Jornalistas dentro da redação foram divididos em dois perfis: vaidosos e tapados. A diferenciação costumeira envolve o conceito de "bom" e "ruim" mas dessa vez a segregação considerou o lado comportamental e não técnico. Talvez. Porque aos vaidosos cabe o topo da pirâmide. Os tapados seriam a rabeira da cadeia alimentar. Eu estou dentro do esquema desse último grupo. Vamos às explicações à la Freud.
Os primeiros envolveram-se na jactância porque dentro deles mesmos, traçaram o caminho do triunfo e venceram, porque julgam bons os seus textos. É isso mesmo, ainda que essa vitória esteja circunscrita às letras e não à faixa salarial (maioria dos jornalistas em termos de salário beija a lona), eles inflam o peito. Dentro da redação,a soberba dos bons os ajudam a serem autônomos. Abrem a pauta e vão de imediato fazer o serviço. Traçam sozinhos o norte da matéria, sem precisar da ajuda do editor. E lá vão eles, embora ligar para as fontes. Conseguem se motivar com o entusiasmo próprio, porque estão cheios de si com a possibilidade de serem admirados com mais uma materia espetacular publicada no folhetim. Compilam os dados em um texto simples, claro e conciso (Uhuuuuuu..como eu sou bom!!). Coroam o trabalho com a foto de capa estampada na manchete do jornal. Eis mais motivo para impáfia. Com o favorecimento dos deuses, conseguem uma, duas, três, cinco sucessivas capas.Saem da condição de operário das palavras para paladino das letras. Assim, as paginas nobres do jornal se infestam de orgulho e o leitor nem nota, empenhado que está em ler as notícias.
No outro lado da gangorra, os pobres-diabos, as topeiras-tapadas. Estes se esforçam bem mais do que os vaidosos. Não é questão de falta de neurônio, diria que é mais um despojamento de eficiencia mental. E assim, tentam compensar com um empenho que chega a ser comovente. Primeiro ponto negativo: são dependentes do editor. Abrem a pauta e se desesperam por não saberem como começá-la. Aí, consultam o chefe 42 vezes durante o dia. O cara, que nao é vaidoso nem tapado, mas um bipolar na fase intermediária para aguda se exaspera com as perguntas e enxovalha a falta de atitude.
Apáticos, os topeiras sentam para escrever. As horas avançam e surgem mais indagações, mas eles se fixam na cadeira, tentando se ajudar mutuamente, à distância do chefe, que está com uma cara de boi que vai engolir uma anta. Os topeiras sabem que é preciso ter iniciativa, destrinchar uma solução por si mesmos e se tornarem resolutivos. O problema é que quem nasce toupeira nunca chega a abelha rainha.
A grande vantagem do tapado é seu ego estupidamente curto. Tapados são mais bonzinhos e por nao terem tido a alma imaculada com a soberba, compreendem as limitações do colega. Assim, são altruístas, se ajudam entre si. Eles também têm possibilidade de crescer infinitamente maior do que os vaidosos, que acham que já chegaram lá, é cuidam apenas pela manutenção da "fama". Mas os topeiras se esforçam porque sabem que o percurso é grande. E esse trajeto é marcado pela humildade, marca que levam adiante até sairem da condição de topeiras. Tapados e vaidosos ajudam a girar a roda das letras, produzindo o jornalismo da alma humana.
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