Nunca tive instinto materno. Jamais pensei em ter filhos. Ah, deixem-me ser politicamente incorreta. E insintivamente incorreta. Não sigo a cartilha do espermatozoide vencedor.

As crianças são lindas e pentelhas. Faz parte do encanto pueril. Quando nascem, é mentira que possuem “cara de joelho”. Sempre fico procurado o joelho nas feições dos bebês e nunca encontro. É verdade que para mim, os bebês são parecidos aos chineses: todos quase iguais. Mas não, joelho não. Joelho não tem cabelo e a maioria dos nenéns que vi ultimamente são bem cabeludos.
Mas o bebê cresce e utiliza a lógica. Eu fico impressionada com a inteligência e o sarcasmo contido em algumas respostas infantis. Penso: “porque não pensei nisso”. Se você quer uma resposta sarcástica, pergunte a um baixinho. Ele te diz ironias na cara sem pestanejar. Você permanece sem reação imaginando que a resposta seja fruto de uma santa inocência. Balela. Criança tem outra por dentro. E todas elas loucas para espetar o tridente. São extremamente voluntariosas, até as mais mansinhas. Só dá entrevista para quem acha “vai com a cara”. Só pode. Não é possível tanta indiferença comigo. Estou tendo uma espécie de rejeição infantil.
Aconteceu primeiro no plantio de árvores em Arroio do Meio. Ele tinha nove anos e estava com enxada na mão, todo disposto a colaborar com o Meio Ambiente. Eu cheguei com microfone:
- Aha, um garoto gremista. O que tu ta achando de plantar mudinhas?
- Sim, eu sou gremista.
- Mas me conta, porque tu estás plantando mudinhas?
- Não sei.
Insisti mais um tempo. Como não se tira leite de pedra, desisti:
- Está certo. Vai plantar então!
O segundo encontro com criança-entrevistada ocorreu meia-hora depois, na Expowink, interior de Estrela. O colega Rodrigo Nascimento foi junto e encontrou um garoto super fofo, de 8 anos que deu a ele respostas ótimas. Cheguei quando o menino dizia: “nesta idade a gente ama os animais.”
Achei a resposta fantástica. Gritei ao cinegrafista:
- Neto, vem até aqui. Agora sim, achamos um garoto que fala.
Virei-me para o garoto, ajeitei o microfone e disse: Diga exatamente o que tu falou agora.
Ele:
- “Me esqueci”
Eu: mas eu vou te lembrar: “nesta idade a gente ama os animais”. Diga isso.
Ele
“Te falei que me esqueci”.
Rodrigo veio para ajudar. Diga o que tu disse para mim:
-“Me esqueci”
A mãe, interferiu:
- Diga: “nesta idade a gente gosta dos animais”
“Me esqueci”
O garoto só podia estar zoando com a minha “canopla”. Crianças! Um jeito particular de dizer a verdade. Se o mundo fosse assim, aprenderíamos com a transparência. Mas aí nem os adultos me dariam entrevistas.
Sou aprendiz de lições infantis.