segunda-feira, 13 de julho de 2009

O charme da novidade

Pense em algo novo. Aquele casaco que você comprou naquela loja famosa. A TV LCD que pagou uma paulada. O Iphone, nossa que show de tecnologia. Algum tempo atrás, os celulares eram o top do top dessa intensa e meteórica indústria de tecnos. Eles eram a novidade do pedaço. Um acessório tão imensamente novo que as pessoas faziam questão de caminhar pela rua com o celular na mão ou na pochete. Algo assim: celular, eu tenho um! É o charme da novidade. Stephan Klein em seu livro de neurociências "A fórmula da felicidade" (não é auto-ajuda, é científico mesmo) falou exatamente disso. Todos nós somos atraídos pelo charme do novo. Quando depois de um tempo tudo fica igual, reina o tédio, uma das coisas que menos suportamos. Não acredita? Faz a conta....quantos modelos de celulares você já trocou desde que essa novidade ficou "velha". O tédio é um dos piores sentimentos e segundo Klein, por isso precisamos fofocar sobre celebridades, necessitamos da TV, ver a moda e as vezes até de desafios. Exatamente para contrabalançar o tédio que a natureza equipou o ser humano com uma característica crucial, a curiosidade, para que as pessoas possam descobrir novidades. A curiosidade é uma das principais virtudes da personalidade porque quem tem curiosidade imediata sobre qualquer assunto é capaz de entusiarmar-se mais facilmente com as coisas. "A associação entre a curiosidade e o desejo é a origem da criatividade". Talvez por causa desse nosso apreço a novidade, explica-se o alto número de Dom Juans, que depois da conquista ficam entediados e partem para outra. Não são poucos os homens que arranjam amantes ou então comentam as infames piadinhas: carne nova no pedaço. E a pessoa é tanto mais curiosa, quanto mais afoita por novidade. Essa característica, fora dos relacionamentos, é super valorizada. A curiosidade nos move para frente, faz buscarmos alternativas, nos motiva a explorarmos o espaço. A curiosidade fez o homem ir para a lua e esse é o ano em que faz 40 anos que Armstrong pisou na superfície lunar, ainda que muitos não acreditem. Santos Dumont inventou o 14 bis. Afinal, além de buscar novidades, a curiosidade faz com que as pessoas as criem.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O retorno de Jacko

Deram a uma cratera da lua o nome de Michael Jackson. Depois de sua morte, Jacko conseguiu superar sua própria celebridade. Que semaninha triller essa da morte dele. Jesus, Maria, José. A espetacularização do fim da vida de Jackson foi sobrenatural. Todos os canais de tv o tempo todo noticiaram tudo a respeito dele. No início eu até que achei legal e assisti um documentário a respeito. Viraram Michael do avesso. Fico imaginando se o Elvis Presley pudesse um dia sonhar que existiriam "velórios show". Muitas emissoras mudaram a programação só prá exibir o evento. E dê-lhe gente chorando, se esgoleando tresloucadamente por uma pessoa com que nunca trocou uma palavra. Talvez no velório do pai não vá estar tão mortificado.
Não é que sou contra o Michael. Até achava ele bacaninha e ja tentei fazer com os pés aquele passinho arrastado. Fico reticente com todo esse excesso de notícias, meu pai, parece até lavagem cerebral. Michael Jacskon já estava morto para muitos há muito tempo. E quando morreu de verdade, ele renasceu e as pessoas passaram a "regostar" das suas músicas. Com a morte, Jacko renasce. E Neverland vai ser construída na lua, bem naquela cratera lunar com seu nome. Porque na Terra, ele viveu no mais portentoso purgatório. Who's bad?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Gente invisível


Há algo de desafiador em se dispor a entrar na pele de um gari. Uma noite antes de eu ter de acordar de madrugada, me sentia nervosa e até cansada, só de pensar que eu teria de varrer ruas por seis horas ininterruptas, mas para imergir jornalisticamente, seria esta a minha peleja. Eu havia relido um resumo da tese de um psicólogo social, em que ele argumenta que as pessoas são percebidas mais pelas suas carreiras do que propriamente pelo "ser" e quem exerce certos trabalhos considerados subalternos se tornam meras "sombras social". Junto com os colegas de vassoura, me surpreendi por ter recebido sete "ois" de pessoas que me reconheceram. Mas eu via que eles viam a mim, depois de me identificarem e percebi que os garis realmente eram vistos, mas não enxergados, como se fossem transparentes, como se o uniforme verde os colocasse nivelados aos postes, como se fossem iguais as árvores. Mas eles adoram se sentir gente, e sentem isso cada vez que uma pessoa passa e diz "bom dia".

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Eu comi a vida

***eu nunca estou aqui, tampouco estou ali,,,na realidade, onde penso que estou é ilusão,,eu mergulho nas minhas ausências, como quem está piamente acreditando na presença de Deus no mundo real (Pita)


***Quando uma pessoa é o próprio núcleo, ela não tem mais divergências. Então ela é a solenidade de si própria, e não tem mais medo de consumir-se ao servir ao ritual consumidor - o ritual é o próprio processar-se da vida do núcleo, o ritual não é exterior a ele: o ritual é inerente (Clarice)

***nem desejo , nem desprezo..nao há como sentir desprezo se nao há o que desejar,,,gostaria de sentir,,,,alto tangente,,tátil...nao que corrói, mas que alimenta,,,um amor quente (pita)


*** somos criaturas que precisam mergulhar na profundidade para lá respirar, como o peixe mergulha na água para respirar, somos os que nadam" (Lispector).


***somos tudo o que fomos e o que havemos de ser em consoanância com tudo o que sentimos....seremos muito mais do que podemos ter sido,,,seremos nós mesmos se mergulharmos no fundo de nossas almas, igual peixes sob os oceanos (Pita)

*** tenho a certeza disto: de que as coisas todas se passam acima ou abaixo da dor. A dor não é o nome verdadeiro disso que a gente chama de dor (Lispector)

*** em minhas verdades abissais eu me desnudo perante o vácuo que sopra na minha cara, a face da dor. Ela faz em mim grandes sulcos, não de velhice, mas de sopros de dor que açoitam a fina tez esbranquiçada. Eu me ardo de medo do meu vazio (Pita)

*** então pela porta da danação, eu comi a vida e fui comida pela vida. Eu entendia que meu reino é deste mundo. E isto eu entendia pelo lado do inferno em mim. Pois em mim mesma eu vi como é o inferno.Pois em mim mesma eu vi como é o inferno.O inferno é a boca que morde e come a carne viva que tem sangue, e quem é comido uiva com o regozijo no olho: o inferno é a dor como gozo da matéria, e com o riso do gozo, as lágrimas escorrem de dor. E a lágrima que vem do riso de dor é o contrário da redenção. Eu via a inexorabilidade da barata com sua máscara de ritual. Eu via que o inferno era isso: a aceitação cruel da dor, a solene falta de piedade pelo próprio destino, amar mais o ritual de vida que a si próprio - esse era o inferno, onde quem comia a cara viva do outro espojava-se na alegria da dor. (Lispector)

domingo, 7 de junho de 2009

Jogo Aberto comigo mesma


Principal traço de seu caráter?
Melancolia, preciso dela prá ser feliz!

Qualidade que mais admira num homem?
Admiro no homem o desejo insistente para encontrar uma mulher e a proteger!

Qualidade que deseja encontrar numa mulher?
Não desejo encontrar nada nas outras, tudo em mim. Mas talvez, uma sincera amizade de mulher, sem concorrência feminina

O que mais aprecia em seus amigos?
O fato de poderem largar o que estão fazendo e prestar atenção nas nossas palavras, quando estamos tristes. O fato de ouvir genuinamente.

Seu principal defeito?
Não conseguir seguir a dieta até o fim.

Ocupação preferida?
Ler

Sonho de felicidade?
Passar dias inteiros mergulhada no amor com alguém. E que ninguém me acorde. Quero morrer assim.

Qual seria sua maior infelicidade?
A companhia da minha solidão. Ela é meu chiclé. Ela me leva a tiracolo!

O que desejaria ser?
Uma criança que não pensa na felicidade. Ela está tão entretida sendo feliz, que não tem tempo para pensar sobre o assunto.

Em que país gostaria de viver?
Eu criaria a Pitolândia. Iria ter alma gêmea para todo mundo. E maná caido dos céus. Iria ter só ter uma escola. O Colégio da Felicidade.
A cor de sua preferência?
O rubor das minhas faces quando fico feliz

A flor de que mais gosta?
As que florescem na primavera, se permitindo o ciclo de ir e vir.

O pássaro de que mais gosta?
Os que assobiam todas as formas de melodia, orquestrando suas próprias vidas. São exemplos para que a gente cante também.
Heróis na vida real?
Não tenho heróis. Gosto dos homens anônimos que da pobreza se sentem felizes com o próprio destino. Se o destino não foi gente fina com eles, eles ousaram o desobedecer e são felizes mesmo assim. Digo isso porque essa semana entrevistei uma família que invadiu um ex-posto de saúde. Uma familia miserável, com três cobertores para esse inverno rigoroso. Eu indaguei: senhora, você é feliz? Ela disse: eu sou.

O que detesta?
Detesto essa minha mania de querer me desvencilhar da solidão. Queria me acostumar e me amansar com ela. Mas eu me acostumo mas não me amanso!

A reforma que considera necessária?
Toda reforma de interior. De alma

O dom da natureza que gostaria de possuir?
De enfeitiçar o tempo

Como gostaria de morrer?
Dormindo!

Qual é o seu atual estado de espírito?
O mesmo de sempre, paradoxalmente melancólico e extrovertido.

Erros que mais lhe inspiram indulgência?
Quem erra pensando em acertar.

Seu lema pessoal?
Ninguém é o mesmo, mesmo que se repita! (Carpinejar)

A felicidade é uma festa de crianças cheia de adultos!


Tanta gente já definiu a felicidade. Vivemos tentando conceituá-la até porque verbalizar um pouco desse sentimento faz com que ela fique mais tangível, mais à nossa espera. Mas ela é fluida, como um gás hélio, difícil de pegar, mas capaz de encher os balões mais belos que pululam pelo ar. A felicidade pode ser tão remota, mas também muito simples. Eu percebi que ela é uma festa de crianças cheia de sorrisos animados. E os presentes são apenas a cereja do bolo. Eles foram parte do complemento mas o essencial é perceber que alguém é feliz por protagonizar uma festa que gera diversão a todos.

Na festa de aniversário de dez anos da Marianna, foram 12 horas ininterruptas de olhares brilhantes. Primeiro com as crianças durante a tarde. E a noite foi a vez dos adultos. Uma festa de criança com adultos? Sim, eles pareciam crianças!

É apropriado observar que quando a dona Miriam - a agitadora oficial - distribuiu perucas e fantasias, o pessoal entusiasmou-se mais. Parece que escamoteados pelos acessórios, eles se deram o direito de "abrir as asas e soltar suas feras". A felicidade é uma festa de criança cheia de sorrisos. De adultos inclusive!
TANTAS FRASES PARA UM SÓ SENTIMENTO
*** "Se considero quanto me custa a idéia de deixar a vida, devo ter sido mais feliz do que pensava."- Autor: Claude Aveline
*** Os homens que procuram a felicidade são como os embriagados que não conseguem encontrar a própria casa, apesar de saberem que a têm."- Autor: Voltaire
*** "A felicidade está fora da felicidade."- Autor: Fernando Pessoa
***"A felicidade é salutar para o corpo, mas só a dor robustece o espírito."- Autor: Marcel Proust*
*** "Se quiséssemos ser apenas felizes, isso não seria difícil. Mas como queremos ficar mais felizes do que os outros, é difícil, porque achamos os outros mais felizes do que realmente são."- Autor: Baron de Montesquieu
***É preciso tentar ser feliz, nem que seja apenas para dar o exemplo."- Autor: Jacques Prévert
***A felicidade é um problema individual. (Freud)

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Quem sai na sexta está na pista para negócio!


A noite é uma areia movediça. Quando mais afunda-se nela, mais se vê os dramas buliçosos que avançam no tic tac das horas. Os usuários de crack acendem seus cachimbos e fumam a própria destruição. Foi uma matéria muito legal de fazer. Isso que eu defendo, um jornalismo de imersão.

sábado, 30 de maio de 2009

Um pouco eu, um pouco ela

* Sou emblemática. Eu marco em mim na carne as minhas dores. Depois, na sucessão dos dias, eu volto atrás e lembro como fiquei agoniada ante a minha lástima. Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)

* Eu não tenho enredo.Sou inopinadamente fragmentária. Sou aos poucos. Minha história é viver. E eu só sei viver as coisas quando já as vivi. (Clarice)

* O que 'não sei' dizer é mais importante do que eu digo " (Clarice)

* O que eu digo não faz calar a minha alma, que tem sempre necessidade de repetir as palavras, como se o fato de verbalizá-las, fosse fazer meus sonhos se concretizarem. (Pita)

* "Não me prendo a nada que me defina. Sou companhia, mas posso ser solidão....tranqüilidade e inconstância, pedra e coração." (clarice)

* Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada. Em seu silêncio retumbante, ela espirra a necessidade: amor. Mora. Não ali. (Pita)


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CLARISSANDICES (A estrela sem hora )
A história de Macabea fascina porque assomba. Nunca vi alguém tão acostumada a ser ninguém. Ela, que estava habituada a esquecer de si mesma. Nunca quebrava seus hábitos, tinha medo de inventar. Ela que não conhecia a tristeza, porque a tristeza era um luxo, era coisa de quem podia chorar. Ela que de um modo geral, não se preocupava com o próprio futuro. Ter futuro era luxo.
Macabéa era, como bem definiu seu namorado, que também pouca sombra fazia no chão, dizia: Macabéa é um cabelo na sopa, não dá vontade de comer. Ela tinha fome de ser outro. Não tinha anjo da guarda, mas se arranjava como podia. Macabea achava Gloria, sua amiga um estardalhaço de viver. E se doía o tempo todo por dentro. Macabea nunca tinha tido coragem de ter esperança. Essa pelo menos eu tenho. Sou uma pessoa grávida de futuro. Devo lutar como quem se afoga, mesmo que eu morra depois. A morte é um encontro consigo. E se eu morrer? Morrer é um instante, passa logo.


* As coisas estavam de algum modo tão boas que podiam se tornar muito ruins porque o que amadurece plenamente pode apodrecer.
(Show de bola essa constatação. Você não tem medo de quando uma coisa sua está muito feliz, você não tem medo de que isso é bom demais que logo vai acabar? E parece que estar embaixo, estar menos feliz é sua condição normal, portanto estar muito feliz é uma forma de estar infeliz)

* A eternidade é o estado das coisas neste momento

* Que se há de fazer com a verdade que todo mundo é um pouco triste e um pouco só

* Quem cai, do chão não passa

* Me dou mal com a repetição: a rotina me afasta de minhas possíveis novidades


*Quem não se enfeita, por si mesmo se enjeita

* Sentia em si uma esperança tão violenta como jamais sentiu tamanho desespero.

* O Ao dar o passo de descida da calçada, o destino atravessou a rua e sussurou veloz e guloso: é agora, é já, chegou minha vez. O destino havia escolhido para ela um beco no escuro e uma sarjeta.

* Fui longe demais e já não posso mais retroceder.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Com jeitinho

É sempre bom se bandear para o outro lado da meia noite. Ficar sempre à espreita dos entrevistados cuidando,olhando, analisando é tarefa salutar para o repórter, mas quando o jornalista vira entrevistado, muitas vezes ele não sabe bem o que dizer, acostumando está a fazer inquirições, questionar e retrucar. Mas tá, lá fui eu para a coluna do Mazzarino bancar a dona entrevistada. Tá bom, boooooom, boooooooooom, bommmmmmmmmm não, mas tá bom, tá bom, tá bom.
Esta é umas dessas reportagens que eu gosto de fazer, com um texto literário, em que eu posso criar dentro dos sentimentos e brincar com a reação que um delito tão vil e invisível possa causar no  leitor. É gratificante folhear o jornal e verificar uma matéria publicada com pleno êxito. Êxito que eu digo sem erro em grafia e com uma diagramação atrativa. Já disse aqui, no Pitônicas, que a vida real é que fornece as melhores histórias e as mais literárias.E da melancolia que se gera a poesia. Os casos de incesto, infelizmente,  fenecem no silêncio.  Um delito invisível que está entre nós. 

domingo, 17 de maio de 2009

Dia de solidão

Não gosto do domingo que me faz perceber minha bruta solidão , tampouco da segunda-feira, dia de ir pro mundo e laborar, sabendo que o domingo não foi de amar!!

sábado, 16 de maio de 2009

A distância torna as coisas azuis

Quando eu era pequena, costumava ler dentro do roupeiro. Levava comigo uma lanterna com as pilhas fortes e me introduzia dentro de um mundo particular. Era ali que lia as histórias de Laura Ingalls, aquela do seriado Os Pioneiros, quem tem menos de 30 anos nem tente puxar pela memória, não vão lembrar mesmo. Dentro do cubículo, entronizada nas delgadas paredes daquele móvel roto e antigo eu conseguia me deslocar para campos verdejantes, travava contato com rostos sorridentes ou aventuras feéricas. Encarapitada nos cobertores, porque era exigência de mãe que eles não saíssem da li, eu me travestia dos personagens que lia. Nas minhas lembramças de infância, não me vem à mente momentos extremamente felizes com crianças de minha idade. Eu me reporto para aquele tempo e vejo o sabor da leitura meu assaz alimento. A vida depois passou tão rápido quanto as folhas manuseadas apressadamente de uma obra. Quinze, 19 e aos 23 lembro que pensei: como estou velha. Aos 26 me sentia uma idosa, a alguns passos de ser balzaquiana, eu suprimia a apreensão da idade. Os 30 chegaram e com ele, a saudosa lembrança dos tempos de outrora. E é aqui que quero comentar. Creio piamente que a gente idealiza as lembranças. Recordo de uma reportagem que li, com um senhor de Arroio do Meio, chamado Gente Boa. Tosco, humilde e vivido. Ele dizia que a distância torna as coisas azuis. Talvez Gente Boa, jamais tenha ouvido falar - e é certo que não - do astronauta russo Iuri Gagárin que do espaço sentenciou que a Terra era azul. Eu acredito que sim, que a distância e a isso estou me referindo ao espaço temporal modifica a cor dos acontecimentos passados. É natural nos pegarmos a dizer sempre no presente: "como nós éramos felizes, que saudades daquele tempo". E não nos damos conta de que aquele tempo poderia ser tão insípido quanto o gosto do chuchu ou então deleitoso quanto o agora. Mas a gente vivifica tanto na memória as sensações pretéritas que às vezes, desabonamos os nossos pequenos e atuais tormentos cotidianos ou nossas alegrias correntes. É legal trazer à tona o passado e todas as matizes de sentimentos os quais já vivemos, mas é recompensador açular a emoção para prender dentro da gente as sensações presentes, aquelas que pulsam na alma, sejam as que a gente desanca de dor ou aquelas em que nos regozijamos. Se a distância torna as coisas azuis, a proximidade pode ser fulgente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Cena bucólica


A foto é em um dos municípios que ficam ao redor de Lajeado, uma paisagem verdejante e agreste encobre os segredos de dois irmãos que utilizam suas bucólicas noites para atos sexuais e o fazem sorrateiros à família. Em regiões interioranas, o incesto é mais comum do que se imagina. A união sexual entre pessoas da mesma família vem impregnada de mácula e despudor e se tudo que é proibido é perigoso, é verdade também que o fato de ser ilícito possa instigar, açular os desejos. E eu, como adoro histórias incastas, me bandeio para esses lados, onde o canto dos passáros encobre casos de amor impudicos.

domingo, 3 de maio de 2009

Como estou sendo


Incrustrado dentro de mim, todos os meus sonhos. Cheiro pelos cantos, os meus prazeres que estão escondidos, não os acho. Há tantos recônditos, que eu não encontro um sinal do amor. Um vestígio que seja. Há uma marca. Indélevel. Algo que regurgita na minha garganta, a marca de um desamor. A ausência de um ser me fere o flanco. Não me foi incumbido de amar. A solidão é inexpugnável, mas eu insisto contra ela. Eu existo. Eu quero ser sem ela. Eu quero me ter, vívida, amada, amante. Eu quero a alegria de conjugar qualquer verbo no plural. Sou pura pressa. Quero me perder no rumo de alguém. Assim, eu me aprumo. (Pita)

* Minha verdade espantada é que eu sempre estive só de ti e não sabia. Agora sei: sou só. Eu e minha liberdade que não sei usar. Grande responsabilidade da solidão.” (Clarice Lispector)

*Estou cansada da rotina de me ser..." (Clarice Lispector)

* Que minha solidão me sirva de companhia. Que eu tenha a coragem de me enfrentar. Que eu saiba ficar com o nada e mesmo assim me sentir como se estivesse plena de tudo. (Clarice)

domingo, 26 de abril de 2009

Retirei do blog Páprica Doce e é um pensamento que compartilho:
"Aquilo que enxergamos nos outros e repugnamos, pois é exatamente o que temos de pior dentro de nós. Quando queremos fazer justiça com as próprias mãos, é porque temos que eliminar no outro aquilo que existe em nós. Por mais absolutista que Hobbes tenha sido em suas escrituras eis o legado: “Lê-te a ti mesmo”.Olhar para dentro de si e examinar o que estamos pensando é primordial para não cometermos injustiças, pois a sombra não é apenas uma sombra, é outro."

sábado, 25 de abril de 2009

O Umbigo do mundo

Na pequena cidade de Jerash, Adrastéia, do segundo andar do pequeno mas bonito shopping , vislumbrava a estátua de ferro incompreensível e contemplava o corredor abaixo, onde as pessoas transitavam e com feições alegres ou indiferentes ao ambiente, murmuravam umas com as outras seus pequenos projetos cotidianos de vida. Uma ida ao mercado, compras nas butiques enfeitadas ou simplesmente, sentar na praça de alimentação para uma conversa descontraída. Adrastéia percebia tudo isso e enquanto observava cenas rotineiras seu rosto era inescrutável para aqueles que não a conheciam.
- Eu sou um projeto que não deu certo - dizia ela mentalmente para ela mesma. Eu, um fracasso público. Como tudo pôde dar tão errado na minha vida? - Vociferava ela com a voz presa na garganta, sem emitir um unico som sequer.
Todos os sons estavam dentro dela. Adrastéia, que em grego quer dizer "Aquela de quem não se pode fugir", teve seu nome selado por seu destino. Há uma semana, ela pensara em se matar. Tirar a vida seria abreviar seu sofrimento psíquico, uma enfermidade mais da alma do que física. Ela sentia-se imensamente só. Seus relacionamentos eram velozes como a descarga de um trovão. Ela sentia que não fora suprida de beleza. Seu corpo era fora do padrão e os primeiros sinais de expressão envolta dos olhos começavam a enfear sua tez. Adrastea era articulada, formada em Filosofia na faculdade de Jerash, gostava de ler Nietzsche, André Comte-Sponville e Arthur Schopenhauer, filósofo com o qual se identificava e inoculava as lições de que a vida é apenas uma passarela para a morte. A morte, que brinca um pouco com sua presa antes de comê-la.
Ali, naquele templo de consumo, o maior da região de Decapolis, ela sentia sua solitude maior do que o complexo de compras e divagava, enquanto esperava sua filha Marahanna sair do cinema. Há nove anos, quando sua filha nascera em outra cidade, fruto de uma união relâmpago com um homem a quem nunca amou, Adrastéia decidiu chamar sua menina por um nome que lhe soasse suave e belo mas que também apresentasse algum significado. Decidiu por Marahanna porque julgava quem em hindu significava "caminho do mar".
Adrastéia se sentia ínfima. Sem nenhum atrativo e nem qualquer valor. Não percebia chamar atenção dos homens. Não, ela não chamava. Ela queria sair de sua pele, poder sentir que era desejada e mais do que isso, que conseguiria levar um relacionamentoa diante. Ela queria perceber que todo seu ser seria amado por um homem, alguém a quem ela elegeria. Mas nunca foi assim. Adrastéia não era a que rejeitava, era a que era enjeitada.
- Todas as vezes eu fui rejeitada. Sempre foram eles, os homens que me negaram. Por que minha vida deu errado? Por que tinha de ser assim?Talvez seja melhor que ao contrário de melhorar minha estima, eu a piore ainda mais, porque só então eu não terei mais a pretensão de ter alguém ou ser feliz. Porque eu estarei com a autoestima tão em baixa que não ousaria querer reerguê-la.
A Teoria de Adrastéia era simples. Quando você não pode solucionar um problema, quando algo é tão maior do que sua alçada, então você passa a ignorá-lo. Um mendigo não está preocupado com a devastação na Amazônia, porque este é um problema que foge de sua alçada. O dilema dele é apenas arrumar comida para se sustentar no dia seguinte.
Adrastéia pensava na sua solidão e nas questões de vida e de morte. E também julgava que talvez estivesse nesse estado de espírito há anos, por se achar o umbigo do mundo. Para os gregos, o umbigo é o centro do mundo- Omphalós. Adrastéia foi retirada de suas reflexões mentais com a chegada de Marahanna. As duas então rumaram para casa. Logo findaria o dia e a noite expulsaria o sol do horizonte. Com sua dor pungente ela haveria de encontrar uma perspectiva. Sufocaria suas dores na leitura.
- Ler me tira a dor do mundo - resumiria ela em um dos seus escritos.
Ela pensa em Schopenhauer e se sente uma fôlha sêca que oscila no ramo de uma árvore, e sabe que no outono, será sua próxima queda. Ela acredita que vá sucumbir, mas quando a vida a engole até o poço, ela consegue navegar. Singra por todas as grutas dentro de si. E sabe que não pode titubear. Sua vida árida pode não representar muito para ela mesma, mas existe uma filha a quem ela deve conduzir até a entrada da idade adulta. Talvez depois ela se permita pensar no repouso da alma. Talvez ela ainda possa ter tempo de ser feliz. Ela espera. Ela não espera. Ela desespera.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Hiato emocional




Tenha em mente que você tem um big terreno que está esperando árvores, flores e samambaias serem plantadas. No entanto, a área ainda é um trecho de terra seca e sem verde. Árida. Transfira esse terreno para dentro do coração. Esse vazio é o hiato emocional, aquele espaço que não tem jeito de ser preenchido, nem cenas românticas nem beijos enternecedores se vislumbram da janela da alma. Simplesmente porque não há ninguém na mente ou no vasto espaço cibernético para bancar o príncipe consorte de um coração que quer pulsar de forma mais forte. Nem na parte direita do cuore, nem na esquerda. Em nenhum dos ventrículos existe a menor menção de visualizar um mancebo. Que falta de enlevo. É chato voltar para casa depois de um dia cheio de trabalho e perceber que no lar, de pijama, você não tem mais nada a esperar. Vai tomar sua papinha dietética e vai dormir, sem os maravilhosos arroubos romanescos propagandeados pelos filmes de Holywood. Na sua cama box, que serve para dois corpos bem robustos, ninguém vai roubar a coberta ou te jogar para o canto. É a Síndrome do Berço Vazio. No hiato emocional você não chora por ninguém, não tem medo de ser traída, não se angustia com rompimentos, seu coração é igual a uma cratera: cheia de vácuo. Não há um cavaleiro-heroi. Tudo o que existe de grande e colorido é a imagem da tevê: é Faustão ampliando ainda mais a sua solidão, no domingão insosso.
FOTO: A Síndrome do Berço Vazio assola corações

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Esse mundo é Schopenhauer

O mundo se vislumbra em minha mente com uma clareza incrível: tudo o que eu li no budismo se descortina na visão de Schopenhauer. Comecei a me interessar pelo cara ao ler A Cura de Schopenhauer, de um autor que gosto muito Irvin Yalon, o mesmo que escreveu Quando Nietszche Chorou. Eu adoro essas "conversas" íntimas com essas obras porque é quando posso me familiarizar com uma filosofia simplificada. Filosofia aliada a psicanálise. Amo muito tudo isso, bem talvez seja uma visão meio Macdonalds de ver as coisas, mas eu prefiro me emparrurar de idéias filosóficas e engordar na mente do que abrir a bocarra prá ingerir um big mac e deixar a mente cheia de vácuo.
Voltando a Schopenhauer, o filósofo do pessimismo. Esse cara é tri. Absolutamente sem ilusões sobre a porcaria que é a vida, mas ele não diz isso de uma forma em que ele possa se vitimizar e achar uma droga esse mundo de dor, ele diz isso como uma constatação, assim como o budismo que fala que tudo é sofrimento, tudo é impermanente, e tudo passa. Schop reitera que tudo é movido a vontade, temos vontade de tudo. Somos movido a desejo, e no momento em que realizamos o desejo, ingressamos em um estado tedioso para dar vazão a novamente um outro desejo e assim tudo se sucede nessa eterna insatisfação cheia de vontades. Encontro nesse pensamento uma relação flagrante com Andre Comte Sponville, aquele que escreveu Felicidade, Desesperadamente. De uma certa forma, os pensamentos se complementam, se cercam de verdades e eu com meus sentimentos cheios de tédios e melacólicos vou formando a minha opinião de que a vida é isso mesmo: uma sucessão de preocupações até a morte. Temos de ter a preocupação prá nos livrarmos do tédio. Eis o que Schop diz:
"O quinhão de quase todos os homens durante sua vida resume-se em pesares, trabalho e miséria, porém, se tôdas as aspirações humanas se realizassem, como que se preencheria o tempo? O que preencheria sua vida? "

CONSIDERE ISSO
Todo desejo é sofrimento, pois é a expressão de algo que nos falta e de que necessitamos com urgência. E enquanto o desejo é infinito e eterno, a satisfação é limi-tada e breve - semelhante "a uma esmola dada a um mendigo, suficiente para para mantê-lo vivo hoje a fim de que a sua miséria ge prolongue no dia seguinte..." Do desejo satisfeito já nasce um novo desejo e alcançamos uma vez um estado de saciedade, surge o tédio, tortura igual à do desejo. Assim a vida é como um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio, e a nossa existência é "um negócio que não cobre as despesas..."

A DOR É UMA COISA POSITIVA
Vivemos inconscientes e desatentos: nossa atenção desperta no mesmo instante em que nossa vontade encontra um obstáculo e choca-se contra êle.

ELE DISSE
*A morte é vitoriosa, pois desde o nascimento esse é o nosso destino e ela brinca um pouco com sua presa antes de comê-la.

* Os reis deixaram aqui suas coroas e cetros; os herois, suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava com eles e não em coisas externas, levaram com eles a sua grandeza.

BEM COLOCADA
Achei genial essa frase dele, de certa forma é assim que eu penso mesmo e igual a Schop, estou quase desistindo da ideia, ele resumiu de forma simples e sensacional o casamento em idade mais avançada. Seguinte: com a idade, Schop desistiu da ideia do casamento com pouco mais de 40 anos. Ele dizia: "Casar-se em idade avançada é como percorrer a pé três quartos da estrada, depois comprar uma passagem muito cara pelo trajeto completo". Hahahah
Eu digo: Casar-se na idade madura é como querer pagar o ingresso de uma balada as 3h da madrugada, o melhor da festa você já perdeu e tem de pagar o ingresso integral apenas pela última hora e meia de diversão. Não vale a pena!

quarta-feira, 25 de março de 2009

Vida de sentidos

A falta de sentido de vida produz a neurose espiritual marcado pelo vácuo da alma. Tenho lido a respeito de logoterapia, criada para ajudar a buscar o sentido de vida. Diz o idealizador da teoria que é preciso ter consciência de que a vida tem sentido em qualquer circunstância. A vida a todo momento nos cobra seu sentido. Algumas pessoas descobrem seu sentido almejando o poder, sucesso, dinheiro, engajado em uma causa. A vontade de sentido é maior do que a vontade de prazer. Tem uma liberdade que ninguém pode tirar de um homem: a escolha de uma atitude pessoal perante uma situação. "Mesmo na hora da morte, você pode escolher como vai olhar para ela"

domingo, 22 de março de 2009

Liberta!

O amor é como uma escravidão prá mim. Sempre que começo a gostar de alguém, parece que sinto que algemas gigantes estão sendo colocadas ao redor do meu corpo. Daí, tenho necessidade de pedir todo o tempo se a pessoa gosta de mim, preciso que ela reitere isso todos os dias prá que a algema fique frouxa. Depois de algumas horas que a pessoa disse que gosta de mim, parece que prescreve o prazo, e quando mais passa as horas sem ela dizer que me adora, mais a algema se aperta, Entao tenho de pedir de novo: vc gosta de mim?O amor pra mim é uma escravidão porque preciso que a pessoa reitere de cinco em cinco horas o quão ela gosta, ou entao a algema se aperta. Tenho medo de rejeiçao e que esse parceiro não me veja como mulher, so como amiga. E fico questionando se ela gosta o tempo todo. Pois bem, quanto termina a relaçao nao me sinto liberta pq na minha mente há esperança que a pessoa no fundo continue gostando,se ela não disser com todas as letras que ela não gosta. Se ela termina e continua dizendo que gosta, as algemas invisiveis permanecem circundando o meu corpo. A aflição persiste e isso eu vivi durante dois meses. Escravidão invisível. Mas hoje eu senti como ela se abrissem, me senti liberta porque perguntei a pessoa se ela gostava ou se ela me via como mulher> Ela me disse que gostava como amiga, imediatamente senti um alívio como se as algemas estivessem sendo afrouxadas, como se eu conseguisse me mover e ter um ar. Foi um alívio misturado ao um pouco de dor. eu sei que é dificil entender isso, mas o fato de ela dizer com todas as letras: "eu gosto de vc como amiga, mas nao como mulher, me libertou da minha aflição. E olha que eu queria agarrar a pessoa com todas as forças, cercar ela, mas metaforicamente, descobri que as algemas se abriram ao redor do meu corpo, e nao do corpo dele. Me sinto liberta. Essa cronica ta confusa, mas ela foi feita so pra mim, so pra eu n perder o feeling desse momento, quero me lembrar desse sentimento, desse processo, de despossessão, descravização, alívio Foi bom saber o que poderia ser o simbolo maior da rejeiçao. Agora que sei que ele nao gosta mesmo, estou leve, posso respirar e seguir em frente. Estou liberta.

sexta-feira, 13 de março de 2009

A vida me crava os dentes




Eu me escravizo perante meus sentimentos. Não consigo titubear diante da minha passionalidade. Porque eu tenho de ser tão passional. A vida me ensina a não me querer assim, não há notícias alvissareiras dentro de mim. Eu entorno meu próprio caldo. Eu entro em pane, revés emocional. Porque eu não me destempero por um outro viés? Irrequietamente, eu pinço minhas urtigas sentimentais, eu sinto. E muito. Sinto tanto tudo que não sentir se tornaria um reflexo de uma vitória. Ah, que glória. Eu, que não queria ter memória da minha dor, canso de forma atroz. Um palavrão bem afiado brada internamente um som gutural: será que tu vai me vencer, sua vida de merda?A vida me unha a cara, me fere na virilha e me salpica sal nas feridas. Ando minada de mim.

domingo, 1 de março de 2009

Momento Caras

Por mais que tenha ojeriza a revistas estilo fofoca, há um momento em que sucumbo a elas. Na consulta ao médico por exemplo, é batata. À espera do médico, que são os campeões da impontualidade (estou para ver um que chega na hora marcada), a gente senta na poltrona e passa a mão nas revistas espalhadas pela mesa. Invariavelmente, há mil Caras empilhadas. Tem também a Veja, a Exame e algumas de saúde, mas a gente pega a Caras. Ver a Adriane Galisteu esturricada na praia de Mônaco, com o corpo douradissimo com o celular que ganhou de souvenir na recepção do fulano de tal é o máximo do sonho de nós mortais. Que deleite. Que vida "fantastique".
O que eu acho incrível é que a Caras se prolifera mais nos consultórios psiquiátricos. Parece que os médicos da linha percebem que que você precisa do fascínio da vida de mentira, porque afinal você vai lá para tratar a cabeça. O casamento de Juliana Paes estampado na primeira página te leva ao idílio. E você foi lá para falar da porcaria do seu relacionamento. O corpo da Carolina Dickmann está escultural. Nossa, depois da filharada, ela perdeu 30 quilos. E você sofre com sua auto-estima e a sua imagem refletida no espelho e diz: "desgraçada eu, pára de comer aquelas bolachas recheadas." O Gianecchini tá lindo de morrer e você tem se satisfazer com seu amor barrigudo, careca e com chulé. No Momento Caras que está estendido na mesa do consultório, a gente idealiza a nossa própria vida através das folhas coloridas da publicação. É uma espécie de folga de nossa rotina. A sujeira do tapete deles nunca é mostrada nem na primeira página nem contracapa. Mas a gente vê o Fábio Assunção internado por problemas com drogas, a Luana apanhando no namorado. Quem percebe o glamour, não percebe coração. Quantos artistas devem estar fazendo tratamento psiquiátrico? O Momento Caras é fugaz, só dura o tempo do clique da fotografia. O Momento Caras é um momento posado. As fotos são fiéis ao que fica fora delas. No final é melhor fechar a revista e dar adeus às ilusões. É hora de perscrutar seu momento íntimo, indagar com escrúpulo para si mesmo o que te faz feliz. No castelo de Caras, está a ilusão, do seu coração, pode advir a realização. A grama do vizinho nem sempre é a mais verde.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Fastio de verbo

Alguém pelas bandas do Croissant de Emoções andou reclamando que eu tenho me manifestado pouco por aqui. É verdade, na real isso me preocupa, porque ando com fastio de ideias, as palavras se mexem e remexem mas não saem da minha cabeça. Eu estou com dificuldade de cerzir as frases ou alinhavar idéias. Não sei o que anda acontecendo, esse marasmo me deixa apreensiva até pelo meu trabalho, eu gosto de ter fluidez no que faço. Essa ausência de verbos e conexão entre minhas vogais não é consoante comigo. Espero que esse meu fastio passe, preciso me articular novamente.
No fundo, talvez minha escassez verborrágica seja um subproduto do que perpassa pela minha trajetória sentimental e do cotidiano. Ando amuada com o tédio,nada tá bom, não consigo sorver meus momentos. Quando estou no trabalho, penso no quarto da casa, quando me encontro no meu íntimo residencial, quero permanecer na labuta e a assim, eis a roda de samsara, o ciclo de enganos. Troquei o vazio pelo tédio. Se tudo passa, talvez passe tudo isso também. O tempo é a mãezinha que ajeita as coisas dentro da gente para para botar tudo no lugar, seja coisas de dor ou de ardor do amor.Passa pelo tempo até a alegria. Ainda bem, seria um tédio ser alegre toda a existência. Se todas as coisas boas durassem para sempre, você saberia como são importantes?"
***
Eu me aprofundei mas não acredito em mim porque meu pensamento é inventado. (Lispector)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Por trás do poder


Vocês já ouviram falar que por trás de um grande homem sempre existe uma grande mulher, né? Eu discordo um pouco disso porque acho que as mulheres sempre correm na frente, mais sensíveis, democráticas e duronas, quando querem ser, são também mais humanistas. Mas bene, aqui estão quatro primeiras-damas veteranas que nunca se elegeram, mas sentiram o gostinho do poder, ajudando seus maridos a administrarem as prefeituras do Vale do Taquari. São elas de Capitão, Encantado, Nova Bréscia e Relvado.

Eu de metida, estou no meio. Eu sou o quarto poder, a imprensa...hehehe

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Ignorância saudável


Entre as teorias modernas da psicanálise, deparei-me com aquela chamada Teoria do Falso Self, em que a pessoa cria uma casca e age com essa casca para esconder seu verdadeiro eu. Isso, segundo Winnicot, ocorre em bebês quando a mãe não é suficientemente boa. A mãe tem que deixar o bebê se sentir onipotente, um Deus, na fase inicial da vida. É a dita ignorância saudável. Precisamos dessa ignorância para nos transformarmos em pessoas melhores. A gente sempre rejeita o rótulo de ignorante, achamos bobo, de preciativo até. Quiçá quanto salutar seria nao saber! Seria até uma defesa. Por que o que podemos fazer ao conhecer e tomar ciência de tudo, talvez nossa reação pelo conhecimento possa desencadear uma ação pior do que nos mantivéssemos nao-informados. Devido a nossa necessidade de proteção, podemos reagir de forma insalubre com o que tomamos ciência.
Sempre que o bebê atingir a beira do insuportável, a barreira se manifestará, uma barreira que se ergue devido ao excesso ou falta de alguma necessidade. Vai criar uma barreira frente ao ambiente e e ela que protegerá seu verdadeiro eu das "angustias impensáveis".
Não sei se concordo com esta teoria. Primeiro porque a neurocîencia atesta que o cérebro é plástico e se expande mesmo na idade adulta e isso diluiria nossas odiosas experiências da infância. O cérebro se reinventa, é reciclável igual a uma garrafa pet. O cérebro é pet. Segundo porque a neurociencias diz que é bom não reprimir a raiva e as emoçoes negativas, porque se não reprimissemos, elas funcionariam como uma panela de pressão, é so dar vazão para entrar em ebulição. Entao é bom reprimir o que não gostamos e deixarmos escondido nosos self verdadeiro, porque com o tempo o cerebro se reprograma e passa por cima das experiências ruins.
Eu ainda nao consigo deglutir a teoria, porque para mim falta argumentação. Eu só aceito coisas que minha cabeça consegue explicar. A unica coisa não explicável aceitavel na minha mente é Deus e o universo. Deus é tão grande que não pode ser explicado e eis ai sua explicação. Justamente ele está explicado por não ser explivável. Porque ele é tão grande que se tivéssemos de saber tudo acerca DEle e do Universo, sucumbiríamos perante as informações. Eis nossa ignorância saudável. Precisamos dela para podermos continuar vivendo nessa via Láctea.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Síndrome da Gabriela

A expressão ouvi pela primeira vez nesta semana em uma palestra de motivação. Me identifiquei de cara: sou Andréia, mas pode me chamar de Gabriela. Ela mesmo, aquela do cravo e canela. Eu não tenho canela fina, como ela, mas um cabedal de afirmativas estupidamente restritivas na minha vida. Eu vou começar como ela: eu nasci assim, eu cresci assim...só não sou feliz assim, porque se fosse, seria ela, a Gabriela. Que papo de jacaré esse. Só coloquei ele no meio porque me lembrei do Wally: ó dia, ó vida, ó sina. Qual é sua graça? Minha graça se chama Andriwally: andreia + wally ou então Gabridéia. Que sina, fazer graça com meu destino queixoso. Passar minâncora adianta para as lamúrias????? Se adiantar, vou comprar 12 potes. Deixo as rachaduras do pé intactas que é pra economizar pomada, em compensação, curo as ranhuras da alma. Eu nasci assim, despojada de estilo rococó, escrachada, sempre Andréia.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Álibi frágil

O ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. Meia idade? Tá, sou dramática, pode me chamar de Maria do Bairro, a mexicana.

sábado, 24 de janeiro de 2009

Biografia da solidão

Estou lendo a biografia de Sartre e Simone de Beauvoir, me encanto com a vida intensa, inteligente e despudorada dos dois. De uma certa forma, a biografia é um alento para minha alma, porque mergulhando dentro das vidas deles eu percebo como eles eram solitários. Quantas caminhadas solitárias ela passava percorrendo pelas ruas de Paris, e ele, quão feio era e quão humano, quando começou a dar os primeiros sinais de calvície, aos 30 anos, se apavorou. Meu tempo divisor do paraíso foi aos 37 anos. Nunca vou esquecer da primeira sobrancelha branca, estou batendo na porta do inferno e este é o meu sinal tangível de velhice.
Mas voltando a Sartre e Simone, lê-los traz um alento, porque como eu me sinto tão solitária, percebo nele meus próprios sinais vitais. Foi Sartre mesmo quem disse que o "homem está só em sua solidão visceral". E Eu dentro de mim, entendo isso perfeitamente. A solidão é uma dor-pedrinha-de-sapato, está sempre ali cutucando e ganindo mas nunca dá o golpe final de ser uma estocada mortífera. Penso agora que todos os grandes pensadores eram sós dentro de si, viviam no mundo das idéias, casavam com o planeta dos pensamentos e não se adequavam a vida da sociedade. Mas eu, como não virarei nenhuma grande escritora, não tenho pretensos planos de escrever minhas idéias e vãs filosofias copiadas das mentes dos grandes, não encontro nenhum alento. Estava pensando, de certa forma, a solidão só é recompensada com a possibilidade de você ser famoso por causa dela ela. Grandes pensadores são solitários. A mim ela não compensa, mas me apraz saber que não estou sozinha vivendo minha solidão nas vísceras. Mais gente a sente e sentiu lhe imbuiu de vida. Eu sinto ela durante toda minha existência. Solitude, minha companheira de estrada. Minha parada obrigatória. Meu pedágio recorrente.
Brinco com a idéia de que um dia alguém possa vir a escrever minha biografia, baseando no que eu deixo nesse blog. Quem sabe, a idéia não é de todo má. Nesse caso, estou contribuindo agora com meu biógrafo, deixando marcado o quanto a solidão me mutila a alma.

*** "Sou muito inteligente, muito exigente e muito engenhosa para alguém se encarregar completamente de mim. Ninguém me conhece nem me ama completamente. Só tenho a mim"

*** "Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de mulher. Em que mundo deserto eu caminho, tão árido, só tendo o oásis de minha auto-estima intermitente!
(Simone deBeauvoir)

*** Momento narciso
"Um dia, quando eu morrer, quero que meus escritos venham à tona. Essa é minha vingança pessoal contra essa solidão a quem considero uma derrota pública e também íntima.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Anima mundi est in me


Imprimo em mim a idéia de que a Alma do Mundo me habita. Quero que esta seja minha segunda pele na alma, não apenas marcada no corpo. A Alma do Mundo é uma idéia balisada por Hermes Trimegistro, o três vezes sábio, que propagou a noção de que tudo é uma coisa Única.
"O que está embaixo é igual ao que está em cima e o que está em cima é igual ao que está embaixo, para formar as maravilhas da coisa única". O Microcosmo é igual ao macrocosmo. O princípio expressa que tudo emana da mesma fonte". Dores, alegrias, sofrimento, euforia, desejos, sonhos, força, vulnerabilidade, azul e branco, dia e noite, teu tesouro dentro de ti, tudo nasceu da Alma do Mundo é ali permanecerá gravado para sempre.
Por isso, a Alma do Mundo tem dois pólos, se tudo nasceu da Coisa Única. tudo tem seu oposto. O igual e o desigual são a mesma coisa, os opostos são idênticos em natureza, mas em diferentes graus. Os extremos se tocam. Todas as verdades são meias-verdades. Todas os paradoxos podem ser reconciliados". Como diz Lao Tsé no Tao Teo King " O som e o silêncio formam a harmonia.O passado e o futuro geram o tempo."
Todos estamos imersos em um único e mesmo útero cósmico sagrado, inelutavelmente reunidos por uma mesma e única Presença que a tudo e a todos permeia. Não há dentro nem fora, apenas a alma sem qualidades do mundo. A verdade é que em qualquer coisa está o divino. Você é tudo o que há e em tudo o que existe há um pouco de você. Você é a alma do mundo. O cantor Raul Seixas que era voltado ao ocultismo percebia isso. Ele cantou que o caminho do amor é o destino, e o caminho do velho é o menino.
* "O caminho do risco é o sucesso
O acaso é a sorte
O da dor é o amigo
O caminho da vida é a morte!"
(Raul Seixas)
* "O universo não tem preferências.
Todas as coisas são iguais.
O Universo é como o fole de uma forja.
Que, embora vazio, fornece força.
E tanto mais alimenta a chama quanto mais o acionamos"
(Tao Te King)
*"Acima está repleto de mim, abaixo está repleto de mim, no meio está repleto de mim. Estou em todos os seres e todos os seres estão em mim. Eu sou Om Tat Sat. Sou Existência além da mente. Sou o espírito uno do universo."
(Swami Vivekananda)

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

A teoria dos caras pegadores

Vou promover uma manifestação arrebanhando a mulherada para uma moção de apoio aos caras não-bonitos. Nesse manifesto, os feiosexuais estarão com tudo, porque são muito mais confiáveis e é possível dar mais crédito a eles do que aos pegadores contumazes.
Homem pegador é muito narciso. Nunca vai gostar tanto a ponto de amar unicamente uma pessoa, porque eles amam o impacto que causam no mulherio. Sendo assim, fica difícil para eles manterem o foco em uma só. Porque eles precisam de mais, requerem atenção e estão sempre com predisposição para a novidade, uma nova gatinha, não porque querem amar, mas querem a possibilidade de serem amados: "oba, mais uma que me ama. Eu sou o cara."
Uma amiga minha resumiu de forma perfeita, em papo de MSN, como uma mulher deve pensar e agir com os pegadores. Segundo ela, os predadores são notados pelo papo. Os sérios não se atiram em cima da mulher e não expõem de primeira suas intenções. Eles não chegam chegado, porque têm medo de dar a cara a tapa.
Caras sérios não estão na net, ou se estão, eles são inseguros ou feios.Os pegadores são os bonitos. Viraram conquistadores pelo próprio histórico de vida. Sabem que são belos, culpa da mulherada que os assedia desde pequenos.
Os feios quando são apaixonantes, deixam de ser feios. E a maior virtude deles é serem encantadores e esforçarem-se para fazer o "amor bonito". Por serem considerados "feios", eles embelezam o amor e aí a relação passa a ser agradável aos dois, cheia de dedicação e romantismo.
O que fazer com caras pegadores? Dica da minha amiga, novinha, mas cheia de sabedoria: "seja indiferente, seja superior". Tenha uma atitude pró-você mesma tipo: "Todo mundo me paquera, você, pegador, é só mais um." Essa atitude deriva da idéia que não há nada a se perder ao tratar um pegador assim. Porque a mulher instintivamente sabe que não dá para cair na conversa dele.Então, você não tem nadinha a perder. Ele achará você convencida, mas para que ficar de papo com um cara que você sabe só vai te sacanear? Não demonstre que você acredita nos pegadores, que você está impaciente porque ele não responde no MSN. Predadores adoram uma disputa,seja contra alguém ou contra alguma coisa. Quando você agir "linha dura", o sedutor vai pensar: "quem ela pensa que é para não se apaixonar por mim?" Ele terá dois caminhos: se você for interessar mesmo a ele, ele te busca, faz a corte seriamente. Se não, é porque você só seria mais uma da lista.
Mas os caras sérios se importam com sua indiferença, eles se sentirão inferiores, se abalarão com o fato de você não dar bola a eles, é um baque na auto estima.Mas por que a gente se atrai pelos pegadores? Porque é bacana entrar na dança dos sedutores, eles são muito mais melosos e enfatizam muito mais tuas características legais do que os caras sérios, então a gente se sente especial, tendo a atenção de um homem assediado.
Temos a mania de idealizar os pegadores porque não dá tempo de vermos os defeitos deles. Eles somem antes. É assim: pegadores ficam na tua vida até perceberem que você foi conquistada, depois desaparecem deixando as vítimas desasadas. Então nesse tempo ele supre a carência de atenção, de ser querida por alguém. Só que expira o prazo deles antes que você descubra se ele era tudo isso que você queria.
Há muito mais de confiabiliade e tolerância em um homem não-lindo. Eles esforçam-se mais. Vamos dar créditos a eles e sermos mais felizes no amor a dois.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Relacionamento Nescau

No mundo veloz em que estamos, o que não falta é o Relacionamento Nescau. Pá, pum, sirva-se de duas colheradas e pronto, tá feio o carreto. Na era da instantaneidade, se demorar muito, perde o frete. Somos atormentados pelo caos do estímulo e somos dependentes disso, por isso nos envenenamos pela pressa. Assim, nos esgueiramos para relacionamentos nescau, porque temos de viver depressa. Se isso é bom? Não é, mas me pergunte se eu consigo parar? Eu não. Não tenho talento para estar lenta. Só para errada!

*** As pessoas vivem tanto no mundo do desapego, isolados do amor contundente que quando encontram um par que se encaixe elas querem encaixar logo. Há uma urgência em ser feliz com alguém, um prioridade em retirar a carência do corpo que os relacionamento nescau acabam sendo a fórmula instantânea de evacuar a dor da solidão.. É so mexer, botar uma colherada de sensualidade, uma dose de carinho e fazer um shake de sentimento.

*** É errado querer tudo tão às pressas. Parece que a gente quer lavar a carência da alma encardida, cheia de mofo e naftalina de tanto que não a usamos. Queremos lavá-la na ducha rápida do amor. Sabemos que relacionamento-relâmpago são temíveis, sobra muito para se errar, não é sensato. Padecemos do medo de que tudo o que começa um dia acaba e tanto mais rápido é o término quanto a velocidade do acordo afetivo.

*** Na verdade, os RN são apenas um acordo afetivo até que a relação seja construída. Se tivermos sorte, é possível passar do contrato de experiência, pular para o estágio probatório e depois ser efetivado no coração do outro.

***
" E que eu consiga mudar o destino caso ele não queira a mesma coisa que eu."

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Chuva de bençãos!


"Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas nada do que vivemos tem sentido, se não tocarmos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, silêncio que respeita, alegria que contagia. E isso é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa, mas intensa, verdadeira, pura enquanto durar".


(Cora Coralina)

domingo, 28 de dezembro de 2008

Dia de Milha


Eu e a Nanna ontem tivemos um Dia de Milha. Dia de "Mãe e Filha". Fomos para o rio. Juntas, no rio, eu sorrio. Mais pela intimidade do que o momento conferiu do que por qualquer outra coisa. Fiquei ciente de que minha filha precisa ter intimidade comigo e só comigo. Até cogitei em levar outras pessoas, mas descartei ante a idéia convicta dela: "Mãe, esse é o nosso Dia de Milha, lenbra?".
O Dia de Milha foi um neologismo inventado na hora, e pelo jeito vai ficar. Acho que vamos instituí-lo uma vez por mês. Daria até para fazer igual às companhias aéreas. Quanto mais dias assim, mais milhas. Em um ano, seriam 12 Dias de Milhas, que daria um dia adicional. Seria do Dia da Pilha. Mãe e filha, pilhadas, imaginem! Pilhadas no amor, até que seria legal, né. No final, tudo é parceria e o sentimento de que temos de ser acolhidos no coração de alguém, que não seja apenas o nosso coração. E o que dá sentido à vidas é o fato de termos um regaço. No rio, percebi que minha filha me regala com uma vaidade e um orgulho infantil de quem quer me proteger. Julgando-se potente, ela confidenciou-me: "Mãe, vamos um pouco mais para o fundo, eu te protejo. Confia em mim". Inquestionavelmente, me senti protegida, não do rio, mas pelo senso de proteção dela, mais forte que o perigo. Mais fluente que a correnteza. No rio, eu sorrio. Vi um amor corrente.


*** Um bebê é a opinião de Deus de que o mundo deve continuar(Carl Sagan)

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Que canalha, o que!

Tem muita mulher que acredita que porque o cara não gosta dela, ele é um canalha. Quanta confusão de sentimento. Sentimento é independente de índole. Bonzinhos e canalhas se apaixonam. Não é porque um cara te faz sofrer que é porque ele é mau caráter. Grande leva do sexo feminino pensa que porque o gatinho a rejeitou é porque é falcatrua. Elas misturam falta de sentimento com falta de índole. Creio ser um mecanismo de defesa para poder "culpar" a outra parte, porque afinal, rejeição incorre em senso de desvalorização. Então o rejeitado quer demonstrar seu valor, culpando o outro lado, porque só assim vai processar na cabeça dele que ele tem valor. O errado é o outro porque é mau caráter. Porque se fosse bom caráter, ficaria com ela. É um sentimento de compensação errado, mas se tem funcionado há milhares de anos para as pessoas se reerguerem do açoite de um amor mal-sucedido, então, que prossigamos com a idéia. Mas eu tento não cair nela e nem levar o cara por falcatrua se ele não gostar de mim. Eu tento, né!

*****
Monstro interior

Eu fico triste comigo. É uma derrota tudo isso que eu senti. Porque na verdade eu luto contra esse monstro interno que tem contra mim e nao consigo vencer, entao mesmo "meu pseudo amor" venha falar comigo e me acalmar, eu perdi. Eu perdi pra mim mesma. Eu nao consigo sozinha me administrar, esse monstro me come e isso me mata. Porque eu fico sempre com medo que ele esteja ai na esquina e vai me pegar - esse sentimento de desespero, parece que está sempre a espreita. Agora eu não sei quando isso pode voltar. Toda hora eu temo. Se dá um frio na barriga, isso pode ser uma pista de que ele está de volta. Aí entro em pavor e penso: "tá vindo, tá vindo". EU NÃO TENHO CONDIÇÕES DE TER NENHUM RELACIONAMENTO. EU TO SENTENCIADA A SOLIDÃO. POR BONITA, POR QUERIDA, POR LEGAL QUE EU SEJA. EU SOU O MEU MONSTRO. EU ESTOU DESTINADA A VIVER NO VAZIO.

Receita para ser conquistado

Sabemos que o amor não é como sopa Maggi que já vem pronta. Mas existem certos quesitos que transformam a pessoa em um potencial parceiro. Qual a receita prá aquecer seu coração? Todas as pessoas, todo o tempo tem um monte de pré-requisitos. Afinal, temos de ter né. Mas o legal da fórmula do amor é achar que ela existe, e ir em busca dela. É caminhando que se faz o caminho. Dizem que a gente não tem que esperar e nem correr atrás do amor. Ai, que papinho. Ninguém é tão passivo emocionalmente a ponto de ter um vácuo no coração e não fazer nada para resolver isso. A gente corre atrás sim, a gente tem que ir a luta de alguma forma. E se a gente encontra uma pessoa pela qual ficamos atraídos, então por que não tomar a iniciativa de mostrar o sentimento? A gente sempre quer se preservar das coisas, ser comedido em termos de sentimentos porque podemos demonstrar demais e afugentar a pessoa. Mas no fundo, se a outra pessoa gostou de você, não vai ser sua intensidade que vai atrapalhar. É sempre melhor terminar um caso com a sensaçao de dever cumprido, de que fez tudo pra dar certo, do que com a sensação de que "só nao deu certo porque eu não me esforcei o suficente". É preciso "gastar" as tentativas...entao vc pode rumar para outras possibilidades.

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Intensidade cedo demais incomoda?
Para a maioria, sim. E se alguém faz tudo por você. E se alguém faz sempre a mesma coisa por você? Eu tenho medo do mesmo. Eu tenho medo do tudo. Como ser gente é complicado.

*** Vamos ali onde não se espera nada e achamos tudo o que está esperando." (Neruda)

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Cada dia é menos um dia




2009 chega cantando canções de ninar. Um ano novinho, ainda nas fraldas que cresce e se desenvolve com o decorrer dos dias. Eu tenho pressa em ser feliz ainda em 2008, neste finzinho que não é comparado a nadica de nada. Se não conseguir ser feliz na cauda de 2008, tenho pressa em ser logo, ainda no começo de 2009. Tenho pressa em não ficar patinando no mesmo lugar. Não, eu não vou fazer as resoluções de ano novo - essa coisa de: este ano vou emagrecer, vou me qualificar, me espiritualizar e vou ser melhor para mim, para os amigos e para a família. É porque isso eu penso toda a segunda-feira, nem espero os 365 dias fecharem o ciclo. Reflito no equinócio da primavera, no solstício de verão, eu penso sempre no tamanho da minha pressa.
O tempo corre e com ele decorre a possibilidade de ser feliz. E o tempo que a gente deixou de ser feliz ontem escorregou pelas frestas vazias. Cada dia é menos um dia. Existe muita possibilidade em um ano que se renova, porque um outro fechou-se encerrando os ciclos. Os finais também são dotados de novos horizontes. Tem um desejo que habita em mim que eu queria, se realizasse durante essa estrada, essa infinita highway de 2009. Internamente, suplico por ele todo instante. Ele reverbera em mim como um eco, cada vez que meu grito interno engasga na garganta. Mas Deus como está em tudo, também está dentro do meu grito, então ele vai saber traduzir esse meu sonho. Se não for realizado, vira nó, instalado no meio do sossego.
A vida é mesmo uma pista de via rápida. Passamos por ela velozmente, muitas vezes sem nos depararmos para olhar as placas impressas com as nossas sensações. Cento e dez, cento e vinte, cento e sessenta...o coração turbinado indica um horizonte cheio de possibilidades. É muito bom permitir ao vento de nossas emoções corar o rosto.Deslizemos pois, por 2009.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Zimzum


DEUS É NOSSA FAIXA DE SEGURANÇA



No início, era Deus, infinito, ilimitado. Mas como era tudo, tudo estava cheio de Deus. E se Deus era tudo, nao podia ver a si mesmo. Rosto não olha o próprio rosto.
Sendo grande, sendo tudo, sendo onipresente e multiplo de tudo, não tinha espaço para o mundo fisico, que ele queria criar, entao ele teve de se encolher um pouco. Deus renuncia a sua onipresença para deixar um vazio, uma brecha por onde entra o mundo. Contraiu-se deixando espaço para que mundo nasça, um mundo que seria seu espelho. Eis a teoria da contração do mundo: Zim Zum. "A entrada de Deus em Si mesmo". Deus primeiro "se contrai" para dar espaço, e depois "sai de si" para vir morar com suas criaturas.
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Teoria interessante, eu então concluo com meus botões: "Até Deus tem sua vaidade,ele criou a Existência porque queria ser visto como Deus "
**
Deus é múltiplo, então é grande e pequeno: grande, assim o múltiplo é infinito, segundo a grandeza" - Este é o pensamento de Zenao de Eléia. Meu Deus, que cara complicado e fascinante. É como ele mesmo diz: É uma dificuldade superar o pensamento e é somente ele que causa esta dificuldade."
** Se a pluralidade existe, as coisas serão igualmente grandes e pequenas; tão grandes que serão infinitas em tamanho, tão pequenas que não terão qualquer tamanho.

ELE DISSE
A flecha em vôo repousa", porque "o que se move sempre está no mesmo agora" .

Eis o paradoxo de movimento, recebeu esse nome.Zênon afirmava que, para ir de um ponto a outro, primeiro você tem de percorrer metade do caminho. Para percorrer a outra metade do caminho, primeiro você deve percorrer metade da distância restante, ou seja, mais um quarto do caminho. Para percorrer o resto do caminho, você deve percorrer metade da distância restante, ou seja mais um oitavo do caminho. E assim por diante, ad infinitum. Em outras palavras, por mais que você esteja perto do segundo ponto, você ainda tem que vencer metade da distância que falta e você ficará nessa situação, sempre. Portanto, concluía Zênon triunfantemente, o movimento é impossível, já que nunca se pode chegar aonde se está indo, mesmo que seja um palmo adiante.

No correto está o incorreto e no falso também o verdadeiro".

Heráclito diz: "Tudo flui (panta rei), nada persiste, nem permanece o mesmo". E Platão ainda diz de Heráclito: "Ele compara as coisas com a corrente de um rio - que não se pode entrar duas vezes na mesma corrente"; o rio corre e toca-se outra água.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Polvos entre o povo

Olha, gente, eu nem gosto de política. Muito menos de falar no assunto. Não me interessa, não me apetece, não me gusta. Sou cega a político, pior que o Steve Wonder: nem me viu. Mas nem é questão de falar no tema. Eu sei, eu sei que em época natalina nosso espírito tem que confraternizar, entrar no clima. Talvez por isso, por ser data estratégica, os caras querem aumentar o número de vereadores no país. Serão cinco mil a mais nesse império tupiquinim, onde tudo dá-se um jeito, inclusive para inflar os bolsos alheios. O nosso não, né, somos povinho. O país do Lula vai ter mais braços de polvo alcançando os cofres públicos. Ninguém é cheio de dedos para meter a mão na cumbuca alheia. Mas cheio de braços, para agarrar a pataca dos outros, ah, isso sim. Em Santa Catarina, os donativos que a gente mandou com tão boa vontade para o povo estão sendo saqueados. Furtados por cidadãos comezinhos. O nível de corrupção no Brasil é o pior em dez anos, segundo o Banco Mundial (Bird), num relatório divulgado no ano passado. A corrupção é democrática.Não é só em Brasília que ela ocorre. Aqui no Vale, teve prefeito tentando dar golpe no INSS. Tem político "arroz de festa" que estão nas páginas dos jornais todo o tempo, tanta façanha que fazem às custas do povaréu. Santa Klaus!!! Dai-nos força para acreditar no ser humano e no ser político. Parece irônico, mas Santa Klaus, celebrizou-se por sua dedicação e sincera bondade que o levaram a fazer milagres, tanto em vida como após a morte. É o bom velhinho do Natal. Quando a gente vai ter um Klaus tão abnegado assim? Um dia, Premeditando o Breque cantou, todo mundo ouviu e fez coro: "Aqui não tem terremoto, aqui não tem revolução, e um país abençoado, onde todo mundo mete a mão"
Como viver neste país e sobreviver ao jeitinho e continuar sendo ético? Essa é uma pergunta que não quer calar e está inclusive nas páginas do livro de Lourenço Rega, chamado "Dando um jeito no jeitinho". Brasil, mostra tua cara, não aquela que canta Cazuza. Senhores, inclusive os nossos representantes que foram empossados essa semana, nos ajudem a retirar o estigma de "pátria desimportante". Vamos fazer do jeito certo, para que os músicos possam tocar outros acordes. Políticos, vocês são responsáveis por novos acordes. Acordem! E parem de tirar nosso sono.
Postcript: já sinto o sentimento de impotência por essa crônica não surtir nenhum efeito, em nenhuma consciência ou mente política.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Pé na estrada da alma

Fechou na cara da vida a porta do comodismo. Saiu ataboalhadamente, escorregando no tapete da ansiedade. Foi pra rua fazer o itinerário inverso. Se moveu apoiando-se no corrimão das esquinas. Mas a vida não tem ombros. Viu escombros. Roçou no braço da dor. Tropeçou nos pés do desespero. Pensou em voltar com o rabo no meio das pernas. Tentou mais um pouco. Viu que tinha jeito. No olho da rua, descobriu a si mesmo. Retornou com um nova bagagem: a alma lavada.

Prateleira da instrução

O professor da Univates, Gerson Bonfadini tem uma mente privilegiada e alto grau de elaboração mental. Discorre sobre marketing e política com a mesma facilidade que os televisivos comentam sobre o BBB. Pois o grande olho do professor mira na cultura avançada. Ele elaborou uma lista com 60 livros que impreterivelmente deveriam ser lidos por universitários. Vale conferir o grau de conhecimento e comparar quantos a gente já leu.

"Grande Sertão: Veredas" - João Guimarães Rosa
"Crime e Castigo - Dostoiévski "
A Metamorfose" -Franz Kafka
"Odisséia -Homero
"Ulisses" - James Joyce
"A Divina Comédia"-Dante Alighieri
"Os Lusíadas" -Camões
"Dom Quixote"- Miguel de Cervantes
"Memórias Póstumas de Brás Cubas" -Machado de Assis
"Os Irmãos Karamazovi -Dostoiévski
"O Estrangeiro" -Albert Camus
"Antologia Completa"- Carlos Drummond de Andrade
“Guerra e Paz” -Leon Tolstoi
"Ponto de Mutação"
Fritjof Capra "Ilíada -Homero
“Édipo Rei”-Sófocles
“A República” -Platão
“O Tao da Física” -Fritjof Capra
“Satiricom” -Petrônio
“Decamerão” -Boccacio “
O Príncipe”-Nicolo Maquiavel
“Dom Quixote” -Miguel de Cervantes
“Hamlet” -William Shakespeare
“O Pequeno Príncipe” -Saint-Exupéry
“Madame Bovary”-Gustave Flaubert
“Os Miseráveis” -Victor Hugo
“Os Três Mosqueteiros” -Alexandre Dumas
“Vinhas da Ira” -John Steinbeck
“O Senhor das Moscas” -William Golding
“A Revolução dos Bichos” -George Orwell
“Casa Grande & Senzala” -Gilberto Freyre
“O Povo Brasileiro” -Darcy Ribeiro
“1984” -George Orwell
“O Velho e o Mar” -Ernest Hemingway
“Admirável Mundo Novo” -Aldous Huxley
“Os Sertões” -Euclides da Cunha
“A Interpretação dos Sonhos” -Sigmund Freud
“Macunaíma” -Mário de Andrade
“Vidas Secas” -Graciliano Ramos
“O Tempo e o Vento” -Érico Veríssimo
“A Hora da Estrela” -Clarice Lispector
“Assim falou Zaratustra” -Friedrich W. Nietzsche
“Genealogia da Moral” -Friedrich W. Nietzsche
“Crítica da razão pura”-Immanuel Kant
“Fausto” -Johann W. von Goethe
“Parerga e Paralipomena” -Arthur Schopenhauer
“Introdução à metafísica” -Martin Heidegger
“O ser e o nada” -Jean Paul Sartre
“Micro-física do Poder” -Michel Foucault
“Sincronicidade” -Carl G. Jung “
Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise”-Jacques Lacan
“Discurso sobre o método” -René Descartes
“O Corvo” -Edgar Allan Poe
“O Capital” (1867)-Karl Marx
“Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo”-Carl G. Jung
“Crítica da razão dialética” -Jean Paul Sartre

FRASES

"Nunca perco a oportunidade de dar uma resposta sincera e fazer a pessoa rir achando que é uma piada.”


Sempre acho que do jeito que a gente escreve a primeira vez é como tem que ficar. Porque o momento aquele, é a fotografia do pensamento

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Amontoando idéias

Um monte de gente coleciona um monte de coisas. Eu gosto de amontoar idéias dos outros. Tenho sempre uma citação para tudo - economizo os pensamentos originais.Um dos meus maiores prazeres é passar horas na internet cavoucando frases de efeito, ou defeituosas mesmo. Eu me abro para quem diz muito com pouca coisa. São as "máximas" em formato mínimo. Adoro aforismos. Frases e citações resumem a visão expandida da vida de uma forma sábia, bem humorada, sarcástica ou filosófica. A gente lê e pensa: "é bem isso, mesmo."
Sublinho frases em livros que leio, de alguma citação que alguém diz em jornal, de uma idéia que me atrai. Tem uns caras que são prá lá de inteligentes ao amarrarem as palavras em pensamentos. O cineasta Woddy Allen é campeão em criatividade. Não é a toa que a perspicácia do cara é ovacionada no mundo. É dele a hilária citação: "Minha primeira mulher era muito infantil quando nos casamos. Um dia, eu estava tomando banho na banheira e ela afundou todos os meus barquinhos sem o menor motivo". Há que se dar crédito para autores brasileiros, como o Barão de Itararé. Ele fez observações satíricas, moralistas ou irônicas impagáveis, que não podem ficar de fora da lista dos colecionadores de frases."O homem que se vende recebe sempre mais do que vale", dizia ele para delírio dos politicamente corretos. As frases polêmicas e cheias de humor do jornalista Nelson Rodrigues se propagam em sites da internet. Em época natalina, vem bem a calhar uma citação dele:" O Natal já foi festa, já foi um profundo gesto de amor. Hoje, o Natal é um orçamento."
Não posso deixar de listar Raul Seixas, grande Raulzito que ilustrou minha juventude embalada por suas canções. Dele, eu descubro uma fonte infindável de boas idéias. Raulzito dá a letra quando se trata de acreditar no Olho que Tudo Vê, o grande Arquiteto do Mundo: " O Universo me espanta e não posso imaginar que esse relógio exista e não tenha um relojoeiro", relatou ele em tom filósofico, assegurando a existência de Deus.
Fica uma dica a quem não gostar dessa crônica: não precisa engoli-la. Faço minhas as palavras do ótimo Millôr Fernandes: "“Certas coisas só são amargas se a gente as engole.”

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Não somos de palha




Dói ver o flagelo pela televisão. Em uma das tantas cenas repetidas da tragédia catarinense, havia uma menina loirinha, chorando desesperadamente com a voz quase inaudivel, tamanha era sua perplexidade. As chuvas levaram seus sonhos de infância e sua melhor boneca. Falar de boneca quando tantos perderam a vida parece escárnio, mas não é. É só uma tentativa de personalizar a tragédia. E essa guriazinha com seus soluços me veio como um tapa na cara. Eu, que gosto tanto de falar em relacionamentos e natureza humana, puxo o tema para o outro lado: a solidariedade tem alma. Gestos de grandeza foram narrados por repórteres. Atores,cantores e apresentadores mobilizam-se em campanhas. Mas o que comove mesmo é o esforço anônimo de quem não tem nada para dar, e mesmo assim arranja forças para doar tempo e arriscar a vida, salvando outrem. A tragédia aproxima as pessoas. Graças a Deus, não somos de palha a ponto de assistirmos imóveis tamanha derrota humana. Enternece até o esforço das pessoas mais "casca grossa", que a priori, não sensibilizariam-se com nada.
Não estamos inertes à desgraça vizinha porque sabemos que não estamos incólumes. O Rio Grande do Sul foi o primeiro país a prestar ajuda aos irmãos de Santa Catarina. Irmãos porque a tragédia confraterniza. Há uma dor que jamais saberemos como ela realmente é, do filho que foi soterrado por escombos. Mas que permanece insepulto no coração de mães e pais. Quantas histórias atrás das mais de cem vidas que foram ceifadas, aterradas pelo barro. Os números são estanques, não dão a dimensão do sofrimento moral, psicológico e físico. Um senhor, com o olhar parado, conta na televisão que ele está fazendo caixões voluntariamente. Grudou a motossera nas árvores e ajuda os conterrâneos, tentando talvez, dar sentido a sua vida.
Daqui do Vale do Taquari, bem alimentada, aquecida e protegida, fico com um nó na garganta. Um grito meu que não eclode, mas que irrompe nos meus olhos com lágrimas. Considero grande a alma de quem se desvicula de todos aqui para ir para lá ajudar. E sim, vejo pequeneza na minha, que não arredo o pé daqui. Sinto culpa por não sair da minha zona de conforto. Vou ajudar, mas não da forma que eu quero.
A tragédia humaniza porque de alguma forma queremos ajudar a tirar a dor do outro. No fundo, há também um sentimento de culpa. Quem aqui por esses pagos ao ouvir a notícias da calamidade não pensou: "ainda bem que não foi aqui". Somos também solidários porque carregamos um pouco da culpa por pensar: "ufa, não é comigo". Mas, vejam vocês, não importa as motivações. O ser humano, se é egoísta, também é solidário por natureza. Seria o cúmulo do coração de pedra observar tudo isso e ficar parado, bem paradinho, sem nem botar o a mão no bolso para ajudar com algum dinheiro ou algum tipo de doação. Não somos de gesso. Mexemo-nos.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Escolha o inimigo certo

Às vezes, os problemas que clamam por atenção apenas obscurecem aquilo que não se deseja enxergar. É a cegueira pelo inimigo errado. Então, escolha o inimigo certo. O que estaríamos pensando se não estivéssemos preocupados com pensamentos estranhos? O problema não está no desconforto. O problema está em sentir desconforto pela coisa errada. Se temos medo de algo que achamos terrível, podemos embotar esse medo por algum tipo de desejo, porque o desejo aplaca o medo.

Saberá a pessoa da sua própria insinceridade. Saberá que as vezes pode estar revestida em uma aura de boazinha apenas para conseguir dádivas?

Há muitas pessoas que não gostam de si mesmas e tentam superar isso persuadindo primeiro os outros a gostarem delas. Feito isso, elas começam a pensar bem de si próprias.. Mas essa é uma falsa solução. Temos a tarefa de aceitar a nós mesmos e não encontrar formas de obter a aceitação dos outros. Quem não obedece a si mesmo, é regido pelos outros. Mas é mais fácil, muito mais fácil, obedecer a outro do que dirigir a si mesmo.

*** Nada deve interferir com o desenvolvimento do herói dentro de você!

*** O eterno retorno significa que cada vez que você escolhe uma ação, deve estar disposto a escolhê-la por toda a eternidade. O mesmo se dá com cada ação não realizada, cada escolha evitada. Toda a vida não vivida ficará latejando dentro de você. Então este momento existe para sempre e você é sua própria platéia.

*** Uma pessoa se mede pela quantia de verdade que ela consegue suportar.

** A chave para bem viver é primeiro desejar aquilo que é necessário e depois amar aquilo que é desejado. É o "amor fati", ama teu destino. Superar o desespero é aprender a transformar o "assim se deu" pelo "assim o desejei"

*** A cura filosofica consiste em aprender a escutar a prórpia voz interna. É preciso conversar sobre cada aspecto do pensamento
(Quando Nietzsche Chorou)

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

A teoria da embalagem

1 - Eu tenho uma teoria da beleza. Somos um produto em supermercado. Nossa embalagem está a venda. Nosso incólucro é o que conta. Somos um produto exposto em prateleira a espera de sermos comprados por quem tem o equivalente em valores. Se formos uma margarina doriana - com atributos de primeira e gostosa - queremos ser compradas por um cara com cacife para pagar a doriana. Você, a Doriana é demandada porque tem tem cor amarela e é chamativa. Mas o produto em si não se reforça, é preciso saborear a doriana e caso venha a ser sem sal, o estoque permanecerá intocado.

2-. Mas é assim: todo mundo tem um valor de mercado e usa uma etiqueta como preço, No primeiro momento, todo mundo olha o valor comparativo e o custo benefício, inclusive as taxas de manutenção e a depreciação por uso e tempo. De modo prático é assim: se ela é muito bonita, você tem que ter prestígio. Um provável parceiro sempre vai pesar o valor do outro e se perguntar, qual a vantagem que eu levo fazendo esse negócio? Porque todo mundo quer ter o seu ego reforçado.

3- Eu expus a minha teoria, baseada no que observo acerca de homens e mulheres, do que escuto e do que leio. Não, necessariamente, concordo com esse tipo de pensamento(mesmo me detestando por isso, eu também embarco na onda da estampa)Todo o ser humano é basicamente igual em suas vaidades. Mas também sei que se a imagem é a embalagem, o conteudo é o prazo de validade." Mas a maiora das pessoas, para ver o conteúdo, chega através dele pelo visual". IMAGEM É O QUE VENDE. E quando você entra no perfil de alguém, você vai onde? NAS FOTOS.IMAGEM não é o que segura uma relação, .mas em 98% é o que inicia.
Eu tenho a mania de acompanhar todo o itinerário psicológico dos meus contatos. Mesmo que eu jamais tecle com eles (e isso ocorre com frequencia, tendo em vista que dificilmente chamo alguém), sempre observo como eles estão, se de bom ou mau humor. Eu ate acho legal colocar frases de motivação (demonstra que a pessoa está predisposta a ver a vida melhor). Pelas frases do Msn, da pra ver se a pessoa ta com espírito brincalhao (se coloca por exemplo, uma frase engraçada do woody alen), se ta triste (tipo: A vida é uma bosta). Se brigou com o namorado (Ve se me esquece, nao deu atençao, agora perdeu de vez). Mas oque eu nao consigo entender é como alguem que entra ocupadissimo esta on no MSN. Dia desses, um contato meu entrou assim: FULANO DE TAL (OCUPADÍSSIMO, NINGUEM FALA COMIGO AGORA) Entao, porque entra no MSN, cara pálida?

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Viagem ao centro das palavras

Não quero fazer dessa uma conversa enfadonha e nem um sermão para incitar as pessoas a lerem livros. Não quero, mas já estou fazendo. Não tem como não falar. É porque depois de ter visitado o último final de semana da Feira do Livro em Porto Alegre e visto de perto a jornalista Eliane Brum, para mim a maior e melhor repórter do Brasil, me sinto motivada a compartilhar do prazer da leitura. Eu não entendo como as pessoas não vêem prazer em ler. Para mim o hábito é tão arraigado que sinto uma necessidade tremenda em devorar páginas. A leitura me tira a dor do mundo. É sério. Quando estou triste, faço uma viagem para o centro de mim: submerjo nas páginas de um bom livro. Assim, tenho o universo ao meu dispor e toda uma gama de imaginação que vou construíndo junto aos personagens da obra. É uma delícia. É revigorante, mesmo quando o livro fala de coisas tristes. Aliás, as histórias tristes são as mais bacanas. Há um lirismo na melancolia. Tudo o que é triste é lindo de se ler, arrepia, comove, espanta, entorpece e enobrece a gente. Me deparei desde cedo com o mundo da leitura. Quando era pequena, costumava ler as coleções do "Cachorrinho Samba" e de "Os Pioneiros" (quem tem mais de 30 anos deve lembrar do seriado que tinha Laura Ingalls) dentro do guarda-roupa. É sério, eu juro. Adorava entrar no roupeiro e, munida de uma lanterna e de um livro, passava tardes no meu mundo particular. E ele era infinito. O fato de gostar de ler foi determinante para seguir a profissão de jornalista. Eu amo as palavras, gosto de brincar com elas e as dispor de forma harmoniosa, fazer trocadilhos e encontrar metáforas que culminem com uma explicação inusitada do tema em curso. Meu jeito de me fazer feliz foi me tornar uma operária das palavras. "Escrevinhadora", como diz a colega e blogueira Laura Peixoto. Sou uma escrevente do mundo real e dos guetos virtuais. A repórter da revista Época, Eliane Brum, que eu citei acima, sempre foi minha referência para fazer um jornalismo mais humano, com mais gosto e sabor, seja ele doce ou amargo. Ela sempre destacou a idéia de fugir do "olhar domesticado". E essa sua capacidade de ver a vida, de uma forma totalmente diferente, o avesso do glamour, como muitas vezes ela chama, é que a tornou única. Seus textos exalam humanidade. O lirismo está em cada palavra que ela compartilha com o leitor. Ao vivo, sua voz é mansa e parece passar a idéia de uma pessoa super sensível, melancólica até. Uma voz aliada a uma alma e a uma cachola que pensa profundamente em termos filosóficos e no sentido da vida. Eis sua meta: fazer com que cada entrevistado descubra o sentido da sua vida. A alma humana pode suportar tudo, exceto a falta de algum significado para a vida. Bem, mas isso é assunto para outra crônica. Mantenha os sentidos atentos e vá ler um livro, qualquer um é bom, basta você fazer amizade com as palavras.

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

O que quer uma mulher

Quando nascemos somos programadas a encontrar o cara ideal. Embarcamos no mundo de fábulas que embalam nossos sonhos infantis, com a voz da mamãe contando de forma convincente a história da Bela Adormecida e da Branca de Neve, ambas tão meigas e ávidas por serem resgatadas de uma vida infernal pelo portentoso príncipe cheio de virtudes. Desenvolvemos nosso visual acalentadas por esse mar de sonhos. As histórias antes lúdicas, mais tarde são ilustradas pelas telas de cinema, através de filmes como Cinderela Moderna e Uma Linda Mulher. É Holywood dando sua contribuição para nossos sonhos de moçoilas casadouras. Alguns anos depois a gente transpassa a fase das fábulas e ingressa no mundo real. Uma, duas, três, 30 baladas e o príncipe não vem. Estão pela noite aqueles motoristas velozes que curtem a potência do cavalo motorizado. Te oferecem um chopp, mas a mão..hummm ...essa é díficil. Quem sabe um beijo diretaço, sem cerimônias, porque essa balela de ir com calma é coisa do passado. Três dedos de prosa e você percebe que o candidato a granjear a atenção do seu coração não está a fim de resgatar ninguém do dragão da solidão. Quer um papo mais light para descontrair e tornar a noite dele mais atrativa - a dele, não a sua. De belas adormecidas, nos tornamos moças despertas. Acordamos do sonho no momento em que percebemos que sutilezas só existem em contos de fadas. Nem podemos querer exigir tanto, porque o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística propaga que há bem mais mulheres do que homens. Segundo o Censo, o número de homossexuais também vem crescendo o que é um desalento para o contigente feminino. Não bastasse ter menos garbosos no mundo, ainda temos de disputar com os gays, esses sim os únicos que nos compreendem.
Os homens reclamam que somos inconstantes, que gostamos de canalhas, que desprezamos os que nos tratam bem em favor dos falcatruas. Os homens declaram que não sabemos o que queremos. Mas toda vida queremos sempre a mesma coisa: está nos contos de fada. Queremos alguém que nos resgate da torre do castelo, heróicos suficiente para empunhar a bandeira em favor de nós mesmas, fortes suficientes para bradar ao mundo que nos amam. Queremos homens sensíveis, podem ser pedreiros, marinheiros, engenheiros, arquitetos, jornalistas, comerciantes, vendedores. Não precisa vir montado em um cavalo branco e nem em uma mercedes super potente. Não queremos fábula, não queremos que tenham sangue azul, não queremos nobreza. Queremos destreza para com nosso sentimento, habilidade para lidarem com nossas vulnerabilidades. Desejamos homens falíveis, não indefectíveis, mas que saibam proclamar com veêmencia que temos valor para eles. Que sejam carinhosos, resolutos e um pouco seguros de si, não a ponto de serem arrogantes, mas autoconfiança e caldo de galinha não faz mal a ninguém. Queremos um amor que nos ame com a gentileza de um príncipe e a leveza de um sapo. E se Freud não foi capaz de explicar isso, é porque nem os homens mais inteligentes compreendem nossas necessidades. Só os de almas sensíveis.

Arial rosa

As relações virtuais mudam os relacionamentos, os hábitos e a maneira de falar e escrever. Professoras percebem o internetês em aula. O próprio internauta se vê "viciado" em abreviações quando precisa digitar algo mais formal no ambiente de trabalho. Entendem a que me refiro? Dá uma vntde de escrever axim, vc prcbe? Aposto que tem muita "profe" chamando atenção de estudantes. Engraçado mesmo é quando essa relação virtual se torna tão tácita que parece fazer parte do concreto universo real. Dia desses, em um papo de "msn", percebo o quão inserida está a presença virtual. O papo versa nesse tom: "essa cor de fonte ficou muito bem em você." Àquele que não está familiarizado com o jargão cibernético, uma explicação. Fonte é a forma da letra do computador. A moça havia colocado a fonte arial rosa para exalar seu bom humor, e conseguiu, transpassou isso através da tela.
Há pouco tempo, elogiava-se a cor da blusa, o tom a pele, o penteado do cabelo. Mas o mundo globalizado instituiu a onda da lisonja virtual. Dessa feita foi a arial rosa a fonte de bajulação. Pensando bem, pode ser a fonte do amor. Assim é o mundo virtual, você manda emoticons, pode expressar se está triste ou feliz com as carinhas usadas excessivamente e que poluem qualquer texto. A internet não só te traz o mundo para dentro de casa, como serve de intermediária para você expressar seu mundo de sentimentos.
Agora, dou-me conta. Eureka, descobri meu parceiro. Meu affair é o CCE, monitor lcd que fica obediente na minha frente. Tem um coração eletrônico megagrande. Abarca o outlook e outros programetes básicos e essenciais em minha vida. Bem se diz que o amor pode estar à sua frente. Meu parceiro sempre está a um palmo do nariz. Só troco o lcd por um laptop. Surpreendem-se com minha volúpia? Querem o quê? Acreditam mesmo que relações virtuais sejam eternas? Deletem essa idéia. No mundo virtual também existe o Control End. E o fim, gente, é igualzinho ao mundo real.