quinta-feira, 9 de junho de 2011

Na serena vereda dos "Matutus"

Graças ao Censo, eu incorporei esta semana um conceito que eu própria inventei (ou pode ser que não, que ele já exista e eu na minha ignorância encampei a ideia). É o contexto de "pobreza saudável". Se é que existe uma miséria bonita eu a encontrei na comunidade de Matutu, uma localidade entranhada nos recônditos de Fazenda Vilanova. As casas são de madeira, bem pobres mesmo e tudo o que é minoria excluída impera ali. Negros camponeses pouco instruídos. O computador está para os afros de Matutu assim como o Admirável Mundo Novo de Huxley está para este planeta atordoado de estresse. Mas é o seguinte: em Matutu a serenidade perdura sobre todas as coisas.
Fui ali para fazer uma matéria onde os negros se concentram e aprendi que a felicididade é a coisa mais antitecnologica do mundo. A nobreza de Dona Maria inebria. Mirrada, encurvada e louca para distribuir morangas de presente aos visitantes, a matriarca negra de 79 anos tem um índice de felicidade bem mais elevado que o meu. O contraste está nas fotos. Eu, com casaco, manta e boina pertenço ao mundo do consumismo. Ela, com indumentária singela, pertece ao mundo interior. Aquele que a leva a essência dela mesma.

Alma simples

Localidade de povo humilde, que planta para comer, os negros de Matutu não sabem a origem do nome. Há indícios de que o local seria um quilombola indígena não oficial. Mas, quem povoou aquelas bandas foram os avós de Maria.. Eles assentaram-se ali, araram a terra e dela fizeram frutificar pomares e horas. Isso foi há mais de 100 anos. Hoje, Dona Maria é a matriarca que mora sozinha em uma casinha pobre e de madeira, assim como todas as outras do lugarejo. Mas a vida ali é muito saudável e as pessoas felizes. É diferente daquela miséria lastimosa que se encontra em zonas urbanizadas. Maria, quase sem dentes, seis filhos, seis netos e dois bisnetos. Cria porcos, galinhas e adora colher morangas. Vive uma vida sem estresse e quando precisa de médico, o carro da prefeitura a recolhe para ir ao posto de saúde. A matricarca dos Matutu é viúva há 28 anos, utiliza a enxada com habilidade e não se importa com as frestas no assoalho da casa. “Eu não sinto frio.” E para comprovar que as raças se interligam, sua refeição tem a substancial polenta, comida típica dos italianos. “Tudo que é bóia é boa.”


Contraste: o indice de felicidade de  Dona Maria é maior que o meu


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