quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Lições infantis


Minha filha dá lição de vida espetacular. Eu tô no jardim de infância e ainda tenho de comer muita papinha e mingau pra atingir o grau de maturidade e discernimento que a pimpolha de 9 anos quer que eu incorpore. Uma mãe triste da vida, com os faróis baixos e uma vontade inebriante de ficar protegida debaixo dos cobertores não é exatamente uma referência maternal. Mas na minha dor (dor efêmera, digamos assim, porque eu sei que tudo passa) ainda consigo enxergar a magnitude de lições filiais. A Marianna me dá colo e conselhos. Ela apanha a bíblia e o livrinho de orações ao lado da cabeceira, segura na mão e diz; "mãe, uma coisa te digo: viver a vida mãe, viver a vida". Ela olha com olhos tão fundos e um tom de voz tão convicto que surpreendo-me ante a sabedoria infantil. Ela me diz mais: "mãe, faz qualquer coisa para parar de chorar. Leia teus livros, nem que você tenha de comer. Coma, mas pare de chorar". Na sua aguda inteligência e lógica infantil ela ja sabe que comida faz bem para tristeza e que humanos associam as calorias à melancolia. É um esforço comovente que ela faz para me auxiliar a passar a dor. O amor filial tem uma força estranha e contundente de nos fazer buscar vigor e dar um salto do fundo do poço. Eu às vezes me pego pensando de forma bem humorada:Esse mundo tá todo errado e de cabeça prá baixo. O meu caso e da minha filha é um exemplo. Ela quem dá força para mim. O contrário é raro. Eu sempre preciso mais do ombro dela. Eu devo ser um ET mesmo. Mas ainda bem que tenho uma filha normalíssima. Sou aprendiz de lições infantis.

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