segunda-feira, 25 de junho de 2012

O dia em que chorei na frente dos vereadores


O músico Tonho Crocco, foi processado no ano passado por ter gravado uma música de protesto. No rap “Gangue da Matriz”, cita os 36 parlamentares que votaram pela aprovação do aumento de 73% em seus salários. O rap lista todos eles, , inclusive nomes conhecidos que tem reduto eleitoral no Vale do Taquari - o terceiro mais fértil do mundo: Befran Rosado,Heitor Schuch, Edson Brum, Alexandre Postal e Zilá Breitenbach e Marcio Biolchi. Crocco foi então processado por intermédio de uma ação no Ministério Público encaminhada em nome do ex-presidente da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul Giovani Cherini por crimes contra a honra. O músico desabafou sobre situação em seu blog: “Não seria esta ação uma forma de censura à liberdade de expressão?” Tonho não se considera culpado por ter direito de exercer sua cidadania e sua crítica. Ele disse ser músico e não político e sua manifestação foi fazendo música. Sua música está no youtube e foi vista por mais de 190 mil pessoas.



O dia em que eu chorei em público foi na terça-feira. Fui para a Câmara de Vereadores para ver se iriam topar a redução do salário. Eu não achei que iriam mesmo. Mas aí, o baque foi maior: eles aumentaram o salário através de uma emenda. Seis se levantaram para aprovar mil a mais por mês. E na hora em que se questionou: alguém quer falar algo? Ninguém deles se levantou para justificar. Eu tive um surto. Não sou política, esqueço o nome dos partidos, mas naquele momento me senti ofendida. Não por mim, mas por todos os 71 mil habitantes. Eu queria que as 50 pessoas que estavam na plenária fizessem coro a mim. Eu me senti tão sozinha. O presidente da Câmara pediu que eu respeitasse os vereadores quando eu num impulso gritei alguma coisa que nem lembro mais. Mas eu disse: “e os vereadores estão respeitando o povo?’ Ninguém falou. Eu passei por insana. Chorei, não consegui conter as lágrimas. Chorei profundamente porque pela manhã, eu havia ido num protesto e visto que as mães tinha filhas doentes porque não conseguiam médicos para sua prole. Tinha um homem com uma protuberância horrível na barriga e ele so seria atendido em 20 dias. Chorei pelo povo e por mim. Chorei porque eu acreditei que o povo poderia se manifestar. Porque as pessoas sempre pedem a ajuda da imprensa para protestar sobre o buraco de rua, a falta de médicos ou o aumento do IPTU.



Os vereadores disseram que não era aumento. Mas que os mil reais a mais serviriam a titulo de “manutenção”. Quando fiz o que fiz, levantando na plenária, eu senti que as pessoas me olhavam com dó. Algumas tinham até vergonha de mim. Eu achava que elas tinham de ter vergonha deles.



Uma vereadora me olhou com desprezo quando eu a questionei sobre isso. Ela me perguntou se eu aceitaria baixar meu salário. Mas eu trabalho integralmente durante sete horas por dia. O vereador so necessita atuar duas horas por semana e conta com a ajuda dos assessores. Ele pode ter sua profissão principal. Ser vereador é dar amparo ao povo. O salário contaria a título de ajuda e não deveria ser sua remuneração principal.



Eu chorei porque perdi a compostura por ter chorado em público. Eu queria ter me controlado. Ter dado a resposta na urna, apenas. Mas a urna está tão longe. Eu acho que os políticos precisam ter uma reação imediata das pessoas. Parece que a gente fica impotente perante a situação e a situação de impotência é uma das piores que existem. Depois eu fiquei com medo de perder o emprego por ser jornalista e como jornalista eu teria de ser imparcial. Mas eu não estava na camara como jornalista. Eu estava lá como cidadã.



Eu também achei que o crime aconteceu no plenário e de dia, votado e aprovado pelos proprios vereadores. Até os que eu achava que eram sangue bom, vejo que agora o discurso deles era balela. Eu queria gritar para a plenária, para uma psicóloga e um psiquiatra que estavam La. Para empresários, professores e o povo da comunidade. Eu queria dizer: “meta seu nariz”. Somos 71 mil contra dez edis. Vamos se unir e barrar o reajuste. Mas eu em vez de motivar o povo, os envergonhei com minha postura. Uma pessoa depois me enviou uma mensagem pelo Facebook: “ Pita comungo com a tua indignação mas só em 07/10/2012 para começarmos a mudar essa realidade. Hoje não tinha o que fazer pois o povo não comparece e quem comparece se cala. Parabéns pelo teu ato, mas corria o risco de ser expulsa. Abraços. Falamos.” Eu choro por mim e choro por vocês. Como diz Tonho Crocco: “Não sei quanto a você mas eu vou lutar, e se a memória é curta mude sua conduta”.







Trecho da música Gangue da Matriz
“O crime aconteceu em plena luz do dia
Votado e aprovado pelos próprios Deputados
Subiram seu salário; me senti 1 otário
Capitalistas, comunistas
Todas as vertentes presentes na lista
Confortavelmente embaixo dessa aba
73 por cento
Feriu meu sentimento
Bate o ponto, tem diária e não trabalha
Pra eles benefícios
Pro povo migalhas
Aposto que o salário deles nunca atrasa
É hora de falar
É hora de mudar
Não sei quanto a você mas eu vou lutar
E se a memória é curta mude sua conduta
Posso perder um round mas não fujo da luta”







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