfalto tomou conta de toda a terra. Ele não sabia que o berço da criança de um mês estava submerso. Eu acho que ele so queria sair dali. Ele aceitaria até fazer companhia para os gatos da vizinha, que se refugiaram no alto do sofá. Mas ele estava ali, molhado, como eu. So que eu tinha o direito de ir e vir. Ele não. Bethoven, nem a nona sinfonia prá te salvar.

Aldeia enfezada!

Se Forquetinha fosse um estádio de futebol, os eleitores jogariam Gre-Nais. Não existiriam confrontos com times como Lajeadense ou Caxias, porque o povo da terra é maniqueísta. Não se trata de palavrão. É uma filosofia vivenciada pela população no dia a dia, mesmo sem saber seu significado. Resume-se em dividir os lados entre bem e mal. Não há meio-termo.
A cidade de 2,6 mil habitantes vive nos extremos desde que foi emancipada, em 1996.Picuinhas de um lado, boatos de outro. Munição que se prolifera na cultura do forquetinhense, assim como o fato de nascer bilíngue, algo que lhe dá autonomia na comunicação. Mas quando se trata de política, não há diálogo possível com a trincheira do lado. O bem e o mal depende da visão do eleitor.
Mergulhada em convicções partidárias, a cidade não se dá conta de sua paixão inflamada. Ao serem abordados, os eleitores afirmam: “Eu não me meto em política”. Numa cidade em que qualquer boato vira nitroglicerina, ter jogo de cintura é o desafio dos pequenos comerciantes. É a categoria que mais sofre pressão para “abrir” o voto.
O município parece uma aldeia medieval. No alto da colina, o prédio da Administração tem hastes de madeiras encaixadas entre si, dando um caráter estético diferente. A ligação natural entre o enxaimel e a Alemanha é como um cordão umbilical. Com arquitetura privilegiada ou não, os partidários lançam pedras no telhado um do outro. Ainda bem que a expressão "telhado de vidro" é so algo figurado.

sábado, 9 de abril de 2011

Ressaca pós-massacre

"12 mortos e 190 milhões de feridos”, estampou o “Diário de Pernambuco” na sexta-feira, um dia depois do massacre na escola de Realengo. Foi o título que resumiu com maior sensibilidade a sensação geral de tristeza. Quem teve a brilhante ideia foi o editor do jornal Fred Figueiroa. Grande título, grande sacada, a dor permanece de todos nós. E o medo também, mesmo aqui na província do Vale do Taquari. Um dia depois eu fui à escola experimentar o sentimento das pessoas e averiguei que o ódio pelo atirador é tão proporcional quanto à dor que ele causou.As pessoas não queriam que ele morresse. As pessoas queriam matá-lo. Ouvi de uma menina de 13 anos: "ele devia ressuscitar para morrer de novo." O suicídio foi leve demais. Uma lei do retorno que não teve tempo de ser aplicada de forma como o povo queria. Não houve a morte por vingança e é isso que instigou a raiva. A sensação de impotência é uma das mais frustrantes do ser humano.

domingo, 3 de abril de 2011

Partida de futebol!

Vou dar a letra para vocês: eu não gosto de futebol, eu não sei o que aqueles homens ficam fazendo dentro de campo, correndo e resfolegando atrás de uma gorduchinha de couro. Nos dois dias que precederam a partida do Lajeadense e Colorado acompanhei a euforia dos repórteres esportivos escalados para cobrir o duelo e eu, outsider, fui junto porque era a plantonista da TV Informativo. Caiu logo no meu plantão, diacho.
Vi a partida como um asno percebe o código de Hamurabi. Aguentei firme com cara de conteúdo, entre os cinegrafistas da Rádio Gaúcha. Vez ou outra ia até a salinha de transmissão da Rádio Independente solicitar uma avaliação da partida. No confronto em que todos se julgaram técnicos, eu era a única bola tonta da arquibancanda. Mas encarei o desafio assim como o Lajeadense encarou o Internacional. Matei no peito a minha ignorância futebolística e ainda tive a audácia de entrevistar o técnico Celso Roth. Chegando perto, o vi vociferando aos microfones sobre as precárias instalações do estádio. Cortaram a luz do vestiário e os jogadores do Inter tiveram de tomar banho frio. No vestiário dos visitantes, existe apenas um vaso sanitário. Roth estava estupefato. Everton Giovanella defendeu a honra do alvi-azul e dos cidadãos, mas é certo que o Inter, que há 12 anos não pisava na cidade, voltou a Porto Alegre com mácula em relação a imagem e recepção do muncípio. Eu que estava feito uma barata tonta tentando entender o que ocorria dentro do campo percebi muito bem a animosidade que se formou fora do gramado.
No fim, mas bem no fim, fiz a constatação:gostei da experiência. Até coloquei o microfone na cara do jogador Leandro Damião. Mas a cara do D"Alessandro, esse ainda não conheço não. Só sei de uma coisa, um episódio que eu refutava (eu não queria ir de jeito nenhum no jogo) se transformou em uma experiência legal. O 1 a 1 foi bom para o Lajeadense. Mas na vida, esqueça o empate. É como diz Martha Medeiros:"Vença. Perca. Ofereça a si mesma algum resultado" O meu foi ótimo.

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