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Foto: Carolina Alberton Leipnitz |
Uma livraria estilo pub vira movimento divulgador da arte. No palco, a solidão; na plateia, pessoas com mais de 30 anos e duas adolescentes. O tema gruda em quem atinge amadurecimento cronológico ou pessoas sensíveis à ponderação. Mas a solidão é um campo vasto que evoca abandono ou autoconhecimento. Em Lajeado, quase quatro mil pessoas vivem em lares compostos de uma só pessoa, segundo o Censo 2010. “Singles”, que adoram comida instantânea e vivem apressadamente, no ritmo da aceleração dos dias modernos.
Singles podem ser solteiros, separados e viúvos. Ou jovens que vão para outro país em busca de si mesmo. O texto do escritor lajeadense Ismael Caneppele, que hoje mora em Berlim, funcionou como pano de fundo para o pocket show de 50 minutos apresentado na Espazzo Livraria Pub nesta semana. A jornalista Laura Peixoto criou os esquetes baseada na solidão de duas irmãs morando juntas. Ela própria faz a irmã carola, e a atriz Monica Kirchheim dá vida àquela que está entrevada em uma cadeira de rodas. Ambas passam a vida esperando alguém. Enquanto aguardam, implicam entre si: “Padre Hermann não vem mais aqui trazer as hóstias”. A outra retruca: “Também, da última vez você disse que elas estavam azedas”.
Persiste um sorriso na plateia compenetrada. A melancolia misturada ao bom humor, na penumbra do pub, evoca um clima intimista.
“Quando a gente se debruça sobre a solidão, percebemos o quanto essa privação faz parte da condição humana”, pensamentos da jornalista que abundam na mente, blog ou redes sociais.
Atores singles
Paulo Arenhardt encena o homem que lê. Personagem que abre a cena em uma mesa, acompanhado de um copo de vinho. Com 57 anos e separado, o advogado faz da solidão um exercício. “Tenho vários dias de solidão e é uma ocasião de grandes reflexões e de crescimento de alma. Não sou deprimido.”
Na banqueta ao canto, o artista plástico Alessandro Cenci (38) dá o tom da música. Violão, voz e solidão: “Só eu sei as esquinas porque passei”. Cenci mora sozinho porque acredita que a solidão é um processo criativo. Não há drama na vida single. Quando o homem perceber que a solidão é inevitável, transforma o modo de encarar a realidade. Caneppele, que emprestou seus textos ao pocket show, metamorfoseou o sentimento no outro lado do oceano. E por meio do teatro trouxe a mensagem: “não há necessidade de fotografar a solidão. Ela é sempre o melhor registro”. No fim da peça, os flashes espocaram.
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