É minha gente, há exatamente uma semana do Dia dos Pais, vivo um domingo emblemático de uma forma ultranegativa. Tive uma briga homérica com minha filha de 12 anos que envolveu ofensas, tapas e socos. Não consigo ser uma mãe de alta performance, como ensina Içami Tiba. Não consigo ter performance nenhuma nessa seara materno-infernal a que cada pai fica submetido assim que o espermatozóide fecuda o óculo. Depois disso, sai do útero o espermatozoide vencedor. Esse espermatozoide cresce com síndrome de poder e na adolescência acha que é rei. Que pode contestar, confrontar e empunhar a crença de que ele é ele. E ele é tudo que importa. Do utero para a sociedade, existe uma longa caminhada que tem que ser policiada por nós, provedores. A questão é que é phodas, que me desculpem os educadores politicamente corretos. Um cachorro dá menos trabalho e abana o rabo sempre que a gente chega em casa, o adolescente se tranca no quarto e não abre a porta nem que o raio o parta porque está em suas instalações como se estivesse deitado em sua cama de dossel, como se batalhasse e ganhasse ordenado para ter essa vida principesca regada a tecnologia (TV, internet, celular com mp3) e sonhando com seu netbook que vai sair o meu salário.Com toda essa dependência do provedor, ele se acha o tal. A adolescência é uma fase muito cara de pau mesmo.
A briga dominical iniciou porque percebi que ela havia feito um furo no seu pijama top de linha. O buraco era para enfiar o polegar, uma moda customizada inspirada creio eu, na tal Roberta Messi da novelinha idiota Rebelde. Indignada, indaguei-a o porquê do ato. Com a jactância de uma adolescente segura de si, ela disse que ela faz o que quer, que não está errada e que gostou do visual. Cobras e lagartos foram ditos. Nos pegamos nos tapas. Ela me mordeu, eu mordi também. Fomos para os cabelos e a briga só parou com a intervenção dos avós. Não se educa a base de bordoada e isso ela me deixou claro: "Tu vai ser presa e vai morrer na cadeia e eu vou dançar em cima do teu caixão."
Começou a guerra verbal: chamei-a de menininha. Ela me chamou de putinha. E lascou uma frase retirada de novelas de adolescentes: "eu não tenho respeito por ti, só tenho medo. So respeito quem eu admiro".
Quando a gente é adolescente, a gente acha que vai ganhar o embate com essas frases de efeito, que são bonitas e parecem bem articuladas. Cresça e apareça. Por ora, ter medo está bom. Medo implica em fazer a lei vigente do território ao qual ela está instalada. Logo, medo quer dizer não furar pijamas caros (nem os baratos)
Içami Tiba diz que é preciso aplicar em casa a cidadania familiar. Nome bonito que soa como um projeto possível. Mas é tudo tão complicado, muito mais do que os sem-filhos imaginam. Todo mundo diz que o diálogo é a solução. Tiba diz: as crianças estão cansadas de ouvir.Muitas vezes nem prestam atenção na hora da bronca, não há educação nesse momento. É preciso impor a obrigação de que o filho faça, isso cria a noção de que ele tem que participar da vida comunitária chamada família. O filho não pode fazer em casa o que não se faz lá fora na sociedade. Não posso deixar ela furar a blusa, assim como não posso deixar que ela coloque fogo em latas de lixo em atos de vandalismo. Provedor não é amigo. Se o mundo é meritocrata, os pais devem ser também: Ganha-se destaque por alguma coisa que a pessoa fez; se não mereceu, logo o destaque se perde. Dar a mesma coisa para o filho que acertou e para o que errou não é bom para nenhum dos dois. É preciso ser justo.O pai não pode sustentar e não receber um retorno. É como se ele comprasse uma mercadoria e não a recebesse. Não dá para fazer a criança retroceder e voltar a ser um espermatozóide. É preciso engolir os filhos com tudo o que tem de bom ou de ruim. Eu percebi que assim como a família, a escola, a TV também deseduca. As frases feitas, os bordões da novelinha, tudo incrustrado no comportamento da minha filha, porque ela quer ser Rebelde.
A televisão inventa moda, quem paga o pato são os pais. E seu porventura eu querer ser a Rebelde, o Conselho Tutelar me detona a vida. Socorro, quem quer volta a ser espermatozoide sou eu.
****
Nós queremos que nossos filhos tenham prazer sem responsabilidade. Por isso eles são irresponsáveis na busca deste prazer. E o que é uma droga, senão uma maneira fácil de se ganhar prazer? A pessoa não precisa fazer nada, apenas ingeri-la. Nós educamos os filhos para que eles usem drogas. Se ele tiver que preservar a saúde dele, pensa duas vezes.
Pai não pode dar tudo e não controlar a vida do filho. Quando digo controle, quero dizer que o pai deve fazer com que o filho corresponda às expectativas, que o filho faça o que precisa ser feito. Um filho não pode deixar de escovar os dentes ou de estudar e o pai não pode deixar isso passar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário