Por mais que tenha ojeriza a revistas estilo fofoca, há um momento em que sucumbo a elas. Na consulta ao médico por exemplo, é batata. À espera do médico, que são os campeões da impontualidade (estou para ver um que chega na hora marcada), a gente senta na poltrona e passa a mão nas revistas espalhadas pela mesa. Invariavelmente, há mil Caras empilhadas. Tem também a Veja, a Exame e algumas de saúde, mas a gente pega a Caras. Ver a Adriane Galisteu esturricada na praia de Mônaco, com o corpo douradissimo com o celular que ganhou de souvenir na recepção do fulano de tal é o máximo do sonho de nós mortais. Que deleite. Que vida "fantastique".
O que eu acho incrível é que a Caras se prolifera mais nos consultórios psiquiátricos. Parece que os médicos da linha percebem que que você precisa do fascínio da vida de mentira, porque afinal você vai lá para tratar a cabeça. O casamento de Juliana Paes estampado na primeira página te leva ao idílio. E você foi lá para falar da porcaria do seu relacionamento. O corpo da Carolina Dickmann está escultural. Nossa, depois da filharada, ela perdeu 30 quilos. E você sofre com sua auto-estima e a sua imagem refletida no espelho e diz: "desgraçada eu, pára de comer aquelas bolachas recheadas." O Gianecchini tá lindo de morrer e você tem se satisfazer com seu amor barrigudo, careca e com chulé. No Momento Caras que está estendido na mesa do consultório, a gente idealiza a nossa própria vida através das folhas coloridas da publicação. É uma espécie de folga de nossa rotina. A sujeira do tapete deles nunca é mostrada nem na primeira página nem contracapa. Mas a gente vê o Fábio Assunção internado por problemas com drogas, a Luana apanhando no namorado. Quem percebe o glamour, não percebe coração. Quantos artistas devem estar fazendo tratamento psiquiátrico? O Momento Caras é fugaz, só dura o tempo do clique da fotografia. O Momento Caras é um momento posado. As fotos são fiéis ao que fica fora delas. No final é melhor fechar a revista e dar adeus às ilusões. É hora de perscrutar seu momento íntimo, indagar com escrúpulo para si mesmo o que te faz feliz. No castelo de Caras, está a ilusão, do seu coração, pode advir a realização. A grama do vizinho nem sempre é a mais verde.
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