terça-feira, 24 de abril de 2012

A herança da “máquina triforme”



Íntima é uma palavra bonita, mas o órgão sexual feminino é uma palavra tenebrosa.  Quem for pela palavra, jamais chegará lá. Parece algo pernicioso. Coisa que não é, porque bem se diz que brasileiro adora fornicação

 Trago o assunto à baila porque Erasmo Carlos me fez pensar sobre o tema. Estava eu na cama semi-acordada quando  ouço  o cantor declarar para um canal de televisão: “quem criou o português devia ter inventado palavras mais bonitas para as partes íntimas”. Minha filha que tem 12 anos também ouviu. Refletiu e me disse: “é verdade mãe, as pessoas tem mais medo das palavras do que o ato em si”. Logo depois a gente chegou à conclusão de que talvez não seja a palavra tão feia, mas o que ela evoca que a deixa assim tão “desairosa”.  Realmente, não há decoro  com o que o tio Aurélio define como: “designação comum a diversas formações com feitio de bainha.”
Acho que a gente é preconceituoso com as palavras. Quando a periquita é a ave, o nome é até jeitosinho. Quando vira eufemismo dos dotes femininos, aí vem aquele sorrisinho. Existe mais de 700 espécies de pererecas que gostam de viver em galhos de árvores. Mas a gente só ri quando se trata daquela que não é da família dos anfíbios.  Por que damos nomes tão feios a algo que todos julgam prazeroso? Se o que dá prazer envergonha, porque não temos vergonha de dizer Cho-co-la-te?Chocolate não é coisa íntima, a não ser que você queira chamar o do seu marido de “ouro branco” ou “diamante negro.”
E como se as partes íntimas já não fossem íntimas, na tentativa de ficarmos mais íntimos com nosso companheiro, temos a mania de dar nomes carinhosos. Creio que essa mania começou com Dom Pedro. Juro. Quem leu a obra 1822 do jornalista Laurentino Gomes vai matar a charada sobre a “máquina triforme”.
Vou fazer um breve resumo: a imperatriz Dona Leopoldina era uma mulher feiota, gorda e depressiva. (Naquele tempo não tinha Prozac). Mas era da mais alta realeza da Europa. Super culta e caridosa, costumava ajudar os pobres brasileiros. Foi ela a verdadeira proclamadora da independência junto com José Bonifácio (que era maçom). Dom Pedro  batia nela - naquele tempo a Lei Maria da Penha era uma utopia. Em sua última gravidez, Dom Pedro deu um chute em sua barriga e ela morreu no dia seguinte. Enquanto a defunta nem esfriava no caixão, o Pedro, que tinha o dom  fornicava com a sua amante. Este sim foi seu verdadeiro caso de amor: Marquesa de Santos. Eles formavam o casal 20 da época. A paixão era avassaladora e consumia o casal. O romance dos dois rendeu um dos conjuntos mais pitorescos da historia. Nas cartas para a marquesa, Dom Pedro assinava como: "O Demonão" e "Seu Fogo Foguinho". E a marquesa intitulava  a  genitália dele como  "máquina triforme".
Pedro era um “latin lover” meio abrutalhado e cheio de autoestima. Laurentino Gomes diz que o imperador utilizava nas cartas com a marquesa uma linguagem de borracharia.   Se Dom Pedro existisse hoje e reinasse entre os comuns, aposto que seria um Alexandre Frota.
Cento e noventa anos depois a mania dos apelidos continua. A marquesa que era bonita, mas um tanto cheia para a época atual não tinha nada de Larissa Riquelme e a bem da verdade, de lá para cá as alcunhas sexuais cresceram.  Apelidar é uma forma de ganhar intimidade.  Criativo como só o brasileiro consegue ser com tantos sinônimos, me indago, assim como Erasmo Carlos,  porque em o sistema genital feminino não pode ganhar o nome de Esperança e o masculino de Cachorro, já que muitas vezes a gente chama o homem de cachorro e para as mulheres, a esperança é a última que morre.  Mas enfim, não são as palavras que sustentam as histórias. São os atos. Dizem que Dom Pedro teve mais de cem filhos. Se ele tivesse sido menos mulherengo, talvez não existissem 190 milhões de brasileiros. É a herança da máquina triforme. 

Os dois lados do Seu Oswaldo


 Diferentemente dos líderes empresariais da região, Oswaldo Carlos van Leeuwen é reconhecido pelo  nome e não pelo sobrenome. 

Dado o respeito que angaria com a comunidade e os funcionários, invariavelmente o pessoal coloca o “seu” na frente para marcar a reverência. Nem precisa. “Seu Oswaldo” como homem derivado do microfone, dispensa cerimônia e aprendeu a fazer rádio na marra. Oswaldo viu muitas vezes o canto, gauchesco e brasileiro, já que Alegre era sua audiência nos postes com alto-falante.
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Um dia chegou em Lajeado, motivado a empreender. Um amigo dele disse: “vou te apresentar uma rua grande como esperança de pobre”. Era a Julio de Castilhos, um descampado de estrada de chão.
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O Oswaldo colocou um jornal, empregou meia duzia de gente e se foi fazer informação. Porque ele tinha arrepios de ouvir falar em ser médico. E era tudo o que o pai dele queria, que seguisse a medicina.
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Oswaldo entornou o caldo e com o jornal crescendo, se tornou o porta voz dos médicos, advogados, professores. No fim, deu mais certo do que seu próprio pai previu. Mas se o guri tivesse sido obediente na época, o Informativo não estava aqui para contar histórias hoje.
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Ninguém pegou o tempo em que seu Oswaldo era galã. Mas quando ele se tornou pai aos 68 anos, virou um chefe ainda mais admirado. Esse é raçudo. E aos 82 anos anda na moda com iPhone, uma esticada prolongada na praia todo o verão, um programa de entrevistas na TV Informativo e uma inquietude que o faz madrugar. Chega antes de todo mundo à empresa.
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Seu Oswaldo lança cápsulas de sabedoria pelos corredores. Uma hora fala com este, outra com aquele e vai largando sua  experiência de vida entre um dito e outro. Ele diz que a vida é uma escada com 33 degraus e quem está no mais alto tem que saber descer para ouvir aquele que está abaixo. Nem tudo é completamente bom ou mau. Tudo tem os dois lados. O verso e o reverso, o côncavo e o convexo. E o bis de seu Oswaldo aos jornalistas é sempre o mesmo: “escutem os dois lados”.  O jornalismo é a arte de ouvir as partes. O legado de um decano da informação.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jonas e a metáfora da baleia




Alguém ai se lembra de que Jonas era um profeta servo de Deus e que foi engolido por uma baleia porque fugiu para que Deus não o achasse? Nem Pai Google de Oxum lembra disso porque quando se coloca na busca “Jonas” aparece o galã lajeadense que o BBB catapultou. Talvez motivada pelo nome bíblico, dona Marlene colocou o nome no bebê e a baleia, no futuro, seria a fama. “A baleia é sua casa, sua cidade, dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho”, cantas Sá e Guarabira numa das hermosas músicas da dupla.

Mas o Jonas moderno, que foi escrutinado na televisão, não é cegado pela baleia, e nem depois foi devolvido  à vida numa praia em Nínive. É sim, e isso é verídico, um cara que foi dado às feras, como no Coliseu romano, quando a política do Pannis ET Cicerncis navegava o mais poderoso governo da terra. Mas nós somos os devoradores e os devorados. E com tanta ânsia quanto vomitávamos o preconceito contra a beleza. “Esse cara não tem nada de bom. É só um rostinho bonito”, também vamos a ele fotografar. Para pegar carona na fama, ainda que seja para dizer para o nosso  pequeno círculo em que somos famosos. “ó, eu estive com Jonas. Se eu tive com ele, eu mereço ser visto”.  É engraçado porque não dá para falar que Jonas sequer teve vontade de ir ao BBB. Que eu saiba , ele não enviou sequer um  vídeo, foi fisgado por um olheiro, e como bom administrador monetário, fisgou o peixe. Eu também fisgaria.
Ele é original quando diz, portanto, que o BBB e a atuação não fazem parte de seu sonho. E talvez por isso possa se dar ao luxo de ser ele mesmo. O cara não faz restrições tipo: “não falo da minha vida íntima”,  “não me pergunte isso nem aquilo.” O cara fala e também não dá o desprazer de desprezar algo que lhe desagrada. Ele critica, mas não despreza.  Pondo estas questões na mesa, se as celebridades ficassem ao nível de Jonas, estaria de ótimo tamanho.
O cara pode não ter uma Fundação Gol de Letra para financiar. Mas também, ele mal saiu do BBB e tampouco faz vergonha para ninguém. O cara é bom galera, intrinsicamente bom. E isso está na lata. Eu até acho que a gente acha ele mais bonito do que ele de fato é. Porque por três meses inoculamos nas fotos e imagens, o pictórico de um cara centrado, sensato e gente fina. Jonas é barriga tanquinho, angariou fama e é sim, gente fina. Porque só porque faz sucesso não pode ser gente fina?
Mas eu me espanto com a voracidade das pessoas. Eu não acho que as pessoas queiram Jonas tanto assim realmente quanto eu vi no Centro da cidade. Meu Deus, elas quase viraram o carro. Eu pensei: “aiiiiiiiii, vão arranhar a pintura, vão estragar o carro”.  Os dois seguranças arrastaram o galã para dentro da loja. Ele ficou espantado, juro que vi um ar de surpresa nele com tamanha recepção.  As pessoas não querem Jonas tanto assim, elas querem um pedaço do sucesso dele. E isso contagia. Tu nem acha o cara tão fenomenal assim, quando se  dá por conta, está láa no epicentro da multidão tentando vê-lo com sofreguidão.
A fama espanta até o famoso.  Mas há um ingrediente na fama que diferencia um famoso de outro ou de livrar a pessoa da subcelebridade. É o carisma, algo intangível, mas diz-se de alguém com luz própria, não propriamente bonito, mas que exerce uma atração. Carisma está ligado ao modo como uma pessoa influencia um grupo, uma multidão e isso para mim tem a ver, com genuinidade. Quando tu olha para uma pessoa e sente que o que ela está dizendo não é atuação e quando você vê que apesar das hordas de fãs histéricas, o sorriso continua genuíno, pô, essa pessoa tem carisma.  Quem é que aguenta, gente, mesmo com 50 mil na jogada, rir de verdade por horas a fio? Existem 29 tipos de sorrisos, só um é verdadeiro. E isso a neurociência prova. E nós também.
Jonas não é santo e nem faz questão de ser. Ele disse que ficou por ficar na casa com as gurias e que há alto índice de piriguetagem. Não falou isso com desprezo, falou porque nós perguntamos. A imprensa pergunta, bisbilhota e provoca. Ele não recuou, não encobriu o véu, não se fez de rogado.
Mas ainda assim eu me espanto porque em 20 anos de cobertura de políticos, shows, cinema e eventos, nunca vi tamanho frisson. Nem Tiago Lacerda, Letícia Spiller e Caco Ciocler juntos causaram tanto alvoroço quando estiveram aqui. E se for questão de proximidade e simpatia, temos a Shirley Mallmann. Nem ela causou isso. Se for por estar na Globo, Lacerda é da Globo.
Então, as vezes não é nem o canal, e a proximidade. É o grau de Carisma das pessoas. Creio que a Gisele Bundchen tem isso. Onde vai causa celeuma e olha que não é a mulher mais linda do mundo. É linda, mas não a mais.
Dilma já veio aqui como ministra. Não causou  nem cócegas. Política é um assunto chato pra gente ser tiete. Mas creio que deveria ser um assunto mais urgente. Deveríamos andar atrás dos deputados assim como andamos atrás de Jonas.




Em cada um de nós há uma pontinha de inveja desse sucesso inesperado: “Pô, esse cara nem lutou tanto e já nasceu bonito e vai ganhar papel na Globo. Pô, que saco. E eu aqui descascando batata no porão.”
Jonas quase foi um filho do asterisco, mas depois pai e filho se fortaleceram. Um é a cara do outro, mas o descendente não vai ser ausente na sua descendência. Isso também está na cara.
O sociólogo francês Pierre Bordieu detectou quatro formas de capital que foram consagrados por ele.O capital social (quem conhecemos); Capital Econômico ( o que temos); Capital Humano (o que sabemos) e Capital atrativo ( beleza física, charme e elegância). Pesquisas indicam que só 2% dos homens de todo o planeta são extraordinariamente bonitos. Porque Jonas não vai usar o que lhe foi dado em profusão?
Li na revista Época há algum tempo e eu guardei a reportagem, que um pilar na sustentação teórica do valor da beleza está na escassez. Os 2% ou 3% de pessoas bonitas na população são raros o suficiente para que haja mais demanda do que oferta por elas. Não existe neutralidade diante da beleza.  As pessoas se sentem bem na presença dos belos.  Freud diz que o prazer de olhar é igual ao de tocar e isso impulsiona o canal erótico. Os cientistas criaram um termo chamado efeito aura. A beleza é associada ao êxito, saúde, liderança e caráter. O “efeito aura” cria a expectativa de perfeição em torno da beleza física e favorece espontaneamente (e injustamente) quem nasceu bonito. É. Injusto, é, mas também ninguém denigre Stephen Hawking por ser um crânio inteligente.

terça-feira, 17 de abril de 2012

Eu quero um barril com wi fi



Já repararam que quando você está com foco em algo  começa a ver sinais ? Por exemplo, se comprou um Fox vermelho, perceberá pela cidade que existe mais desse tipo de carro do que jamais pensou. Pode ser  coincidência, mas o psicanalista Jung fala em Teoria da Sincronicidade. 

Li um trecho de "O Homem e seus Símbolos". Ali Jung diz que muita coisa que a gente percebe da realidade é permeada por aspectos inconscientes. No início, a gente ignora o que está no porão da nossa mente, mas os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento  e isso  é tão espontâneo  que pode aparecer em forma de sonho.  São aquelas “coincidências” que nos  deixa boquiabertos. Entenderam? Bem, é complicadinho, mas vale  a reflexão.
Esse preâmbulo é que, preocupada com o cheque especial, as contas e o meu “holerite”, passei a inocular a miséria e o coitadismo e mergulhada nesse meu dilema vi  uma notícia que me chamou atenção. É a  historia de um irlandês que conseguiu viver durante três anos sem nenhum tostão.  Nenhunzinho. – Ah, não acreditei. Fiz igual ao Crô da novela. Botei a mão na boca e disse: “não, para tudo, paraaaaaaaa”. Olha o sinal aí gente, eis a sincronicidade de Jung.
Na revista, Mark Boyle se mostra senhor de si. E pasmem, o homem sem dinheiro é um economista. Com  32 anos  quer convencer o mundo de que o dinheiro é supérfluo.  E se ele quer convencer o planeta, quer me persuadir também.  Invejei horrores esse  Diógenes moderno. Poderia ser meu guru,  até porque eu não teria muita bagagem para deixar para trás.  Digamos que um Corsa 1995 não é nenhuma relíquia.
Ele jogou tudo fora e foi morar num pedaço de terra na Inglaterra. Planta o que come e só de pensar que ele não semeia chocolate, já fico venerando este cristão. Se banha num rio perto de sua casinhola e utiliza a vegetação como papel higiênico. Deixou o “Snob” de lado.  Pelas fotos que vi na Revista Galileu e depois investigando em sites de ciências, Boyle é saudável, bronzeado e tem um corpaço. De forma alguma parece um ermitão de barba grande e olhos esbugalhados. Um “gato” ou talvez um tigre indomado.  Improvável que seja  parente da Susan Boyle.  A frase que lhe deu o insight a gente já viu em muitos Facebooks da vida e também nos status de MSNs. “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.  Decidiu viver sua própria mudança e pensou: “se a raiz de toda a insegurança e medo do mundo é o dinheiro, o que aconteceria se me livrasse dele?”.
Aconteceu tudo.  Boyle se viu dentro de uma espiral de libertação que trocou seu nome para “Liberdade” em gaélico. Boyle garante que se o  mundo for para o brejo, a culpa é do dinheiro.  O Homem Sem Grana, virou manchete em todos os jornais e revistas do mundo. Mas para vocês verem como são as coisas, só agora me deparei com a história dele. No futuro, quer fazer uma comunidade que pensa igual a ele. Jura que terá adeptos.  “ Muitos querem saber como viver sem dinheiro, já que não têm dinheiro”, destaca o liberto. Eu sou uma .
O que me impressiona é a pecha que dão a quem quer quebrar os padrões vigentes. . A verdade é que a perplexidade em viver voluntariamente com pouca grana causa espanto e incredulidade.  Nossa cabeça simplesmente não aceita que as pessoas não querem o conforto, o sofá, o micro-ondas.  Não é de hoje que é assim. O personagem mais fascinante da história para mim é o filosofo Diógenes:  uns 400 anos antes de Cristo, ele  perambulava pela Grécia, morando dentro de um barril.  Não só desprezava os bens materiais como dizia  que toda fadiga é necessária para obter a realização. Se exercitar e cansar é o único caminho viável ao homem. Por isso peregrinava pela Grécia. Encontrava imperadores e fornecia cínicas. Por causa da sua língua, ficou sendo o pai do cinismo.  Diógenes, o cínico não era mau, incitava a ponderar.  Era um crânio anarquista. Só de ler as respostas que ele dava e a forma como pensava,  me arrepio. Dizia ser Diógenes, o cão, enquanto o rei era Alexandre, o grande.  Defendia a ideia de que os humanos deveriam aprender com os cachorros.  Afinal, um cão vive o presente sem ansiedade, aprende instintivamente quem é amigo e quem é inimigo e não faz estardalhaço sobre o lugar de dormir. Eu não consigo nem dormir fora da minha cama box e preciso de 12 laxantes quanto estou vem viagem. Preguiça intestinal era coisa que Diógenes mais odiava.
Um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém." Diógenes, meu cínico predileto.  Só preciso do meu barril com wi fi. E um iPhone. 

terça-feira, 10 de abril de 2012

Peripécias de um exorcista sem paróquia



Em Santa Clara do Sul, o “padre bruxo”,  protagoniza uma série de histórias que o fazem um sacerdote diferente. “Eu sou um estranho no ninho”, conclui padre Hilário Dewes, sentado num dos dois sofás da sua “tenda” – vocábulo para  seu cômodo de 25 metros quadrados onde está morando atualmente, no Centro da cidade.  É ali, espremido entre um banheiro minúsculo, a cama e o fogão portátil que ele faz seu consultório de parapsicologia. 


 O padre chama seus pertences de “badulaques” – inclusive a cruz -  diz que a Bíblia foi escrita por “gente quase analfabeta para analfabetos” e  catequiza através da hipnose.

 Há poucas semanas, era o pároco oficial de Santa Clara do Sul. Ele diz que foi retirado da paróquia por fugir do que reza a cartilha tradicional. “Foi um grupo de padres que não me aceitou porque eu proponho coisas diferentes.”

Diz que a Igreja é um contrasenso e  não teme represálias. “Agora eu me sinto livre.”
Fora da paróquia o padre continua benzendo, batizando, rezando missa onde é convidado a ir.


Versão do padre Quevedo

Padre Hilário é a versão local do Padre Quevedo – um jesuíta polêmico que diz que fenômenos como possessões não existem.  “Tenho tudo do padre Quevedo, menos a brabeza”.  Sorrindo com o chimarrão na mão,  esconjura o satanás com a mesma calma com que o sorve. Para o padre bruxo, o demônio é uma energia mal utilizada. Hilário expulsa o capeta com técnicas de parapsicologia.E para suposta possessão demoníaca, o bruxo utiliza a reprogramação mental. 
Padre Hilário percorre o Rio Grande do Sul promovendo cursos para empresários, grupos e entidades.  Também faz consultas, regressão e palestras. Diz que é um “padre bombril” – porque faz de tudo um pouco.
Enquanto houver gente com sofrimento psíquico, o sacerdote bruxo vai missionar assim: com fé, hipnose e treinamento da mente.


  “Se os padres tivessem vergonha na cara, teriam  amor ao povo. Eles são carrascos  na maioria das vezes. Digo porque é verdade. Eles tem de se tornar gente.”



“O demônio é  uma energia. Os cristãos transformaram-no em bicho, a energia mal usada.”


 “Eu proponho coisas diferentes, fora da cartilha tradicional. Quem não me aceitou mais na paróquia foram os sumo-sacerdotes,  os mesmos que mandaram matar Jesus. Se Jesus viesse aqui, eles também o eliminariam da Diocese”



“A bíblia pode ser entendida como uma manifestação do inconsciente coletivo de uma experiência com Deus entre muitos povos. Eu estudei muito Freud na psicanálise e ainda acho que não entendi um por cento”.





sábado, 7 de abril de 2012

Entre Jesus e o Jornalismo


Sábado de Aleluia é Dia do Jornalista. Não é estranho que o Dia dos Jornalistas é bem na Páscoa, quando Cristo foi crucificado?

Talvez Judas fosse jornalista (se dizia escriba naquele tempo) ganhava pouco e para obter 30 conto de reis entregou Jesus. E mudou a história toda..Bem, talvez porque os apóstolos foram os maiores jornalistas de todos os tempos, a data valorize os escribas modernos.

Mas a correta dose de explicação, me deu meu editor Ermilo Drews, com lucidez de quem tem o borogodó do jornalismo no sangue.

Por que a Sonia Abrão ganha R$ 500 mil por mês para falar de fofoca na televisão e eu tenho como piso-base R$1,4 mil?

Um dia antes da data em que os fariseus crucificaram Jesus, depois de três cervejas compradas na quitanda e de ter assistindo uma lição de sabedoria de Lima Duarte na TV Xuxa (olha que coisa mais assimétrica), ele me lasca essa:

- A Soniazinha ganha R$ 500 mil e tu R$ 1,4 mil simplestemente porque o povo quer. Existe traficante pq existe maconheiro, crackeiro e cheirador de farinha. Existe jogador que ganha R$ 500 mil em um país onde o salário mínimo é quase isso (descontado o mínimo) pq o sujeito que ganha um salário mínimo mantém esta roda viva, indo a jogos, assistindo ao jogo no boteco. Existe programas de fofocas com apresentadores bem pagos porque as pessoas consomem isso. Então, que as pessoas se f..., sigam o mesmo passo, pq eu vou no compasso, olhando Xuxa e tomando minha cerveja no Dia do Jornalista. E o que o de nome comprido acima disse é fato. A tua vida não é nenhum comercial de margarina, mas sabedora dos contrastes do mundo, como jornalista que é, tu e ninguém poderia ficar reclamando como um adolescente beiçudo. Ninguém que tem Facebook sentiu na carne o que é vida difícil.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

figura de linguagem

Papo de páscoa:

Digo que a vida tem que ser mais figura de linguagem e menos conceitos que estao engessados pela academia.

Meu pai retruca

- Tá querendo escrever a Bíblia agora?

União e paz na pascoa familiar

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Sou jornalista, mas sou limpinha


Quando a Fátima Bernardes nasceu, Deus disse: “Desce e arrasa”. Quatro anos depois, eu quis pegar carona nessa premonição e falei para o Altìssimo: Ó senhor, me deixe ser jornalista igual à Fátima. Talvez ele tenha confundindo que eu queria ser igual àquela Fátima de Portugal – das três crianças pobres que vislubraram um fenômeno na estradinha de chão. Aquela que virou santa. Tres crianças sem dinheiro e sem moral. Deus, na atual conjuntura, tem muitas vozes e pedidos para ouvir. É que o Uno deve ter confundido meu pedido. Mas ai então eu desci e em vez de arrasar como a Fátima do tio Bonner, me ferrei como a Fátima do fenômeno.



Fui levando a vida, desapegada do materialismo extremo. Quando dei por mim, percebi que meu Corsa 95 já vai atingir a maioridade e que eu tive de costurar os bancos com agulha e linha cinza da minha mãe.  Percebi um certo endurecimento na direção, talvez coitado, esteja pegando reumatismo. E me dei conta que estou sempre a um passo do SPC. Não, não foi a banda do Alexandre Pires que ressurgiu e eu jamais cheguei perto dele para entrevistá-lo. Mas suas músicas poderiam  servir de metáfora para meu pai me dizer: sai da minha aba sai pra lá... 
Já para mim, cairia bem o refrão: eu não tenho culpa de viver pobrinha, no meu cantinho rezo pra pagar. Levo a minha vida, bem enxugadinha, trabalho pra viver, não pra badalar. O meu textinho uai, é bom demais, não tem como duvidar.  Quem pagar vou me amarrar... Ai, ai, paga um pouco mais...
Então, agora, com talento para escrever mas não para cantar, gostaria de pedir a  força de vocês. Eu sou pelada de grana e visto a camiseta do trabalho. Se alguém souber de um trabalho por fora, uma assessoria, um servicinho que possa me render nada que um Eike Batista ganha, mas um plus que possa ajudar a pagar a fruteira, a farmácia e a escola da minha filha, eu honestamente, ficaria imensamente grata.  Eu sou limpinha, organizadinha, chego sempre no horário. Eu  reconheço que sou bipolar, mas  eu sei cumprir minhas tarefas, sei escrever para folder, para house organ, para políticos e entidades de classe. Se quiserem me contratar para feiras, eu não sou nenhuma beleza estonteante, mas faço bonito nos relises. Eu queria mudar meu iogurte Languiru para um Activia de vez em quando. Não estou pedidndo muito, só algumas vezes. Não me importo que meu papel higiênico não seja Neve. Juro, sou desapegada disso. Mas sabe, as contas eu queria pagar e parar de ter vergonha de abastecer cada vez o carro com R$ 10. Ah sei La isso fere a autoestima da gente. Se alguém, meus amigos, já que eu tenho mais de 1.900 pessoas no Facebook- souber de alguma coisa legal, por favor, entrar em contato.
Eu também preciso pagar sertralina, meu remédio que preciso tomar sempre, ininterruptamente. E é com humildade que me coloco a disposição do Sindicato dos Comerciários, da OAB de Lajeado, do Sindicato dos Sapateiros, do Grupo de Sargentos, de todas as empresas que vivem e pulsam na pujante Lajeado, Estrela, Arroio do Meio, Cruzeiro do Sul, Forquetinha, Paverama e arredores.

Assinado: uma trabalhadora que não faz greve e não quer vender o voto. 

terça-feira, 3 de abril de 2012

Três dias depois do desabafo



Três dias após eu publicar no Pitônicas, O Vale das Meias Palavras, recebo muitos comentários. Na verdade, desde que eu comecei a fazer a coluna, esta foi a crônica que de longe teve mais manifestações. Quando eu a escrevi, de um fôlego só, sem nem olhar para os erros de português ou puxar pela memória para achar a palavra mais bonita, eu estava com muita raiva por ter sido "cerceada" e coagida a usar meias palavras. Não pensei realmente nessa repercussão porque achei que eu estava falando algo tão obvio, tão banal que era chover no molhado. Julguei mesmo que as pessoas pensariam: "ah não, mas agora ela quer envolver assunto particular em coluna pública: azar o dela que escolheu esta profissão". Fiquei abismada como as pessoas pensam iguais a mim e nao só no mundo jornalístico. Pessoas de fora do jornalismo foram ainda mais convictas: "chega de meias palavras" Por telefone, por Facebook, por e-mail, me falaram que eu tinha coragem e que era para "continuar assim." Eu agradeci a todos e fiquei feliz com esta motivação. Porém percebi algo: ninguém me falou. "Continue assim, farei como você". Conta comigo para começar a dizer verdades inteiras. Todo mundo diz que está na hora de mudar. Ninguém quer ser o agente provocador da mudança. Talvez, no andar da carruagem, lá pelo meio caminho, quando as pessoas descobrirem que muitas estão dizendo realmente verdades, talvez descubram que o caminho é por ai e então sigam juntas.

Um político expôs um questionamento: E se começássemos a dizer a verdade verdadeira o que daria ? É um paradigma ? Será quebrado um dia ? Talvez ele tema que ao dizer as verdades abissais o mundo se torne mais caótico afinal todos avisam sobre o prejuízo do sincericídio. Não é para ser grosso. Embora grossura seja mais ética do que dourar a pílula. Com a crônica, eu quis fazer uma provocação. Eu comecei a escrever o Pitonicas com este proposito, de me colocar como telhado de vidro. Escrever é se expor, e se expor doi e nao é facil. Mas se a gente quer que os portais de transparencia dos governos deem certo, que sejam mais do que meros números jogados ao leu numa tabela imbecil, temos de deixar a zona de conforto de lado. Temos de deixar que falem mal da gente no texto de jornal, deixar que olhem a gente como eles nos veem. Vamos romper com o espelho da bruxa da Branca de Neve, aquele que dizia: você é a mais bela, rainha. Você é a mais honesta, rainha. Você fez o mais certo, rainha. É simples mas nao é fácil. E ademais, tudo é vaidade que passa com o vento. Se um repórter não foi tão lisonjeiro quanto você gostaria, lembre-se, haverá outra semana e mais outra. E você sempre poderá fazer projetos legais que vai conquistar o público e os jornalistas. Faz parte do jogo não agradar todo mundo. Por isso, agrade seu âmago sendo sincero. A satisfação interior que isso te proporcionará, ninguém vai te tirar. Envolva-se, comprometa-se, porque uma vida sem causa é uma vida sem efeito.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

O Vale das meias-palavras



Eu sou louca?” Perguntei para minha colega Susi nesta quinta-feira de manhã. Ela pensou e disse: “Tu é sincera. Ninguém tem coragem de dizer as coisas que tu diz.” Eu estou sempre perguntando se sou louca para alguém. Só não posso perguntar para o meu texto porque ele não fala. Ele telefona. É assim mesmo, quando coloco alguma coisa com um olhar diferenciado na matéria, meia dúzia gosta, seis não gostam. Geralmente são os seis que estão relacionados a matéria.  Fugir do olhar domesticado é ver um fato de ângulo diferente, fazer uma pergunta que o entrevistado não está acostumado a ser inquirido. Não sei se isso fere, mas espanta.


Existe no Vale do Taquari a Síndrome das Meias-Palavras. Oxalá fossemos iluminados a ponto de não ter nada a dizer e assim não faríamos o mundo perder tempo. Mas temos sim algo a dizer. Só que só dissemos metade. Porque a outra metade não pode ser dita por isso ou por aquilo ou por aquele outro. Porque, “eu não quero me comprometer.”
O jornalista fica espremido diariamente entre o leitor que tem algo a falar e a fonte oficial que só pode falar aquilo que ela quer. Com um salário base de R$ 1,333, nós – jornalistas que estudamos quatro anos na faculdade para aprender que somos porta-voz e fiscalizadores da sociedade - estamos comprimidos de todas as formas. No bolso e com as fontes (os entrevistados). Porque é sempre assim: João liga para o jornal para reclamar do alarido que os jovens fazem perto da casa dele. Mas João não quer seu nome no jornal. “Não quero me comprometer”.
Maria aciona o jornal para reclamar do buraco da rua, da praça que está sem verde, dos ratos que invadem o coreto. Maria quer porque quer uma solução rápida. Mas ela não quer se comprometer, porque afinal ela é amiga dos secretários, do fiscal, do sargento.
Nós tentamos resolver porque somos porta vozes da sociedade. O secretário, vereador, major ou coordenador se irritam com nossas perguntas. E quando responde, é sempre pela metade: “não coloca isso porque não pega bem.”
Esta semana, por duas vezes, autoridades de órgãos oficiais me repreenderam sutilmente diante de matérias que fiz porque eu as elaborei por um ângulo diferente. “Isso você não deveria ter perguntando  ao entrevistado porque é bom deixar quieto.”
Há poucos dias, na inauguração de um prédio, estava entrevistando um morador quando o assessor de imprensa se interpôs entre o morador e eu. Me senti coagida, numa visível tentativa de me vigiar para me desestimular das perguntas.
Pô, se só temos de colocar o que as fontes dizem, se  temos de colocar o bonito, o belo e o que está diante dos olhos, o jornalista do Vale do Taquari não precisa ser testemunha ocular da história. Não precisa ter senso crítico. Aliás, ter senso crítico é ser uma pedra no sapato. Estou sabendo que sou persona non grata, mas não me importo. Meu compromisso é comigo mesma, porque eu sou leitora. E como leitora de jornais, revistas e televisão, sou critica quanto aos meus colegas daqui, do sudeste ou do nordeste. Quero que eles não tenham preguiça nem medo de dizer as coisas. Eu sou paga para ser chata. Jornalista que não é chato é legal para a fonte mas é um pé no saco para o leitor.


Esta semana morreu Millôr Fernandes. Senti muito mais do que a morte de Chico Anísio. Millôr tem um quê de Nelson Rodrigues. Ambos foram muito produtivos em vida. Que tristeza saber que nunca mais vamos ter repertório novo de Millor, ainda bem que ele fez e disse um monte de coisas. Que triste saber que há muito tempo não temos algo novo de Rodrigues.Mas suas frases são impagáveis e mais atuais do que nunca. Esta é para todo e qualquer egresso que ousar fazer   vestibular de jornalismo e para ser utilizada em toda sua vida de repórter:  

Nós, da imprensa, somos uns criminosos do adjetivo. Com a mais eufórica das irresponsabilidades, chamamos de "ilustre", de "insigne", de "formidável", qualquer borra-botas.”

Não fui eu quem disse. Foi Rodrigues. Eu sei que vai ter gente se irritando com essa crônica. Mas e daí? “A grande vaia é mil vezes mais forte, mais poderosa, mais nobre do que a grande apoteose. Os admiradores corrompem." Nelson Rodrigues me salva da zona de conforto.

quinta-feira, 29 de março de 2012

Putinga não saiu de mim

Nasci um bebê rosado na meteórica Putinga. Virei ficção por conta do meu humor e bipolaridade. Sofri bullying pela origem da minha cidade e também pelo sobrenome. Na escola Érico Veríssimo, onde hoje o combate ao bullying é o mais intenso de Lajeado, me angustiei pela primeira vez: ela é de Putinga, então é a é putinha. E o pessoal ria sem dó. Criança é o ser mais inclemente que existe. E quanto mais a gente quer deixar passar esse momento, mais se o realça.


Minha angústia maior era em início de ano, quando tínhamos de nos apresentar. "Sou Andreia Rabaiolli". Tudo na cabeça de criança é alvo de troça. Rabo Mole. E lá iam-se os risos e o meu - amarelado - era lembrado em casa com lágrimas e raiva. Porco can, porque eu tenho de ter esse sobrenome italiano e porque minha mãe não correu para eu nascer em Lajeado?
Ó coitada, estranha no ninho de uma grande cidade - cá pensava eu com meus botões. Com o tempo fui me acostumado com o fato de ser de Putinga. Afinal, lá nasceu o Renato Zanella e caiu o meteorito. E também a Nona Pina e a Cinara, mais macho do que todos os campões de MMA juntos. Vítor Belfort tremeria de medo diante de Cinara, macha, mas cheia de peito e com filha grande.

Putinga é a cidade dos fenômenos. O meteorito desceu num dia de São Roque bem quando o padre discursava sobre o fim apocalíptico dos tempos. Veio aquele estouro dos céus, tibrummmmmmm e caiu aquele bloco gigantesco de pedra rolante. As pessoas se esconderam, mas depois, subversiva como só Putinga pode ser, os mais malandros trataram de captar alguns pedaços da pedra e guardar como tesouro. Foi assim que aquelas toneladas foram se espatifando uma a uma, dizimando-se nas casas putinguenses e daqueles que se diziam cientistas. Em nome da ciência, muita gente anda guardando cascalhos meteóricos. Apenas alguns poucos estão guardados para fazer jus ao Livro dos Recordes e no museu da Nasa.
Mais de 70 anos do fato e Putinga ainda se orgulha de ser a Cidade do Meteorito. Uma faixa bem grande lembra do fato: "Bem vindo a cidade do Meteorito".

Luan Santana ainda nao esteve lá, mas se fosse, seria um up na sua carreira. Putinga: meteoro da paixão. Saí de Putinga aos três anos de idade, mas não me livrei do jeito e do comportamento citatino. "Tu saiu de Putinga, mas Putinga não saiu de ti", diz meu chefe que rege minhas pautas, me dia e minha irritação.
Putinga, cidade subversiva, só perde em transgressão para Anta Gorda, município dos cachaceiros e daqueles que a todo custo tentam se livrar dos impostos federais. Bem feito para o Brasil que comprime o cidadão com tantos tributos. Há um nível de sinceridade em Putinga e Anta Gorda nunca visto antes em cidadãos brasileiros. São tão sinceros que chegam a comover. São tão sinceros que chegam a dizer que so roubariam pouco se tivesse no poder. Gente, isso é bom. Ninguém no poder rouba pouco. Só os putinguenses que corromperiam o mínimo possível, inclusive eu.
Pergunta-se a um cidadão de la: o que você acha de Putinga? Putinga é igual casco de cavalo, só cresce para baixo". Ah mas se é para colocar no jornal e se o prefeito está pagando, então bota coisa boa aí.
Putinga jamais viu o apocalipse com o meteorito, mas se valeu dele para se transformar em fenômeno. E quando Nona Pina era viva, foi personagem de muitas entrevistas. Agora, a cidade evadiu-se, os novos procuraram outros caminhos e os mais velhos revivem o passado. Quanto ao meteorito, um pedaço dele está guardado no cofre da prefeitura. E que alguém se atreva a roubá-lo, dio Madonna. Os putingueses, criados a polenta e a vinho, dão uma sova de laço. A Cinara principalmente, porca pipa.

Bombeiro que ganha R$ 1,5 mil/mês salva menina afogada


Em sete minutos, profissionais interceptam ambulância com criança em parada respiratória. Agilidade deu sobrevida até o hospital




Lajeado - Um bombeiro que recebe menos de três salários mínimos por mês conseguiu, ontem, obter uma das maiores gratificações de sua vida: salvar a vida de uma criança de 3 anos.
Com 45 anos de idade e duas décadas de profissão, Claudimir Santos dos Santos virou herói do dia da família Bairros. Seu senso de espírito salvou Cassiane Bairros da morte. A menina, com três anos, foi socorrida em plena rua.
Ontem de manhã, Cassiane caiu na piscina da casa de sua tia, em Arroio do Meio. “Foi num piscar de olhos”, disse a tia Nelci Bairros. A família, assustada, chamou a ambulância do município e, ao mesmo tempo, o Corpo de Bombeiros de Lajeado. A ambulância chegou antes e socorreu a menina. Quando acionado, o caminhão dos bombeiros fez o trajeto em sete minutos de Lajeado a Arroio do Meio. O veículo conseguiu parar a ambulância que carregava a menina ao hospital. Claudimir entrou em ação: deitou a menina sobre seus braços, verificou os sinais vitais e descobriu que a respiração estava parada. Com o boca-a-boca, Claudimir soprou ar para Cassiane. Foi esse procedimento que a fez sobreviver.
Cassiane regurgitou líquido e vomitou. Claudimir não parou. “No momento em que comecei a ventilar, ela soltou um chorinho. Fiquei aliviado.” O procedimento demorou cinco minutos.
A batalha ainda não estava ganha. A equipe dos bombeiros carregou a menina no veículo militar até o hospital. Só que durante o trajeto, ela teve outra parada. Em criança, os cuidados são redobrados, porque sentem mais dificuldade do que os adultos de voltar a respirar. Ela sofreu uma segunda parada porque suas vias estavam obstruídas e ela, desacordada. Claudimir a salvou novamente.
Cassiane foi encaminhada para a UTI do Hospital de Estrela. Ontem à tarde, a tia Nelci informou que ela estava fora de perigo. “Ela vai passar por um exame para ver se entrou água no pulmão.” Segundo Nelci, os pais Ivete e Jani Bairros estão agradecidos com a ação rápida dos bombeiros. A menina deve ir para casa ainda esta semana.

Trabalho em equipe
Claudimir mora em Rio Pardo, tem três filhos e 21 anos de profissão. Ontem, a cada meia hora, tentava obter informações da criança. Ainda não havia tido oportunidade de falar com os pais, pois a ação foi rápida e emergencial. Frisa que a salvação foi trabalho de equipe.
Tudo começou com a ligação recebida pelo sargento Jorge de Souza, às 9h32min. Às 9h33min, o caminhão se deslocava para Arroio do Meio com Claudimir, o motorista Eloir Pasch, que fez o veículo “voar”, e os soldados Laércio Beuren, Alan Rieth e Roger Luis Koelzer. Às 9h40min, chegaram ao local. Tanta rapidez foi necessária para salvar a criança. “Existe uma lei que diz que temos de respeitar os limites do trânsito. Mas primeiro temos de salvar a vida. Depois eu respondo pela velocidade”, disse Pasch.
Os bombeiros estão entre os profissionais mais confiáveis do Brasil. Seguem na liderança pelo terceiro ano consecutivo, segundo pesquisa do Ibope. A ação rápida da equipe de Lajeado reforça a credibilidade da pesquisa. No estudo, a instituição militar está à frente até das igrejas, só perde para a “família” e os “amigos”, que estão no topo dos mais confiáveis.

Vida de Facebook

Eu gosto tanto do que disse Nelson Rodrigues que acho ele tão lúcido quanto Schopenhauer. Ah mas ele me inebria e nao me faz ficar na zona de conforto. Quando acho que estou errada lutando contra o jornalismo morno, leio Rodrigues e fico como uma noiva em chamas. Oxalá, reviva Rodrigues na pele de Millôr ou de Scliar, mas todos morreram e agora Brasil?Quem será o morto rotativo na Academia Brasileira de Letras???

“AO CRETINO FUNDAMENTAL,NEM ÁGUA”

"Na vida,o importante é fracassar"

O amigo que é o nosso maior torcedor não é o maior coisa nenhuma, porque, ele próprio, não consegue se prender. Então,começa a fazer insinuações e etc…Como eu sinto, evidentemente, o nosso amigo, o inimigo, com a maior facilidade, então eu prefiro o inimigo”

Nelson Rodrigues eu te amo, Millor eu te amo, Chico Anisio, nem tanto!!



***Madre de Dios, eu chego em casa e vou ver meu querido Ferrero. Vejo ele enrolado num TERÇO..pergunto a Marianna o que houve: ela comeu e so deixou um pedacinho e disse que páscoa e Jesus tem tudo a ver com terço..Cristo!!!!

segunda-feira, 26 de março de 2012

A nau da gordinha desesperada!


Nunca me expus tanto em uma coluna pública, a não ser em meu blog, que tem menos abrangência do que Pitônicas. É uma “jogada” arriscada, mas de puro desespero. Agora são 8 horas da noite desta terça-feira. Estou chorando: 80% daqueles que lerem a crônica terão vontade de me esganar por achar meu terror de uma futilidade sem tamanho. Vinte por cento poderão me compreender. Titubeio em me expor tanto, mas escrever é se expor e talvez este seja meu divã - não clínico - mas público em que despejo minhas verdades com toques humorados que é para cair redondo na mente do meu camarada leitor. Descobri hoje que engordei seis quilos. Não sei quanto a balança apontou no total, virei os olhos. Ao ir ao médico, fiquei de costas para o ponteiro digital. O médico tomou o cuidado de não revelar o peso pois sabe que pode deflagrar minha latente depressão. Me fez fazer exame de sangue e no final me disse: “seis quilos”.



Foi um número acachapante. Uma verdade que você não quer ouvir. Subitamente, fiquei consciente de toda minha gordura. Eu senti uma bola de pilates na minha barriga. Eu sei que em vezes anteriores, quando escrevo isso, o sorriso e a ironia despontam como cruciais no texto. Mas agora não. O drama é inerente a mim. Minha teatralidade também. Normalmente lido na boa, escondendo minhas melancolias nas minhas próprias mise en scene. Todos somos em algum momento atores no palco da vida. Há uma trupe colada em nós, na nossa personalidade. Leio Arthur Schopenhauer para me conservar lúcida, mas humana, demasiada bípede, submerjo nas minhas futilidades: dar valor ao ponteiro da balança é a maior delas.
Eu sei que ninguém gosta de estar fora do peso. É normal. Anormal é sentir-me como eu. Há uma ojeriza, uma compulsão em sair de mim, me livrar desse corpo que me deixa esturricada no manequim 44. Deus, como vocês estão com nojo de mim. Tanta coisa para falar neste espaço: do aumento do número de vereadores, de animais abandonados, de crianças órfãs que precisam de ajuda. De mães desesperadas que perderam filhos em tragédias. De famílias que perderam tudo com incêndio. Dezenas de pessoas que fazem hemodiálise no Hospital Bruno Born e estão há anos na fila do transplante. Eu sei. Eu já fui na casa de todos eles, já lagrimei com cada uma dessas situações.
Mas por favor, eu peço que me deixem ser egoísta e falar hoje aqui de uma tristeza que eu não carregava há muito tempo. Escrever é se expor. E para mim é uma forma de desabafo. Eu preciso escrever para talvez, tomar uma atitude comigo mesma. Eu sou minha algoz. Dirão vocês: “fecha a boca, sua cretina, não exponha em praça pública o que você pode fazer na cozinha de sua casa.” A questão é essa: eu não quero emagrecer magicamente. Quer me controlar. Quanto mais persigo meu autocontrole, mais a autofagia me demora.
Um psicólogo americano,Roy Baumeister, atesta que o autocontrole é mais importante que a autoestima. Defende que o sucesso depende mais da capacidade da pessoa controlar seus impulsos, de adiar o prazer imediato em nome de um objetivo maior no longo prazo. Ele lançou livro chamado Willpower (Força de Vontade) , creio que ainda não está disponível no Brasil, mas em breve estará. Li entrevistas concedidas em revistas. Baumeister diz que a autoestima é mais uma consequência do que uma causa. O autocontrole ajuda as pessoas a serem mais bem sucedidas do que a autoestima. E segundo ele, a força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. “É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”
Entre a teoria e a prática, há muitos chocolates, sorvetes e batatas fritas bloqueando essa percepção científica. Há muito mais tentações no mundo moderno. É possível gastar, online, ir no shopping e consumir R$ 200 reais em orgia gastronômica, apenas porque você está irritado com seu chefe.. Temos uma quantidade razoável de força de vontade, mas se não a usarmos corretamente e de maneira efetiva, podemos nos tornar mais vulneráveis aos perigos.- A vida corre e, a todo momento, precisamos usar nossa força de vontade para mudá-la. Então, nobre cientista, como comer menos sem precisar de uma camisas de força? Ele recomenda, no caso da obesidade, se alimentar com saúde sem ganhar peso. Diz que a melhor forma para mudar um hábito é a repetição.
E se eu não conseguir comer a cenoura com regularidade? Se não conseguir acatar o compromisso comigo mesma?Um mês trancada num quarto austero, com água, verdura e atada ao pé da cama me dariam a fama de Ulisses, de a Odisseia. Ele se atou no mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias. Não confio em meu autocontrole, preciso de uma camisa de força. O doce canto do chocolate torna meu braço grosso como uma coxa. A nau de Ulisses chegou gloriosa a seu destino. A minha - nau de uma gordinha só – ruge desesperada presa a um manequim 44.

PS: hj, ao postar a crônica no O Informativo, recebi muitas mensagens de estímulo, inclusive de gente que sentiu o desespero do Indice de Massa Corporal e que me motivou a ir adiante. Grata, gente!

A educação das calçadas opostas



A educação da calçada ou a Calçada da Educação. A prefeitura inaugura um prédio histórico que revela provocações inusitadas. Todas positivas


Lajeado - Uma rua histórica marca a memória de gente que virou autoridade e revela o contrafluxo pitoresco existente na cidade. É a democracia da diversidade que convive lado a lado, cada qual seguindo seu curso. Um na calçada da instrução, outro na da sedução.
Ontem , com a inauguração do Prédio Histórico da Secretaria da Educação, o aspecto comportamental de Lajeado ficou evidente na Rua da Borges de Medeiros, uma via que armazena nas fendas dos paralelepípedos tantas vivências quanto calçados, sapatos ou desejos.
Um é o desejo da educação – que num prédio rebuscado com colunas em alto relevo e capitéis – garante a preservação da cultura e o aprendizado dos sete mil alunos que já estão aí e outros milhares que virão. O número 370 fica sendo agora o endereço do cabedal da instrução. Antigo e revigorado por fora, mantendo o patrimônio. Novo e revigorado por dentro, mantendo a funcionalidade. No gabinete da secretária Rejane Ewald, reproduções de obras de Monet e Rembrandt, réplicas que mencionam crianças e um certo ar “cult” de uma secretária que na infância, brincava no mesmo local, prédio e ambiente. “Quando eu olho para as paredes eu vejo as cortinas daquele tempo.” Em 1958, Rejane jamais sonharia que 54 anos depois, entraria ali como “comandante” da fragata da Educação.
No outro lado da rua, em frente, o prédio 342 é tão histórico quanto o da Educação. O que diferente é o comportamento, embora ambos façam parte da cultura da cidade. O prédio da Rodoviária Velha tem frontões decorativos e nas janelinhas dos sótãos, a imaginação leva o pedestre a pensar longe: o que se faz ali em cima?
A rodoviária já não existe mais, mas o nome permanece porque colou na mente dos que vem de fora. “Aqui é o lugar do colono”, informa o barbeiro Hilário Kremer que há 21 anos aprendeu a aparar barba, cabelo e bigode da clientela do interior.
“Quando eu tinha oito anos, vinha comer picolé na rodoviária”, expressa seu “Krema”, que inoculou o sotaque alemão. Hoje é espectador da vida que transcorre na calçada da Borges. Da sua barbearia, observa o movimento do prédio da Educação: equipe de apoio trabalhando infatigavelmente para os alunos do município.

Cada um no seu quadrado

Encostado ao seu ofício, o fluxo do ir e vir da Rodoviária Velha, um lugar de ônibus que virou bar. Mulheres – que talvez pela baixa instrução – ingressaram no comércio da vida, funcionam como chamariz para aposentados. “Muitos homens vem aqui por causa do banheiro, ficou perigoso utilizar os da Praça da Matriz.” Mas é a ala feminina quem dá a atratividade maior. Tudo funciona com um certo “acatamento”. ‘Aqui existe mais respeito do que em muitos bares.”.
Kremer defende o comércio confinado do corpo. “A prostituição fica dentro. Ninguém vê. Muito melhor do que se elas estivessem paradas nas esquinas.” Seu “Krema” é amigo de toda a gente da rua. Das prostitutas, comerciantes e educadores. E muitas vezes, vê passar pela sua porta outra personagem histórico da rua, o diácono Vitório Bohn, que mora numa casa octogenária. “Essa rua merece um carinho especial”, considera ele aprovando a ida da Secretaria da Educação para contrabalançar as calçadas.
No meio da rua - enquanto alunos tocam na flauta e no trompete o Hino Nacional da inauguração do prédio – Bohn sorri diante do contraste. Um prédio faz frente ao outro, mas como diz seu “Krema”, cada um está no seu quadrado.

Todas as histórias convergem



O prédio que abriga a trupe da Educação já foi banco e biblioteca pública. Está no inventário do Patrimônio Cultural da cidade, assim como o da frente, que já foi considerado uma escola isolada do município. Havia uma educadora muito “querida” na cidade, que dava aulas ali. Quando virou rodoviária, o perfil de clientela mudou. Os alunos migraram, os homens permaneceram. A Rodoviária Velha é ponto de referência na rua, pelas histórias reveladas e secretas.
A prefeita Carmen Regina teve um dos momentos de maior emoção ontem, quando quebrou o protocolo e chorou na inauguração. Carmen educou seus filhos na Borges de Medeiros. Definiu a reforma da estrutura como “um sonho ousado” e antes do discurso, fez um gesto simbólico: brincou de orquestrar os meninos da banda da Escola Francisco Oscar Karnal.
A Rua Borges de Medeiros não é uma encruzilhada. Talvez seja uma convergência de vidas e estilos. Numa quadra - a mais popular - há oito prédios históricos, uma escola, casa de música, barberaria, uma rodoviária que nem rodoviária é mais e a Secretaria da Educação. Um diácono bem humorado – Vitório Bohn - todos os dias passa por ali para ir a Igreja. Ele também é musico. Um barbeiro simpático – Hilário Kremer – fica por ali para abrir seu negócio. Não importa a calçada pelas quais as pessoas transitam, a reprodução do Modigliani no gabinete da secretária Rejane dá o tom da educação. Sincera, afável, culta. A fachada da Rodoviária Velha, com letreiro vermelho, garante o inóspito. É o recanto dos aposentados. Sincero, simples, popular. A educação converge por todas as histórias de vida.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pinçando minhas próprias frases

É sempre lamentável dizer adeus,
nem tanto pela despedida
quanto pelas pelancas embaixo do braço...



* Eu nao gosto de gente muito modesta. Se tu for modesto demais, nem demonstre isso pra mim, guarde isso para você. Eu sou inteligente. E não disfarço.Eu gosto de pessoas que sentem realmente como são, nem gosto de falsa modéstia. Se é bom, tem que falar sim. Tem gente que nao quer falar porque têm medo que a gente diga: "ah, tu vai me achar convencido"




Eu faço a contrapopaganda. Sério,,eu quero ver quem é o corajoso que me compra. Eu sou o capitão Nascimento de mim mesma. Eu digo: ah tu quer entrar na minha vida cara? Então pede prá sair. Só para ver a convicção dele em ficar. Não sei se isso tem funcionado. Porque eu TO SEM TROPA DE ELITE. Nao consigo recrutar ninguém




Nunca consegui não culpar uma pessoa que não erra nunca. São pessoas que eu visualizo como corredor de hospital. Sabem as paredes de um hospital, os quartos, os móveis, as cores? São clara, limpas, assépticas. Não tem nada fora do lugar, limpinhas, higiênicas. Não tem nada de ruim, nem de bom também. Pessoas-Hospital não incitam a ira na gente, nem a bondade, não despertam simpatia, simplesmente existem alheia à nossa vontade. A gente dá oi, faz um comentário sem realmente esperar a resposta dela, porque ela não nos conduz a nenhum pensamento. Oxalá conseguissemos simpatizar com o gosto do chuchu, que não tem caloria, mas nao tem gosto nenhum, fica dificil a gente ingerir, né!!!Pessoas asspéticas são tão limpinhas que nem fazem "cacas" na vida. Viver tem que ser perturbador e as pessoas tem que perturbarem a gente de alguma forma. Eu prefiro o gosto da pimenta ao do chuchu




É um saco ter obrigação de ser feliz, seja de qualquer jeito e a qualquer preço. Desde a infância somos assombrados com a possibilidade de não sermos felizes. A própria expectativa de ter que ser feliz de qualquer maneira ferra tudo. Eu também estou condicionada com essa cartilha da felicidade que nos fizeram engolir desde a pré-escola: trabalho, dinheiro, família, filhos e tal. "É tudo tão perfeito, se tudo fosse só isso. Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso"




Sou adepta do imperativo politicamente incorreto: "Na dúvida, ultrapasse". Entre ficar a ver a vida passar ou me lambuzar nela, opto por me besuntar nas vivências. Quero me emporcalhar de vida, lamber os beiços, seja de mel ou de fel





Penso que falo verdades em excesso, nem tudo tem que ser escancarado. Assumo aqui um "mea culpa". Arrependo-me em 89% das vezes dessa verborragia que sai de mim sem hesitação. Talvez porque quero incitar insconscientemente a franqueza alheia. Desejaria mesmo que as pessoas, em qualquer situação fossem sinceras comigo, só para perceber como reagiria a isso. Já lii de mim cobras e lagartos. É um tapa na cara, pelo menos você pode encará-la como um exercício de auto-conhecimento




Mas por que a gente se atrai pelos pegadores? Porque é bacana entrar na dança dos sedutores, eles são muito mais melosos e enfatizam muito mais tuas características legais do que os caras sérios, então a gente se sente especial, tendo a atenção de um homem assediado.
Temos a mania de idealizar os pegadores porque não dá tempo de vermos os defeitos deles. Eles somem antes.




O ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. Meia idade? Tá, sou dramática, pode me chamar de Maria do Bairro, a mexicana.




Eu entorno meu próprio caldo. Eu entro em pane, revés emocional.Pinço minhas urtigas sentimentais, eu sinto. Um palavrão bem afiado brada:: será que tu vai me vencer, sua vida de merda?A vida me unha a cara, me fere na virilha e me salpica sal nas feridas. Ando minada de mim.




Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada: quero ser magra
(eu)
A PÁSCOA NÃO MEXE TANTO COM A MINHA FÉ COMO QUANTO COM MEU CORPO: OVOS DE CHOCOLATE: DEZ SEGUNDOS NA BOCA, DEZ ANOS NO DERRIÉRE!!!





Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)

terça-feira, 13 de março de 2012

Essa guria toma sopa de garfo

Faz 20 anos que seu Oswaldo me conhece:2012 completa duas décadas da primeira vez em que eu o vi. Ele sempre me chamou de “guriazinha”. Até hoje diz assim, mesmo que eu esteja com 40 anos. Ainda quando eu era pirralha que saía de Garelli para fazer as páginas policiais do jornal, ele me falava: “tu toma sopa de garfo. Mas é bom que esse jornal tenha os loucos e os normais para ser equilibrado.” E assim eu fui assegurando meu lugar entre os insanos da redação


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Eu conheço o seu Oswaldo há três dias:pudera ainda não saber escrever seu sobrenome. É difícil de conhecê-lo porque ele tem tanta história e mesmo que seja transparente como uma tela branca, sempre tem mais coisas para saber. Seu Oswaldo é tela branca, não tabula rasa. Mas eis o motivo da crônica em plena semana do Dia da Mulher: é que seu Oswaldo é meu leitor. Como que isso não vai ser lisonjeiro, gente?Como?Quinta-feira, 9h da manhã. Sou chamada para ir na sala da direção. Repórter que vai na sala de Deus,sobe por três motivos: para cobrir as visitas que são numerosas; para reclamar de uma situação ou para levar uma carraspana. Eu só gosto de ir para fotografar as visitas. Quando não tem forasteiro no jornal e alguém me diz: “Pita, sobe no seu Oswaldo”, fico tensa. God, não fui eu.
Seu Oswaldo tem uma mesa longa do lado da sala principal. Ele se aboleta na cadeira e fala tanto quanto os visitantes. Tem sempre o costume de apresentar os repórteres aos convidados, mas nunca de um jeito formal: Este é fulano, da editorial de Geral. Jamais, fala assim. Seu Oswaldo foge do lugar-comum. Na quinta-feira, me apresentou assim: “esse é um bichinho que incomoda, mas eu a leio sempre, já de olho para saber o que vai falar de mim.” Em dado momento me diz: “Pita, um leitor tu tem e sou eu”. Eu me inflo de orgulho e para agradá-lo, mesmo sem ele saber, gostaria de escrever seu sobrenome certo. Mas não dá: invariavelmente olho no jornal o nomezinho holandês grifado. Aquele w junto com o “e” me deixa confusa e ele se irrita quando vê seu nome errado.
Duas coisas pecaminosas: escrever von Leeuwen equivocadamente e mascar chiclete. Deus é capaz de provocar um armagedon na redação. E ele acha que a gente não sabe que ele fica espiando pela janelinha da redação, observando se alguém está movimentando a boca sem falar. É praxe os veteranos advertirem aos jornalistas novatos: “está mascando chiclete, se o seu Oswaldo te pegar..” e a reprimenda paira no ar.
No ano passado, seu Oswaldo foi presentado com um iPhone. Morri de inveja. Subia e descia com a engenhoca pedindo para os guris viciados em tecnologia como se usava. Fuçou, fuçou e aprendeu. Com 83 anos, ele responde aos e-mails dos seus funcionários. Envia textos que acha interessante e dá uma lavada de modernidade nos octogenários comuns. Dia desses, explicou para um alfaiate mais novo que ele: “nós não damos cópias de fotos porque não fazemos mais revelação de filme. Só passamos por e-mail”. Eu vi que o senhor alfaiate não estava entendendo nada e me marcou sobremaneira o abismo entre os dois homens da mesma época. Um na era digital, outro na da máquina de escrever. E os dois de suma importância para a história do Vale: um fez a imprensa, outro se tornou personagem que saiu na imprensa.
Seu Oswaldo me surpreendeu porque na quinta-feira, pela primeira vez fiquei sabendo que o pai dele queria que ele fosse médico. Jamais quis trilhar a profissão do pai e partiu com 17 anos para fazer sua vida. Parece tudo tão distante para um homem que já fez kraf maga, uma arte marcial israelense com golpes rápidos e que foi ensinada aos militares. E como tudo é cíclico, o kraf maga do seu Oswaldo do século 19 retorna à cena, se popularizando apenas agora entre os brasileiros. Seu Oswaldo já sabia.
Afeito às ciências esotéricas, seu Oswaldo tem um pensamento poderoso. Ele sabe o poder da mente. E sai com cada frase engraçada. No Dia da Mulher, as funcionárias ganharam maquiagem. Era um entra e sai de mulherio na sala de reuniões que o chefe foi vistoriar. Ele disse: “não estou gostando nada disso”. O pessoal se preocupou: “Por que, seu Oswaldo”. Ele lasca: “como a turma meio-termo vai ficar?”A risada prevaleceu. Não cabe na frase preconceito. É senso de humor e de espírito. Eu penso que o seu Oswaldo é nosso Silvio Santos. Ele diz as coisas sem papas na língua e faz a política das portas abertas. Acolhe quem quer que seja na sua sala, vai tomar cafezinho no setor comercial e larga os jornais do dia na redação. Os repórteres sempre reclamam que ele recorta as notícias. Mas Deus, pode. Só não escrevam van Leeuwen com V maiúsculo. Ele periga dar um gole de krav maga em você. Só falta aderir ao Facebook. Ôôôôôô, seu Oswaldo vem aí!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Férias:” vada a bordo”

Depois de 20 dias de férias, algumas latas de brigadeiros a mais no meu derriére e a carteira vazia (já estava vazia quando eu entrei em férias), a labuta me chama. Se há algo produtivo fora da vida de viajar no gozo de suas folgas é ficar em casa praticando o “nadismo”. Refiz uma versão do ócio criativo preconizado pelo italiano Domenico Di Masi para o ócio privativo: exprime privação, afinal você não conta com dinheiro suficiente para uma relés viagem ao tão popular litoral norte (Jurerê então, nem sonhar). Mas é também privado porque é sua preguiça privê: individual, e você não tem que fazer nada para ninguém ver. Nada melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar comigo mesma. Quem nasce para Rita Lee continua deitando e rolando mesmo na prisão.

O estresse é a maior epidemia mundial e nessa vida tão alucinada, eu sou uma das mais estouradas e agitadas da redação. Faço par com o colega Rodrigo Nascimento. Os editores precisam controla, eles dizem: “ menos gente, bem menos.”
É que há uma obrigação interna nos dizendo: faça mais, faça mais. E a gente cai nesse ciclo infernal da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Resultado: viramos “bombados” psíquicos movidos a sertralina, fluoxetina, carbamazepina e outras “inas” vendidas nas farmácias. Saúde não se compra com aspirina. Lugar de ser feliz não é supermercado. Mas a fruteira do lado do jornal contribuiu para aumentar dois centímetros nos meus quadris. Sorvete, chocolate, televisão e coca zero sem nenhuma culpa.
Então, nessas últimas semanas, eu fiquei cansada de estar tão descansada. Chegava a trocar de ambiente só para fazer nada em outro espaço.
Assim, depois de cinco horas ininterruptas atirada no sofá da sala, mudava para o quarto e depois para a área, numa pobreza de espírito que dava dó de ver. O gaúcho Marcelo Bohrer vem propagando há alguns anos a filosofia do fazer nada. Montou até um projeto chamado Clube do Nadismo,que faz encontros mensais reunindo pessoas que não fazem nada. Sabe porque ser nadista virou façanha? Porque com tablet, smartphones e computadores é muito difícil passar 24 horas sem acessá-los. A gente se sente fora do mundo sem eles, embora não tenha sido esse o meu caso nessas férias. Acessei tudo, li, e ainda sobrou tempo para a preguiça e para aprender alguma coisa diferente todo o dia. Esse, aliás é um esforço que faço há tempo: aprender algo novo a cada 24 horas. Não é uma tarefa hercúlea. Pode ser uma palavra, uma dica, um livro, um nome. Pode ser até um palavrão. “Vada a bordo,cazzo”
Nestas férias, eu aprendi a voltar a infância. Passar um período com um bebê de dois anos te resgata o tempo perdido. Pedro, meu sobrinho, foi o benfeitor. Me atualizei com músicas e tendências: diga sem pensar quais são os nomes dos cinco backyardigans? Ah não sabe, na certa você está ainda no tempo dos Teletubbies. Vou te dar a real: os “backys” são muito mais legais. E eu sou a Uniqua, porque o Pedro é o Tayrone. Você está boiando? Ah, larga essa pasta de executivo em cima da mesa e volte ao prefácio de sua vida: infância. Ainda dá tempo: São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração. “Vada a bordo das férias, Cazzo”
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Se liga no Domenico di Masi
Para ser feliz no trabalho, é necessário transformar o trabalho em ócio criativo: isto é um mix de trabalho (para produzir riqueza), estudo (para produzir conhecimento)e jogo (para produzir alegria)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A privacidade pede invasão


Primeira aula de pós em jornalismo e todos os colegas conhecidos. O universo jornalístico regional é restrito, mas nao o virtual naquele que temos de trabalhar todo o tempo do curso.
Há boas surpresas em voltar a sala de aula após nove anos. Você reencontra o ambiente da academia, um cheiro de cultura e conhecimento no ar ficam tão impregnados quanto aqueles pasteis fritos que espalham o aroma após o intervalo.
A sala do pós de Macs - computadores que fizeram brilhar meus olhos. Me senti numa universidade dos Estados Unidos. Pode botar ai: Harward.
Fizemos uma experiência bacana nos catalogando e nos conhecendo através das redes sociais. Tiago me pegou e eu peguei o Tiago. No fim, nossas definições enveredaram para o lado psicológico, algo que eu sempre adoro, pq é o que mais fala, vive e palpita dentro de nos.
Então ai vai a leitura de Tiago sobre mim:

Vasculhando a vida da Pitta na i
nternet, descobri uma coisa que, na real, já sabia: ela possui grande interação com as redes sociais. No Facebook, publica, curte e compartilha cerca de três produtos diários. Muitas vezes, mistura assuntos relacionados ao Jornal O Informativo, com aspectos de sua vida particular. Num minuto, publica fotos suas - aliás, prática tradicionalíssima - e, no instante seguinte, divulga materiais informativos e variados. Utiliza, por vezes, o seu particular humor corrosivo, que diverte os amigos que não hesitam em curtir tudo aquilo que ela posta. Não há publicação que não possua pelo menos meia dúzia de comentários ou "likes", independentemente de a postagem ser uma foto sua na praia, ou uma foto da escola de samba do carnaval de Encantado - parte de sua cobertura de imprensa do final de semana. O que demonstra que ela não está solitária nas suas divagações.
No Twitter (@pittex), também possui grande frequência de postagens. Tem por hábito utilizar muitas fotos. Aliás, tem como pano de fundo fotos também suas. Lá, se descreve como jornalista e bipolar. Ácida, divertida e criativa ao mesmo tempo. No microblog publica links que remeterão para o Face e vice-versa, numa mistureba bacana que vai da cultura pop - com análises do Big Brother - até a utilidade pública ou mesmo avaliações políticas. Aliás, a sua grande participação faz com que outros sujeitos relacionados a rede também lembrem dela, citando-a, eventualmente em suas publicações. Caso da blogueira lajeadense Laura Peixoto, que fez breve post sobre ela no último mês de janeiro. A propósito dos blogs, a Pitta também possui um: pitonicas.blogspot.com. Lá se descreve como uma adulta bordejando em um mar de sensações. "Intensa nos meus pensamentos, extensa nos sentimentos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Extrovertida e criativa. Expansiva, italiana, estourada, passional. Visceral! Não gosto de nada que é raso, de água pela canela", afirma ela com o seu jeito muito particular, que deve ser não apenas aquele das redes sociais. Mas, provavelmente, também o da vida.


O QUE O FACE DISSE DELE
Tiago Cristino Barcelona

Tiago é mais novo do que eu um eito, 31 anos, mas como gosta do Barcelona, supoe-se que seja cosmpolita e tenha uma visão de diversidade, portanto ele não se importaria de travar um relacionamento com uma garota dez anos mais velha do que ele. `E claro que ele não faria isso, porque com a quantidade de fotos que ele tem da namorada, parece ser fiel e ter orgulho da Nataly. Com 243 amigos no Face, não preza pela quantidade e sim pela qualidade.
Tiago é um tipo low profile. Expoe raras fotos no facebook e dá valor a informação de trabalho. Atuas na rádio, gosta de esporte, mas não expoe muito seus gostos pessoas. Acho que temos um caso ai de evasão de privacidade em plena era da invasão. Não compartilha muita informação no Facebook e provavelmente é contra aquele tipo de envio de aplicação, como meu calendário e aqueles memes que todo mundo gosta de enviar tipo: se você ama sua mãe, compartilhe. Eu diria que Tiago é um introvertido virtual.
A Nataly é menos popular que o namorado, portanto é ele quem deve puxar a relação porque ela só tem 77 amigos. Ele então é a cara metade midiatizada e ibopizada. Nascida em São Paulo, revela que Tiago tem mesmo pendor comsmopolita.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Mulheres da cidade procuram Ricardões da loira



Há um ano travei contato com ela para uma matéria que repercutiu, mexeu com os brios e a moral da cidade. Desde então, Traudi - a Loira da Bicicleta - sempre me procura para pedir opiniões ou informações. Dar um oi.
Traudi virou a "amiga" estigmatizada, aquela que ninguem quer ter na frente dos outros, porque afinal, a prostituição apesar da demanda, sempre feriu os olhos da sociedade. A humanidade quer fazer tudo por trás, com o perdão do trocadilho
..hehehe. A Loira sempre lutou para conseguir seu dinheirinho, sempre mirrado, sempre correndo atrás da máquina. Colocou uma faixa no seu clube de uma loira só para atrair a clientela. Agora, já tem duas faixas, a sua e a da Malu, que achou um bom marketing e está fazendo propaganda da sua casa rosada. Propaganda a céu aberto divide as atenções, mas a Loira é movida pela novidade e agora traz outra a região: Clube de Ricardões.
Ela me conta que no seu seleto clube de homens, já tem selecionado 35 rapazes de 21 a 32 anos. "O mais velho tem 32". São universitários, executivos (será) e lutadores que encararam o desafio de trabalhar na Delirus por complemento de renda e prazer. Essas foram as duas justificativas ditas para a Loira na hora do cadastro. São homens de toda região que atende pelo nome de guerra - Mayco, Douglas e outros tantos similares.
Mas porque a loira foi me procurar? Ela não sabe como fazer um blog e precisa de um urgentemente. Há mulheres no pedaço exigindo avidamente por fotos dos homens. "Elas querem ver o produto antes de contratar." E a loira estás ansiada por colocar o bloco na rua. Em época de Carnaval, vai que a freguesia aumenta. A procura pelos Ricardões anda intensa e por todos os tipos e idades de mulheres. "Até as patricinhas". O blog vai virar a vitrine do negócio e porque não? Loira me conta que há tempo Lajeado precisava de uma agência de Ricardões, porque é uma cidade "sexual'. O povo gosta. E porque não? Essa é a pergunta que não quer calar. Baseada nela, Loira aproveita para se candidatar a vereadora em Lajeado. E porque não é justamente seu slogan. "Se médicos podem ser vereadores, porque não uma profissional do sexo". Me argumenta que política e prostituição são as profissões mais antigas do mundo. O político se prostitui e a prostituta faz política. Ela jura: não troca voto por sexo. Não agora...E os Ricardões, todos eles estão motorizados e atendem nas casas...


Foto: (Traudi diminuiu o ritmo da bicicleta, engordou um pouco ela reconhece e agora quer apostar no mercado de cybercafetina)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A voz de Paulo Francis

Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incumum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.

Concordo

Em cima do muro nao e o melhor lugar pra ficar. as vezes quem tenta se proteger em cima do muro, deve saber que é o local em que primeiramente a bala atinge. Eu penso também que o jornalismo imparcial é o medroso. Vc nao pode provar sua coragem com prudencia em demasia...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O meu pai entrou em depressão com a morte do Wando. É que ele descobriu que o cantor tinha 66 anos e o pai tem 67. Ele sempre fica assim, achando que a morte vem buscá-lo ..fica de butuca, escondido na esquina da vida!
Já se tornou obsessão. Sempre que alguém morre, ele não chora, pergunta a idade primeiro: depois desaba, igual criança.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O espírito do tempo!


Semana passada meu pai acordou contando: "essa noite eu chorei. Chorei e chorei. Porque eu me lembrei que eu tenho 67 anos e o tempo passa rápido demais". O tempo é um fantasma que o acossa cada vez que um amigo falece. Quando alguém morre, imediatamente ele pergunta a idade. Se o defunto tem 70 anos, em um piscar de olhos faz as contas: bah, só falta três para mim.
Eu rio dele. Mas é uma forma de compactuar com esse medo. Aos quatro anos, era uma menina tímida agarrada à mãe. Os olhos verdes e as bochechas salientes não se notam na foto preto e branco que minha mãe teve o capricho de fazer nos idos dos anos 1970 com a ajuda de um profissional. Trinta e dois anos depois, coloco uma colagem com as imagens de minha filha Marianna, misturada às minhas. O tempo passou também para ela que está com 12 anos e eu tenho saudades não apenas do meu tempo de quatro anos, mas do tempo dela, aos quatro. Eliane Brum disse que aos 40 é inadiável a compreensão de que não dá para ter tudo. Escolher é ganhar e perder, ao mesmo tempo. Ou, sendo mais precisa, talvez ganhar, com certeza perder. Grande parte dos meus sonhos eu deixei para trás, outros eu refiz e em algumas partes eu me acomodei, talvez tenha cansado de combater o Bom Combate. Talvez tenha dado uma nova roupagem ao meu Bom Combate ou ele tenha sido remanejado para a vida da minha filha, coisa que eu não quero de forma alguma fazer. Cada ser humano tem o direito de ter os seus próprios sonhos e o dever de cair do cavalo quantas vezes for preciso.
O que sempre tivemos, em qualquer idade, é uma vida: limitada, imperfeita, mortal. E quando eu rio de meu pai, eu admito que seu temor é o temor de todos nós. Mas ele fala. Talvez com 70, eu também venha a falar, se chegar lá. E com 70, eu vou estar fazendo colagens com minhas fotos de 40 e dizer: como eu era feliz e não sabia. O tempo sempre torna o passado perfeito porque a gente idealiza as lembranças. O tempo faz a gente olhar as fotos e se achar meigos, lindos, magros, com a tez cheia de viço. O tempo faz a gente ter saudades de como vivia e sentia no passado, quando nem naquele tempo passado a gente sentia isso. 

Aos 15 anos, eu pensei que estaria na Rede Globo aos 30, sendo a bambambam do Globo Repórter quando chegasse aos 30. Foi um choque enorme descobrir que eu era apenas uma mãe comum, dirigindo um  Corsa 1995. Não dá mais tempo de eu ser a versão feminina do Caco Barcellos e nem de substituir a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional.  Mas dá para ir se acomodando com alguns valores que vão sendo anexados em sua vida: você já não almeja mais morar no Rio de Janeiro e nem aquela história de ser a melhor do país. Essas vaidades da juventude passam, não que não seja bom tê-las. Mas o tempo te faz perceber que outras coisas estão me jogo: uma certa maturidade, um certo des-espero e você aprende a não esperar o sucesso absoluto, o amor perfeito, o ibope alto. E você percebe que será assim também com sua fillha: eu chorava pelo RPM, ela chora pelos Rebeldes. Acho bobo hoje, essa tietagem obsessiva, mas não falo nada a ela, embora fique aflita com tanta comoção. Vai passar e por isso hoje faço questão de tirar fotos dela, embora ela não goste. Sei que quando tiver 40 anos, vai relembrar de o quanto a adolescência era doce. Ou rebelde.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Troque seu voto por um político decente


Nunca me interessei por política. Erro crasso na minha educação, ainda mais que enveredei para o jornalismo e sendo assim, não poderia titubear em aprender mais sobre essa arte que surgiu na Grécia e foi pensada pelos filósofos que vagavam pelas polis (cidade-estado). Mas nunca me esquivei de votar genuinamente. Voto mesmo, sem anular o meu direito. Embora muitas vezes tenha acreditado que o candidato não honrou minha confiança. Creio que cada brasileiro já se sentiu assim, nessa pátria de marajás e reis da maracutaia.
Nas eleições presidenciais,  me propus a pensar e ouvir os presidenciáveis, atentar para os candidatos ao governo estadual e saber das ideias dos postulantes a Assembleia. Em muitas noites fui fiel ao horário eleitoral. E nos debates na televisão, detectei a ironia de Plínio Sampaio. Fui uma telespectadora atenta de sua lingua ferina. Parecia ele uma metralhadora giratória, dando tiro para tudo quanto era lado. Mas tenho em mim que o melhor não foi exposto nos palanques. O ouro que reluzia estava ali, no anonimato, no meio da multidão, à porta da plebe.Seiva embrutecida pela lida do trabalho, vi homens duros, espadaúdos, figurar em propagandas do Serra, Dilma e Marina respondendo a indagação pontual de que o candidato iria melhorar sua vida. Mesmo sendo propaganda, mesmo que eles tivessem sido pagos, vi a vontade de que a realidade fosse essa: Meu Deus, tenha piedade do povo e fazei com que ele faça realmente tudo isso que está professando.  Nessa pátria tupiniquim, temos nova chance agora neste ano, queremos eleger caciques honrosos. Vamos olhar um pouco para os postulantes para não chiar depois.
Os deputados recebem  R$ 26 mil de salário. O povo é pacífico, tépido até. Ninguém enceta uma inssureição contra os malandros do Congresso.  Tem um vídeo circulando nas redes sociais que mostra a diferença entre  a Suécia e o Brasil.
*** Na Suécia, prefeitos e governadores não têm direito a residência oficial. Deputados estaduais e vereadores não recebem sequer salário e também não têm direito  em  gabinete: trabalham de casa.

*** Farras aéreas não costumam fazer parte do noticiário político, já que nenhum deputado tem direito a cota de passagens. Todos os voos devem ser marcados na agência de viagens do Parlamento. Além disso, políticos suecos também não têm impunidade garantida pelo cargo. O país não oferece imunidade a seus políticos.

*** Quando a gente pensa na Suécia, imaginamos um mar de luxo para os políticos de lá. Afinal, o país é rico e bem desenvolvido. Talvez seja pela postura dos politicos que atingiu este patamar: deputados federais dormem em apartamento de 40 metros quadrados, sem máquina de lavar roupa e em um único cômodo.  São apartamentos funcionais.
*** Os gabinetes são simples, eles não tem assessores e nem motoristas. Livre de privilégios, eles conseguiram a excelência sueca.
*** No Brasil -  Cada um dos 513 deputados federais possui 60 mil - verba mensal para gastar com material de escritório e pagar até 25 assessores parlamentares. Os deputados federais brasileiros estão entre os que podem contratar mais gente.
*** Ele tem mais 15 mil de verba indenizatória - É para gastos com gasolina, comida, hospedagem, aluguel de escritório (sim, além dos que eles têm no Congresso) e consultorias – sendo que consultoria pode ser qualquer coisa que os deputados decidirem chamar de consultoria
*** Além do 13º, há mais dois salários extras no início e no fim do ano legislativo, para dar uma força. UM deputado nosso custa portanto cerca de R$ 100 mil reais.

Não é cedo para desejar bom voto a todo mundo. Por mais alheios que somos e somos alheios, há ainda eleitores estandartes da cidadania. E só por eles, vale a pena votar bem.  "Alea jacta est"