quinta-feira, 31 de maio de 2012

Se eu fosse burra, não sofria tanto!


Eu nunca julguei que as pessoas fossem realmente burras. Achava que talvez elas tivessem pensado pouco, ou nao se detivessem realmente a fundo em uma questão para proferir uma sentença ou uma opinião consistente. Eu sempre me senti inteligente por nao tarjar as pessoas de burras e nunca discriminar as pessoas que porventura, poderiam ser burras. Minha paciência chegou ao limite. Tem um nível de estultice que somos obrigados a denunciar. É como trabalho infantil, quando começa a adensar, você vai ao Conselho Tutelar. A burrice a gente denuncia a quem?
A burrice anda em escalada, tal qual a obesidade da população. A gordura mental atrapalha o raciocínio. Ó povo parvo (adoro essa palavra que conheci quando li Crime e Castigo e me identifiquei com Raskólnikov), que não lê e se orgulha de ir ao jogo de futebol. O estádio é a arena dos gladiadores romanos. Ninguém pensa, só age e reage a uma bola; ò patria de chuteiras de um Brasil que é o terceiro país do mundo em pior educação. Que droga é essa que  quando a gente pensa muito e chega a atingir um ponto de lucidez tamanho,  o mundo se volta contra você. Ou eu recuo na burrice ou contribuo para aumentar o índice de perceptivos. Mas é impossível: sete bilhões de pessoas no mundo e creio que esse planeta azul desmiolado atingiu o IME (Indice de Massa Estupida) superior a 30%: obesidade mórbida.
É por isso que hoje homenageio os burros, entre os quais eu me incluo por fazer parte desta especie humana estaferma.


Idioletices 

Eu sabia que você era idiota, mas não a nível executivo!Seu Madruga


O problema com o mundo é que as pessoas inteligentes estão cheias de dúvidas, enquanto os estúpidos estão cheios de confiança.Charles Bukowski

Apenas duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Só tenho dúvidas quanto ao universo.Albert Einstein



Pense no quão estúpida uma pessoa normal é, e perceba que mais da metade das pessoas são mais estúpidas que isso.George Carlin


Se 5 bilhões de pessoas acreditam em uma coisa estúpida, essa coisa continua sendo estúpida.Anatole France

É melhor não dizer nada do que ter um diálogo estéril e burro em conversas com os bípedesArthur Schopenhauer


Desculpa, gente...eu vou melhorar
A partir de hoje começo a ler um livro para pacificar o espírito. Eu não creio ser tão estúpida a ponto de nao colocar um pingo de sabedoria na minha mente..Eu vou melhorar a ponto de parecer tão idiota quanto meus ouvintes, de modo que eles acreditem ser tão inteligentes quanto pensem. (Eu sou muito estúpida ao mostrar essa arrogância. Mas e aí..um a mais, um a menos, não faz mal)

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Lajeado, cidade invisível


Fiz essa matéria inspirada no livro Fama e Anonimato, de Gay Talese. Foi uma tentativa de cravejar de informações e exercitar o olhar nao domesticado. Gostei do resultado....




 A capital do Vale do Taquari é uma usina de curiosidades, todas à mostra, mas por isso mesmo ocultas no anonimato da claridade.  Na cidade, 16 mil pessoas utilizam transporte coletivo todos os dias. As mulheres mais. Nas quase 25 mil residências existentes na cidade, difícil uma que não tenha animal de estimação. Mas o lajeadense gosta mais de cachorros do que de gatos. É a Lajeado humana, demasiado humana.



Há algo interessante em uma cidade com 71 mil habitantes? A rua dá uma lição jornalística: sim, sim, sim. Há sabor e dissabor na calçada, no céu, ao luar. Um cidadão precisa fugir do olhar domesticado para descobrir a riqueza das histórias anônimas.
Para falar de Lajeado vamos começar pelos anfitriões da cidade.  Não são homens, são imigrantes de concreto. Verdes. Habitam o primeiro canteiro da Avenida Senador Alberto Pasquallini, , dando as boas-vindas a quem entra na cidade. O Monumento ao Imigrante  é composto por quatro estátuas imponentes na entrada principal.  Feito pelo artista Marcos Datsch,, o monumento tem uma conotação significativa importante, que nem todos os habitantes de Lajeado se dão conta. Cada estátua tem uma representação: o agricultor com a foice na mão simboliza o início dos trabalhos dos migrantes. A mulher grávida, a maternidade e a fecundidade, a criança, a nova população que se sobressai em Lajeado e a estátua com o martelo, significa, a produção industrial que é a base do desenvolvimento da cidade.
São 14h de uma quarta-feira, a lixeira da Benjamin Constant está lotada, mas o caminhão de lixo só vai passar a noite.  Os gerenciadores de resíduos recicláveis reclamam: porque as pessoas colocam o lixo muito antes de o caminhão passar?  Entulho na rua dá espaço para gatos e mendigos futricarem e revolverem o lixo. Esta é uma concepção que as pessoas ainda não compreendem.
Os garis são companheiros da cidade. Eles iniciam o trabalho antes do amanhecer, param as 9h para fazer um lanche e tomar café e continuam a labuta de limpar as ruas, sempre de dois em dois. Na frente do antigo Fórum, os tocos de cigarro se instalavam nos paralelepípedos. Havia ali o maior número de “guimbas” por metro quadrado. E os varredores precisavam de esforço extra para colocá-los nas lixeiras. O fenômeno é explicado por hipóteses: como prisioneiros e advogados paravam ali, a espera das audiências, os tocos de cigarro eram jogados fora ao entrarem no prédio.  Lajeado, cidade humana..
Na Benjamin Constant, o número 1531 abriga  uma loja  de antiguidades, cheia de objetos velhos, caros e raros. Há adornos de mais de cem anos. O local atrai muita gente de fora da cidade, ávidos por pérolas de antigamente para decorar o lar. Lajeado, cidade antiga.
 Com 790 habitantes por quilômetro quadrado,  Lajeado tem muitas gente em pouco espaço. É  o décimo primeiro entre os 496 municípios do Estado com maior densidade demográfica. Isso significa que em algumas partes, a população vive “apertadinha”. Os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (Ibge) indicam que o número de habitantes por quilômetro quadrado é 20 vezes maior do que a média no Estado.Lajeado é um pólo regional, e devido ao grande desenvolvimento destas atividades, torna-se atrativo para pessoas de outros municípios em busca de trabalho.  Lajeado, cidade urbana.



Cidade Formigueiro

A vida é dia útil. E de segunda a sexta-feira, a sofreguidão  emperra o trânsito. Na cidade em média, para cada três lajeadenses há dois veículos para transitar numa cidade curta, mas pródiga em empreendedorismo. Todos os dias, as duas principais empresas de ônibus da cidade despejam 16 mil usuários. Em Lajeado, 25% da população costuma se deslocar por transporte público. As mulheres são maioria. . São também as mais exigentes. Querem pontualidade e não toleram superlotação.
Para  muitos o Centro é  local de comprar roupas, sapatos e jóias. Para corretores de imóveis e proprietários de prédios, de ganhar dinheiro: alugar uma loja por R$ 15 mil reais na Avenida Julio de Castilhos, com o metro quadrado mais caro da região e ver o investimento crescer. Para os lojistas, é o chamariz para atrair clientela, mulheres afoitas pela moda e oportunidade de abrir crediário. O Centro abriga 800 pessoas por quilômetro quadrado, mas a multidão está só na presença de si mesma. Enquanto a luz do sol banha a cidade, ruídos, descargas, buzinas, passos apressados, a diversidade está estampada num mosaico que ninguém vê: mas  há personagens que evocam curiosidade, dor, comiseração ou sensação de identificação. Lajeado, cidade formigueiro.
Os cachorros são os xodós da população de Lajeado. O Censo animal do município revela que em 70% das casas tem algum animal de estimação. Mas os cães disparam em popularidade.  Os lajeadenses gostam duas vezes mais de cães do que de gatos. Na carona dessa paixão animal, os pets se multiplicam em  Lajeado. Hoje são mais de 20. E o movimento não para. No Natal, o movimento nos pets aumentaram em até 30%.
Os donos estão dispostos a gastar com seu animal de estimação. Até as crianças levam os xodós para se enfeitarem. A prefeitura comprou 1.800 microchips para colocar nos cachorros da cidade,. Os chips vão ajudar  a localizar os animais se eles se perderem. Os animais que entram no Canil saem chipados e castrados, principalmente aqueles que se extraviaram nas enchentes. Lajeado, cidade animal.
Os lajeadenses gostam de engraxar seus sapatos. E o fazem na frente de uma padaria. Ali os jovens que engraxam ganham a clientela. Os fregueses da manhã aparecem por volta das 8h. São médicos, advogados, empresários que antes de rumar ao escritório, vão fazer o café-da-manhã.  Os engraxates percebem a  profissão do freguês pelo pé. Sapato bom e novo é usado por advogado ou doutor. As mulheres também engraxam suas botas, mas aquelas de canos altos tem valores maiores porque demandam o dobro de cera. Elas preferem a cor marrom, eles optam pelo preto. Sua freguesia se reveza entre esses dois tons. No verão o movimento diminui porque as mulheres trocam as botas pelas sandálias. Do promotor ao cobrador, a vida comum passa por cima da caixa de sapato do engraxate. Lajeado, cidade de malabares..

Lajeado tem mais de três mil pessoas morando sozinhas. São lares de uma pessoa só, que precisam apenas de meia dúzia de ovos, meia fatia de melancia, meio pão integral. Lajeado é a cidade pólo do Vale do Taquari e toda cidade pólo atrai pessoas que buscam novas oportunidades. A Univates hoje é um diferencial que Lajeado possui que potencializa a atração de pessoas, não só os estudantes mas também profissionais que investem sua carreira profissional na instituição. Muitos alunos e profissionais se transferem para Lajeado para residirem e exercerem suas atividades.  Lajeado, cidade dos “singles”



A união faz a renda

A renda conjunta das famílias lajeadenses é a maior do Vale do Taquari. O Censo 2010 identificou que dos 24.962 lares, 1.811 conseguem somar cinco salários mínimos por mês. Isso significa que a renda total de pai, mãe e filhos ultrapassa os R$ 2,725. Essa é uma característica de uma cidade urbanizada e com a economia diversificada.
Explica-se: enquanto Lajeado tem indústrias de alimentos, comércio forte, escritórios de advocacia, consultoria ou contabilidade, há mais chance de trabalhadores do Ensino Médio conseguirem cargos como atendentes, secretárias ou ajudantes de escritório. Nos supermercados, estabelecimentos pagam o mínimo para estudantes ou ocupam a terceira idade. As mulheres passaram de donas de casa a artesãs ou auxiliares de cozinha, farmácia ou balconistas. Todo mundo ajudando um pouquinho, avulta a renda no fim do mês. Lajeado tem cursos de aperfeiçoamento, diversas atividades e isso facilita a qualificação da mão de obra na cidade. Segundo o Ministério do Trabalho, mais de 30 mil pessoas estão empregadas com carteira assinada. 

Curiosidades
- Com 790 habitantes por quilômetro quadrado, Lajeado é o décimo primeiro em densidade demográfica entre os 496 municípios do Estado.
- O Estado tem 37,96  habitantes por quilômetro quadrado. Lajeado possui 20,82 vezes a densidade do RS.
- A cidade possui apenas 3% da área original. Há 120 anos tinha 3,5 mil quilômetros quadrados, hoje só tem 90. É decorrência das emancipações.


Jones: do IBGE
O que destaca o IBGE
- Em 1858  Lajeado possuía 188 pessoas, dos quais 112 alemães.
- 154 anos depois, Lajeado tem quase 72 mil pessoas: há mais alemães, mas os italianos também investiram na cidade

quinta-feira, 24 de maio de 2012

E o phi da questão



Missão de hoje: perceber a filosofia entre a vida Pitônica e o Pi. Comecei pesquisando e percebendo que cada vez mais, Deus é um palhaço. Se de fato Ele existir, tem um senso de humor apurado, muito mais de efeito do que Patati e Patata. Deus fez o pi e o PHi.

O PI é a eternidade (pq se repete sempre) e o Phi é o equilibrio das proporções. Estou ficando louca. Louca de pensar. Se penso, faço chiste.
O dia do Pi é comemorado em todo o mundo em 14 de março (3/14). Pi = 3,1415926
Teremos em breve um Pitônicas in Piday

o Pi..é legal mesmo, envolve mais filosofia do que matematica..serve ate como funk: eu quero pi, eu quero pi.

Phi que corresponde a 1,618, representa a beleza perfeita, a proporção ideal. Da Vinci pintou a Mona Lisa baseado no PHi; quanto mais um rosto tiver as proporções 1,618 mais perfeito e lindo ele sera.
Todo mundo quer ser Phi
Pouca gente viveria a vida em Pi. Pi é o eterno retorno que Nietzsche tanto fala. Viver em Pi é continuar sempre em linha reta, tendo um "como" para prosseguir.
Pi: o vínculo da perfeição- 3,14 Pi
Na Bilblia em Colossenses: 3,14:14 E, sobre tudo isto, revestí-vos do amor, que é o vínculo da perfeição...intrigante, instigante Pi+ tônicas=Pitonicas
Enquanto o Pi me intriga
O Phi me encanta. Seduz e se destaca. A vida em Phi, é a vida filosófica. É a vida em F. Não é a toa que no cadastro internacional de doenças - Cid 10 estou na letra F. Sou F31, bipolar. Somos todos F, porque estamos enquadrados todos la, toda população que sofre de algum mal psíquico. Somos todos F, entao somos todos Phi. Deus é um brincalhão.
Ele colocou o Phi no homem e na natureza, até na casinha do caracol, para que seguíssemos as pegadas dele e fossemos até ele. Deus deixa vestígios porque Ele quer que a gente O descubra. Deus, deus, somos tão ateus. Até que aparece o Phi e nos ensina que a matemática é filosofia e que toda vida em Pi é um cálculo irracional, feito para vivermos em proporção divina. Vida Pitônica. Está em nós pensar no Pi. Somos autores de nossa Propriedade Intelectual.
Muito embora nosso IP nos denuncie que mergulhamos obsessivamente no ciberespaço, a vida em Pi é aleatória e imprevisível, porque se repete sempre. Pi, o Eterno Retorno. Phi, a proporção ideal, equilbrio da vida. Deus fez os dois para que em equilibrio, conquistassemos o eterno retorno. Aquela vida na qual gostaríamos de viver sempre, em sucessivas vezes. Meu Deus, Deus é matemático. E filósofo. Então Deus fez a Terra com perímetro em 3,14. Deus é irracional. Mas se é Deus, Ele tem razão.
Eu penso, me descarto. Meu Deus eu vivo em Phi. 

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A carta (na visão da Marianna)

Minha filha teve a missão de reescrever a carta de Pero Vaz de Caminha. Fez um relato bem-humorado que todo mundo riu em sala de aula...Filha de escrevinhadora, escrevinhadorazinha é..

VOSSA ALTEZA, O REI
"Lhe peço absolvição por minha ignorância, porém vossa alteza admita que lhe estou sendo útil neste instante. Admita também que meu vocábulo é mais eficiente que o de vossa majestade. Pois bem, nao estamos aqui para falar de vossos feitos. Ofereceria muito trabalho a minha pessoa listar todas as deformidades de vosso rei.
A terra deparada, digamos que no fim do mundo há de muito verde, água, mulheres apetitosas, homens nus e brutos.
Os homens andavam armados com arcos e flechas. Andavam nus por toda a praia, por certo tempo ficamos apostando de qual era o maior. Apelidamos eles de índios. Infelizmente perdi 40 libras em 15 centímetros. 
Eles nos levaram a seus barracos um tanto cômodos, tentamos conversar mas nao deu muito certo. Nos ofereceram comida e água. Ofereceram-nos uma espécie de cama, feita de folhas e mais alguns trapos, parte da tripulação dormiu junto aos índios, a maioria voltou para os navios por medo.
Eu, bom, eu conheci a Darlene. A Vossa Alteza já sabe o resto. Lê a carta de um tal Pero Vaz.
Com respeito e dedicação, Tiririca"

terça-feira, 22 de maio de 2012

Não conheço a verdade




Todos os dias acordo cheia de dilemas. Não é do tipo: que roupa vou colocar. Pego a primeira calça, a bota surrada  que está no canto quarto  e o casaco do cabide. Simples assim. Meus dilemas não são confecções, mas são de vestir. É tipo assim: que moral vou ter hoje?Há tempo  desconfio que a moral é customizada. A gente ajusta daqui, encaixa dali e quando nos serve, fizemos o discurso politicamente correto.  Um deles é este: “Nossa como a prefeitura corta tantas árvores, que crime para a humanidade.” Nossa, como somos justos e bons.

No outro dia, estamos solicitando uma licença florestal para cortar a árvore da frente que cai folhas e suja o pátio. Quando ocorre com os outros, é desmatamento. Quando é conosco, é uma poda fundamental.
A gente se corrompe em  pequenos atos cotidianos. Tem uma frase de Nietzsche que lembro quando penso  na moral de cuecas: “Todo homem tem seu preço, diz a frase. Não é verdade. Mas para cada homem existe uma isca que ele não consegue deixar de morder.”
Somos iscas nesse planeta monetário.As vezes somos iscas apenas por vaidade e não é nem por dinheiro.  Eu tenho erros nos quais patino toda hora. Com frequencia me abate um surto de moral. Eu nunca sei se sou uma pessoa boa ou má. Sou alguém “BAH” (Boa/ Má/Híbrida). Algo que está na média popular. Ser médio é tão chinfrim.
Sempre briguei para não ser “mezzo”. Estar em cima do muro, não pender para lado algum é o local mais perigoso que se possa estar. Opinar pelo “não sei”, navegar em águas mornas, não ferir ninguém nunca. Não é meu feitio. É bíblico e eclesiástico que se tome algum partido: “Oxalá sejas frio ou quente se fores morno de vomitarei”.
Ou erro bastante ou acerto no alvo. Assim, luto uma batalha interna para manter a lucidez. Quando penso que tenho dó de crianças estupradas, mães desamparadas, cachorros esfaqueados me considero “do bem”. Me julgo má quando recrimino e julgo um colega meu, falo mal dele ou quando solto as patas. E vou te contar: é tão fácil falar mal. Acho até que é terapêutico falar mal do outro. Firo facilmente. Inúmeras vezes falei de meus colegas pelas costas. Li textos de jornalistas e me regozijei porque eles estavam mal escritos. Que má que sou.
Mas chorei no filme “A Espera de Um Milagre”, e na hora me senti um ser “bonzinho”. Aquele R$ 1 real que dei na sinaleira para o malabarista que brincava com as facas me fez sentir melhor. Por um níquel comprei minha redenção. Nossa, como sou cristã. 
Mas veja o quanto sou pecadora. Tenho inveja de quem ganha mais do que eu e só rezo quando estou desesperada. Então, clamo por Deus com o furor de um touro.  Quando estou bem, esqueço as rezas.Sou fiel a Deus só quando me convém. Porque  Deus  atenderia  um pedido meu em vez de o de uma  pessoa faminta do Haiti? Assim, me sinto malévola ao rezar. Estou tirando o lugar de alguém.
Eu choro.Choro verdadeiro, nao sou heroi, sou vulneravel e humana
Todos os dias acordo querendo ser boa. Mas a grossura de um colega meu não deixa. A palavra áspera da minha amiga da fila me pega desprevenida e lá estou eu retrucando. Xingo o carro da frente, a filha que se atrasa, o chefe que não sabe se comunicar.  Todas as noites deito-me me sentindo uma menina má.Então Cássia Eller me soma: “eu só peço a Deus, um pouco de malandragem. Sou criança e não conheço a verdade”.Esta crônica é um “mea culpa”, porque nesta semana foi aprovada a Lei de Acesso à Informação.Além do Executivo, Legislativo e Judiciário que agora vão ter de mostrar a cara (assim espero, mas não confio) quero ver os humanos confessar suas infâmias.
Só eu e o Fernando Pessoa estamos fartos dos semideuses do Facebook?Só eu e o poeta somos vis e infames nesta terra de gigantes que trocam vidas por diamantes? A humanidade é uma granja maquiada em uma propaganda de refrigerante.

3,14 tônicas

Ed, meu colega artista e jornalista, me fez uma surpresa que achei bem bolada: uma brincadeira com o Pitônicas. Colocou Rosa nos olhos da pintura e  uma arte com o nome "pItônicas". O símbolo ali em cima é o "pi", aquele da álgebra. Ficou descontraído: um conceito inteligente. Gostei...

domingo, 20 de maio de 2012

Quem nunca teve um amor barato?-




Dor de Cotovelo por amor de 1,99- Você ainda vai ter uma. 

Se não passou por ela, então não atingiu a maioridade. Não entrou realmente para o mundo dos humanos. Eu te digo, a experiência amorosa dos outros te diz: dor de cotovelo é inevitável. Não tem graça você amar e ser bem-amado até o fim da vida pela primeira pessoa que você abriu seu coração. É preciso ter um ...pouco de transtorno, de dor, de aflição. É preciso se matar soluçando no travesseiro, querer se esconder debaixo de um buraco, se remoer de amor. É necssário se lamentar com os amigos, pedir conselhos, não saber o que fazer e até mesmo se rebaixar para pedir para a pessoa voltar. Isso é viver. É ruim na hora. Na verdade é terrível, mas depois passa. Um ano após, quando a ferida estive cicatrizada, você vai reviver a experiência dolorosa e relembrar não da ferida, mas das sensações legais que a experiência de proporcionou. Vai ser até mais humano. E por ter vivência em dores de amor, vai cuidar para não brincar com os sentimentos de ninguém. Dizem que a dor é didática, ensina a viver. Eu sempre contestei esse tipo de afirmação porque acredito que todos temos nosso erros recorrentes, aqueles nos quais a gente cai sempre e não aprende. Mas nesse caso, sim, aprende-se com dores românticas. Elas podem ser o combustível para que você melhore, faça melhor da próxima vez. Talvez com mais carinho, tato e sensibilidade. Sim, porque as dores nos deixam mais sensível e por conseqüência, cuidaremos melhor do coração do outro. Dor de cotovelo. Você ainda vai passar por ela. Ei. Caaaaalma. Ela passa.!!
Ex-my love. Sempre vale 1,99

sábado, 19 de maio de 2012

Rede Nossa

Estou fazendo o trabalho do professor Francisco Menezes

Me veio uma reza forte:

Pai Nosso

Pai nosso que estais em rede
Globalizado seja vosso Ceo
Venha nós a vossa lista
Seja feito vosso compartilhamento
Assim no Facebook
Como no twitter

O curtir nosso milhares de vezes nos daí hoje
Abrigai nossas fotos e poses
Assim como nós abrigamos
A quem nos tem adicionado
E não nos deixei cair em tentação
E livrai-nos
Da espetacularização do eu
e-mém

segunda-feira, 14 de maio de 2012

A Carta


 Pitônicas desta segunda-feira ficou incompreensível para muitas pessoas. Eu sabia que seria assim, que seria uma leitura difícil, mas optei por ela.  Baixei a carta de Pero Vaz de Caminha e em cima dela, escrevi o que vi sobre o Vale do Taquari e sua política...não quero 15 vereadores na cidade. Vejo o que Pero Vaz viu, que esse povo merece ser salvo. Me perdoem leitores pelo linguajar dificil, mas compreendam o objetivo: salvar esta terra chã e mui formosa..


**** Todas as palavras derivam do portugues de 1.500. Naquela epoca Pero vaz ja avisava que seria necessário uma salvação,,,,que nao veio...

A carta

(por Pita Jaz na Terrinha)

Majestades eleitores

Posto que não consigo ser capitã da minha rota, mas outros capitães virão e diremos: olá vossa alteza, comunico que eles conseguiram o achamento de uma teta nova. Não deixarei de dar conta disso, a vossa alteza, senhor do cofre público, ainda que para o bem contar e falar, seja eu uma das poucas a fazer,
Tome vossa alteza minha petulância por boa vontade. E creia que não quero mocozar nem onerar mais do que aquilo que vejo e me parece.
Da falcatruagem e urdiduras da boca de urna não darei aqui conta, porque não o saberei fazer e aqueles que pilotam a cidade e o país devem ter esse cuidado. Eis que começo a falar e digo:
A partida de 2013 é indigna. Houvemos vista mais cinco edis. Serão 15 a se acoplar na nau. Primeiramente duma grande mesa. mui alta e redonda, lançarão ancoras. Acudirão os homens? Dois, três, 71 mil? Eram pardos, açorianos, italianos, portugueses. Nas mãos trazem celulares e tablets. Vem rijos, sob seus volantes. Mas estão todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas, seus litígios, suas sangrias. Não é de todos que se tem um entendimento de proveito. A feição deles é serem políticos, antes fossem pardos. Bons rostos, bons partidos, bons photoshops, andam nus, nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas  vergonhas; e nisso não têm tanta inocência. Trazem os beiços risonhos. Um gasto agudo como furador. Aumentarão 500 mil a mordedura, mas vai estar ali encaixado de tal sorte que não os molesta nem os estorva no falar, comer ou beber. Tosquia alta. O povo começa a acenar com a mão. Mostram a eles, uma cruz, uma figa, uma urna, quase tiveram medo dela. Depois olharam o povo espantados.Votem em mim.
Deram-lhes ali de comer: cerveja, churrasco, confeitos.Trouxeram-lhes vinho numa taça; diziam que dariam emprego, o povo tomou aquilo por ouro. E lançou-lhes um manto por cima e veio de vitoria a urna. E com ele vieram os outros que o povo levou, os quais vinham já nus e sem carapuças.

Então se começaram de chegar muitos. Entravam pela beira da porta, pelos CCs,, até que mais não podiam;  traziam cabaços de água, cabides de empregos.

E assim, por melhor a todos parecer, ficou determinado.

Além do rio, andavam muitos deles dançando e folgando, uns diante dos outros, sem se tomarem pelas mãos. E faziam-no bem.
Isto me faz presumir que o povo não têm casas nem moradas a que se acolham. Para muitos algumas  choupaninhas.

Andavam já mais mansos e seguros entre nó, o povos,  mais do que nós andávamos entre eles.

Eles não lavram, nem criam. Votam nomes de ruas.

Esta terra, Senhor, me parece é muito chã e muito formosa.

A terra em si é de muito bons ares, vale fértir, frio e temperado.

Águas são infindas. E em tal maneira é graciosa que, querendo-a aproveitar, dar-se-á nela tudo.Porém o melhor fruto, que nela se pode fazer, me parece  que será salvar esta gente. E esta deve ser a principal semente que Vossa Alteza em ela deve lançar.

E nesta maneira, Senhor, dou aqui a Vossa Alteza  do que nesta vossa terra vi. E, se algum pouco  me alonguei,  me perdoe, que o desejo que tinha,  de Vos tudo dizer, mo fez assim pôr pelo miúdo.

E pois que, Senhor, é certo que, assim neste cargos que oneram, Vossa Alteza há de ser muito pouco servida. Faço singular pedido, não entre nesta nau mais mancebos de que se necessita.

Beijo as mãos de Vossa Alteza, O Uno.

Deste Vale do Taquari que considero meu Porto Seguro, sexta-feira, outubro de 1500 (mas poderia ser 2012).

quarta-feira, 9 de maio de 2012

A esquina dos ventos uivantes

O mundo “trans” vive e palpita na esquina da minha casa. Volta e meia ouço conversas, buzinas e gritinhos. Nas quintas-feiras, o burburinho é mais alto. É noite em que todas se reúnem, inclusive com a presença da celebridade maior: a Mona de todas elas. A que é imitada, ouvida, elogiada. A que abriu o campo. Foi peituda o suficiente para se sobressair e para desfilar no Carnaval com o corpo pintado e um minúsculo tapa sexo.


O mundo transexual é apenas reativo. Se você vai a eles com um sorriso no rosto e disposto a conversar sem dogmas, preconceitos e deboche, eles o tratam ao seu nível: conversa aberta, tiram todas as suas dúvidas. Isso não é apologia. É fato real.

Há muitos meses que as meninas fazem o seu escritório a céu aberto perto da minha casa. Agora, vai ficar mais céu aberto ainda, porque tombaram as nogueiras. De certa forma ficarão mais visíveis. Uma vitrina a clientela. Não há uivos na noite trans, só murmurinhos. Elas não gritam e nem causam alarido.

Julgo salutar ter pré-conceito. Eu adoro pré-conceitos. Os meus pré-conceitos, enquanto são pré, significa que podem ser mudados. Significa que ainda não formei o conceito definitivo. Por isso, desistam de achar que me ofendam, quando me dizem que estou sendo pré-conceituosa. Pré-alfabetização é uma etapa anterior a alfabetização. Pré-conceito precede aquilo que a mente contem de “conpecput” – de conceber dentro de si.

O chato é quando tu fica apenas no pré-conceito e não te liga para ir buscar o próprio conceito. É aquela historia da zona de conforto. Tu não sai da tua para checar se as coisas realmente são como tu pensa.

Eu fui. Desci as escadas do edifício. Sempre fui mulher de esquina. Conheço as boites da Rua dos Marinheiros em Estrela. Era frequente na antiga Stilus. Sempre transitei confortavelmente entre os guetos. É o meu sofá predileto.

Quando desci para falar com as meninas debaixo de casa, fiquei constrangida. Eu me sentia mais traveca do que elas. Os caminhões e veículos descarregavam as buzinas, faziam acenos. Eu me senti excluída desse trottoir. Pô, tô valendo menos no mercado. Meus gestos são mais masculinos do que os delas. Meu caminhar é mais pesado. Meu comportamento italiano, gestos amplos e largos me fazer uma machinha. E isso piora quando engordo. Se eu não tivesse certeza de mim, eu iria falar mal de mim para os outros. Eu sento com as pernas abertas, abro até que dá. As coxas se esparramam, minhas mãos são pequenas e grossas. Eu caminho de um jeito truculento. Não sou páreo para Micaela que apesar dos 1,9 tem os gestos delicados. E a Michele é mais feminina do que muita gente.

Elas me falam que migraram para a entrada da cidade porque a clientela é maior. Micaela, 19 anos, de Caxias do Sul tira perto de R$ 3 mil por mês fazendo quatro programas noturnos. Elas só lidam com dinheiro vivo, nada de cheque ou cartão. E eu comprovei, cada carrão que para na esquina para buscá-las. Achei que temeriam a minha presença, mas que nada. Foi como se eu fosse uma delas. A mais jamanta da história. Micaela diz que é assediada porque como é alta, os homens a procuram pressupondo que tem um brinquedo grande. E é, embora não goste de falar disso. Há um acordo de damas entre prostitutas e travestis. Um grupo não invade a área do outro. Há espaço para todas. Michele veio de Parobé, formada, diz que o destino comum é esse: negociar o corpo, poucas são as chances de se erguer em uma profissão.

A nossa conversa é sempre entrecortada, porque a cada quatro minutos um veículo para para conversar com as moças. Eu então reinicio o diálogo. Mas desta vez, Michele sai. Arrumou cliente e não era café pequeno. Micaela diz que no futuro, todos vamos ser bis ou homos. Muitos homens já estão a caminho mas simplesmente não compactuam com ia idéia de se sentirem menos machos. Bis, tris, homos ou pan. Todos somos sexuais. Menos a Oprah, que se diz, calçou as sandálias da assexualidade. Que mal tem? Eu, hein, neném.



terça-feira, 8 de maio de 2012

Que grilo falante temos na cachola?



O meu grilo falante nunca foi carola: quando eu fazia alguma coisa fora do eixo, não ficava em cima de mim, “isso é errado, isso é errado”.  Em parte porque nunca fiz nada de tão errado assim, só loucuras que a sociedade julgava rebeldia. Já tomei banho no chafariz no Unicshopping e não estava chapada, nem bêbada. Creio que sempre fui louca de cara. E isso sempre foi bom porque nunca botei meu dinheiro fora com alucinógenos.. 

Hoje, me acomodei em casa. Há anos não vou a baladas e as minhas transgressões são sintoma da minha paixão pela escrita: eu furto adoidadamente canetas.  Me faço de salame e roubo na cara dura. Não pode ser qualquer caneta, dou preferência às de laboratórios farmacêuticos. Então, a minha mira são as farmácias. O pessoal onde frequento fica atento e as  retira ao me ver entrar.  Vez ou outra esquecem no balcão e eu nhac, já era.
Quando roubei a primeira caneta, meu grilo falante falou alto: isso é errado. Me lembro como se fosse hoje. Fui entrevistar um médico em uma clínica. Ele saiu por alguns instantes da sala e eu vi aquela canetinha tão linda, roliça e fofa. Peguei. Mas como estava de consciência pesada, coloquei uma bic velha no lugar. Depois disso foi mais fácil. É sempre assim. Os assassinos também são assim. Os ladrões.  Seja para pegar canetas ou para matar, não interessa, quando você atravessa o portal, você rompe suas barreiras.
Estamos derrubando todas as barreiras, subornamos o nosso grilo falante. Não tem mais nenhum para gritar igual aquele do Pinóquio: não faça isso, você está errado. Somos os filhos da era do “liberou geral”.
Uma  das fontes que mais aprecio entrevistar é o psicólogo Sergio Pezzi. Sempre aprendo com ele, porque ele sempre tem muito a dizer e isso me surpreende porque estamos vivendo num tempo em que mesmo os entrevistados não dizem nada. Possuem um diálogo vazio. Não foram poucas as vezes em que eu agradeci a entrevista e pensei: “tá, mas e aí, o que ele quis dizer com isso? Ele não disse nada”. Me sentia um  engodo por muitas vezes, encher de nada uma reportagem.  Por fim, acabei percebendo que muitas vezes, nem o entrevistado sabe como dizer algo que ele sente.
Pezzi trabalha com adolescentes infratores. . Na sua última palestra, disse umas coisas que me acenderam uma luzinha. Fiquei revolvendo durante dias.  Disse que nós somos formados por palavras. Quando a criança nasce são os pais que dizem para essa criança o quanto é querida, jeitosa e valorizada. É isso que  vai transforma-la num ser humano. As palavras são nossa segunda pele, e servem de proteção social. Muitas vezes nos preocupamos com a nutrição, mas não com nossa pele simbólica que é um fator protetivo.
O que está acontecendo hoje é que vivemos no mundo das imagens. Se adotou a ideia de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Compartilhamos fotos e Power point pelo Facebook. Temos preguiça de ler algo com mais de 15 linhas.  Atrofiamos tanto o vocabulário que não temos mais palavras para definirmos como nos sentimos.

Pezzi alerta que ao nos faltar palavras, tendemos a agir por impulso. Então  começamos a pulverizar a terra com sintomas modernos.  O sintoma nunca aparece de uma forma isolada, tem a ver com o mundo e com a época em que se esta vivendo.
Queremos uma boa dose de droga para viver uma experiência sensorial e não afetiva. “Afinal, meu, eu to a fim de sentir e não de falar. Pô cara, que irada essa vibe. Se liga na parada meu. Muito louco”
Queremos uma experiência com o objeto que está entre mim e a pessoa da frente. E o que tem entre o João e a Maria é o copo. ‘O que conecta as pessoas hoje é o conteúdo das garrafas e não a conversa”, frisa Pezzi.
Esse super eu contemporâneo, criado com a ideia de que é obrigatório ser feliz sempre, está nos levando a falência.  Vivemos relacionamentos de bolso, nunca tatuamos tanto o corpo quanto agora, nos reunimos nos postos das esquinas:  trocamos a teve, o carro e o celular.  Se neguinho diz pra mim que LCD é mais cool que aquele “tubão” antiquado, ele tá certo.  Eu quero uma e vou comprar em 24 prestações porque meu supereu quer mais imagens de sucesso e a novela me diz que se eu usar o brinco da Leona eu serei muito mais bonita.
Raul Seixas já esmerilhava na ironia quando cantou há 45 anos, na época em que as propagandas de cigarro eram liberadas.” Eu procurei fumar cigarro Hollywood que a televisão me diz Que é o cigarro do sucesso.Eu sou sucesso (eu sou sucesso!) “. Quando eu leio Clarice Lispector, fico pasma de o quanto ela utilizava palavras. Transmitia em suas crônicas todo o seu tormento interno, as suas viagens não eram com LSD, mas através de uma verborragia íntima. Ela dizia: Quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento. Eu concordo com ela. E vou continuar escrevendo palavras com minhas canetas furtadas. Eu penso com cadernos ao lado da minha cama, nunca por computador. Se for para o mundo reaprender a verbalizar, deem-nos canetas.  Chega de brioches.

terça-feira, 24 de abril de 2012

A herança da “máquina triforme”



Íntima é uma palavra bonita, mas o órgão sexual feminino é uma palavra tenebrosa.  Quem for pela palavra, jamais chegará lá. Parece algo pernicioso. Coisa que não é, porque bem se diz que brasileiro adora fornicação

 Trago o assunto à baila porque Erasmo Carlos me fez pensar sobre o tema. Estava eu na cama semi-acordada quando  ouço  o cantor declarar para um canal de televisão: “quem criou o português devia ter inventado palavras mais bonitas para as partes íntimas”. Minha filha que tem 12 anos também ouviu. Refletiu e me disse: “é verdade mãe, as pessoas tem mais medo das palavras do que o ato em si”. Logo depois a gente chegou à conclusão de que talvez não seja a palavra tão feia, mas o que ela evoca que a deixa assim tão “desairosa”.  Realmente, não há decoro  com o que o tio Aurélio define como: “designação comum a diversas formações com feitio de bainha.”
Acho que a gente é preconceituoso com as palavras. Quando a periquita é a ave, o nome é até jeitosinho. Quando vira eufemismo dos dotes femininos, aí vem aquele sorrisinho. Existe mais de 700 espécies de pererecas que gostam de viver em galhos de árvores. Mas a gente só ri quando se trata daquela que não é da família dos anfíbios.  Por que damos nomes tão feios a algo que todos julgam prazeroso? Se o que dá prazer envergonha, porque não temos vergonha de dizer Cho-co-la-te?Chocolate não é coisa íntima, a não ser que você queira chamar o do seu marido de “ouro branco” ou “diamante negro.”
E como se as partes íntimas já não fossem íntimas, na tentativa de ficarmos mais íntimos com nosso companheiro, temos a mania de dar nomes carinhosos. Creio que essa mania começou com Dom Pedro. Juro. Quem leu a obra 1822 do jornalista Laurentino Gomes vai matar a charada sobre a “máquina triforme”.
Vou fazer um breve resumo: a imperatriz Dona Leopoldina era uma mulher feiota, gorda e depressiva. (Naquele tempo não tinha Prozac). Mas era da mais alta realeza da Europa. Super culta e caridosa, costumava ajudar os pobres brasileiros. Foi ela a verdadeira proclamadora da independência junto com José Bonifácio (que era maçom). Dom Pedro  batia nela - naquele tempo a Lei Maria da Penha era uma utopia. Em sua última gravidez, Dom Pedro deu um chute em sua barriga e ela morreu no dia seguinte. Enquanto a defunta nem esfriava no caixão, o Pedro, que tinha o dom  fornicava com a sua amante. Este sim foi seu verdadeiro caso de amor: Marquesa de Santos. Eles formavam o casal 20 da época. A paixão era avassaladora e consumia o casal. O romance dos dois rendeu um dos conjuntos mais pitorescos da historia. Nas cartas para a marquesa, Dom Pedro assinava como: "O Demonão" e "Seu Fogo Foguinho". E a marquesa intitulava  a  genitália dele como  "máquina triforme".
Pedro era um “latin lover” meio abrutalhado e cheio de autoestima. Laurentino Gomes diz que o imperador utilizava nas cartas com a marquesa uma linguagem de borracharia.   Se Dom Pedro existisse hoje e reinasse entre os comuns, aposto que seria um Alexandre Frota.
Cento e noventa anos depois a mania dos apelidos continua. A marquesa que era bonita, mas um tanto cheia para a época atual não tinha nada de Larissa Riquelme e a bem da verdade, de lá para cá as alcunhas sexuais cresceram.  Apelidar é uma forma de ganhar intimidade.  Criativo como só o brasileiro consegue ser com tantos sinônimos, me indago, assim como Erasmo Carlos,  porque em o sistema genital feminino não pode ganhar o nome de Esperança e o masculino de Cachorro, já que muitas vezes a gente chama o homem de cachorro e para as mulheres, a esperança é a última que morre.  Mas enfim, não são as palavras que sustentam as histórias. São os atos. Dizem que Dom Pedro teve mais de cem filhos. Se ele tivesse sido menos mulherengo, talvez não existissem 190 milhões de brasileiros. É a herança da máquina triforme. 

Os dois lados do Seu Oswaldo


 Diferentemente dos líderes empresariais da região, Oswaldo Carlos van Leeuwen é reconhecido pelo  nome e não pelo sobrenome. 

Dado o respeito que angaria com a comunidade e os funcionários, invariavelmente o pessoal coloca o “seu” na frente para marcar a reverência. Nem precisa. “Seu Oswaldo” como homem derivado do microfone, dispensa cerimônia e aprendeu a fazer rádio na marra. Oswaldo viu muitas vezes o canto, gauchesco e brasileiro, já que Alegre era sua audiência nos postes com alto-falante.
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Um dia chegou em Lajeado, motivado a empreender. Um amigo dele disse: “vou te apresentar uma rua grande como esperança de pobre”. Era a Julio de Castilhos, um descampado de estrada de chão.
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O Oswaldo colocou um jornal, empregou meia duzia de gente e se foi fazer informação. Porque ele tinha arrepios de ouvir falar em ser médico. E era tudo o que o pai dele queria, que seguisse a medicina.
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Oswaldo entornou o caldo e com o jornal crescendo, se tornou o porta voz dos médicos, advogados, professores. No fim, deu mais certo do que seu próprio pai previu. Mas se o guri tivesse sido obediente na época, o Informativo não estava aqui para contar histórias hoje.
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Ninguém pegou o tempo em que seu Oswaldo era galã. Mas quando ele se tornou pai aos 68 anos, virou um chefe ainda mais admirado. Esse é raçudo. E aos 82 anos anda na moda com iPhone, uma esticada prolongada na praia todo o verão, um programa de entrevistas na TV Informativo e uma inquietude que o faz madrugar. Chega antes de todo mundo à empresa.
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Seu Oswaldo lança cápsulas de sabedoria pelos corredores. Uma hora fala com este, outra com aquele e vai largando sua  experiência de vida entre um dito e outro. Ele diz que a vida é uma escada com 33 degraus e quem está no mais alto tem que saber descer para ouvir aquele que está abaixo. Nem tudo é completamente bom ou mau. Tudo tem os dois lados. O verso e o reverso, o côncavo e o convexo. E o bis de seu Oswaldo aos jornalistas é sempre o mesmo: “escutem os dois lados”.  O jornalismo é a arte de ouvir as partes. O legado de um decano da informação.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jonas e a metáfora da baleia




Alguém ai se lembra de que Jonas era um profeta servo de Deus e que foi engolido por uma baleia porque fugiu para que Deus não o achasse? Nem Pai Google de Oxum lembra disso porque quando se coloca na busca “Jonas” aparece o galã lajeadense que o BBB catapultou. Talvez motivada pelo nome bíblico, dona Marlene colocou o nome no bebê e a baleia, no futuro, seria a fama. “A baleia é sua casa, sua cidade, dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho”, cantas Sá e Guarabira numa das hermosas músicas da dupla.

Mas o Jonas moderno, que foi escrutinado na televisão, não é cegado pela baleia, e nem depois foi devolvido  à vida numa praia em Nínive. É sim, e isso é verídico, um cara que foi dado às feras, como no Coliseu romano, quando a política do Pannis ET Cicerncis navegava o mais poderoso governo da terra. Mas nós somos os devoradores e os devorados. E com tanta ânsia quanto vomitávamos o preconceito contra a beleza. “Esse cara não tem nada de bom. É só um rostinho bonito”, também vamos a ele fotografar. Para pegar carona na fama, ainda que seja para dizer para o nosso  pequeno círculo em que somos famosos. “ó, eu estive com Jonas. Se eu tive com ele, eu mereço ser visto”.  É engraçado porque não dá para falar que Jonas sequer teve vontade de ir ao BBB. Que eu saiba , ele não enviou sequer um  vídeo, foi fisgado por um olheiro, e como bom administrador monetário, fisgou o peixe. Eu também fisgaria.
Ele é original quando diz, portanto, que o BBB e a atuação não fazem parte de seu sonho. E talvez por isso possa se dar ao luxo de ser ele mesmo. O cara não faz restrições tipo: “não falo da minha vida íntima”,  “não me pergunte isso nem aquilo.” O cara fala e também não dá o desprazer de desprezar algo que lhe desagrada. Ele critica, mas não despreza.  Pondo estas questões na mesa, se as celebridades ficassem ao nível de Jonas, estaria de ótimo tamanho.
O cara pode não ter uma Fundação Gol de Letra para financiar. Mas também, ele mal saiu do BBB e tampouco faz vergonha para ninguém. O cara é bom galera, intrinsicamente bom. E isso está na lata. Eu até acho que a gente acha ele mais bonito do que ele de fato é. Porque por três meses inoculamos nas fotos e imagens, o pictórico de um cara centrado, sensato e gente fina. Jonas é barriga tanquinho, angariou fama e é sim, gente fina. Porque só porque faz sucesso não pode ser gente fina?
Mas eu me espanto com a voracidade das pessoas. Eu não acho que as pessoas queiram Jonas tanto assim realmente quanto eu vi no Centro da cidade. Meu Deus, elas quase viraram o carro. Eu pensei: “aiiiiiiiii, vão arranhar a pintura, vão estragar o carro”.  Os dois seguranças arrastaram o galã para dentro da loja. Ele ficou espantado, juro que vi um ar de surpresa nele com tamanha recepção.  As pessoas não querem Jonas tanto assim, elas querem um pedaço do sucesso dele. E isso contagia. Tu nem acha o cara tão fenomenal assim, quando se  dá por conta, está láa no epicentro da multidão tentando vê-lo com sofreguidão.
A fama espanta até o famoso.  Mas há um ingrediente na fama que diferencia um famoso de outro ou de livrar a pessoa da subcelebridade. É o carisma, algo intangível, mas diz-se de alguém com luz própria, não propriamente bonito, mas que exerce uma atração. Carisma está ligado ao modo como uma pessoa influencia um grupo, uma multidão e isso para mim tem a ver, com genuinidade. Quando tu olha para uma pessoa e sente que o que ela está dizendo não é atuação e quando você vê que apesar das hordas de fãs histéricas, o sorriso continua genuíno, pô, essa pessoa tem carisma.  Quem é que aguenta, gente, mesmo com 50 mil na jogada, rir de verdade por horas a fio? Existem 29 tipos de sorrisos, só um é verdadeiro. E isso a neurociência prova. E nós também.
Jonas não é santo e nem faz questão de ser. Ele disse que ficou por ficar na casa com as gurias e que há alto índice de piriguetagem. Não falou isso com desprezo, falou porque nós perguntamos. A imprensa pergunta, bisbilhota e provoca. Ele não recuou, não encobriu o véu, não se fez de rogado.
Mas ainda assim eu me espanto porque em 20 anos de cobertura de políticos, shows, cinema e eventos, nunca vi tamanho frisson. Nem Tiago Lacerda, Letícia Spiller e Caco Ciocler juntos causaram tanto alvoroço quando estiveram aqui. E se for questão de proximidade e simpatia, temos a Shirley Mallmann. Nem ela causou isso. Se for por estar na Globo, Lacerda é da Globo.
Então, as vezes não é nem o canal, e a proximidade. É o grau de Carisma das pessoas. Creio que a Gisele Bundchen tem isso. Onde vai causa celeuma e olha que não é a mulher mais linda do mundo. É linda, mas não a mais.
Dilma já veio aqui como ministra. Não causou  nem cócegas. Política é um assunto chato pra gente ser tiete. Mas creio que deveria ser um assunto mais urgente. Deveríamos andar atrás dos deputados assim como andamos atrás de Jonas.




Em cada um de nós há uma pontinha de inveja desse sucesso inesperado: “Pô, esse cara nem lutou tanto e já nasceu bonito e vai ganhar papel na Globo. Pô, que saco. E eu aqui descascando batata no porão.”
Jonas quase foi um filho do asterisco, mas depois pai e filho se fortaleceram. Um é a cara do outro, mas o descendente não vai ser ausente na sua descendência. Isso também está na cara.
O sociólogo francês Pierre Bordieu detectou quatro formas de capital que foram consagrados por ele.O capital social (quem conhecemos); Capital Econômico ( o que temos); Capital Humano (o que sabemos) e Capital atrativo ( beleza física, charme e elegância). Pesquisas indicam que só 2% dos homens de todo o planeta são extraordinariamente bonitos. Porque Jonas não vai usar o que lhe foi dado em profusão?
Li na revista Época há algum tempo e eu guardei a reportagem, que um pilar na sustentação teórica do valor da beleza está na escassez. Os 2% ou 3% de pessoas bonitas na população são raros o suficiente para que haja mais demanda do que oferta por elas. Não existe neutralidade diante da beleza.  As pessoas se sentem bem na presença dos belos.  Freud diz que o prazer de olhar é igual ao de tocar e isso impulsiona o canal erótico. Os cientistas criaram um termo chamado efeito aura. A beleza é associada ao êxito, saúde, liderança e caráter. O “efeito aura” cria a expectativa de perfeição em torno da beleza física e favorece espontaneamente (e injustamente) quem nasceu bonito. É. Injusto, é, mas também ninguém denigre Stephen Hawking por ser um crânio inteligente.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Eu quero um barril com wi fi



Já repararam que quando você está com foco em algo  começa a ver sinais ? Por exemplo, se comprou um Fox vermelho, perceberá pela cidade que existe mais desse tipo de carro do que jamais pensou. Pode ser  coincidência, mas o psicanalista Jung fala em Teoria da Sincronicidade. 

Li um trecho de "O Homem e seus Símbolos". Ali Jung diz que muita coisa que a gente percebe da realidade é permeada por aspectos inconscientes. No início, a gente ignora o que está no porão da nossa mente, mas os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento  e isso  é tão espontâneo  que pode aparecer em forma de sonho.  São aquelas “coincidências” que nos  deixa boquiabertos. Entenderam? Bem, é complicadinho, mas vale  a reflexão.
Esse preâmbulo é que, preocupada com o cheque especial, as contas e o meu “holerite”, passei a inocular a miséria e o coitadismo e mergulhada nesse meu dilema vi  uma notícia que me chamou atenção. É a  historia de um irlandês que conseguiu viver durante três anos sem nenhum tostão.  Nenhunzinho. – Ah, não acreditei. Fiz igual ao Crô da novela. Botei a mão na boca e disse: “não, para tudo, paraaaaaaaa”. Olha o sinal aí gente, eis a sincronicidade de Jung.
Na revista, Mark Boyle se mostra senhor de si. E pasmem, o homem sem dinheiro é um economista. Com  32 anos  quer convencer o mundo de que o dinheiro é supérfluo.  E se ele quer convencer o planeta, quer me persuadir também.  Invejei horrores esse  Diógenes moderno. Poderia ser meu guru,  até porque eu não teria muita bagagem para deixar para trás.  Digamos que um Corsa 1995 não é nenhuma relíquia.
Ele jogou tudo fora e foi morar num pedaço de terra na Inglaterra. Planta o que come e só de pensar que ele não semeia chocolate, já fico venerando este cristão. Se banha num rio perto de sua casinhola e utiliza a vegetação como papel higiênico. Deixou o “Snob” de lado.  Pelas fotos que vi na Revista Galileu e depois investigando em sites de ciências, Boyle é saudável, bronzeado e tem um corpaço. De forma alguma parece um ermitão de barba grande e olhos esbugalhados. Um “gato” ou talvez um tigre indomado.  Improvável que seja  parente da Susan Boyle.  A frase que lhe deu o insight a gente já viu em muitos Facebooks da vida e também nos status de MSNs. “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.  Decidiu viver sua própria mudança e pensou: “se a raiz de toda a insegurança e medo do mundo é o dinheiro, o que aconteceria se me livrasse dele?”.
Aconteceu tudo.  Boyle se viu dentro de uma espiral de libertação que trocou seu nome para “Liberdade” em gaélico. Boyle garante que se o  mundo for para o brejo, a culpa é do dinheiro.  O Homem Sem Grana, virou manchete em todos os jornais e revistas do mundo. Mas para vocês verem como são as coisas, só agora me deparei com a história dele. No futuro, quer fazer uma comunidade que pensa igual a ele. Jura que terá adeptos.  “ Muitos querem saber como viver sem dinheiro, já que não têm dinheiro”, destaca o liberto. Eu sou uma .
O que me impressiona é a pecha que dão a quem quer quebrar os padrões vigentes. . A verdade é que a perplexidade em viver voluntariamente com pouca grana causa espanto e incredulidade.  Nossa cabeça simplesmente não aceita que as pessoas não querem o conforto, o sofá, o micro-ondas.  Não é de hoje que é assim. O personagem mais fascinante da história para mim é o filosofo Diógenes:  uns 400 anos antes de Cristo, ele  perambulava pela Grécia, morando dentro de um barril.  Não só desprezava os bens materiais como dizia  que toda fadiga é necessária para obter a realização. Se exercitar e cansar é o único caminho viável ao homem. Por isso peregrinava pela Grécia. Encontrava imperadores e fornecia cínicas. Por causa da sua língua, ficou sendo o pai do cinismo.  Diógenes, o cínico não era mau, incitava a ponderar.  Era um crânio anarquista. Só de ler as respostas que ele dava e a forma como pensava,  me arrepio. Dizia ser Diógenes, o cão, enquanto o rei era Alexandre, o grande.  Defendia a ideia de que os humanos deveriam aprender com os cachorros.  Afinal, um cão vive o presente sem ansiedade, aprende instintivamente quem é amigo e quem é inimigo e não faz estardalhaço sobre o lugar de dormir. Eu não consigo nem dormir fora da minha cama box e preciso de 12 laxantes quanto estou vem viagem. Preguiça intestinal era coisa que Diógenes mais odiava.
Um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém." Diógenes, meu cínico predileto.  Só preciso do meu barril com wi fi. E um iPhone. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Peripécias de um exorcista sem paróquia



Em Santa Clara do Sul, o “padre bruxo”,  protagoniza uma série de histórias que o fazem um sacerdote diferente. “Eu sou um estranho no ninho”, conclui padre Hilário Dewes, sentado num dos dois sofás da sua “tenda” – vocábulo para  seu cômodo de 25 metros quadrados onde está morando atualmente, no Centro da cidade.  É ali, espremido entre um banheiro minúsculo, a cama e o fogão portátil que ele faz seu consultório de parapsicologia. 


 O padre chama seus pertences de “badulaques” – inclusive a cruz -  diz que a Bíblia foi escrita por “gente quase analfabeta para analfabetos” e  catequiza através da hipnose.

 Há poucas semanas, era o pároco oficial de Santa Clara do Sul. Ele diz que foi retirado da paróquia por fugir do que reza a cartilha tradicional. “Foi um grupo de padres que não me aceitou porque eu proponho coisas diferentes.”

Diz que a Igreja é um contrasenso e  não teme represálias. “Agora eu me sinto livre.”
Fora da paróquia o padre continua benzendo, batizando, rezando missa onde é convidado a ir.


Versão do padre Quevedo

Padre Hilário é a versão local do Padre Quevedo – um jesuíta polêmico que diz que fenômenos como possessões não existem.  “Tenho tudo do padre Quevedo, menos a brabeza”.  Sorrindo com o chimarrão na mão,  esconjura o satanás com a mesma calma com que o sorve. Para o padre bruxo, o demônio é uma energia mal utilizada. Hilário expulsa o capeta com técnicas de parapsicologia.E para suposta possessão demoníaca, o bruxo utiliza a reprogramação mental. 
Padre Hilário percorre o Rio Grande do Sul promovendo cursos para empresários, grupos e entidades.  Também faz consultas, regressão e palestras. Diz que é um “padre bombril” – porque faz de tudo um pouco.
Enquanto houver gente com sofrimento psíquico, o sacerdote bruxo vai missionar assim: com fé, hipnose e treinamento da mente.


  “Se os padres tivessem vergonha na cara, teriam  amor ao povo. Eles são carrascos  na maioria das vezes. Digo porque é verdade. Eles tem de se tornar gente.”



“O demônio é  uma energia. Os cristãos transformaram-no em bicho, a energia mal usada.”


 “Eu proponho coisas diferentes, fora da cartilha tradicional. Quem não me aceitou mais na paróquia foram os sumo-sacerdotes,  os mesmos que mandaram matar Jesus. Se Jesus viesse aqui, eles também o eliminariam da Diocese”



“A bíblia pode ser entendida como uma manifestação do inconsciente coletivo de uma experiência com Deus entre muitos povos. Eu estudei muito Freud na psicanálise e ainda acho que não entendi um por cento”.





sábado, 7 de abril de 2012

Entre Jesus e o Jornalismo


Sábado de Aleluia é Dia do Jornalista. Não é estranho que o Dia dos Jornalistas é bem na Páscoa, quando Cristo foi crucificado?

Talvez Judas fosse jornalista (se dizia escriba naquele tempo) ganhava pouco e para obter 30 conto de reis entregou Jesus. E mudou a história toda..Bem, talvez porque os apóstolos foram os maiores jornalistas de todos os tempos, a data valorize os escribas modernos.

Mas a correta dose de explicação, me deu meu editor Ermilo Drews, com lucidez de quem tem o borogodó do jornalismo no sangue.

Por que a Sonia Abrão ganha R$ 500 mil por mês para falar de fofoca na televisão e eu tenho como piso-base R$1,4 mil?

Um dia antes da data em que os fariseus crucificaram Jesus, depois de três cervejas compradas na quitanda e de ter assistindo uma lição de sabedoria de Lima Duarte na TV Xuxa (olha que coisa mais assimétrica), ele me lasca essa:

- A Soniazinha ganha R$ 500 mil e tu R$ 1,4 mil simplestemente porque o povo quer. Existe traficante pq existe maconheiro, crackeiro e cheirador de farinha. Existe jogador que ganha R$ 500 mil em um país onde o salário mínimo é quase isso (descontado o mínimo) pq o sujeito que ganha um salário mínimo mantém esta roda viva, indo a jogos, assistindo ao jogo no boteco. Existe programas de fofocas com apresentadores bem pagos porque as pessoas consomem isso. Então, que as pessoas se f..., sigam o mesmo passo, pq eu vou no compasso, olhando Xuxa e tomando minha cerveja no Dia do Jornalista. E o que o de nome comprido acima disse é fato. A tua vida não é nenhum comercial de margarina, mas sabedora dos contrastes do mundo, como jornalista que é, tu e ninguém poderia ficar reclamando como um adolescente beiçudo. Ninguém que tem Facebook sentiu na carne o que é vida difícil.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

figura de linguagem

Papo de páscoa:

Digo que a vida tem que ser mais figura de linguagem e menos conceitos que estao engessados pela academia.

Meu pai retruca

- Tá querendo escrever a Bíblia agora?

União e paz na pascoa familiar

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sou jornalista, mas sou limpinha


Quando a Fátima Bernardes nasceu, Deus disse: “Desce e arrasa”. Quatro anos depois, eu quis pegar carona nessa premonição e falei para o Altìssimo: Ó senhor, me deixe ser jornalista igual à Fátima. Talvez ele tenha confundindo que eu queria ser igual àquela Fátima de Portugal – das três crianças pobres que vislubraram um fenômeno na estradinha de chão. Aquela que virou santa. Tres crianças sem dinheiro e sem moral. Deus, na atual conjuntura, tem muitas vozes e pedidos para ouvir. É que o Uno deve ter confundido meu pedido. Mas ai então eu desci e em vez de arrasar como a Fátima do tio Bonner, me ferrei como a Fátima do fenômeno.



Fui levando a vida, desapegada do materialismo extremo. Quando dei por mim, percebi que meu Corsa 95 já vai atingir a maioridade e que eu tive de costurar os bancos com agulha e linha cinza da minha mãe.  Percebi um certo endurecimento na direção, talvez coitado, esteja pegando reumatismo. E me dei conta que estou sempre a um passo do SPC. Não, não foi a banda do Alexandre Pires que ressurgiu e eu jamais cheguei perto dele para entrevistá-lo. Mas suas músicas poderiam  servir de metáfora para meu pai me dizer: sai da minha aba sai pra lá... 
Já para mim, cairia bem o refrão: eu não tenho culpa de viver pobrinha, no meu cantinho rezo pra pagar. Levo a minha vida, bem enxugadinha, trabalho pra viver, não pra badalar. O meu textinho uai, é bom demais, não tem como duvidar.  Quem pagar vou me amarrar... Ai, ai, paga um pouco mais...
Então, agora, com talento para escrever mas não para cantar, gostaria de pedir a  força de vocês. Eu sou pelada de grana e visto a camiseta do trabalho. Se alguém souber de um trabalho por fora, uma assessoria, um servicinho que possa me render nada que um Eike Batista ganha, mas um plus que possa ajudar a pagar a fruteira, a farmácia e a escola da minha filha, eu honestamente, ficaria imensamente grata.  Eu sou limpinha, organizadinha, chego sempre no horário. Eu  reconheço que sou bipolar, mas  eu sei cumprir minhas tarefas, sei escrever para folder, para house organ, para políticos e entidades de classe. Se quiserem me contratar para feiras, eu não sou nenhuma beleza estonteante, mas faço bonito nos relises. Eu queria mudar meu iogurte Languiru para um Activia de vez em quando. Não estou pedidndo muito, só algumas vezes. Não me importo que meu papel higiênico não seja Neve. Juro, sou desapegada disso. Mas sabe, as contas eu queria pagar e parar de ter vergonha de abastecer cada vez o carro com R$ 10. Ah sei La isso fere a autoestima da gente. Se alguém, meus amigos, já que eu tenho mais de 1.900 pessoas no Facebook- souber de alguma coisa legal, por favor, entrar em contato.
Eu também preciso pagar sertralina, meu remédio que preciso tomar sempre, ininterruptamente. E é com humildade que me coloco a disposição do Sindicato dos Comerciários, da OAB de Lajeado, do Sindicato dos Sapateiros, do Grupo de Sargentos, de todas as empresas que vivem e pulsam na pujante Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Forquetinha, Paverama e arredores.

Assinado: uma trabalhadora que não faz greve e não quer vender o voto. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Três dias depois do desabafo



Três dias após eu publicar no Pitônicas, O Vale das Meias Palavras, recebo muitos comentários. Na verdade, desde que eu comecei a fazer a coluna, esta foi a crônica que de longe teve mais manifestações. Quando eu a escrevi, de um fôlego só, sem nem olhar para os erros de português ou puxar pela memória para achar a palavra mais bonita, eu estava com muita raiva por ter sido "cerceada" e coagida a usar meias palavras. Não pensei realmente nessa repercussão porque achei que eu estava falando algo tão obvio, tão banal que era chover no molhado. Julguei mesmo que as pessoas pensariam: "ah não, mas agora ela quer envolver assunto particular em coluna pública: azar o dela que escolheu esta profissão". Fiquei abismada como as pessoas pensam iguais a mim e nao só no mundo jornalístico. Pessoas de fora do jornalismo foram ainda mais convictas: "chega de meias palavras" Por telefone, por Facebook, por e-mail, me falaram que eu tinha coragem e que era para "continuar assim." Eu agradeci a todos e fiquei feliz com esta motivação. Porém percebi algo: ninguém me falou. "Continue assim, farei como você". Conta comigo para começar a dizer verdades inteiras. Todo mundo diz que está na hora de mudar. Ninguém quer ser o agente provocador da mudança. Talvez, no andar da carruagem, lá pelo meio caminho, quando as pessoas descobrirem que muitas estão dizendo realmente verdades, talvez descubram que o caminho é por ai e então sigam juntas.

Um político expôs um questionamento: E se começássemos a dizer a verdade verdadeira o que daria ? É um paradigma ? Será quebrado um dia ? Talvez ele tema que ao dizer as verdades abissais o mundo se torne mais caótico afinal todos avisam sobre o prejuízo do sincericídio. Não é para ser grosso. Embora grossura seja mais ética do que dourar a pílula. Com a crônica, eu quis fazer uma provocação. Eu comecei a escrever o Pitonicas com este proposito, de me colocar como telhado de vidro. Escrever é se expor, e se expor doi e nao é facil. Mas se a gente quer que os portais de transparencia dos governos deem certo, que sejam mais do que meros números jogados ao leu numa tabela imbecil, temos de deixar a zona de conforto de lado. Temos de deixar que falem mal da gente no texto de jornal, deixar que olhem a gente como eles nos veem. Vamos romper com o espelho da bruxa da Branca de Neve, aquele que dizia: você é a mais bela, rainha. Você é a mais honesta, rainha. Você fez o mais certo, rainha. É simples mas nao é fácil. E ademais, tudo é vaidade que passa com o vento. Se um repórter não foi tão lisonjeiro quanto você gostaria, lembre-se, haverá outra semana e mais outra. E você sempre poderá fazer projetos legais que vai conquistar o público e os jornalistas. Faz parte do jogo não agradar todo mundo. Por isso, agrade seu âmago sendo sincero. A satisfação interior que isso te proporcionará, ninguém vai te tirar. Envolva-se, comprometa-se, porque uma vida sem causa é uma vida sem efeito.