Apesar do regozijo dos brasileiros, da polícia e dos governos ante a reconquista do Rio, face ao desmantelamento do tráfico, sei não. SEI NÃO. Parece que há algo iminente que ainda não foi visto. Uma espécie de emboscada por parte dos bandidos. Foi tudo desarticulado tão facilmente, foi tudo conquistado tão às pressas. Me parece que os traficantes estão incubando alguma mega ideia maldosa, para fazer os policiais voltarem aos seus lugares. E mortos.
Percival Puggina resumiu bem a coisa toda: "No fundo, cá entre nós, muita gente fugindo e quase ninguém sendo preso. Bastante fumaça e pouco resultado para os riscos da operação. Me fez lembrar a diferença entre o espanador e o aspirador de pó. O poder público agia como espanador, mas a situação estava a exigir um aspirador. Os bandidos simplesmente mudavam-se de um lugar para outro, qual poeira sacudida, levando suas armas e suas bagagens. De mala e cuia, como se diz no Rio Grande do Sul."
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
O poder de Marianna

Ela é a cena principal da minha vida. Há três anos, entrevistei-a pela primeira vez e agora faço um remake com minha filha, desta vez mais amadurecida, mas ainda assim menina. Marianna Rabaiolli tem agora 11 anos e aprendeu a desvendar as belezas da vida, gosta de dar gargalhadas com as amigas e a colocar todos os papos em dia no computador. É a típica geração Z, aquela que nasceu em berço digital e transita no cosmos virtual com uma facilidade dificil de ser aprendida pelos mais velhos. Ligada em televisão e vampiros, pura influência da saga Crepúsculo, Nanna mantém a energia de quem tem um futuro pela frente. Um futuro estreitamente ligado ao seu estado de espírito.
Mãe - O que você mais gosta em você
Marianna - Eu acho que é minha felicidade. Sou extrovertida. Dificil eu ter momentos tristes. As minhas amigas e a minha família riem comigo. Talvez seja genética, mas não tua.
Mãe - Você nunca é triste?
Marianna - Sim. Isso sim, as pessoas precisam da tristeza às vezes. Mas talvez não seja bem tristeza, seja mal-estar. Nenhuma pessoa é de ferro ou tem o coração de pedra. As vezes elas choram sozinhas, porque na frente dos outros querem mostrar que são fortes.
Mãe - Qual a tua maior força?
Marianna - É mesmo a felicidade. Quando eu rio, me reergo
Mãe - O que você menos gosta nas pessoas?
Marianna - Eu não gosto de pessoas quietas. Elas dizem que são santinhas, mas são diabólicas. Elas pensam mais do que falam.
Mãe - Qual teu maior defeito?
Marianna - Ser feliz demais não é muito bom. Assim como ser triste demais não é bom também.
Mãe - Qual o dom da natureza que tu gostaria de ter?
Marianna - Eu gostaria de controlar a água, pois é um dos maiores bens da natureza.
Mãe - Qual teu maior desejo?
Marianna - Ter asas. Seria bonito ver o mundo lá de cima, mas sem avião, só com asas.
Mãe - O que o futuro te reserva?
Marianna - Talvez o poder. Mas o poder de curar, ser médica. Talvez seja essa minha missão na Terra.
sexta-feira, 19 de novembro de 2010
Caco, farejador de verdades
Quando chego perto de meus raros ícones, consigo entender as tietes. Com a diferença de que não persigo a luz dos holofotes, mas me vergo perante o bom e decente jornalismo, que sim, está na luz dos spots. Um homem mais baixo do que aparenta no vídeo, mas o carisma é maior ao vivo. Caco Barcellos, (60), um homem de legião. Legião de fãs e focas, todos querendo ficar sob seu escudo no Profissão Repórter. Um homem de guerras: 20 ao todo e até aqui. Um homem com vergonha na cara. Um regozijo ouvir suas lições de valor.
Mas um prazer contraditório. Na platéia, sinto privilégio por ter a chance de beber de sua fonte. Mas também se opoe o contrário. Fico ciente do disprivilégio de so poder ouvi-lo durante um punhado de minutos. Não estou entre os eleitos de ser súdita de seus ensinamentos. Isso me come pela beiradas. Tanto conhecimento que eu não vou aprender. Posso ver pela tevê, não sou autoditada para assimilar seu metodo pela tela.
Mas vê-lo reforçou minha admiração. Com voz centrada, exala dele não uma tranquilidade, mas uma paz espiritual. A paz de um discurso de quem encontrou seu dever de ofício: perseguir verdades. A paz de quem não fraqueja diante de pessoas não honestas. A paz de quem está consciente da força da ação coletiva. "Da noite para o dia, o fraco vira forte." Esse é o lema que o precede para lutar contra aqueles a quem chama de coronéis. A paz de quem possui a informação. "A Informação é a grande aliada para enfrentar situações de risco."
Caco enuncia o que lhe fez bom repórter:
Vergonha na cara
"Um homem de valor tem que ter vergonha na cara". Essa vergonha tem que ser forte para combater verdades insidiosas.
"Eu não dou ordem como gestor, eu dou exemplo"
"O corrupto contestado pela pessoa certa perde sua força."
"Há uma lei oficiosa presente nas redações. A crença de quem com magistrado não se deve mexer. Mas eu estou na profissão onde as pessoas devem por dever de ofício, perseguir verdades"
"Procuro jovens idealistas; inquietos intelectualmente e que estejam atentos às histórias dos outros."
"A diferença do repórter para a pessoa comum é que a gente vê primeiro. A gente testemunha a alegria ou o sofrimento dos outros."
"A polícia brasileira é a mais matadora do mundo As notícias dizem que o ladrão é sempre o culpado: bandidos trocam tiros e morrem no revide. Mas o problema é que a Tropa de Elite é matadora em série. Mata mais inocentes do que criminosos, e sobretudo, negros."
"Que policia é essa que age arbitrariamente e de forma nojenta com os mais fracos e é generosa com os mais fortes?"
"Os maiores matadores do Brasil somos nós os trabalhadores corretos: 55% das mortes é praticada pela fechada no trânsito, pelo cara com ciumes da mulher, pelo profissional liberal. O risco de morte é altissimo se você brigar com seu vizinho. Mas 45% das mortes é praticada pela Tropa de Elite e so 3% dos assassinatos são feitos por assaltantes no Brasil."
Mas um prazer contraditório. Na platéia, sinto privilégio por ter a chance de beber de sua fonte. Mas também se opoe o contrário. Fico ciente do disprivilégio de so poder ouvi-lo durante um punhado de minutos. Não estou entre os eleitos de ser súdita de seus ensinamentos. Isso me come pela beiradas. Tanto conhecimento que eu não vou aprender. Posso ver pela tevê, não sou autoditada para assimilar seu metodo pela tela.
Mas vê-lo reforçou minha admiração. Com voz centrada, exala dele não uma tranquilidade, mas uma paz espiritual. A paz de um discurso de quem encontrou seu dever de ofício: perseguir verdades. A paz de quem não fraqueja diante de pessoas não honestas. A paz de quem está consciente da força da ação coletiva. "Da noite para o dia, o fraco vira forte." Esse é o lema que o precede para lutar contra aqueles a quem chama de coronéis. A paz de quem possui a informação. "A Informação é a grande aliada para enfrentar situações de risco."
Caco enuncia o que lhe fez bom repórter:
Vergonha na cara
"Um homem de valor tem que ter vergonha na cara". Essa vergonha tem que ser forte para combater verdades insidiosas.
"Eu não dou ordem como gestor, eu dou exemplo"
"O corrupto contestado pela pessoa certa perde sua força."
"Há uma lei oficiosa presente nas redações. A crença de quem com magistrado não se deve mexer. Mas eu estou na profissão onde as pessoas devem por dever de ofício, perseguir verdades"
"Procuro jovens idealistas; inquietos intelectualmente e que estejam atentos às histórias dos outros."
"A diferença do repórter para a pessoa comum é que a gente vê primeiro. A gente testemunha a alegria ou o sofrimento dos outros."
"A polícia brasileira é a mais matadora do mundo As notícias dizem que o ladrão é sempre o culpado: bandidos trocam tiros e morrem no revide. Mas o problema é que a Tropa de Elite é matadora em série. Mata mais inocentes do que criminosos, e sobretudo, negros."
"Que policia é essa que age arbitrariamente e de forma nojenta com os mais fracos e é generosa com os mais fortes?"
"Os maiores matadores do Brasil somos nós os trabalhadores corretos: 55% das mortes é praticada pela fechada no trânsito, pelo cara com ciumes da mulher, pelo profissional liberal. O risco de morte é altissimo se você brigar com seu vizinho. Mas 45% das mortes é praticada pela Tropa de Elite e so 3% dos assassinatos são feitos por assaltantes no Brasil."
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Monteiro Lobato sem televisão
Os heróis e os vilões da televisão figuram no mundo infantil como o melhor entretenimento depois da bola de futebol. E não há menino ou menina que não corra para casa após a aula, para ficar em frente à telinha. Televisão, unanimidade da garotada. Uma janela para o mundo que o “moleque” Luan Pereira Fiegenbaum não vê. Aos 10 anos, ele não tem ideia da trama que envolve desenhos como Dragon Boll Z e Bob Esponja e nem o divertido Pica-Pau. Televisão, para ele, só no lar do vizinho. Por isso, enveredou para a literatura. Que sorte.
Luan frequenta a 4ª série da Escola Estadual Santo Antônio (antigo Ciep) e é dali que tira gás para ser aprendiz de escritor. Dedicado nas aulas, se esforça para incorporar as lições de Português porque um dia e se “Deus quiser”, como diria a avó Irizondina Pereira Teixeira, vai ter o privilégio de ser mestre. “Eu quero ser professor de qualquer coisa”, conta o menino, sem se dar conta de que seu comportamento por si só já é uma lição. Mas o seu futuro pode ser mais promissor.
O “pequeno homem das letras” começou a escrever um livro. A data do início está lá, no prefácio do caderno grande, esperando as folhas serem preenchidas: 27 de outubro. Em duas semanas de labor, Luan redigiu com sofreguidão - a lápis, que é para apagar com facilidade se as ideias não estiverem bem elaboradas. Já está no sexto capítulo. São narrativas que brotam de sua cabeça. “São histórias diferentes, tem até viagem no tempo”, expõe orgulhoso. O caderno tem ainda muitas páginas para serem rabiscadas e, pelo jeito, ele vai dar conta do recado rapidinho. “O livro é algo para passar o tempo”, salienta o garoto. A avó, uma evangélica fervorosa, contrapõe. “Não é só por isso não, é que ele gosta de ler e escrever.” Sim, de fato Luan gosta do riscado. Ele se baseia nos contos de Monteiro Lobato para criar suas próprias ficções. Lê livros de História e Geografia para se inteirar de nomes de países e mares e incrementar as aventuras, que têm caçadas, episódios perigosos e se passam em locais diferentes.
Sala de aula
O caderno-livro de Luan provocou reação em sala de aula. E está levando colegas a assimilarem o gosto pela literatura. Alguns se prontificaram em ser os ilustradores da obra, que será encadernada para integrar o acervo da biblioteca. Assim, os estudantes do colégio podem ler. A professora Márcia Weiler faz a revisão ortográfica de cada capítulo. “Ele não tem muitos erros e possui um vocabulário rico para sua idade.” Cada etapa finalizada é lida em sala de aula. Os colegas brincam, predizendo o futuro do principiante: “Luan, eu vou querer um autógrafo”.
Nada de TV
Dona Irizondina cria o neto nos rígidos preceitos cristãos. A televisão é algo abominado dentro de casa. “A TV ensina muitas coisas que não são boas. Se até gente grande tem que saber se controlar em frente a ela, imagina uma criança”, conta a senhora de 64 anos e de compleição franzina, mas com um semblante vigoroso, que alguém interpretaria como “brava”. Luan a entrega: “às vezes ela é braba sim”. Mas a postura radical da avó está servindo para moldar um pré-escritor, que chama a atenção dos professores pela desenvoltura na obra manuscrita. A avó participa de cultos evangélicos há 30 anos e tentou criar os três filhos na doutrina, mas, desgarrados, tomaram outro rumo no mundo. Com o neto, quer que seja diferente. Para ela, o mundo real não é aquele que passa na tela. É aquele que ela cria dentro da casa de madeira simplória, de três ambientes e com duas ou três ripas do chão arrebentadas. Ali, tem uma poltrona judiada. É onde Luan senta para viajar na sua epopéia literária.
Luan frequenta a 4ª série da Escola Estadual Santo Antônio (antigo Ciep) e é dali que tira gás para ser aprendiz de escritor. Dedicado nas aulas, se esforça para incorporar as lições de Português porque um dia e se “Deus quiser”, como diria a avó Irizondina Pereira Teixeira, vai ter o privilégio de ser mestre. “Eu quero ser professor de qualquer coisa”, conta o menino, sem se dar conta de que seu comportamento por si só já é uma lição. Mas o seu futuro pode ser mais promissor.
O “pequeno homem das letras” começou a escrever um livro. A data do início está lá, no prefácio do caderno grande, esperando as folhas serem preenchidas: 27 de outubro. Em duas semanas de labor, Luan redigiu com sofreguidão - a lápis, que é para apagar com facilidade se as ideias não estiverem bem elaboradas. Já está no sexto capítulo. São narrativas que brotam de sua cabeça. “São histórias diferentes, tem até viagem no tempo”, expõe orgulhoso. O caderno tem ainda muitas páginas para serem rabiscadas e, pelo jeito, ele vai dar conta do recado rapidinho. “O livro é algo para passar o tempo”, salienta o garoto. A avó, uma evangélica fervorosa, contrapõe. “Não é só por isso não, é que ele gosta de ler e escrever.” Sim, de fato Luan gosta do riscado. Ele se baseia nos contos de Monteiro Lobato para criar suas próprias ficções. Lê livros de História e Geografia para se inteirar de nomes de países e mares e incrementar as aventuras, que têm caçadas, episódios perigosos e se passam em locais diferentes.
Sala de aula
O caderno-livro de Luan provocou reação em sala de aula. E está levando colegas a assimilarem o gosto pela literatura. Alguns se prontificaram em ser os ilustradores da obra, que será encadernada para integrar o acervo da biblioteca. Assim, os estudantes do colégio podem ler. A professora Márcia Weiler faz a revisão ortográfica de cada capítulo. “Ele não tem muitos erros e possui um vocabulário rico para sua idade.” Cada etapa finalizada é lida em sala de aula. Os colegas brincam, predizendo o futuro do principiante: “Luan, eu vou querer um autógrafo”.
Nada de TV
Dona Irizondina cria o neto nos rígidos preceitos cristãos. A televisão é algo abominado dentro de casa. “A TV ensina muitas coisas que não são boas. Se até gente grande tem que saber se controlar em frente a ela, imagina uma criança”, conta a senhora de 64 anos e de compleição franzina, mas com um semblante vigoroso, que alguém interpretaria como “brava”. Luan a entrega: “às vezes ela é braba sim”. Mas a postura radical da avó está servindo para moldar um pré-escritor, que chama a atenção dos professores pela desenvoltura na obra manuscrita. A avó participa de cultos evangélicos há 30 anos e tentou criar os três filhos na doutrina, mas, desgarrados, tomaram outro rumo no mundo. Com o neto, quer que seja diferente. Para ela, o mundo real não é aquele que passa na tela. É aquele que ela cria dentro da casa de madeira simplória, de três ambientes e com duas ou três ripas do chão arrebentadas. Ali, tem uma poltrona judiada. É onde Luan senta para viajar na sua epopéia literária.
sábado, 13 de novembro de 2010
Chupando as emoções fictícias
Ironia das ironias. Caiu para eu fazer uma matéria sobre felicidade. E eu adorei. Dizem que a gente ensina o que mais precisa aprender. Então me pus fervorosamente a ler tudo sobre o assunto.Na verdade, já lia. Na ânsia de buscar a minha, sempre me interessei por livros científicos que abordassem o tema. (Me recuso a ler auto-ajuda). O meu título de cabeceira é um que versa sobre neurociências e como a felicidade age no cérebro.
Mas bem... lá fui eu pesquisar com psiquiatra o que leva o lajeadense a ter um índice de felicidade de 96,7%. Cruzes, tudo isso, sim. Até o médico achou um dado assustadoramente feliz. E lembrou que aqui estão os maiores índices de suicidio do país. Então é assim: desesperados e eufóricos parecem que fizeram de Lajeado seu reduto. Que cidade cosmopolita sentimentalmente.
No decorrer da matéria, lembrei de um estudo que aponta que as pessoas felizes têm mais vida ativa. As infelizes, pelo contrário, se grudam na frente da televisão. Hehehe. O chapeu serviu para mim. Ultimamente (e isso faz uns bons meses) dei para me aboletar em frente à telinha e de lá não saio no fim de semana. A noite, o lugar da cama ao lado da minha filha é cadeira cativa. La estou eu me reportando ao Araguaia torcendo para o Solano ganhar do Max. Ás 19h, em Ti Ti Ti, compactuo com as peripécias de Victor Valentin, para botar o Lecler no chinelo. E em Passione.."figurati", lá estou eu compadecida do Mauro, que perdeu a Diana por causa da Milena. Se você se identificou com todos esses nomes, meus pêsames meu amigo de rating (aquilo que se chama audiência de um programa), tu és um oligofrênico entrando no pique da globo.Igualzinho a mim.
Eu bolei uma explicação à la Freud. Sim, porque nem tudo está perdido nesse meu cérebro “blondie”. Eu leio também e tenho de fazer disso um recurso intelectual. Acredito eu que tenha me apoderando das emoções da televisão para suprir minha própria carência de emoções. Eu roubo a variação de espírito dos personagens dos folhetins para emprestar a minha existência um pouco de adrenalina, já que sufoquei vida social e amorosa. Não estou me fazendo de vítima e nem reclamado. Só um relato lúcido do que eu acho que ocorre com pessoas que assistem muita televisão. Elas se apoderam de sentimentos alheios fictícios para carregar pouco de gás em suas existências. Um subterfúgio para tornar suas vidas mais interessantes. Não passa de uma ilusão, óbvio, mas engana e serve para tapar o sol com a peneira. Mas, que sol cara pálida se a pessoa está sempre enfurnada na sala ou no quarto?
Em texto publicado na revista "Scientific American", pesquisadores afirmaram que participantes de um estudo disseram-lhes que a televisão chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados, com mais dificuldade em se concentrar. Outra curiosa constatação: quanto mais tempo as pessoas passam diante da televisão, menos satisfação elas conseguem obter. Típico de gente infeliz. Por isso que a gente gosta tanto de beliscar quanto está vendo alguma programação. Se come a insatisfação enquanto torcemos para o mocinho. Que coisa mais "schifosa". Está na hora de deixar "Passione" de lado e colocar mais passione na vida. Dio Santo, figurati.
Na ponta da antena: Se você assiste à televisão por cerca de três horas por dia, quando chegar aos 75 anos, terá gastado nove anos inteiros da vida vendo TV.
Mas bem... lá fui eu pesquisar com psiquiatra o que leva o lajeadense a ter um índice de felicidade de 96,7%. Cruzes, tudo isso, sim. Até o médico achou um dado assustadoramente feliz. E lembrou que aqui estão os maiores índices de suicidio do país. Então é assim: desesperados e eufóricos parecem que fizeram de Lajeado seu reduto. Que cidade cosmopolita sentimentalmente.
No decorrer da matéria, lembrei de um estudo que aponta que as pessoas felizes têm mais vida ativa. As infelizes, pelo contrário, se grudam na frente da televisão. Hehehe. O chapeu serviu para mim. Ultimamente (e isso faz uns bons meses) dei para me aboletar em frente à telinha e de lá não saio no fim de semana. A noite, o lugar da cama ao lado da minha filha é cadeira cativa. La estou eu me reportando ao Araguaia torcendo para o Solano ganhar do Max. Ás 19h, em Ti Ti Ti, compactuo com as peripécias de Victor Valentin, para botar o Lecler no chinelo. E em Passione.."figurati", lá estou eu compadecida do Mauro, que perdeu a Diana por causa da Milena. Se você se identificou com todos esses nomes, meus pêsames meu amigo de rating (aquilo que se chama audiência de um programa), tu és um oligofrênico entrando no pique da globo.Igualzinho a mim.
Eu bolei uma explicação à la Freud. Sim, porque nem tudo está perdido nesse meu cérebro “blondie”. Eu leio também e tenho de fazer disso um recurso intelectual. Acredito eu que tenha me apoderando das emoções da televisão para suprir minha própria carência de emoções. Eu roubo a variação de espírito dos personagens dos folhetins para emprestar a minha existência um pouco de adrenalina, já que sufoquei vida social e amorosa. Não estou me fazendo de vítima e nem reclamado. Só um relato lúcido do que eu acho que ocorre com pessoas que assistem muita televisão. Elas se apoderam de sentimentos alheios fictícios para carregar pouco de gás em suas existências. Um subterfúgio para tornar suas vidas mais interessantes. Não passa de uma ilusão, óbvio, mas engana e serve para tapar o sol com a peneira. Mas, que sol cara pálida se a pessoa está sempre enfurnada na sala ou no quarto?
Em texto publicado na revista "Scientific American", pesquisadores afirmaram que participantes de um estudo disseram-lhes que a televisão chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados, com mais dificuldade em se concentrar. Outra curiosa constatação: quanto mais tempo as pessoas passam diante da televisão, menos satisfação elas conseguem obter. Típico de gente infeliz. Por isso que a gente gosta tanto de beliscar quanto está vendo alguma programação. Se come a insatisfação enquanto torcemos para o mocinho. Que coisa mais "schifosa". Está na hora de deixar "Passione" de lado e colocar mais passione na vida. Dio Santo, figurati.
Na ponta da antena: Se você assiste à televisão por cerca de três horas por dia, quando chegar aos 75 anos, terá gastado nove anos inteiros da vida vendo TV.
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
A pedra
O distraído nela tropeçou.
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já, David matou Golias.
Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura.
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!
(Tem autoria, mas não lembro)
O bruto a usou como projétil.
O empreendedor, usando-a, construiu.
O camponês, cansado da lida, dela fez assento.
Para meninos, foi brinquedo.
Drummond a poetizou.
Já, David matou Golias.
Michelangelo extraiu-lhe a mais bela escultura.
E em todos esses casos, a diferença não esteve na pedra, mas no homem!
(Tem autoria, mas não lembro)
sexta-feira, 22 de outubro de 2010
O tempo mastiga
Uma vez por ano, a mão brasileira dos governantes tem a audácia de mexer no tempo. Como se fosse A Mão Que Tudo Fez. Como se os ponteiros do relógio pudessem pontificar a hora certa para sairmos para a rua, recebermos a claridade do sol. Ah, se bastasse um ajuste dos ponteiros para ficarmos quites com o relógio biológico. Ah, se conseguíssemos domar a areia da ampulheta. Aproveito o horário de verão para pensar por metáforas, hábito com o qual me deleito antes, durante e depois de qualquer hora, pois o tempo, de fato não tem horário. É só uma convenção humana para distribuir melhor as tarefas na rotina cotidiana. Assim, fatiamos o tempo em partes infinitesimais de modo que um piloto de fórmula 1 possa se tornar consagrado por ter sido dois milésimos de segundo mais rápido do que o segundo colocado. Ou ainda, de modo que a cada três meses as estações do ano possam se renovar, num ato improvisado da natureza. O filósofo André Comte-Sponville, que é justamente por causa do que torna a natureza sempre nova que ela só inova raramente."Porque o que dura ou se repete só ocorre mudando, e nada começa que não deva acabar.” Lindo.
O jornalista gaúcho Nei Duclós sentencia que o tempo é a metáfora do mundo quando se comporta como um pêndulo. E eu vivencio a duras penas que, conforme o pêndulo balança, nos tornamos mais velhos. Começamos a morrer logo que nascemos e só nos damos conta da brevidade da vida após os 40 anos. Quem sabe a idade do lobo também seja a idade da consciência do tempo. Foi na definição de Jostein Gaarder, lendo O Dia do Curinga, que me encaixei com o tempo, senhor que engole todas as nossas dores e aplaina as feridas: “ O tempo mastiga, mastiga e somos nós quem estamos no meio dos seus dentes.” Mas vejam bem, o ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. E no final das contas, se tem algo com o qual concordo, é com o legendário Raul Seixas: o Universo me espanta e não posso imaginar que esse relógio exista e não tenha um relojoeiro.” Em todo caso, ajuste seu relógio com o horário brasileiro de verão e dê uma olhada na sua conta de luz: ela deve vir mais baixa, porque até fevereiro, vc vai ajudar o Brasil a economizar 5% da energia. Mas não poupe energia na sua vida.
O jornalista gaúcho Nei Duclós sentencia que o tempo é a metáfora do mundo quando se comporta como um pêndulo. E eu vivencio a duras penas que, conforme o pêndulo balança, nos tornamos mais velhos. Começamos a morrer logo que nascemos e só nos damos conta da brevidade da vida após os 40 anos. Quem sabe a idade do lobo também seja a idade da consciência do tempo. Foi na definição de Jostein Gaarder, lendo O Dia do Curinga, que me encaixei com o tempo, senhor que engole todas as nossas dores e aplaina as feridas: “ O tempo mastiga, mastiga e somos nós quem estamos no meio dos seus dentes.” Mas vejam bem, o ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. E no final das contas, se tem algo com o qual concordo, é com o legendário Raul Seixas: o Universo me espanta e não posso imaginar que esse relógio exista e não tenha um relojoeiro.” Em todo caso, ajuste seu relógio com o horário brasileiro de verão e dê uma olhada na sua conta de luz: ela deve vir mais baixa, porque até fevereiro, vc vai ajudar o Brasil a economizar 5% da energia. Mas não poupe energia na sua vida.
domingo, 17 de outubro de 2010
Solve et Coagula
Aos 15 anos me apaixonei pelos alquimistas e isso durou uns cinco anos, enquanto eu estava entretida em desvendar os antigos mistérios. As meninas da minha idade adoravam as revistas Cláudia e Contigo. Eu não, me absorvia nas leituras de um escritor e ocultista chamado Eliphas Levi, nada tão profundo obviamente, mas o suficiente para eu entender e ficar cativada. Assim, travei contato com o mundo de Hermes Trismegisto, um dos fundadores da ciência hermética, do ocultismo e da alquimia. Não tenho grande sabedoria em assunto nenhum, mas nutro curiosidade por muitos e assim, no alvorecer da juventude, me tornei uma diletante do esoterismo na época. Tenho até hoje um livro que comprei e paguei caro , o I Ching, o considero uma verdadeira joia. Por um tempo tentei jogá-lo, sem sucesso. Depois, o li sem o tomar por oráculo e sua sabedoria é mesmo deslumbrante. Mas bem, vamos falar dos alquimistas homens que, na Idade Média, passavam a vida em seus laboratórios rudimentares buscando transformar metal em ouro, na ânsia pela Pedra Filosofal que lhes daria a eternidade, seria o elixir da longa vida. Os alquimistas eram homens transformadores. Queriam modificar em laboratório o que a natureza demoraria milhões de anos para conseguir. Usando água, fogo e fornos eles passavam a vida tentando transmutar chumbo em ouro. A pedra filosofal seria o diamante, a rocha indestrutível, o eterno. Eis o que acabava ocorrendo com eles. ao passar anos observando as transformações nos metais, eles percebiam uma modificação neles mesmos. Era a alma que se convertia de metal bruto a uma fina jóia. É esta a metáfora da ciência esotérica antiga, crivada de simbolismos muito bem exploradas nos livros de Dan Brow.
Para os alquimistas, antes da luz, é preciso vir o caos. (Nietzsche também diz isso). Porque para você dar lugar a um novo eu, precisa desconstruir o anterior. Os psiquiatras, para o paciente novato alertam-no de que ele pode piorar nas próximas semanas. É que antes de você melhorar, ficará de cara com seu abismo. É a noite escura da alma, mas a luz nasce da escuridão. Os alquimistas prestavam atenção na alma do mundo, uma alma que contrai e expande, tal qual o coração. Suas operações em laboratórios estão calcadas em cima da frase "Solve et Coagula", dissolve e coagula, ou dissolve e una. Eles dissolviam material não nobre e uniam a outros materiais para chegar ao ouro. E neste processo conseguiam transformações empíricas. Quando decidimos procurar um psiquiatra, é isso que estamos procurando: essa transformação. Nossa pedra filosofal seria a lapidação da nossa alma. Todos somos alquimistas no sentido de dissolver o negrume da alma e condensar nossa essência em algo mais espiritualizado. O psiquiatra Carl Jung estudou os simbolismos da alquimia porque percebeu que entre esses cientistas medievais e a sociedade moderna existe muito mais do que possa supor nossa vã filosofia. Tudo é uma coisa só neste mundão de Deus, tudo está interligado. "Assim em cima como embaixo", disse Hermes Trismegisto.
Para os alquimistas, antes da luz, é preciso vir o caos. (Nietzsche também diz isso). Porque para você dar lugar a um novo eu, precisa desconstruir o anterior. Os psiquiatras, para o paciente novato alertam-no de que ele pode piorar nas próximas semanas. É que antes de você melhorar, ficará de cara com seu abismo. É a noite escura da alma, mas a luz nasce da escuridão. Os alquimistas prestavam atenção na alma do mundo, uma alma que contrai e expande, tal qual o coração. Suas operações em laboratórios estão calcadas em cima da frase "Solve et Coagula", dissolve e coagula, ou dissolve e una. Eles dissolviam material não nobre e uniam a outros materiais para chegar ao ouro. E neste processo conseguiam transformações empíricas. Quando decidimos procurar um psiquiatra, é isso que estamos procurando: essa transformação. Nossa pedra filosofal seria a lapidação da nossa alma. Todos somos alquimistas no sentido de dissolver o negrume da alma e condensar nossa essência em algo mais espiritualizado. O psiquiatra Carl Jung estudou os simbolismos da alquimia porque percebeu que entre esses cientistas medievais e a sociedade moderna existe muito mais do que possa supor nossa vã filosofia. Tudo é uma coisa só neste mundão de Deus, tudo está interligado. "Assim em cima como embaixo", disse Hermes Trismegisto.
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
O buraco de nossas vidas
Acabou, acabou. Emergem os 33 mineiros enterrados durante dois meses no deserto do Atacama. Adentraram 700 metros na terra e viveram como animaizinhos durante longos 69 dias. A cobertura foi um espetáculo midiático, embora eu não condene isso. Creio que,graças a mídia, o governo chileno tratou de acelerar as condições para o resgate. Tecnologia de ponta, familiares em volta dando apoio e uma profusão de repórteres querendo fazer bonito na pauta de suas vidas. Só para ter uma ideia de como os mineiros suplantaram outras notícias, em 26 milésimos de segundos o Onipresente Google registra aproximadamente dez milhões de páginas com a palavra "mineiros". Ao virem à tona, eles pediram "não nos tratem como artistas". Impossível, a busca por uma exclusiva era tanta que jornais teriam oferecidos 32 mil euros em troca de declarações. Reflito cá com meus botões: 32 mil mais 10 mil dólares ofertados a cada um por um magnata grego, eu também enfrentaria o buraco. Se bem que é fácil pensar que enfrentaríamos tragédias quando estamos ao final delas.
A mina de Copiapó virou o legítimo BBB da Sobrevivência. Mais de dois mil jornalistas se entrincheiraram para dar a matéria. Esse foi o verdadeiro reallity da vida real. Confinados nas entranhas da terra, as vítimas não faziam ideia do que rolava na superfície: até criança nasceu. Uma mulher deu à luz no pulsante acampamento Esperança. O papai estava lá embaixo, esperando por SOS.
Quando o resgate efetivamente começou, um deles saiu do buraco para entrar numa gelada. Foi recepcionado pela amante. A genuína ficou sabendo e deu o ultimato: "ou ela, ou eu". Que papelão, de vítima, virou safado nas telinhas do planeta. Mas em se tratando de homem, a infidelidade não surpreende, mesmo para quem passa a vida cavando debaixo da terra.
De certa forma, todos somos mineiros: estamos ai, querendo extrair da vida o melhor dela e num belo dia de sol, somos condenados a escuridão. Comemos poeira para sobreviver, damos duro para conseguir qualidade no estudo e um trabalho que nos torne gente. Fazemos o PIB do país aumentar, mas estamos relegados a uma condição social que não orgulha nem nossa mãe. Os "herois" chilenos, enfrentaram um apagão temporário e por milagre da tecnologia conseguiram sair ilesos, talvez com algumas escoriações psiquícas, mas nada que o tempo não trate de apaziguar. No buraco da vida real, não tem imprensa para recepcionar a gente e nem para fazer convites milionários de entrevistas. Os finais não são tão felizes como esse que assistimos. E eu digo com experiência de repórter que nunca foi para o Atacama: os jornalistas são a encarnação dos mineiros. Estão sempre cavando pautas e com o salário que ganham, vivem no buraco. Ou soterrados em trabalho, sem esperança de serem resgatados. Ossos do ofício.
PS: O número 33 foi tantas vezes exposto no incidente do Chile: 33 foram os homens e 33 o número de dias para completar o processo de perfuração do túnel. Existe uma mística envolvendo o algarismo. Desde a antiguidade o numero 33 vem sendo explorado pelas sociedades secretas.Na maçonaria, este é o mais alto grau. Quem o atinge é chamado de "Soberano Grande Inspetor Geral". Seria o maçom guardião.
No ocultismo, o 33 é considerado um número-mestre e representa a mais alta consciência espiritual a que um homem pode atingir.
A mina de Copiapó virou o legítimo BBB da Sobrevivência. Mais de dois mil jornalistas se entrincheiraram para dar a matéria. Esse foi o verdadeiro reallity da vida real. Confinados nas entranhas da terra, as vítimas não faziam ideia do que rolava na superfície: até criança nasceu. Uma mulher deu à luz no pulsante acampamento Esperança. O papai estava lá embaixo, esperando por SOS.
Quando o resgate efetivamente começou, um deles saiu do buraco para entrar numa gelada. Foi recepcionado pela amante. A genuína ficou sabendo e deu o ultimato: "ou ela, ou eu". Que papelão, de vítima, virou safado nas telinhas do planeta. Mas em se tratando de homem, a infidelidade não surpreende, mesmo para quem passa a vida cavando debaixo da terra.
De certa forma, todos somos mineiros: estamos ai, querendo extrair da vida o melhor dela e num belo dia de sol, somos condenados a escuridão. Comemos poeira para sobreviver, damos duro para conseguir qualidade no estudo e um trabalho que nos torne gente. Fazemos o PIB do país aumentar, mas estamos relegados a uma condição social que não orgulha nem nossa mãe. Os "herois" chilenos, enfrentaram um apagão temporário e por milagre da tecnologia conseguiram sair ilesos, talvez com algumas escoriações psiquícas, mas nada que o tempo não trate de apaziguar. No buraco da vida real, não tem imprensa para recepcionar a gente e nem para fazer convites milionários de entrevistas. Os finais não são tão felizes como esse que assistimos. E eu digo com experiência de repórter que nunca foi para o Atacama: os jornalistas são a encarnação dos mineiros. Estão sempre cavando pautas e com o salário que ganham, vivem no buraco. Ou soterrados em trabalho, sem esperança de serem resgatados. Ossos do ofício.
PS: O número 33 foi tantas vezes exposto no incidente do Chile: 33 foram os homens e 33 o número de dias para completar o processo de perfuração do túnel. Existe uma mística envolvendo o algarismo. Desde a antiguidade o numero 33 vem sendo explorado pelas sociedades secretas.Na maçonaria, este é o mais alto grau. Quem o atinge é chamado de "Soberano Grande Inspetor Geral". Seria o maçom guardião.
No ocultismo, o 33 é considerado um número-mestre e representa a mais alta consciência espiritual a que um homem pode atingir.
Scrap de orkut
A teoria do Mazza
E aí beleza????????? (bem criativa a minha frase. né?). E o "né" é uma necessidade de autoafirmação. Algo tipo assim, "concorde comigo". A expressão "tipo assim" é bem pós-moderna. E nada mais antigo que uma palavra pósmoderna. Algo tipo assim: o cachorro mordendo o próprio rabo, entendeu?
A citação ao bicho pode provocar uma crise. Humanos observam nos bichos algo que os ligam. Procure-se. Talvez você tenha sido uma girafa em vidas passadas. Imagine você ter sido um rinoceronte em Coqueiro Baixo. Ou um dinossauro em Linha Charqueadas, interior de Putinga. Aí veio um meteorito e acabou com tudo. Aí você renasce em Lajeado, e para parar de sofrer vota no Mozart !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A resposta para o Mazza
Hehehehehe, eu me fino de rir com tuas teorias audodidatas. Mas concordo com elas. Cavei o meu bicho. Sou uma onça pintada perdida nas grutas e cavernas que estão dentro de mim. Abro a guela e tiro o grito da felina que ruge e assombra o Vale do Taquari. Nasci das grotas de Putinga, mas vim parar em Lajeado nessa metrópole que tu escolheu para tecer teus ferinos comentários e que os bandidos escolheram para dilatar a população de encarceirados. Um dia, o Mozart, quando acabar de fazer o prolongamento da Benjamin Constant, se candidata a chefe da cidade. E tu vai deixar os cabelos da Carmen em paz e fazer dele a tua catarse.
E aí beleza????????? (bem criativa a minha frase. né?). E o "né" é uma necessidade de autoafirmação. Algo tipo assim, "concorde comigo". A expressão "tipo assim" é bem pós-moderna. E nada mais antigo que uma palavra pósmoderna. Algo tipo assim: o cachorro mordendo o próprio rabo, entendeu?
A citação ao bicho pode provocar uma crise. Humanos observam nos bichos algo que os ligam. Procure-se. Talvez você tenha sido uma girafa em vidas passadas. Imagine você ter sido um rinoceronte em Coqueiro Baixo. Ou um dinossauro em Linha Charqueadas, interior de Putinga. Aí veio um meteorito e acabou com tudo. Aí você renasce em Lajeado, e para parar de sofrer vota no Mozart !!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
A resposta para o Mazza
Hehehehehe, eu me fino de rir com tuas teorias audodidatas. Mas concordo com elas. Cavei o meu bicho. Sou uma onça pintada perdida nas grutas e cavernas que estão dentro de mim. Abro a guela e tiro o grito da felina que ruge e assombra o Vale do Taquari. Nasci das grotas de Putinga, mas vim parar em Lajeado nessa metrópole que tu escolheu para tecer teus ferinos comentários e que os bandidos escolheram para dilatar a população de encarceirados. Um dia, o Mozart, quando acabar de fazer o prolongamento da Benjamin Constant, se candidata a chefe da cidade. E tu vai deixar os cabelos da Carmen em paz e fazer dele a tua catarse.
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
Um milionário no quintal
Me deleitei fazendo a matéria do novo milionário da Mega Sena que é de São José do Herval,a 70 quilômetros de Lajeado. O sortudo é amigo de meus pais, os quais não tardaram em tecer elogios ao dito cujo. "Gente Fina", frisou minha mãe, ao lembrar que o felizardo também gostava de jogar no bicho. Ultimamente, o dono de um dos únicos frigoríficos do pequeno e pobre município, estava atolado em dívidas, não conseguia nem pagar os funcionários. Mas isso são águas passadas e o povoado ficou em polvorosa com a notícia. A família do empresário é numerosa e todos estão cautelosos, pois receiam assédio e ladrões. O milionário tem uma personalidade expansiva, gosta de envolver-se em política e foi um dos que lutou pela emancipação da cidade, mas jamais conseguiu eleger-se prefeito. Agora ele pode comprar a cidade muitas vezes pois a bolada que ganhou, R$ 119 milhões é 17 vezes maior que o orçamento do município. A sorte chegou ao quintal do Vale do Taquari. Quem sabe um dia toque a campainha da minha casa. E nem precisa ser R$ 119 milhões, R$ 1 mi estaria louco de bom.
Em 2007, um jornalista de Rondônia faturou sozinho o prêmio acumulado de R$ 18 milhões. Para jornalista ficar milionário, só assim mesmo. Colegas, não desanimeis, a esperança é a última que morre, mesmo que o milagre seja difícil de ser realizado.
*** Em tempo: a possibilidade de ganhar na Mega Sena com aposta simples é de uma em 50 milhões. Com essa probabilidade, uma pessoa assídua, que faz duas apostas por semana, poderia levar desanimadores 481 mil anos para tirar a sorte grande. É possível comparar a chance de ganhar com o arremesso de uma moeda, que precisa cair 22 vezes seguidas do mesmo lado.É quase impossível, mas acreditar faz parte do jogo. É, o titio hervalense que levou a bolada com certeza é um espermatozóide vencedor.
*** Mas, para os azarados de plantão, uma boa notícia. Depois de uma pesquisa com mil pessoas, psicólogo inglês garante que é possível desenvolver a sorte a partir de um padrão de atitudes positivas na vida. Ele disse que há quatro "princípios da sorte" e quem segui-los ficará mais sortudo.
- pessoas com sorte agarram as oportunidades
- dão valor a intuição e escutam os bons pressentimentos
- ter atitudes positivas é uma boa sacada. Quem acredita que tudo vai dar certo é mais confiante e sorridente. Logo, a sorte sorri para os simpáticos
- Ter uma visão otimista. Uma coisa ruim poderia ser pior. É bom aprender com os erros
PS: precisava pesquisa para saber disso? De forma tácita, sempre soubemos que otimismo e bom humor são trevo de quatro folhas.
Em 2007, um jornalista de Rondônia faturou sozinho o prêmio acumulado de R$ 18 milhões. Para jornalista ficar milionário, só assim mesmo. Colegas, não desanimeis, a esperança é a última que morre, mesmo que o milagre seja difícil de ser realizado.
*** Em tempo: a possibilidade de ganhar na Mega Sena com aposta simples é de uma em 50 milhões. Com essa probabilidade, uma pessoa assídua, que faz duas apostas por semana, poderia levar desanimadores 481 mil anos para tirar a sorte grande. É possível comparar a chance de ganhar com o arremesso de uma moeda, que precisa cair 22 vezes seguidas do mesmo lado.É quase impossível, mas acreditar faz parte do jogo. É, o titio hervalense que levou a bolada com certeza é um espermatozóide vencedor.
*** Mas, para os azarados de plantão, uma boa notícia. Depois de uma pesquisa com mil pessoas, psicólogo inglês garante que é possível desenvolver a sorte a partir de um padrão de atitudes positivas na vida. Ele disse que há quatro "princípios da sorte" e quem segui-los ficará mais sortudo.
- pessoas com sorte agarram as oportunidades
- dão valor a intuição e escutam os bons pressentimentos
- ter atitudes positivas é uma boa sacada. Quem acredita que tudo vai dar certo é mais confiante e sorridente. Logo, a sorte sorri para os simpáticos
- Ter uma visão otimista. Uma coisa ruim poderia ser pior. É bom aprender com os erros
PS: precisava pesquisa para saber disso? De forma tácita, sempre soubemos que otimismo e bom humor são trevo de quatro folhas.
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
O ponto de onde é possivel ver todos os outros pontos do Universo
Muita gente que conheço irá me recriminar ou pelo menos achará estranho. Eu..lendo Paulo Coelho?Sim, sempre li. Isso não é novidade para mim. Bebia das palavras desse autor ainda quando ele se transmutava de canção e compunha com o mestre Raul Seixas, roqueiro que acho bárbaro, um gigante das letras musicais. Com 15 anos li O Alquimista e transcendi todas as experiências literárias apreciando a obra. Foi a partir desse livro que comecei a me interessar por almas, lenda pessoal, filosofia oriental, Hermes Trimegistro e agora pelo "aleph". Depois de passar pelo alquimista, Diário de Um Mago, Brida e O Monte Cinco, achei que Coelho não teria mais nada a me ensinar. Andou fazendo algumas obras as quais não me comoveram. Sentia falta da alma tão bem retratada nos seus títulos iniciais. Então, o homem que virou mago com a popularidade, mas também penou na mão de muitos críticos que o rechaçavam, marca a volta às origens com O Aleph. Uma simples pesquisa na internet serviu para eu me apaixonar pelo tema mesmo sem ler o exemplar. Sou deslumbrada pelas forças invisíveis e admiro todas as pessoas que empreendem uma luta pela busca espiritual.
O Aleph tem muitos sentidos: No estudo dos alfabetos vamos ver que o aleph ou alef, é a primeira letra de vários sistemas de escritas, como o alif do alfabeto árabe e o aleph do alfabeto fenício. O aleph fenício deu origem ao alpha grego, significando a consoante “a” . Do alpha veio o A latino e o A cirílico.
A origem do nome aleph é o desenho de um touro, ou aluf em hebraico antigo. Normalmente simboliza o começo de algo. Não possui sonorização e é utilizada apenas para indicar uma vogal sem acompanhamento de uma consoante. Na crença da Cabala o Alef tem seu papel fundamental em toda a mistica.
Um dos sentidos mais intrigantes é aquele dado pelo escritor argentino Jorge Luis Borges – autor de um conto chamado O Aleph – para quem a palavra significa o ponto de onde é possível se ver todos os outros pontos do universo.A experiência do Aleph é uma espécie de transe e pode ocorrer nos locais mais inusitados. Segundo Paulo Coelho, o seu mergulho no aleph se deu em um vagão de trem quando cruzava a Russia pela transiberiana. O aleph pode surgir ao acaso, como quando você está andando em uma rua e de repente percebe que o Universo inteiro está ali. Você sente que está compreendendo algo, mesmo que não consegue explicar sequer para si mesmo. Duas pessoas com grande afinidade podem se encontrar em um grande aleph.
O aleph é uma experiência surreal e eu sou fascinada por realidades que fogem do convencional. Em matemática, o aleph é "número que contém todos os números". Matemáticos usam o aleph como uma referência para o número cardinal que define o infinito. Encontrei uma explicação considerando que o aleph é um número transfinito, isto é, maior todos números finitos, mas ainda não necessariamente um infinito absoluto. Quem mergulha no aleph pode ver reprisadas na alma todas as cenas do mundo. E como Borges exalta: vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph e no Aleph a terra, vi o meu rosto e as minhas vísceras, vi o teu rosto e senti vertigem e chorei, porque os meus olhos tinham visto esse objecto secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo”.
O Aleph tem muitos sentidos: No estudo dos alfabetos vamos ver que o aleph ou alef, é a primeira letra de vários sistemas de escritas, como o alif do alfabeto árabe e o aleph do alfabeto fenício. O aleph fenício deu origem ao alpha grego, significando a consoante “a” . Do alpha veio o A latino e o A cirílico.
A origem do nome aleph é o desenho de um touro, ou aluf em hebraico antigo. Normalmente simboliza o começo de algo. Não possui sonorização e é utilizada apenas para indicar uma vogal sem acompanhamento de uma consoante. Na crença da Cabala o Alef tem seu papel fundamental em toda a mistica.
Um dos sentidos mais intrigantes é aquele dado pelo escritor argentino Jorge Luis Borges – autor de um conto chamado O Aleph – para quem a palavra significa o ponto de onde é possível se ver todos os outros pontos do universo.A experiência do Aleph é uma espécie de transe e pode ocorrer nos locais mais inusitados. Segundo Paulo Coelho, o seu mergulho no aleph se deu em um vagão de trem quando cruzava a Russia pela transiberiana. O aleph pode surgir ao acaso, como quando você está andando em uma rua e de repente percebe que o Universo inteiro está ali. Você sente que está compreendendo algo, mesmo que não consegue explicar sequer para si mesmo. Duas pessoas com grande afinidade podem se encontrar em um grande aleph.
O aleph é uma experiência surreal e eu sou fascinada por realidades que fogem do convencional. Em matemática, o aleph é "número que contém todos os números". Matemáticos usam o aleph como uma referência para o número cardinal que define o infinito. Encontrei uma explicação considerando que o aleph é um número transfinito, isto é, maior todos números finitos, mas ainda não necessariamente um infinito absoluto. Quem mergulha no aleph pode ver reprisadas na alma todas as cenas do mundo. E como Borges exalta: vi a engrenagem do amor e a modificação da morte, vi o Aleph, de todos os pontos, vi no Aleph a terra, e na terra outra vez o Aleph e no Aleph a terra, vi o meu rosto e as minhas vísceras, vi o teu rosto e senti vertigem e chorei, porque os meus olhos tinham visto esse objecto secreto e conjectural cujo nome os homens usurpam, mas que nenhum homem olhou: o inconcebível universo”.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Sábio refrão
Tudo é uma questão de manter
A mente quieta,
A espinha ereta
E o coração tranqüilo
(Walter Franco)
A mente quieta,
A espinha ereta
E o coração tranqüilo
(Walter Franco)
200 fajutos dias
Duzentos. Esses são os dias da educação no ano. E manifestam os que entendem do metier, que essa jornada deveria ser respeitada dentro do ano letivo. Eu acho isso um embuste e fico ofensamente indignada com a falta de aulas de minha filha. Enquanto ela chega contente, toda faceira que "amanhã não vai ter aula, mãe", eu subo as paredes. No segundo semestre, as folgas são ainda mais impressionantes. É sempre aquele papinho: "mãe, hoje não tem aula porque tem intersérie" ou "mãe, hoje não tem aula porque tem conselho de classe" e assim por sucessivas ocasiões. Veja só neste neste episódio. No dia da interséries choveu, mas os alunos se ausentaram da aula. Então a escola teve de remarcar outra data para os jogos (que contam como dia letivo, o que eu acho ridículo). Lógico, não teve aula. Outubro é um mês cheio de alegria para as crianças. Não estou falando da data comemorativa, é que descobri ser um período de longo descanso: 12 de outubro cai em uma terça-feira, o feriado deveria ser nesse dia. Mas a escola amplia e faz feriadão também na segunda. E no dia do professor, mais umas horinhas em casa, porque preguiça pouca é bobagem. Caraca. Depois dizem que a educação vai para o brejo. Se as folgas são motivo de festa para as crianças, que ainda não percebem a importância de uma educação de qualidade na composição do futuro, não deveria ser para os professores. Sugiro que ao lutarem por melhores condições salariais, coloquem na pauta de reivindicações a realização de 200 genuínos dias letivos. O Brasil e todos aqueles que não tem condições de pagar colégio particular agradecem.
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
O melhor vem da plebe!
Nunca me interessei por política. Erro crasso na minha educação, ainda mais que enveredei para o jornalismo e sendo assim, não poderia titubear em aprender mais sobre essa arte que surgiu na Grécia e foi pensada pelos filósofos que vagavam pelas polis (cidade-estado). Mas nunca me esquivei de votar genuinamente. Voto mesmo, sem anular o meu direito. Embora muitas vezes tenha acreditado que o candidato não honrou minha confiança. Creio que cada brasileiro já se sentiu assim, nessa pátria de marajás e reis da maracutaia. Nessas eleições, me propus a pensar e ouvir os presidenciáveis, atentar para os candidatos ao governo estadual e saber das ideias dos postulantes a Assembleia. Em muitas noites fui fiel ao horário eleitoral. E nos debates na televisão, detectei a ironia de Plínio Sampaio. Fui uma telespectadora atenta de sua lingua ferina. Parecia ele uma metralhadora giratória, dando tiro para tudo quanto era lado.
Mas tenho em mim que o melhor não foi exposto nos palanques. O ouro que reluzia estava ali, no anonimato, no meio da multidão, à porta da plebe.Seiva embrutecida pela lida do trabalho, vi homens duros, espadaúdos, figurar em propagandas do Serra, Dilma e Marina respondendo a indagação pontual de que o candidato iria melhorar sua vida. Mesmo sendo propaganda, mesmo que eles tivessem sido pagos, vi a vontade de que a realidade fosse essa: Meu Deus, tenha piedade do povo e fazei com que ele faça realmente tudo isso que está professando.
Em Lajeado, vi um professor fazendo História dando política. Em escola pública, levou a casa nas costas ao disponibilizar seu conhecimento para jovens de 16 anos. Mostrou nessas eleições a evolução do voto e o poder de fogo que ele tem. Incitou os estudantes a lutarem por esse direito. Ele não disse, mas nos olhos dele estava refletida a imagem de um homem que se interessa por seu país, que jamais quis se desvencilhar da função de mesário, a qual tanta gente desgosta. Nessa pátria tupiniquim, queremos eleger um cacique honroso.Por mais alheios que somos e somos alheios, há ainda eleitores estandartes da cidadania. E só por eles, vale a pena votar bem. Bom Voto! "Alea jacta est"
Mas tenho em mim que o melhor não foi exposto nos palanques. O ouro que reluzia estava ali, no anonimato, no meio da multidão, à porta da plebe.Seiva embrutecida pela lida do trabalho, vi homens duros, espadaúdos, figurar em propagandas do Serra, Dilma e Marina respondendo a indagação pontual de que o candidato iria melhorar sua vida. Mesmo sendo propaganda, mesmo que eles tivessem sido pagos, vi a vontade de que a realidade fosse essa: Meu Deus, tenha piedade do povo e fazei com que ele faça realmente tudo isso que está professando.
Em Lajeado, vi um professor fazendo História dando política. Em escola pública, levou a casa nas costas ao disponibilizar seu conhecimento para jovens de 16 anos. Mostrou nessas eleições a evolução do voto e o poder de fogo que ele tem. Incitou os estudantes a lutarem por esse direito. Ele não disse, mas nos olhos dele estava refletida a imagem de um homem que se interessa por seu país, que jamais quis se desvencilhar da função de mesário, a qual tanta gente desgosta. Nessa pátria tupiniquim, queremos eleger um cacique honroso.Por mais alheios que somos e somos alheios, há ainda eleitores estandartes da cidadania. E só por eles, vale a pena votar bem. Bom Voto! "Alea jacta est"
Bisavô vai à urna
O aposentado Otto João Lunkes tem 86 anos e um senso de cidadania exemplar. Domingo, dia de missa e de pachorra, será tempo de beijar a urna. Está dispensado de votar mas não se esquiva do compromisso. A urna – dispositivo moderno que evoluiu com o passar do tempo - levará seu eleito. “A primeira vez a gente nunca esquece”, diz a propaganda. Lunkes lembra do seu primeiro voto, há 60 anos. Na época, ele arava a terra e escutava as promessas de um gaúcho fundamentado no populismo. Entusiasmado, deu seu apoio e ajudou a colocar Getúlio Vargas no pedestal. Nunca se arrependeu. Desde então, não deixou de participar do processo eleitoral. Tem a convicção de que um bom político com assessores preparados faz a carruagem de uma nação disparar.
Para Lunkes, Vargas era o braço forte dos trabalhadores. “Saiu de um canto do Rio Grande do Sul para se tornar presidente”. Naquela época o aposentado residia em Cruzeiro do Sul e destaca não existir comemoração nas vitórias presidenciais. Os tempos eram outros, mais discretos. Mas o triunfo do caudilho lhe deixou muito satisfeito. Talvez venha dessa época a certeza de que político deve ter conduta ilibada. O aposentado não admite mácula na vida pública. “Ele deixou de votar em um candidato porque fulano havia se separado”, entrega a esposa Maria Terezinha Lunkes, companheira há 60 anos, que também adota o voto como arma popular.
Voto após a missa
A vida se encarregou de transformar o agricultor Lunkes em motorista de caminhão. A bordo do veículo, viajou por todas as pirombeiras do Vale do Taquari recolhendo frangos e levando ração. Depois de tanto trabalho, se aposentou com um valor que hoje decaiu pela metade. Seu voto não tem nada de facultativo, vai ser dado em protesto às dificuldades que os aposentados enfrentam ao entardecer da vida. “Quero ver se vai melhorar a situação de nosso país, principalmente para os idosos. O salário os aposentados não acompanha o mínimo.” No domingo, a colinha contendo o nome dos seus escolhidos vai no bolso. Fez sua seleção baseado na leitura dos jornais. Para ele, o novo governante deve criar condições para melhorar a educação e aumentar a segurança. E são essas esperanças que serão digitadas na urna. Mas só depois da missa matinal, porque o casal Lunkes tem um trato a ser cumprido com Deus. Otto e Maria Terezinha miram o altar onde está o padre, para Deus olhar pelo Brasil. Um compromisso inadiável será selado em uma seção do Colégio Presidente Castelo Branco (Castelinho). Ele depois volta para casa com o senso de dever cumprido. E vai torcer para que os brasileiros elejam as pessoas certas.
Para Lunkes, Vargas era o braço forte dos trabalhadores. “Saiu de um canto do Rio Grande do Sul para se tornar presidente”. Naquela época o aposentado residia em Cruzeiro do Sul e destaca não existir comemoração nas vitórias presidenciais. Os tempos eram outros, mais discretos. Mas o triunfo do caudilho lhe deixou muito satisfeito. Talvez venha dessa época a certeza de que político deve ter conduta ilibada. O aposentado não admite mácula na vida pública. “Ele deixou de votar em um candidato porque fulano havia se separado”, entrega a esposa Maria Terezinha Lunkes, companheira há 60 anos, que também adota o voto como arma popular.
Voto após a missa
A vida se encarregou de transformar o agricultor Lunkes em motorista de caminhão. A bordo do veículo, viajou por todas as pirombeiras do Vale do Taquari recolhendo frangos e levando ração. Depois de tanto trabalho, se aposentou com um valor que hoje decaiu pela metade. Seu voto não tem nada de facultativo, vai ser dado em protesto às dificuldades que os aposentados enfrentam ao entardecer da vida. “Quero ver se vai melhorar a situação de nosso país, principalmente para os idosos. O salário os aposentados não acompanha o mínimo.” No domingo, a colinha contendo o nome dos seus escolhidos vai no bolso. Fez sua seleção baseado na leitura dos jornais. Para ele, o novo governante deve criar condições para melhorar a educação e aumentar a segurança. E são essas esperanças que serão digitadas na urna. Mas só depois da missa matinal, porque o casal Lunkes tem um trato a ser cumprido com Deus. Otto e Maria Terezinha miram o altar onde está o padre, para Deus olhar pelo Brasil. Um compromisso inadiável será selado em uma seção do Colégio Presidente Castelo Branco (Castelinho). Ele depois volta para casa com o senso de dever cumprido. E vai torcer para que os brasileiros elejam as pessoas certas.
domingo, 26 de setembro de 2010
Os 12 seguidores
Quando comecei este blogue em 2007, fui alimentada por um desejo de colocar todos os tipos de sentimentos, escrever livremente sem pensar nas mentes que porventura iriam me ler. Apesar de estar na net, percebi o blogue como algo que passaria invisível, sem audiência. Isso me dava certo acalanto. Eu, invocando a rede em nome da minha híbrida literatura de dores e devaneios, passaria ao largo dos internautas. Com esse pensamento fui escrevendo e me sentia liberta para rascunhar na casa das minhas palavras. Meus escritos, ruins, bons ou medíocres, só para mim. Eu, a própria plateia.
Até que um dia eu percebi um, dois, dez, 12 seguidores. Meus Deus, eu tenho 12 seguidores!!Uma dúzia de pessoas que vez ou outra acessam meu reduto virtual para vasculhar o que eu penso e invariavelmente, analisar: - "este foi um bom texto" ou "a postagem anterior estava bem melhor". Comecei a cuidar mais da forma e do conteúdo, no entanto, minha espontaneidade foi engessada. E não era o que eu queria. Neste espaço me dispus a gerenciar literariamente as ideias que vagavam nos porões da mente, sem necessariamente, ter de agradar a ninguém. Porque eu sendo eu, minha essência emergeria, e é assim que eu teria de cativar, de cara e letra limpa.
Fiquei refém dos 12 seguidores. Queria postar cada vez mais, mas não tinha tempo e nem vontade para isso. Isso me angustiava. Abria o blogue diariamente para ver se todos estavam lá. Temia que algum dos internautas me apagasse da lista, por não gostar do conteúdo, pelas poucas postagens ou algo parecido. Não era esse o propósito inicial do blogue. Comecei a ter sede de audiência e isso me incomodou. Desabilitei o gadget. Matei meus seguidores virtuais. Não sei se me visitam, mas espero que entendam minhas razões as quais tem a ver com escrever sem máculas ou influências. Quero me mover invisivelmente neste território de ninguém. Sei que alguém vai me acessar, mas o fato de eu não saber rostos e nem nomes não me coloca sob o jugo de plateia. Assim, aqui, eu consigo impor as minhas verdades, que nem sempre são bonitas ou bem escritas.
Até que um dia eu percebi um, dois, dez, 12 seguidores. Meus Deus, eu tenho 12 seguidores!!Uma dúzia de pessoas que vez ou outra acessam meu reduto virtual para vasculhar o que eu penso e invariavelmente, analisar: - "este foi um bom texto" ou "a postagem anterior estava bem melhor". Comecei a cuidar mais da forma e do conteúdo, no entanto, minha espontaneidade foi engessada. E não era o que eu queria. Neste espaço me dispus a gerenciar literariamente as ideias que vagavam nos porões da mente, sem necessariamente, ter de agradar a ninguém. Porque eu sendo eu, minha essência emergeria, e é assim que eu teria de cativar, de cara e letra limpa.
Fiquei refém dos 12 seguidores. Queria postar cada vez mais, mas não tinha tempo e nem vontade para isso. Isso me angustiava. Abria o blogue diariamente para ver se todos estavam lá. Temia que algum dos internautas me apagasse da lista, por não gostar do conteúdo, pelas poucas postagens ou algo parecido. Não era esse o propósito inicial do blogue. Comecei a ter sede de audiência e isso me incomodou. Desabilitei o gadget. Matei meus seguidores virtuais. Não sei se me visitam, mas espero que entendam minhas razões as quais tem a ver com escrever sem máculas ou influências. Quero me mover invisivelmente neste território de ninguém. Sei que alguém vai me acessar, mas o fato de eu não saber rostos e nem nomes não me coloca sob o jugo de plateia. Assim, aqui, eu consigo impor as minhas verdades, que nem sempre são bonitas ou bem escritas.
sábado, 25 de setembro de 2010
Vaidosos e tapados
Jornalistas dentro da redação foram divididos em dois perfis: vaidosos e tapados. A diferenciação costumeira envolve o conceito de "bom" e "ruim" mas dessa vez a segregação considerou o lado comportamental e não técnico. Talvez. Porque aos vaidosos cabe o topo da pirâmide. Os tapados seriam a rabeira da cadeia alimentar. Eu estou dentro do esquema desse último grupo. Vamos às explicações à la Freud.
Os primeiros envolveram-se na jactância porque dentro deles mesmos, traçaram o caminho do triunfo e venceram, porque julgam bons os seus textos. É isso mesmo, ainda que essa vitória esteja circunscrita às letras e não à faixa salarial (maioria dos jornalistas em termos de salário beija a lona), eles inflam o peito. Dentro da redação,a soberba dos bons os ajudam a serem autônomos. Abrem a pauta e vão de imediato fazer o serviço. Traçam sozinhos o norte da matéria, sem precisar da ajuda do editor. E lá vão eles, embora ligar para as fontes. Conseguem se motivar com o entusiasmo próprio, porque estão cheios de si com a possibilidade de serem admirados com mais uma materia espetacular publicada no folhetim. Compilam os dados em um texto simples, claro e conciso (Uhuuuuuu..como eu sou bom!!). Coroam o trabalho com a foto de capa estampada na manchete do jornal. Eis mais motivo para impáfia. Com o favorecimento dos deuses, conseguem uma, duas, três, cinco sucessivas capas.Saem da condição de operário das palavras para paladino das letras. Assim, as paginas nobres do jornal se infestam de orgulho e o leitor nem nota, empenhado que está em ler as notícias.
No outro lado da gangorra, os pobres-diabos, as topeiras-tapadas. Estes se esforçam bem mais do que os vaidosos. Não é questão de falta de neurônio, diria que é mais um despojamento de eficiencia mental. E assim, tentam compensar com um empenho que chega a ser comovente. Primeiro ponto negativo: são dependentes do editor. Abrem a pauta e se desesperam por não saberem como começá-la. Aí, consultam o chefe 42 vezes durante o dia. O cara, que nao é vaidoso nem tapado, mas um bipolar na fase intermediária para aguda se exaspera com as perguntas e enxovalha a falta de atitude.
Apáticos, os topeiras sentam para escrever. As horas avançam e surgem mais indagações, mas eles se fixam na cadeira, tentando se ajudar mutuamente, à distância do chefe, que está com uma cara de boi que vai engolir uma anta. Os topeiras sabem que é preciso ter iniciativa, destrinchar uma solução por si mesmos e se tornarem resolutivos. O problema é que quem nasce toupeira nunca chega a abelha rainha.
A grande vantagem do tapado é seu ego estupidamente curto. Tapados são mais bonzinhos e por nao terem tido a alma imaculada com a soberba, compreendem as limitações do colega. Assim, são altruístas, se ajudam entre si. Eles também têm possibilidade de crescer infinitamente maior do que os vaidosos, que acham que já chegaram lá, é cuidam apenas pela manutenção da "fama". Mas os topeiras se esforçam porque sabem que o percurso é grande. E esse trajeto é marcado pela humildade, marca que levam adiante até sairem da condição de topeiras. Tapados e vaidosos ajudam a girar a roda das letras, produzindo o jornalismo da alma humana.
Os primeiros envolveram-se na jactância porque dentro deles mesmos, traçaram o caminho do triunfo e venceram, porque julgam bons os seus textos. É isso mesmo, ainda que essa vitória esteja circunscrita às letras e não à faixa salarial (maioria dos jornalistas em termos de salário beija a lona), eles inflam o peito. Dentro da redação,a soberba dos bons os ajudam a serem autônomos. Abrem a pauta e vão de imediato fazer o serviço. Traçam sozinhos o norte da matéria, sem precisar da ajuda do editor. E lá vão eles, embora ligar para as fontes. Conseguem se motivar com o entusiasmo próprio, porque estão cheios de si com a possibilidade de serem admirados com mais uma materia espetacular publicada no folhetim. Compilam os dados em um texto simples, claro e conciso (Uhuuuuuu..como eu sou bom!!). Coroam o trabalho com a foto de capa estampada na manchete do jornal. Eis mais motivo para impáfia. Com o favorecimento dos deuses, conseguem uma, duas, três, cinco sucessivas capas.Saem da condição de operário das palavras para paladino das letras. Assim, as paginas nobres do jornal se infestam de orgulho e o leitor nem nota, empenhado que está em ler as notícias.
No outro lado da gangorra, os pobres-diabos, as topeiras-tapadas. Estes se esforçam bem mais do que os vaidosos. Não é questão de falta de neurônio, diria que é mais um despojamento de eficiencia mental. E assim, tentam compensar com um empenho que chega a ser comovente. Primeiro ponto negativo: são dependentes do editor. Abrem a pauta e se desesperam por não saberem como começá-la. Aí, consultam o chefe 42 vezes durante o dia. O cara, que nao é vaidoso nem tapado, mas um bipolar na fase intermediária para aguda se exaspera com as perguntas e enxovalha a falta de atitude.
Apáticos, os topeiras sentam para escrever. As horas avançam e surgem mais indagações, mas eles se fixam na cadeira, tentando se ajudar mutuamente, à distância do chefe, que está com uma cara de boi que vai engolir uma anta. Os topeiras sabem que é preciso ter iniciativa, destrinchar uma solução por si mesmos e se tornarem resolutivos. O problema é que quem nasce toupeira nunca chega a abelha rainha.
A grande vantagem do tapado é seu ego estupidamente curto. Tapados são mais bonzinhos e por nao terem tido a alma imaculada com a soberba, compreendem as limitações do colega. Assim, são altruístas, se ajudam entre si. Eles também têm possibilidade de crescer infinitamente maior do que os vaidosos, que acham que já chegaram lá, é cuidam apenas pela manutenção da "fama". Mas os topeiras se esforçam porque sabem que o percurso é grande. E esse trajeto é marcado pela humildade, marca que levam adiante até sairem da condição de topeiras. Tapados e vaidosos ajudam a girar a roda das letras, produzindo o jornalismo da alma humana.
terça-feira, 31 de agosto de 2010
Desce o pano!
Ao longo de minha carreira jornalística, tive a oportunidade de elaborar três matérias sobre suicídio, essa tragédia silenciosa que assola o Rio Grande do Sul, o estado líder no rankig do autoextermínio no Brasil. E dentre as regiões gaúcha, o Vale do Taquari desponta com destaque nessa negra estatística. O número de pessoas que cometem assassinato contra sí, aumentou em 23 por cento de 2008 para 2009. Ano passado, 63 pessoas decidiram pelo gesto final e deixaram suas famílias estarrecidas. Optaram pelo último ato, puxaram o pano (como se diz no teatro) para sair do palco da vida. O que choca a sociedade é o índice de jovens que interrompem o futuro. Decepam as esperanças e num impulso defintivo, viram algoz de si mesmos.
Uma das reportagens mais emblemáticas e a qual pairou muito tempo na minha cabeça foi escrita por Eliane Brum em 2009 na revista Época. Ela retrata a história de um garoto que foi estimulado ao suicidio e auxiliado por pessoas anônimas da internet. Sua morte, foi assistida por internautas de diferentes cantos do mundo, que diziam: "Sim, mate-se". Sua morte foi executada por ele mesmo pelo metodo barbecue. Colocou grelhas queimando no banheiro, para morrer por inalação de monóxido de carbono. Elas estavam em chamas, uma ao lado da outra, enquanto ele morria assim, assistido pelo mundo virtual. Em dado momento, o menino suicida escreve: "Ah, meu Deus. Eu não consigo suportar o calor. Está tremendamente quente no banheiro. O que eu devo vestir para se tornar mais suportável? O que eu devo fazer para desmaiar, por Deus?"
Alguém o orientou a retirar as roupas e encharcá-las para aguentar até desmaiar. Muito tempo depois, outro internauta escreve: "Acho que funcionou, já que ele não entrou mais em contato."
Não foi a primeira vez que ele tentou se matar. Mas foi a primeira vez que havia vozes torcendo para ele morrer. Dizendo como ele podia morrer. E desta vez ele morreu.
No mundo todo, adolescentes são incentivados a morrer pela internet. No Japão, os suicídios ligados à rede aumentaram 70%. O crime de instigação ao suicídio é previsto no artigo 122 do Código Penal Brasileiro. A pena é de 2 a 6 anos de prisão, dobrada se a vítima for menor de 18 anos. Essa é uma das faces de quem escolhe a morte como subterfúgio. Uma matéria retratada com detalhes pela repórter da Época que serve de alerta para deixar vigilantes as autoridades e os profissionais ligados a saúde. O assunto é pesado, as estatísticas são sinistras, mas é preciso começar a falar do assunto e deixar de lado o tabu que envolve o tema.
Uma das reportagens mais emblemáticas e a qual pairou muito tempo na minha cabeça foi escrita por Eliane Brum em 2009 na revista Época. Ela retrata a história de um garoto que foi estimulado ao suicidio e auxiliado por pessoas anônimas da internet. Sua morte, foi assistida por internautas de diferentes cantos do mundo, que diziam: "Sim, mate-se". Sua morte foi executada por ele mesmo pelo metodo barbecue. Colocou grelhas queimando no banheiro, para morrer por inalação de monóxido de carbono. Elas estavam em chamas, uma ao lado da outra, enquanto ele morria assim, assistido pelo mundo virtual. Em dado momento, o menino suicida escreve: "Ah, meu Deus. Eu não consigo suportar o calor. Está tremendamente quente no banheiro. O que eu devo vestir para se tornar mais suportável? O que eu devo fazer para desmaiar, por Deus?"
Alguém o orientou a retirar as roupas e encharcá-las para aguentar até desmaiar. Muito tempo depois, outro internauta escreve: "Acho que funcionou, já que ele não entrou mais em contato."
Não foi a primeira vez que ele tentou se matar. Mas foi a primeira vez que havia vozes torcendo para ele morrer. Dizendo como ele podia morrer. E desta vez ele morreu.
No mundo todo, adolescentes são incentivados a morrer pela internet. No Japão, os suicídios ligados à rede aumentaram 70%. O crime de instigação ao suicídio é previsto no artigo 122 do Código Penal Brasileiro. A pena é de 2 a 6 anos de prisão, dobrada se a vítima for menor de 18 anos. Essa é uma das faces de quem escolhe a morte como subterfúgio. Uma matéria retratada com detalhes pela repórter da Época que serve de alerta para deixar vigilantes as autoridades e os profissionais ligados a saúde. O assunto é pesado, as estatísticas são sinistras, mas é preciso começar a falar do assunto e deixar de lado o tabu que envolve o tema.
segunda-feira, 30 de agosto de 2010
A menina que matou os sonhos
Indicada por um colega, leio uma matéria fantástica que saiu na Zero Hora neste final de semana. Com um texto desenhado em palavras e frases indefectíveis, Ricardo Stefanelli, diretor de redação da ZH relata o reencontro com Tatiane, uma ex-interna da Febem que fora notícia ha 18 anos sob a manchete: "As crianças que ninguém quer". Tatiane morava na ala que era considerada o "ferro velho" da instituição, porque estas eram crianças rejeitadas por serem mais velhas ou negras. Stefanelli revolveu a história e foi buscar sua velha amiga, que na época, de tanta atenção que queria, enroscava-se em suas pernas. Hoje, mulher feita, 25 anos, com um marido e nos planos, um filho para o futuro, Tatiane é protagonista de uma nova versão da sua vida: com sonhos e esperanças que se concretizaram. A menina de tiara que sorria se transformou em uma jovem esposa de largo sorriso, cuja trajetória foi salva por uma adoção: um ato de afeto da professora Rosemari Faleiro.
Esse preâmbulo todo foi para me referir ao título da reportagem recente: A menina que sorria. Tatiane conseguiu vencer a rejeição e descartar os vestígos de um passado não venturoso. Emerge com planos que vão ser costurados a dois, quem sabe a três, quando o filho que ainda não está no ventre nascer.
Eu me comparei. Vi que tive muito mais do que ela. Vi que tenho muito menos. Me sinto roubada. Sequestraram meus sonhos. Por Deus, ou eu os matei. Todos. Não sobrou um para contar história. Não tenho desejo de fazer família. Adormeci a ideia de cativar um namorado. Não me atiça o gosto por subir degraus no meu trabalho. Não me assanha nenhum tipo de desejo. Sou uma mulher ausente e autômata. Liguei o piloto automático e vou sobrevivendo. Mas, como esclarece Osho, sobrevivência não é vida.
Talvez meus sonhos estejam sepultados nos porões da mente. Talvez trezentas sessões de psicanálise os façam vir à tona. Não sei como vai acabar a minha história. Uma trajetória insossa, mas um caminho que é o meu. Pelos céus, eu queria que esse meu caminho valesse ao menos um bom sonho, com perspectiva de realização.
Esse preâmbulo todo foi para me referir ao título da reportagem recente: A menina que sorria. Tatiane conseguiu vencer a rejeição e descartar os vestígos de um passado não venturoso. Emerge com planos que vão ser costurados a dois, quem sabe a três, quando o filho que ainda não está no ventre nascer.
Eu me comparei. Vi que tive muito mais do que ela. Vi que tenho muito menos. Me sinto roubada. Sequestraram meus sonhos. Por Deus, ou eu os matei. Todos. Não sobrou um para contar história. Não tenho desejo de fazer família. Adormeci a ideia de cativar um namorado. Não me atiça o gosto por subir degraus no meu trabalho. Não me assanha nenhum tipo de desejo. Sou uma mulher ausente e autômata. Liguei o piloto automático e vou sobrevivendo. Mas, como esclarece Osho, sobrevivência não é vida.
Talvez meus sonhos estejam sepultados nos porões da mente. Talvez trezentas sessões de psicanálise os façam vir à tona. Não sei como vai acabar a minha história. Uma trajetória insossa, mas um caminho que é o meu. Pelos céus, eu queria que esse meu caminho valesse ao menos um bom sonho, com perspectiva de realização.
domingo, 15 de agosto de 2010
Os passeios de Babe

Uma pesquisa revela que passear com o cão diminui o estresse. O simples hábito desencadeia sensações profundas de alegria e calma nas pessoas. É a ciência jogando a favor dos animais. Mas o que a ciência diria de uma porquinha que anda de peiteira, passeia pela rua fuçando o barro e a relva e reclama se o dono não a leva a dar uma voltinhas?Tais peripécias suínas estão bem pertinho, no Bairro Conventos. Fui lá fazer a matéria, e Babe, a porquinha, apesar de mansa com o dono, não queria trela comigo. Ficou histérica ao perceber que eu queria fotografá-la. Os oincs-oincs dela foram a 40 decibéis (to chutando).
O verdureiro AdelinoSchmitz (49) fez uma peiteira: amarra uma corda de náilon grossa no pescoço e atrás das pernas dianteiras . Depois de se certificar que ela não vai fugir, a orienta pela estrada de chão batido, à vista dos vizinhos. É uma graça. Motoristas que passam pelo local, esticam o olho. Os mais animados tiram o tempo para fotografar. O dono não diz, mas se percebe o orgulho por tal façanha: domesticar um suíno.
O nome da porquinha – que de pequena não tem nada, pois pesa 80 quilos – foi inspirada no filme “Babe, o porquinho atrapalhado”, produção australiana de 1995. “Ela é bem limpinha, dou banho de mangueira”, conta Schmitz.Babe é tratada com ração e resto de alimento. Na fase adulta deverá atingir os 300 quilos. Os passeios acontecem próximo ao meio-dia. A porca, que não é burra, segue faceira perambulando pela via. Parece ter nascido para a vida canina.
O nome da porquinha – que de pequena não tem nada, pois pesa 80 quilos – foi inspirada no filme “Babe, o porquinho atrapalhado”, produção australiana de 1995. “Ela é bem limpinha, dou banho de mangueira”, conta Schmitz.Babe é tratada com ração e resto de alimento. Na fase adulta deverá atingir os 300 quilos. Os passeios acontecem próximo ao meio-dia. A porca, que não é burra, segue faceira perambulando pela via. Parece ter nascido para a vida canina.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
Queremos sapos!
A vida é assim. A mulher engravida, fica sabendo que é menina, prepara o quarto com fitinha mimosa e sonha quão feliz será sua filhinha. Aí a Laura nasce. Paparicos, princesa prá cá, princesa prá lá. Os pais dando vazão ao tradicional dilema de que se existe princesa, há de se ter um príncipe. Um cavalheiro, gente fina, boa praça. Sõ não salva do dragão porque os bichos mais perigosos estão confinados no zoológico. Mão hão de tirá-la da solidão e do duro estigma, depois dos 30 de tiazona.
Então crescemos com esse paradigma. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. O príncipe sempre está lá. Firme e forte, para salvá-la, como tem de ser um final feliz. Dormimos com isso na caxola.
A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu.
Na adolescência, cheia de ruge e batom, permeia seus sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejam a cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end.
Ao entrar prá faculdade percebe que as coisas não são bem assim. Uma olhada no jornal - da região mesmo - e a constatação: o censo diz que há 1390 mulheres a mais no Vale do Taquari. Outros tantos - não detectados no levantamento porque isso seria discriminação, segundo o IBGE - de hermafroditas, homossexuais.
Bom, é preciso campear um príncipe com isso que está aí. Então ela arregaça as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.
Ele também já não está muito disposto a esperar você entrar em casa para arrancar o carro e mostrar com quantos cavalos de aço se faz um cara bom de braço.
Você vai dormir com a sensação de um soco no estômago e com a comida que você pagou ainda entalada na garganta. Lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do clã da Távola Redonda. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado na tela do cinema. Quem não tem Sir Lancelote, caça com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...
Mesmo que seu príncipe nem seja corajoso para erguer uma lança, mas estóico o suficiente para atrelar sua mão à dela durante uma passeadinha no shopping...
Bravo o suficiente para chamarem-na de princesa em frente a seus iguais
Heróis o bastante para assumirem um único compromisso. Não estamos enclausuradas na torre do Castelo, não queremos o enfado de uma vida regrada e virginal sem emoções ou paixões..não queremos compaixões
Queremos sim um principe real. Mesmo que ele seja boy, metaleiro, pedreiro, padeiro, empresário, repórter ou picareta de carros. E para ser príncipe, não é preciso muito. Para nos salvar da boca do dragão, basta nos dar amor e afeto exclusivos. Queremos sentir-nos as princesas únicas. Será que é pedir de mais de um homem?
Então, por favor Deus, dai-nos sapos. Pelo menos assim a gente sabe como transformá-los em principes. Basta um simples ósculo. Um apenas.
Sim, porque com os homens de hoje, a gente beija, beija e não dá nada!
* Crônica escrita em 2003
Então crescemos com esse paradigma. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. O príncipe sempre está lá. Firme e forte, para salvá-la, como tem de ser um final feliz. Dormimos com isso na caxola.
A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu.
Na adolescência, cheia de ruge e batom, permeia seus sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejam a cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end.
Ao entrar prá faculdade percebe que as coisas não são bem assim. Uma olhada no jornal - da região mesmo - e a constatação: o censo diz que há 1390 mulheres a mais no Vale do Taquari. Outros tantos - não detectados no levantamento porque isso seria discriminação, segundo o IBGE - de hermafroditas, homossexuais.
Bom, é preciso campear um príncipe com isso que está aí. Então ela arregaça as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.
Ele também já não está muito disposto a esperar você entrar em casa para arrancar o carro e mostrar com quantos cavalos de aço se faz um cara bom de braço.
Você vai dormir com a sensação de um soco no estômago e com a comida que você pagou ainda entalada na garganta. Lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do clã da Távola Redonda. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado na tela do cinema. Quem não tem Sir Lancelote, caça com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...
Mesmo que seu príncipe nem seja corajoso para erguer uma lança, mas estóico o suficiente para atrelar sua mão à dela durante uma passeadinha no shopping...
Bravo o suficiente para chamarem-na de princesa em frente a seus iguais
Heróis o bastante para assumirem um único compromisso. Não estamos enclausuradas na torre do Castelo, não queremos o enfado de uma vida regrada e virginal sem emoções ou paixões..não queremos compaixões
Queremos sim um principe real. Mesmo que ele seja boy, metaleiro, pedreiro, padeiro, empresário, repórter ou picareta de carros. E para ser príncipe, não é preciso muito. Para nos salvar da boca do dragão, basta nos dar amor e afeto exclusivos. Queremos sentir-nos as princesas únicas. Será que é pedir de mais de um homem?
Então, por favor Deus, dai-nos sapos. Pelo menos assim a gente sabe como transformá-los em principes. Basta um simples ósculo. Um apenas.
Sim, porque com os homens de hoje, a gente beija, beija e não dá nada!
* Crônica escrita em 2003
domingo, 8 de agosto de 2010
Penso com os dedos
Imagine caro amigo virtual, que eu tenho uma bizarra mania (sim, no meu caso é bizarra e explico o motivo). Me apeguei ao costume de escrever no papel, todos os meus textos, todinhos, eu rabisco em um bloco para só depois digitar no computador. Em qualquer outra circunstância, e não sendo jornalista este hábito não seria considerado esquisito, mas como repórter de jornal impresso, eis uma tarefa hercúlea.É muito trabalho. Enquanto escuto o tec tec do teclado dos meus colegas, eu - só eu - faço as matérias no bloquinho. Um colega ri, o outro se exaspera e diz que nunca viu disso. Argumenta que minha teimosia dá retrabalho. Sim, concordo. Depois que coloco o ponto final no bloquinho, lá vou eu começar a escrever no computador.
Veja só: ttenho 17 anos de profissão e nunca senti essa necessidade de manuscrever.Mas há um ano este hábito parece encravado em mim. Já tentei sentar na cadeira e digitar direto, parece que a inspiração não vem. Quando empunho a caneta, o texto flui e as palavras voam sem dificuldade da minha cachola. Eu penso com os dedos!!Que paradoxo estou vivendo. Em pleno século 21, uma mulher da net como "jo" (tenho Orkut, Facebook, Twitter, Badoo, Blog e 3 MSN) sou forçada por meu cérebro a posar com uma atitude jurássica em meu ambiente de trabalho. Sou a que mais gasta canetas e blocos dentro da redação. Consumo um tubo de tinta em três dias. E ai vem outro problema. Como adoro canetas e não aceito escrever com qualquer Bic, tenho de me virar e procurar aquelas com as quais eu me afino. Geralmente, a farmácia é a vítima. Quando lá vou comprar meus remedinhos, lanço mão de algumas bem bonitinhas (canetas de laboratório são mui formosas, pode ir por mim). Pena que elas terminam logo em minhas mãos. Só consigo colecionar caneta vazia. Humpf.
Estou a fim de dar mais um tempo nesse lance de matérias manuscritas e depois passar para a fase moderna, mesmo que meu cérebro não queira. Vou insistir com fórceps para que ele chegue junto e seja páreo para a massa cinzenta de meus colegas. Sabe o que é misterioso, caro leitor, é que escrevi esse post todinho no computador. Meu cérebro é enigmático.
Veja só: ttenho 17 anos de profissão e nunca senti essa necessidade de manuscrever.Mas há um ano este hábito parece encravado em mim. Já tentei sentar na cadeira e digitar direto, parece que a inspiração não vem. Quando empunho a caneta, o texto flui e as palavras voam sem dificuldade da minha cachola. Eu penso com os dedos!!Que paradoxo estou vivendo. Em pleno século 21, uma mulher da net como "jo" (tenho Orkut, Facebook, Twitter, Badoo, Blog e 3 MSN) sou forçada por meu cérebro a posar com uma atitude jurássica em meu ambiente de trabalho. Sou a que mais gasta canetas e blocos dentro da redação. Consumo um tubo de tinta em três dias. E ai vem outro problema. Como adoro canetas e não aceito escrever com qualquer Bic, tenho de me virar e procurar aquelas com as quais eu me afino. Geralmente, a farmácia é a vítima. Quando lá vou comprar meus remedinhos, lanço mão de algumas bem bonitinhas (canetas de laboratório são mui formosas, pode ir por mim). Pena que elas terminam logo em minhas mãos. Só consigo colecionar caneta vazia. Humpf.
Estou a fim de dar mais um tempo nesse lance de matérias manuscritas e depois passar para a fase moderna, mesmo que meu cérebro não queira. Vou insistir com fórceps para que ele chegue junto e seja páreo para a massa cinzenta de meus colegas. Sabe o que é misterioso, caro leitor, é que escrevi esse post todinho no computador. Meu cérebro é enigmático.
quinta-feira, 8 de julho de 2010
Felicidade perdida
Há uma semana, a morte me expulsou da vida e fez cadeira cativa em mim. Tentei voar mas sem asas, cai no mais entranhado precipício. Fui querer bordejar pelo leme do amor e me ferrei na mais profunda concepção da palavra. Tudo o que esteve neste blog, o que eu disse sobre alegria, sobre felicidade vai ficar. Pensei em retirar os posts, mas não, irão permanecer como prova do que eu posso sentir e do que podem fazer comigo. Hoje mais do que nunca acredito na lei do carma. Andei relembrando e vendo que muitas vezes não cuidei do bem estar das pessoas. O Dalai Lama sempre diz: não menospreze jamais o bem-estar de alguém. E quantas vezes fiz o contrário. Pois a lei do retorno veio e me deixou abatida e amargurada, mortificada. Espero que eu aprenda a lição e a lição é de que tenho de me fortificar espiritualmente. Preciso ser completa para dividir a atenção com alguém. Sabe, hoje eu queria algumas respostas. Eu fico horas na cama inquirindo: Por que? Por que? Por que? “Olhe, você não reparou até agora, não desconfiou que tudo que você pergunta não tem resposta?"
Nos meus cenário verdejantes a felicidade seria plena. Mas não adianta, a duras penas que a gente aprende que ela nunca está fora, ela está dentro, mas a gente quer tentar, talvez porque domar o interior dá mais trabalho, dai a gente coloca a salvação em alguém. Só que esse alguém nunca salva, a melhor coisa dos heróis é que eles são seres humanos, buscando a felicidade igual a nós e também não querem sofrer. Todo mundo anseia a mesma condição (felicidade), uns porém, conseguem com mais facilidade, talvez por terem aprendido com mais velocidade as lições que a vida traz, talvez por terem mais maturidade ou até por estarem em uma encarnação superior. Fui ferida no flanco e no coração. Não me envergonho o mínimo bocado de dizer que sofro. Escrever isto aqui é minha maneira de exorcizar meus demônios e talvez seja o inicío de um bom retorno a vida. Fica a lição de Nietzsche: "Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama. Como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?”
*** O que não nos dá sossego é o si-mesmo. Aquilo que nós realmente somos e, também, aquilo que não somos. (Jung)
Nos meus cenário verdejantes a felicidade seria plena. Mas não adianta, a duras penas que a gente aprende que ela nunca está fora, ela está dentro, mas a gente quer tentar, talvez porque domar o interior dá mais trabalho, dai a gente coloca a salvação em alguém. Só que esse alguém nunca salva, a melhor coisa dos heróis é que eles são seres humanos, buscando a felicidade igual a nós e também não querem sofrer. Todo mundo anseia a mesma condição (felicidade), uns porém, conseguem com mais facilidade, talvez por terem aprendido com mais velocidade as lições que a vida traz, talvez por terem mais maturidade ou até por estarem em uma encarnação superior. Fui ferida no flanco e no coração. Não me envergonho o mínimo bocado de dizer que sofro. Escrever isto aqui é minha maneira de exorcizar meus demônios e talvez seja o inicío de um bom retorno a vida. Fica a lição de Nietzsche: "Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama. Como se renovar sem primeiro se tornar cinzas?”
*** O que não nos dá sossego é o si-mesmo. Aquilo que nós realmente somos e, também, aquilo que não somos. (Jung)
sexta-feira, 25 de junho de 2010
Dentro
Assim ensinou-me a vida nos últimos dias: a felicidade tarda, e às vezes anda de marcha-ré. Olho para o horizonte e para todas as coisas que me são pertinentes, subitamente percebo que ela não está fora, mas dentro de mim. Só que não apreendo esse conceito. Acontece que ela estão tão bem guardada, que não a encontro nos recônditos do meu ser. Mas eu sei que, genuinamente, ela está em minha essência. Como está na essência de todos. Este é o mundo dos sentidos e até a realidade é ilusão, por isso é perigoso depender desse universo sensorial. Preciso olhar devagar para mim mesma e buscar o pote da felicidade, aquele a que tenho direito e que só eu, inegavelmente eu, posso resgatá-lo.
******************
O vazio do budismo
" O homem que realiza a consciência de si mesmo sente que já não é o servo obediente de um impulso cego, senão que é seu próprio amo. Sente então que a gente comum, cega ante sua consciência inata e clara, percorre a rua como cadáveres vivos.!
(Chang Chen Ch)
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O vazio do budismo
" O homem que realiza a consciência de si mesmo sente que já não é o servo obediente de um impulso cego, senão que é seu próprio amo. Sente então que a gente comum, cega ante sua consciência inata e clara, percorre a rua como cadáveres vivos.!
(Chang Chen Ch)
sábado, 19 de junho de 2010
Hora marcada
Faltam três dias. Compactuo com Einstein que concebeu a ideia de que o tempo é relativo. Há duas semanas, eu chegava às sextas-feiras sob um torpor bom, degustando cada minuto que eu teria do fim de semana. E a segunda-feira parecia chegar num flash, como se entre a sexta e o domingo à noite,transcorresse apenas um milésimo de segundo. Bem se diz que tudo está em constante movimento. Eu não imaginaria nas minhas cenas mais férteis que ansiaria tanto pela segunda-feira. Agora, este segundo que está passando, este mesmo que você está lendo essa palavra. Foi rápido para você? Para mim são gotas de eternidade. Tudo porque estou na luta pelo Bom Combate, aquele travado em nome do meu coração. Um episódio (com toda a ebulição dos sentidos) dará uma guinada em minha vida. Eu já tracei mil imagens sobre esse encontro. Já tive medo de que fosse um desencontro, um desencanto. Mas estou cheia de enlevo. Sou a donzela moderna que está no alto da torre do castelo da solidão. E para quem espera o resgate, o tempo se arrasta como um cavalo coxo.
Mas as batidas do coração parecem entrar em frenesi. Tem um livro, que acredito eu, meio mundo leu. O Pequeno Príncipe, de Saint Exupery conta um ritual de pessoas que se cativaram: "se chegares às quatro, desde as três começarei a ser feliz". É assim, você se torna eternamente responsável por aquilo que cativas. Os passos do Lancelote em questão, terão um som diferente, porque é o caminhar dele que eu vou ouvir chegando na hora marcada. Vou morrer de felicidade uma hora antes, antecipando a fruição do encontro, que eu espero, seja de almas.
***
Homenagem a Saramago
"Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele."
(morreu nesta sexta-feira, de falência múltipla dos órgãos.Este sim, o seu ponto final)
Mas as batidas do coração parecem entrar em frenesi. Tem um livro, que acredito eu, meio mundo leu. O Pequeno Príncipe, de Saint Exupery conta um ritual de pessoas que se cativaram: "se chegares às quatro, desde as três começarei a ser feliz". É assim, você se torna eternamente responsável por aquilo que cativas. Os passos do Lancelote em questão, terão um som diferente, porque é o caminhar dele que eu vou ouvir chegando na hora marcada. Vou morrer de felicidade uma hora antes, antecipando a fruição do encontro, que eu espero, seja de almas.
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Homenagem a Saramago
"Deus, o diabo, o bom, o ruim, tudo está na nossa cabeça, não no céu ou no inferno, que também inventamos. Não percebemos que, tendo inventado Deus, imediatamente nos escravizamos a ele."
(morreu nesta sexta-feira, de falência múltipla dos órgãos.Este sim, o seu ponto final)
sexta-feira, 18 de junho de 2010
É o que tem de ser!
*** Você valeu cada segundo da minha espera dos meus quase 40 anos. Mas como eu não sabia que você viria, eu me desesperei, entrei em prantos muitas vezes, lamentando esse Deus injusto que não forneceu o meu outro eu. E eu tentava fazer as coisas acontecerem. Na pressa, eu acelerava relações efêmeras que terminavam num piscar de olhos. Na ânsia, eu me iludia que gostava para não ficar pagando o pato por carência. Tantas vezes ouvi a referida frase: calma, na hora certa tudo acontece" que fiquei receosa dela. Na verdade, cética. E quando aconteceu, foi como a explosão de uma estrela. Não encontrei explicações de o porquê você se ligou em mim. Não entendi o que foi que te cativou. Alias jamais entendi o motivo pelo qual te encontrei solitário, querendo alguém, sendo que tu é PPA (parceiro potencialmente atraente). Mas então agora eu creio ter entendido a tão propalada frase sobre os acontecimentos: o que tem de ser, será. A gente planeja, Deus ri e faz do jeito dele, na engrenagem do tempo que gira de acordo com seu relógio. E tudo o que eu tenho no meu peito é uma vontade contida de chorar, porque um dia eu duvidei desse relojoeiro. Mas essa vontade de verter lágrimas vem pelo fato de estar plena desse encontro: quatro décadas a espera. Muitas vezes, cabisbaixa, eu observava outros casais e a inveja pulsava como uma navalha que fere a carne. Mas então simplesmente aconteceu, como tudo o que é simples, como tudo o que deve acontecer. E eu percebi que a mão divina faz uma força imensa a nosso favor.
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Jogue suas mãos para o céu e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você... se não... não faça nada!O acaso constrói, a inércia destrói... não fazer nada é tão errado quanto fazer tudo pra forçar uma situação. A única coisa que sabemos é que quando tem que acontecer... acontece! (retirado do Orkut)
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Colocar a razão acima das emoções não é tarefa fácil. É como tentar esmagar a lama, as vezes ela cobre seus pés. (Adeus, Eros)
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Jogue suas mãos para o céu e agradeça se acaso tiver alguém que você gostaria que estivesse sempre com você... se não... não faça nada!O acaso constrói, a inércia destrói... não fazer nada é tão errado quanto fazer tudo pra forçar uma situação. A única coisa que sabemos é que quando tem que acontecer... acontece! (retirado do Orkut)
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Colocar a razão acima das emoções não é tarefa fácil. É como tentar esmagar a lama, as vezes ela cobre seus pés. (Adeus, Eros)
Eu amo esse texto, não sei se é realmente de Arthur da Távola, mas as palavras servem bem para o meu momento. Mas sim, eu creio que cada encontro está carregado de perda. Quando a gente tem um encontro feliz, inevitavelmente associaremos a ele, a ideia de que tudo passa. E como a vida é fugaz, este instante também o será. Há saudade embutida em cada encontro. Há o amor, que carece de zilhões de encontros. (O texto é bem mais logo, só postei os trechos que mais me comovem. Eu choro lendo esse texto)
"Cada encontro está carregado da perda, ou de perdas. A perda é mais adivinhada do que sentida. E no ato de sentir-se feliz, intensamente feliz, associa-se a idéias do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. E uma tristeza muito particular se instala: a tristeza feliz. É a que se associa ao momento bom, como a perda inerente a cada encontro, como sentimento de certeza de que tudo aquilo passará… Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Eu diria que a alegria não é felicidade, e que a felicidade, muitas vezes, está mais perto da tristeza do que da alegria. Felicidade está mais perto da tristeza, porque a certeza da perda sempre se instala a cada vez em que estamos felizes. Cada encontro está carregado de perda. Nesta vida. E até na outra, que se existe (e permitirá o encontro redentor), precisou da perda desta vida. E esta certeza – a da perda – a que provoca aquela lágrima ou aquela angústia, que a gente não sabe porque às vezes se instala após os verdadeiros encontros. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um ‘e depois’, após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada."
"Cada encontro está carregado da perda, ou de perdas. A perda é mais adivinhada do que sentida. E no ato de sentir-se feliz, intensamente feliz, associa-se a idéias do passageiro que é tudo, do amanhã cheio de interrogações, da exceção que aquilo significa. E uma tristeza muito particular se instala: a tristeza feliz. É a que se associa ao momento bom, como a perda inerente a cada encontro, como sentimento de certeza de que tudo aquilo passará… Quem se alegra demais se distancia da felicidade. Eu diria que a alegria não é felicidade, e que a felicidade, muitas vezes, está mais perto da tristeza do que da alegria. Felicidade está mais perto da tristeza, porque a certeza da perda sempre se instala a cada vez em que estamos felizes. Cada encontro está carregado de perda. Nesta vida. E até na outra, que se existe (e permitirá o encontro redentor), precisou da perda desta vida. E esta certeza – a da perda – a que provoca aquela lágrima ou aquela angústia, que a gente não sabe porque às vezes se instala após os verdadeiros encontros. Há sempre uma despedida em cada alegria. Há sempre um ‘e depois’, após cada felicidade. Há sempre uma saudade na hora de cada encontro. Antecipada."
Algum dia em qualquer parte, em qualquer lugar indefectivelmente te encontrarás a ti mesmo, e essa, só essa, pode ser a mais feliz ou a mais amarga de tuas horas."
( Pablo Neruda)
( Pablo Neruda)
quinta-feira, 17 de junho de 2010
Coração Galopante
Sou um estardalhaço de existir, só para citar Clarice Lispector. É incrível como um sentimento pode invadir com tanto ímpeto a alma, o corpo e a mente. Estou num pavor galopante, que se eleva aos píncaros, dobrou a curva e vem descendo.
Schopenhauer, o filósofo da melancolia salienta que o homem e a vida estão fadados ao fracasso. Porque o homem deseja e todo desejo uma vez satisfeito vira um outro desejo. E assim o ciclo não para é igual a samsara, a roda dos desejos budistas.
Mas eu sei bem que estou caminhando em uma corda bamba. Estou me sentindo mais vulnerável do que nunca, na dependência desse súbito e feroz sentimento.
Assim como me torno eufórica neste instante, noutro posso me corroer de aflição. Que angústia mordaz. É a instabilidade provocada por esse prazer - prazer bom e ruim - que me remete a um estado de embriaguez. Tenho em mim todos os sonhos românticos do mundo, mas acompanhados de um alto teor etílico.
Baudelaire exortou seus leitores a se embriagarem. "Para não sentirdes o terrível fardo do tempo que vos abate e vos empurra para o chão, embriagai-vos incessantemente."
Eu pareço tomar grandes picos de anfetamina. Meu centro da fome não acusa mais que é hora de comer, passo o dia sem me alimentar. E da mesma forma, a noite eu não durmo. Sou capaz de conversar comigo por horas e horas imaginando diálogos, fazendo perguntas, construindo situações e lembrando detalhes de conversas. Eu passo tim tim por tim tim tudo o que foi dito e me vem um estado febril de euforia como se a jovem adolescente que eu fora voltasse a encarnar em mim. Eu busco me policiar. Mas a insensatez virou me destino. Sei que quanto maior a altura, maior o tombo. Esse sentimento de felicidade me invade, mas assim também sera retumbante a tristeza, que virá na epoca propícia.. O meu coração se rasga de medo. Palpita num descompasso acelderadíssimo. Estou sempre na expectativa de que algo vai acontecer por conta dessa sensação que me abocanhou e soca a boca do estômago. E se porventura fico saciada do desejo nessa hora, na próxima quero mais. É algo que preciso regar todos os minutos das 24 horas. Uma sensação inflamável, incômoda que nem urtiga. Me amedronto com o que vai ser de mim. Esse medo me amordaça o estômago. Azeda o meu feijão. Me deixa a beira do penhasco. Só porque eu ouso voar a seis mil pés de altura.Mas eu não tenho asas. Só um coração que anda a galope.
Schopenhauer, o filósofo da melancolia salienta que o homem e a vida estão fadados ao fracasso. Porque o homem deseja e todo desejo uma vez satisfeito vira um outro desejo. E assim o ciclo não para é igual a samsara, a roda dos desejos budistas.
Mas eu sei bem que estou caminhando em uma corda bamba. Estou me sentindo mais vulnerável do que nunca, na dependência desse súbito e feroz sentimento.
Assim como me torno eufórica neste instante, noutro posso me corroer de aflição. Que angústia mordaz. É a instabilidade provocada por esse prazer - prazer bom e ruim - que me remete a um estado de embriaguez. Tenho em mim todos os sonhos românticos do mundo, mas acompanhados de um alto teor etílico.
Baudelaire exortou seus leitores a se embriagarem. "Para não sentirdes o terrível fardo do tempo que vos abate e vos empurra para o chão, embriagai-vos incessantemente."
Eu pareço tomar grandes picos de anfetamina. Meu centro da fome não acusa mais que é hora de comer, passo o dia sem me alimentar. E da mesma forma, a noite eu não durmo. Sou capaz de conversar comigo por horas e horas imaginando diálogos, fazendo perguntas, construindo situações e lembrando detalhes de conversas. Eu passo tim tim por tim tim tudo o que foi dito e me vem um estado febril de euforia como se a jovem adolescente que eu fora voltasse a encarnar em mim. Eu busco me policiar. Mas a insensatez virou me destino. Sei que quanto maior a altura, maior o tombo. Esse sentimento de felicidade me invade, mas assim também sera retumbante a tristeza, que virá na epoca propícia.. O meu coração se rasga de medo. Palpita num descompasso acelderadíssimo. Estou sempre na expectativa de que algo vai acontecer por conta dessa sensação que me abocanhou e soca a boca do estômago. E se porventura fico saciada do desejo nessa hora, na próxima quero mais. É algo que preciso regar todos os minutos das 24 horas. Uma sensação inflamável, incômoda que nem urtiga. Me amedronto com o que vai ser de mim. Esse medo me amordaça o estômago. Azeda o meu feijão. Me deixa a beira do penhasco. Só porque eu ouso voar a seis mil pés de altura.Mas eu não tenho asas. Só um coração que anda a galope.
quarta-feira, 16 de junho de 2010
O fosso
O desejo nasce e com ele, a vontade que feneceu. Somos assim, queremos sempre mais. Porque um desejo depois de satisfeito não é mais desejo, vira descarte. Por isso Buda disse que aqui é maia, o mundo das ilusões. Schopenhauer também pensava parecido. Dizia que o mundo é uma ilusão e não devemos nos preocupar com ele, e sim repudiá-lo. Ando pensando muito nisso porque meus desejos estão latentes. Eu faço força para contrariá-los mas eles vêm em uma explosão de sentimentos dificil de acorrentá-los. Fico apavorada com minha falta de domínio. Descobri que o amor é um poço sem fundo. Você fala, fala com a pessoa. Fica horas confabulando ladainhas, coisas desinteressantes, pelo simples fato de estar aí com ela. E cinco minutos depois, você já sente falta dela e quer tudo de novo. Parece um fosso, tudo se esvai em questão de minutos e você fica precisando eternamente desse zelo. É um buraco negro que se agiganta no peito quando você fica mais do que, cinco horas sem ter contato com ela. Tudo culpa do circuito cerebral. Se eu fosse budista, poderia tentar domar isso, mas como não sou, fico procurando referencias de Schopenhauer para conseguir dar ordem nessa balbúrdia interna. Queria que a paz deitasse sobre mim e viesse com um amor terno, diligente e sereno.
*** A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos."Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável"
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O desejo e a posse
Um homem não se sente totalmente privado dos bens aos quais nunca sonhou aspirar, mas fica muito satisfeito mesmo sem eles, enquanto outro que possua cem vezes mais do que o primeiro sente-se infeliz quando lhe falta uma única coisa que tenha desejado. A esse respeito, cada um tem também um horizonte próprio daquilo que lhe é possível atingir, e as suas pretensões têm uma extensão semelhante a esse horizonte. Quando determinado objecto, situado dentro desses limites, se lhe apresenta de modo que o faça acreditar na possibilidade de alcançá-lo, o homem sente-se feliz; em contrapartida, sentir-se-à infleliz quando eventuais dificuldades lhe tirarem tal possibilidade. Tudo o que estiver situado externamente a esse campo visual não agirá de forma alguma sobre ele. Por esse motivo, as grandes propriedades dos ricos não perturbam o pobre, e, por outro lado, para o rico cujos propósitos tenham fracassado, serve de consolo as muitas coisas que já possui. (A riqueza assemelha-se à água do mar; quanto mais dela se bebe, mais sede se tem. O mesmo vale para a glória).
(Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz')
-----------------------------
Na tenebrosa visão de Schopenhauer, o desejo é como que a semente de todo o sofrimento (e nesse ponto, como em muitos outros, ele se aproxima muito do budismo). Nâo há nenhum sofrimento que não seja frustração de um desejo ou demora na satisfação de um desejo. Somos infelizes pois a vida não é como desejamos que seja. Simples assim. Se conseguíssemos desejar que a vida fosse exatamente como é, se conseguíssemos deixar de querer que ela seja algo de diferente, algo de aperfeiçoado, algo de melhor, não estaríamos enfim reconciliados com ela?
Mas, dirão alguns, pretendendo refutar o sombrio alemão, que nem todo desejo é impossível de satisfazer, e que é inegável a existência do prazer quando conquistamos o objeto dos nossos desejos. Sem dúvida que é assim. Schopenhauer não nega. Negar a existência do prazer seria ridículo de um filósofo dessa categoria. O problema, claro, é que o prazer não dura. Todo desejo satisfeito nos causa um pequeno momento de prazer, o rápido fulgor subjetivo da alegria, um pequeno brilho na escuridão do sofrimento, mas logo ele, o prazer, destrói o desejo que o precedeu, e então o que sobra?... O tédio, o aborrecimento, o enfado. O prazer é o carrasco do desejo. E morto um desejo, assassinado pelo prazer, corre a nos dominar um novo desejo, e assim segue a vida, nessa “constante marcha adiante do desejo”, como diz Hobbes. O prazer é como um aliviante balde d’água que se despeja sobre o fogo do desejo. E, apagado o fogo, infelizmente, não é o repouso que se encontra: das cinzas renasce, como Fênix, um novo desejo. E saímos então, mundo afora, à caça de numerosos baldes d’água para apagar fogos que se sucedem numa fila sem fim, bombeiros no incêndio do desejo...
*** A visão de mundo de Schopenauer é profundamente pessimista. Para ele, somos escravos de nossos desejos. Mal satisfazemos um e outro surge, de modo que vivemos permanentemente insatisfeitos. Além disso, o mundo está repleto de injustiça e violência. A existência é, assim, uma fonte de sofrimentos."Cada vida individual é uma tragédia insignificante que termina numa morte inevitável"
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O desejo e a posse
Um homem não se sente totalmente privado dos bens aos quais nunca sonhou aspirar, mas fica muito satisfeito mesmo sem eles, enquanto outro que possua cem vezes mais do que o primeiro sente-se infeliz quando lhe falta uma única coisa que tenha desejado. A esse respeito, cada um tem também um horizonte próprio daquilo que lhe é possível atingir, e as suas pretensões têm uma extensão semelhante a esse horizonte. Quando determinado objecto, situado dentro desses limites, se lhe apresenta de modo que o faça acreditar na possibilidade de alcançá-lo, o homem sente-se feliz; em contrapartida, sentir-se-à infleliz quando eventuais dificuldades lhe tirarem tal possibilidade. Tudo o que estiver situado externamente a esse campo visual não agirá de forma alguma sobre ele. Por esse motivo, as grandes propriedades dos ricos não perturbam o pobre, e, por outro lado, para o rico cujos propósitos tenham fracassado, serve de consolo as muitas coisas que já possui. (A riqueza assemelha-se à água do mar; quanto mais dela se bebe, mais sede se tem. O mesmo vale para a glória).
(Arthur Schopenhauer, in 'A Arte de Ser Feliz')
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Na tenebrosa visão de Schopenhauer, o desejo é como que a semente de todo o sofrimento (e nesse ponto, como em muitos outros, ele se aproxima muito do budismo). Nâo há nenhum sofrimento que não seja frustração de um desejo ou demora na satisfação de um desejo. Somos infelizes pois a vida não é como desejamos que seja. Simples assim. Se conseguíssemos desejar que a vida fosse exatamente como é, se conseguíssemos deixar de querer que ela seja algo de diferente, algo de aperfeiçoado, algo de melhor, não estaríamos enfim reconciliados com ela?
Mas, dirão alguns, pretendendo refutar o sombrio alemão, que nem todo desejo é impossível de satisfazer, e que é inegável a existência do prazer quando conquistamos o objeto dos nossos desejos. Sem dúvida que é assim. Schopenhauer não nega. Negar a existência do prazer seria ridículo de um filósofo dessa categoria. O problema, claro, é que o prazer não dura. Todo desejo satisfeito nos causa um pequeno momento de prazer, o rápido fulgor subjetivo da alegria, um pequeno brilho na escuridão do sofrimento, mas logo ele, o prazer, destrói o desejo que o precedeu, e então o que sobra?... O tédio, o aborrecimento, o enfado. O prazer é o carrasco do desejo. E morto um desejo, assassinado pelo prazer, corre a nos dominar um novo desejo, e assim segue a vida, nessa “constante marcha adiante do desejo”, como diz Hobbes. O prazer é como um aliviante balde d’água que se despeja sobre o fogo do desejo. E, apagado o fogo, infelizmente, não é o repouso que se encontra: das cinzas renasce, como Fênix, um novo desejo. E saímos então, mundo afora, à caça de numerosos baldes d’água para apagar fogos que se sucedem numa fila sem fim, bombeiros no incêndio do desejo...
terça-feira, 15 de junho de 2010
Colo
"Eu me dou melhor comigo mesma quando estou infeliz:há um encontro. Quando me sinto feliz, parece-me que sou outra"
Lispector sempre teve o maior talento com as palavras e em várias frases suas eu identifico-me. Não saberia como costurar tão bem as frases. Na felicidade, eu tenho medo do próximo instante que pode não ser mais feliz. Eu tenho medo de me acostumar a felicidade e depois ter de chorar para voltar aos doces campos inócuos, onde nem alegria, nem melacolia se criam. Eu sinto essa agonia estapafúrdia que não quer parar de palpitar no meu peito. Me amedronta o que ela vai fazer comigo. Vai engolir um por um meus largos pensamentos a respeito da alegria, vai retirar com a pinça minhas ideias de ir avante. Vai solapar minha vontade de me sentir viva. Tenho medo de me iludir com a felicidade. Quero me olhar na poça da água e sentir que este é o riso real, aquele opaco refletido no chão, sem presunção de grandes alturas. Deus, cansei de andar de roda-gigante da felicidade. Prefiro o chão, a terra firme e um sentimento estabilizador, porque é com eles que sei lidar. Prefiro Deus, que tu me nine com tuas canções de ninar e me acolha no colo como uma garotinha que necessita de segurança. É este todo conforto que eu quero. Quero o aconchego de um colo mais do que a escalada para a felicidade. Um colo humano, também tá valendo.
Lispector sempre teve o maior talento com as palavras e em várias frases suas eu identifico-me. Não saberia como costurar tão bem as frases. Na felicidade, eu tenho medo do próximo instante que pode não ser mais feliz. Eu tenho medo de me acostumar a felicidade e depois ter de chorar para voltar aos doces campos inócuos, onde nem alegria, nem melacolia se criam. Eu sinto essa agonia estapafúrdia que não quer parar de palpitar no meu peito. Me amedronta o que ela vai fazer comigo. Vai engolir um por um meus largos pensamentos a respeito da alegria, vai retirar com a pinça minhas ideias de ir avante. Vai solapar minha vontade de me sentir viva. Tenho medo de me iludir com a felicidade. Quero me olhar na poça da água e sentir que este é o riso real, aquele opaco refletido no chão, sem presunção de grandes alturas. Deus, cansei de andar de roda-gigante da felicidade. Prefiro o chão, a terra firme e um sentimento estabilizador, porque é com eles que sei lidar. Prefiro Deus, que tu me nine com tuas canções de ninar e me acolha no colo como uma garotinha que necessita de segurança. É este todo conforto que eu quero. Quero o aconchego de um colo mais do que a escalada para a felicidade. Um colo humano, também tá valendo.
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Vuvuzelas nos meus olhos!

Ando aturida. Não sei de que forma, mas a alegria está atirando pedrinhas na minha janela. Escuto o sibilar dos canários e a Terra me parece mais azul do que a do Iuri Gagarin. O frio me açoita a pele branca e eu perco a mobilidade em função do acúmulo de casacos. Mas não é porque esses pagos verdejantes se cobrem de geada que eu deixo de sorrir de um canto a outro da boca, mostrando o metal que emoldura meus dentes. É bem apropriado esse aparelho ortodôntico à beira dos 40. Eu estou esfuziante igual a uma adolescente. Não me perguntem que bicho me mordeu. Mas tem a ver com adrenalina, noradrenalina, feniletilamina, dopamina, oxitocina, serotonina e as endorfinas. Quem for antenado sacou que se relaciona a uma reação química.
No jornal, costumo ser a Dona Reclamona. Não pago pedágio para largar um "Ah, que saco", ou outra coisa que o valha. O pessoal já se acostumou. Bem, alguns não e confesso que minha "distimia" pega de jeito certos colegas. Eu me queixo por hábito, não é nem que está tão ruim assim, mas o ranço sai maquinalmente da minha boca. Mas tem três dias que estou melhorzinha. Estar contente não é nenhuma descoberta da América, mas no meu caso tem uma conotação especial. Sempre tive medo de ser feliz. Medo de atingir um ponto de contentamento e depois ter de voltar a submergir na tristeza. A melancolia sempre foi minha zona de conforto, sendo assim, relutava em sair dela. Mas dessa vez eu fugi das garras da dita cuja e sabe o quê? Eu não estou com um pingo de temor. Ando me surpreendendo com esses sentimentos. Sim, eu descobri a África em plena Copa do Mundo. Estou vendo vuvuzelas orbitando ao redor dos meus olhos. Este vai ser o meu Mundial, ando de marcação cerrada com a alegria. E não tem impedimento que ataque os melhores lances desse meu frenesi. Quero a vida em jogo para desempatar qualquer drible infeliz.
No jornal, costumo ser a Dona Reclamona. Não pago pedágio para largar um "Ah, que saco", ou outra coisa que o valha. O pessoal já se acostumou. Bem, alguns não e confesso que minha "distimia" pega de jeito certos colegas. Eu me queixo por hábito, não é nem que está tão ruim assim, mas o ranço sai maquinalmente da minha boca. Mas tem três dias que estou melhorzinha. Estar contente não é nenhuma descoberta da América, mas no meu caso tem uma conotação especial. Sempre tive medo de ser feliz. Medo de atingir um ponto de contentamento e depois ter de voltar a submergir na tristeza. A melancolia sempre foi minha zona de conforto, sendo assim, relutava em sair dela. Mas dessa vez eu fugi das garras da dita cuja e sabe o quê? Eu não estou com um pingo de temor. Ando me surpreendendo com esses sentimentos. Sim, eu descobri a África em plena Copa do Mundo. Estou vendo vuvuzelas orbitando ao redor dos meus olhos. Este vai ser o meu Mundial, ando de marcação cerrada com a alegria. E não tem impedimento que ataque os melhores lances desse meu frenesi. Quero a vida em jogo para desempatar qualquer drible infeliz.
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*** "Mas tenho medo do que é novo e tenho medo de viver o que não entendo - quero sempre ter a garantia de pelo menos estar pensando que entendo, não sei me entregar à desorientação".
(Clarice Lispector)
*** Conservo sempre uma aspa à esquerda e a direita de mim (Clarice Lispector)
***Eu tenho medo do instante que é sempre único."[Clarice Lispector]
***"Quando estou feliz demais, sinto uma angústia amordaçante: assusto-me."[Clarice Lispector]
quinta-feira, 3 de junho de 2010
Mais de mim
Hoje o dia tem um sol lindo, parece que se abriu para inalar as festividades de Corpus Christi que replicam pela região. Esses raios solares não me atingem. Parece que nasci com um escudo contra a felicidade. Alma privada de luz, envolta em uma manta sombria de ideias que não me levam a lugar nenhum. Um amigo meu me disse, há dois anos que eu era uma errante. Tal lucidez ante essa estapafúrida constação na época me chocou. Mas eu retive a informação e concordo com ele. Deixamos de nos falar, eu e ele, mas se pudesse, lhe diria que ele tinha razão. E sempre que eu penso na palavra errante, lembro da sua presença centrada e decidida, nada do que eu sou.
Esta semana eu fui ao psiquiatra. Vou lá para manter a medicação e avaliar se eu preciso aumentar a dose ou trocar os fármacos. Tomo antidepreessivo e estabilizadores de humor. Sempre pendemos nossa conversa para um viés filosófico, en passant, ele fala de Marcel Proust, eu emendo com a teoria do "eterno retorno" de Nietzsche. Ele diz que são poucas as mulheres com as quais se pode falar sobre isso e aproveita para me elogiar: "Viu como você tem qualidades". Mas eu não engulo esse louvores pessoais. E ele então ressalta: "quando você começa a se criticar, sai de baixo".
Eu não sei o que esperar da vida. Não sei o que ela quer de mim. Eu estou com uma certa idade, quase quarenta anos rodando na face da Terra. Eu não construi nada em minha vida. Eu, com um sopro de inspiração, consigo escrever histórias bonitas de outras pessoas para estampar nas páginas de jornais. Eu sou volúvel, cheia de dúvidas, indecisa, um certo egoísmo que não me larga. Eu penso em budismo e leio sobre o assunto para me tornar melhor. Todas as segundas-ferias, eu vou ao Centro Espírita e saio de lá com o firme propósito de ser mais caridosa. Essa semana também aprendi o significado da palavra "alteridade". Gostei, refleti sobre. Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se fizéssemos esse exercício com certeza desenvolveriamos a tolerância e a benevolência.
Eu estou escrevendo tudo isso para dizer que não me acho boa como pessoa. E talvez por isso, as coisas boas não cheguem até mim. Eu considero o amor um dos episódios mais auspiciosos na vida de uma pessoa. Eu sinto vergonha de não ter um. Eu me sinto desamparada. Ser solteira às vésperas dos 40 anos é ratificar o fracasso pessoal. Sim, eu me cobro, eu me sinto excluída dos universo dos pares. Na cabeça das pessoas, deve passar o questionamento: "algum problema ele deve ter para estar sozinha". A solidão mutila. Ela te arranca uma por uma as esperanças, cada vez que um relacionamento não dá certo. Estar banido do mundo dos pares, para mim é a pior exclusão. E quando eu me olho no espelho, eu vejo uma mulher amputada sentimentalmente.
Esta semana eu fui ao psiquiatra. Vou lá para manter a medicação e avaliar se eu preciso aumentar a dose ou trocar os fármacos. Tomo antidepreessivo e estabilizadores de humor. Sempre pendemos nossa conversa para um viés filosófico, en passant, ele fala de Marcel Proust, eu emendo com a teoria do "eterno retorno" de Nietzsche. Ele diz que são poucas as mulheres com as quais se pode falar sobre isso e aproveita para me elogiar: "Viu como você tem qualidades". Mas eu não engulo esse louvores pessoais. E ele então ressalta: "quando você começa a se criticar, sai de baixo".
Eu não sei o que esperar da vida. Não sei o que ela quer de mim. Eu estou com uma certa idade, quase quarenta anos rodando na face da Terra. Eu não construi nada em minha vida. Eu, com um sopro de inspiração, consigo escrever histórias bonitas de outras pessoas para estampar nas páginas de jornais. Eu sou volúvel, cheia de dúvidas, indecisa, um certo egoísmo que não me larga. Eu penso em budismo e leio sobre o assunto para me tornar melhor. Todas as segundas-ferias, eu vou ao Centro Espírita e saio de lá com o firme propósito de ser mais caridosa. Essa semana também aprendi o significado da palavra "alteridade". Gostei, refleti sobre. Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se fizéssemos esse exercício com certeza desenvolveriamos a tolerância e a benevolência.
Eu estou escrevendo tudo isso para dizer que não me acho boa como pessoa. E talvez por isso, as coisas boas não cheguem até mim. Eu considero o amor um dos episódios mais auspiciosos na vida de uma pessoa. Eu sinto vergonha de não ter um. Eu me sinto desamparada. Ser solteira às vésperas dos 40 anos é ratificar o fracasso pessoal. Sim, eu me cobro, eu me sinto excluída dos universo dos pares. Na cabeça das pessoas, deve passar o questionamento: "algum problema ele deve ter para estar sozinha". A solidão mutila. Ela te arranca uma por uma as esperanças, cada vez que um relacionamento não dá certo. Estar banido do mundo dos pares, para mim é a pior exclusão. E quando eu me olho no espelho, eu vejo uma mulher amputada sentimentalmente.
quinta-feira, 27 de maio de 2010
Fait Divers
Por um tempo me aborrecia porque todas as matérias que eu fazia, todinhas, eram direcionadas para as páginas de Variedades. E quando eu abria a pauta no outro dia, lá vinha mais reportagem do "gênero leve" para a moça aqui realizar. Cheguei a me dar a alcunha de "Tia Variedades", o que provocou alguns risos na redação. Ocorre que - e isso eu não posso negar - sempre busquei histórias pitorescas. O inusitado cai bem em mim. Adoro viajar com as histórias, criar metáforas e fazer trocadilhos, quando a ocasião assim permite.
Comecei a perceber que quando "cavo" uma pauta, meu olhar sempre recai para assuntos de comportamento ou para aquelas notícias curiosas. Da seção "Pesquisa revela que...", ah, essa eu adoro: Pesquisa revela que casar engorda; Pesquisa revela que mulheres não administram bem seu tempo; Pesquisa revela como a internet está afetando o mundo dos adolescentes e por aí afora. Eu saio no encalço do recreativo. Notícias diferentes me atraem mais do que a Dilma e o Serra. Tá, tá, tá, eu sei, eu sei que como uma jornalista lúcida eu deveria ler tim tim por tim tim de economia, política e educação. Assumo a mea culpa. Também não sou alienada, nem estou relegada a futilidades. Curto um bom texto, filosófico até. E me empenho em mergulhar nas revistas, pois o estilo magazine me atrai muito. Mas pardón, caro leitor, não nego meu lado bizarro. Um pouco do incomum abre caminho para outras narrações.
***O fait divers tem uma ressonância negativa no mundo do jornalismo que o relega apenas a um segundo ou terceiro plano entre as informações dos jornais. "É apenas um fait diver", falarão os nobres jornalistas "sérios", aqueles acostumados a entrevistarem ministros e deputados.
O fait diver pode contar um drama incomum de uma pessoa ou relatar um episódio casual de difícil coincidência. "É a notícia minando o chavão um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar", diz Roland Barthes.
*** Fait divers é uma palavra francesa, e seu signficado é simples: trata-se daquela notícia especial que vai provocar empatia no leitor. O Grande Dicionário Universal do Século 19 relaciona alguns significados para fait divers: "Pequenos escândalos, acontecimentos misteriosos, casos de antropofagia, sonambulismo. E ainda: casos de salvamento e fenômenos esquisitos da natureza, como gêmeos xifópagos, bezerros com duas cabeças..."
*** "Quando eu estava na faculdade de jornalismo, ensinaram-me que um fait-divers era, entre outras coisas, um facto não necessariamente importante mas decididamente interessante. O conceito nunca me saiu da cabeça. A verdade é que, salvo raras excepções, o que é interessante não importa e o que importa não é interessante”
(Edson Athayde, in Diário de Notícias )
Comecei a perceber que quando "cavo" uma pauta, meu olhar sempre recai para assuntos de comportamento ou para aquelas notícias curiosas. Da seção "Pesquisa revela que...", ah, essa eu adoro: Pesquisa revela que casar engorda; Pesquisa revela que mulheres não administram bem seu tempo; Pesquisa revela como a internet está afetando o mundo dos adolescentes e por aí afora. Eu saio no encalço do recreativo. Notícias diferentes me atraem mais do que a Dilma e o Serra. Tá, tá, tá, eu sei, eu sei que como uma jornalista lúcida eu deveria ler tim tim por tim tim de economia, política e educação. Assumo a mea culpa. Também não sou alienada, nem estou relegada a futilidades. Curto um bom texto, filosófico até. E me empenho em mergulhar nas revistas, pois o estilo magazine me atrai muito. Mas pardón, caro leitor, não nego meu lado bizarro. Um pouco do incomum abre caminho para outras narrações.
***O fait divers tem uma ressonância negativa no mundo do jornalismo que o relega apenas a um segundo ou terceiro plano entre as informações dos jornais. "É apenas um fait diver", falarão os nobres jornalistas "sérios", aqueles acostumados a entrevistarem ministros e deputados.
O fait diver pode contar um drama incomum de uma pessoa ou relatar um episódio casual de difícil coincidência. "É a notícia minando o chavão um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar", diz Roland Barthes.
*** Fait divers é uma palavra francesa, e seu signficado é simples: trata-se daquela notícia especial que vai provocar empatia no leitor. O Grande Dicionário Universal do Século 19 relaciona alguns significados para fait divers: "Pequenos escândalos, acontecimentos misteriosos, casos de antropofagia, sonambulismo. E ainda: casos de salvamento e fenômenos esquisitos da natureza, como gêmeos xifópagos, bezerros com duas cabeças..."
*** "Quando eu estava na faculdade de jornalismo, ensinaram-me que um fait-divers era, entre outras coisas, um facto não necessariamente importante mas decididamente interessante. O conceito nunca me saiu da cabeça. A verdade é que, salvo raras excepções, o que é interessante não importa e o que importa não é interessante”
(Edson Athayde, in Diário de Notícias )
sábado, 22 de maio de 2010
Ela aprendeu a enxergar o mundo com outros olhos
Taís Cauduro (23) nunca se resignou com sua condição. Também jamais lutou contra, como se fosse alguém rebelde em uma batalha infrutífera. Ela - e esse sim é seu mérito - extrapolou as fronteiras de suas limitações. Taís não enxerga, mas quem sabe veja mais do que muita gente. Tem a personalidade bem resolvida, pois vislumbra uma vida cheia de possibilidades. Seu tato é o grande trunfo. Ela se formou ano passado em massoterapia e corre atrás para angariar clientela. A sensibilidade não está apenas na ponta dos dedos. Ela também é manifesta em seu coração. A história de Taís começa no ventre de sua mãe.Nasceu com seis meses. Pouco mais do que um embrião, algo tão frágil e ao mesmo tempo querendo viver. Lutando por um pouco mais de fôlego. Permaneceu 72 dias na incubadora. Naquele tempo, sem a tecnologia existente de hoje, era normal o oxigênio do aparelho queimar a retina. E ela, pequena demais para guardar na memória as feições da mãe viu a luz se apagar. Ali mesmo, no hospital. A incubadora foi sua salvação e carcereira. O azul do céu em tempo nenhum fulminará o olho de Taís. A cor da nação tricolor a qual ela faz parte não existe nem em imaginação. É um foco obscuro. Mas nada de lágrimas. A existência dela é pontuada pela intrepidez.Cresceu uma pessoa de fibra, que rejeita o rótulo do "coitadismo" e da superproteção. "Eu até esqueço que ela não enxerga", enfatiza a mãe Leda. Taís é uma filha que nunca deu trabalho. Poderia se revoltar com o preconceito, muitas vezes evidente. Decidiu relevar. Tem, dentro do seu conceito de vida, um dom importante, o altruísmo, que ajuda e encoraja deficientes visuais. O seu exemplo é de motivação. Ela já passou por peripécias. Sozinha. Ao decidir fazer o curso de massoterapia, perambulou dez meses por Porto Alegre. Morou na capital durante quatro meses, na casa de amigos. Aprendeu a se deslocar na cidade grande, sentindo as paredes que nunca vira antes. Concluiu o treinamento no final de 2009 e montou uma sala de massagem na garagem de casa, em Lajeado. A freguesia existe, mas pode melhorar. Falta marketing. Ela tem cartões de visitas que fornece aos conhecidos e divulga boca-a-boca, o segredo de suas mãos. "Eu tenho o tato aguçado. O professor elogiou e disse que eu tenho o dom."A coragem de Taís não fica só por Porto Alegre, atravessa as fronteiras do estado. No Carnaval, foi se divertir bem longe de casa. Tomou o ônibus para uma aventura interestadual. Só parou em Ribeirão Preto. Foi encontrar uma amiga que conheceu pela internet. A moça fez tudo isso sozinha, com um certo temor, mas sem se intimidar perante o desconhecido - porque o que a gente não enxerga é sempre tão mais sombrio, que amedronta. Taís rejeita a posição fetal. Brinda a vida com a potência de sentimentos e não verga, porque se recusa a perder para as dificuldades.A viagem a Ribeirão Preto foi crucial para reforçar sua independência. Ela pensa em repetir a dose. A família aprova e orgulha-se da autossuficiência da filha. Até lá, vai falando com seus amigos pela internet. Gosta de leitura e informática e aliou os dois prazeres fazendo do computador sua janela para o mundo. A sua máquina tem leitores de tela e ela pode ouvir a voz mecânica que narra histórias das obras. É sua maneira de ler. O mundo de Taís é sensorial e cheio de desafios. Ela não os nega, pelo contrário, os quer. À medida em que estipula novas metas, luta para transpor os obstáculos e toma ciência de sua força, que está na sua forma de ver o mundo. "A vida não é uma festa, porque não dá para viver viajando, mas é cheia de oportunidades. É só a gente saber aproveitar da melhor forma."
(Histórias de vida que dão orgulho de escrever. Gostei de ter sido a intermediária entre Taís e o leitor. A reportagem saiu no Informativo de hoje)
(Histórias de vida que dão orgulho de escrever. Gostei de ter sido a intermediária entre Taís e o leitor. A reportagem saiu no Informativo de hoje)
quinta-feira, 20 de maio de 2010
Ele quer uma mulher perdigueira!
Ele se diz doido. Doido varrido e limpo. Mas na verdade é um canalha das palavras. Adorável, como ele bem sabe. E estará aqui em agosto, eu como sua súdita, não vou deixar de prestigiá-lo. Hoje, fazendo a matéria da 5ª Feira do Livro me alegrei por saber que ele dará uma palestra aos pais em agosto. Fabrício Carpinejar, o homem que desafina do coro dos contentes, quer a mulher que ninguém quer. Ele a define como "perdigueira", aquela possessiva, "que me ligue a cada quinze minutos para contar de uma ideia ou de uma nova invenção para salvar as finanças, quero uma mulher que ame meus amigos e odeie qualquer amiga que se aproxime. Que arda de ciúme imaginário para prevenir o que nem aconteceu".
Ah que bom construtor de frases. Como sabe alinhavar palavras esse homem. Tenho ele no Twitter. E ele é capaz de dar "oficina de literatura" no microblog. "Acredito que 140 caracteres não são uma limitação, mas um afrodisíaco na arte do corte e da captura do que é essencial a ser escrito. É uma oportunidade criativa para sugerir mais e acentuar a ambiguidade e a duplicidade das experiências do cotidiano". Ainda há pouquinho tuitou uma frase fantástica: "Eu me atraso sempre que tenho tempo de sobra." Intelectual excêntrico, que retira poesia até em entrevista por e-mail. Não me canso de ler o seu blog.
É dele:
"Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém"
"Não quero chegar a nenhum lugar, sou um lugar viajando"
"Esconder o vexame sempre foi o maior vexame"
"Sofro em vão pelo medo de sofrer. Falta-me a simplicidade de um pano de prato"
"Aniversário tem desses paradoxos, a gente não avisa, mas quer ser lembrado."
Ele por ele mesmo
Quando e como surgiu teu "eu" escritor?
CARPINEJAR: Acho que surgiu o "ele" escritor. A literatura me motiva a tomar a vida dos outros como se fosse minha. É um pessoalismo altruísta, meio santo meio maldito: esvaziar-se de si. Sou o último a me ouvir. Acredito que minha infância barulhenta de sinais me inspirou a deixar lentamente um testamento por escrito. Ou pode ser meu modo de devolver todas as frutas que roubei de meus vizinhos.
O que mais te inspira a escrever?
CARPINEJAR: O que ninguém amou ou percebeu o suficiente. Literatura é dar valor ao que estava na garagem, no porão, no quartinho de tralhas, e convencer de sua importância para a casa.
Uma característica essencial do Fabrício?
CARPINEJAR: Amor incondicional - vou ao inferno para buscar o melhor buquê de fogo.
Ah que bom construtor de frases. Como sabe alinhavar palavras esse homem. Tenho ele no Twitter. E ele é capaz de dar "oficina de literatura" no microblog. "Acredito que 140 caracteres não são uma limitação, mas um afrodisíaco na arte do corte e da captura do que é essencial a ser escrito. É uma oportunidade criativa para sugerir mais e acentuar a ambiguidade e a duplicidade das experiências do cotidiano". Ainda há pouquinho tuitou uma frase fantástica: "Eu me atraso sempre que tenho tempo de sobra." Intelectual excêntrico, que retira poesia até em entrevista por e-mail. Não me canso de ler o seu blog.
É dele:
"Não me interessa um tempo comigo quando posso dividir a eternidade com alguém"
"Não quero chegar a nenhum lugar, sou um lugar viajando"
"Esconder o vexame sempre foi o maior vexame"
"Sofro em vão pelo medo de sofrer. Falta-me a simplicidade de um pano de prato"
"Aniversário tem desses paradoxos, a gente não avisa, mas quer ser lembrado."
Ele por ele mesmo
Quando e como surgiu teu "eu" escritor?
CARPINEJAR: Acho que surgiu o "ele" escritor. A literatura me motiva a tomar a vida dos outros como se fosse minha. É um pessoalismo altruísta, meio santo meio maldito: esvaziar-se de si. Sou o último a me ouvir. Acredito que minha infância barulhenta de sinais me inspirou a deixar lentamente um testamento por escrito. Ou pode ser meu modo de devolver todas as frutas que roubei de meus vizinhos.
O que mais te inspira a escrever?
CARPINEJAR: O que ninguém amou ou percebeu o suficiente. Literatura é dar valor ao que estava na garagem, no porão, no quartinho de tralhas, e convencer de sua importância para a casa.
Uma característica essencial do Fabrício?
CARPINEJAR: Amor incondicional - vou ao inferno para buscar o melhor buquê de fogo.
quarta-feira, 19 de maio de 2010
Mulher de palavra!
Sou uma pessoa de palavra. Juro. Adoro aprender um novo vocábulo. Sim, é a isso a que me refiro, até porque em relação a promessas, não me "fio" em mim. Mas gosto de expandir o meu vocabulário, incorporar o significado de um tal "silogismo", ula-la, que coisa boa. A etimologia é o estudo das palavras e eu não me aprofundo tanto a ponto de ser uma especialista. Só sou uma diletante. E tem épocas em que as palavras novas parecem florescer aos nossos olhos. Esse outono, por exemplo, foi frutífero. Conheci, através do secretário de Cultura e Turismo, Gerson Junqueira, o tal "etnocentrismo". O Aurélio, tem uma definição sucinta, então fui para o Google. Em duas ou três páginas é possível se situar no conceito: "etnocentrismo é uma visão de grupo onde o nosso próprio grupo é tomado como centro de tudo e todos os outros são sentidos através de nossas vidas. No plano intelectual, pode ser visto como a dificuldade de pensar a diferença." A palavra me intrigou e eu fiquei um bom tempo ao redor dela. Ela carrega em si a questão da hostilidade e do choque cultural. Interessante. E antropológico.
Também me deparei com um vocábulo (alguém ai sabe um sinônimo para "palavra" e "vocábulo"?) utilizado no meio publicitário. Expertise, cuja pronúncia foi aportuguesada, está em voga na economia e nas agências de comunicação: "Chineses tem expertise para explorar mercado de transmissão". Significa que os loucos tem vasta experiência no assunto. De certa forma, substitui-se o antigo "Know-how" por essa nova palavra, a queridinha da moda. É, as palavras também sofrem com as oscilações. Em algumas vezes estão por cima, noutras, por baixo. É a dança das cadeiras dos vocábulos, uma dança, aliás, sempre tão presente no mundo jornalístico. Por falar nele, vi a manchete em cima da minha mesa, na redação. Estava impressa em um jornal da categoria: "Jornalismo é dissensão". Não precisei pensar muito para concluir que era o contrário de coesão. Mas para ter certeza, abri o amansa burro novamente: Dissensão=divergência de opiniões. Bingo. Mais uma palavrinha arquivada na minha cachola. Já sei, já sei, não posso usar tudo que inoculo. Dia desses, meu editor embestou porque coloquei a palavra miríade, mas a deixou no texto. Que venha mais, torrente de palavras. Para que eu tenha mais sapiência. Oba, no meu blog eu posso usá-las. Que deleite. (Eu adoro essa palavra).
Para pesquisar:
Admoestar – conselho, leve repreensão.
Alarido – confusão , algazarra , farra.
Alcunha – apelido.
Âmago – parte muito interior , cerne.
Ardiloso – manhoso , esperto.
Arroubo – entusiasmo , fervor , encanto.
Balbúrdia – baderna , bagunça , confusão.
Belicoso – que incita à guerra.
Curra – abuso sexual , esturo com a participação de várias pessoas.
Dilapidar – desperdiçar , estragar , destruir.
Dândi – que procura se vestir com elegância.
Engodar – mentir , enganar.
Fenecimento – fim , término.
Fugaz – passageiro , que passa rápido.
Fleumático – imperturbável.
Frugal – simples.
Homizio – refúgio, guarida, abrigo, esconderijo
Ígneo – próprio do fogo.
Ignóbil – sem caráter , vergonhoso.
ImplÍcito – escondido , não expresso , omisso.
Insolente – desaforado , desagradável.
Irrupção – entrada violenta , pancada forte.
Incólume – intacto.
Inócuo – inofensivo.
Jaez – tipo , categoria.
Janota – bem vestida.
Justapor – colocar perto.
Loquaz – falador.
Nódoa – sujeira , mancha. pode ser também a alcunha de uma pessoa de má fama.
Pachorrento – calmo , sereno , acomodado.
Pacóvio – imbecil , ignorante.
Parco – moderado , econômico , diminuto.
Pedante – nojento , exibido , audacioso.
Perdulário – que gasta mais.
Perene – que dura muito , imortal.
Permuta – troca , câmbio.
Pernóstico – pretensioso , esnobe.
Petiz – criança , adolescente.
Plissado – com rugas.
Prescrutar – vasculhar , procurar , revirar.
Pândego – feliz , alegre.
Pérfido – cruel , traidor , desgraçado.
Ruar – sair sem destino , andar à toa.
Recôndito – escondido, encoberto, secreto, oculto
Rubicundo – avermelhado.
Sumidade – personalidade importante , sábio.
Suscitar – fazer surgir , encorajar , provocar.
Tergiversar – desculpar-se.
Taciturno – calado.
Tênue – fraco , frágil.
Veneta – ataque , acesso de loucura.
Também me deparei com um vocábulo (alguém ai sabe um sinônimo para "palavra" e "vocábulo"?) utilizado no meio publicitário. Expertise, cuja pronúncia foi aportuguesada, está em voga na economia e nas agências de comunicação: "Chineses tem expertise para explorar mercado de transmissão". Significa que os loucos tem vasta experiência no assunto. De certa forma, substitui-se o antigo "Know-how" por essa nova palavra, a queridinha da moda. É, as palavras também sofrem com as oscilações. Em algumas vezes estão por cima, noutras, por baixo. É a dança das cadeiras dos vocábulos, uma dança, aliás, sempre tão presente no mundo jornalístico. Por falar nele, vi a manchete em cima da minha mesa, na redação. Estava impressa em um jornal da categoria: "Jornalismo é dissensão". Não precisei pensar muito para concluir que era o contrário de coesão. Mas para ter certeza, abri o amansa burro novamente: Dissensão=divergência de opiniões. Bingo. Mais uma palavrinha arquivada na minha cachola. Já sei, já sei, não posso usar tudo que inoculo. Dia desses, meu editor embestou porque coloquei a palavra miríade, mas a deixou no texto. Que venha mais, torrente de palavras. Para que eu tenha mais sapiência. Oba, no meu blog eu posso usá-las. Que deleite. (Eu adoro essa palavra).
Para pesquisar:
Admoestar – conselho, leve repreensão.
Alarido – confusão , algazarra , farra.
Alcunha – apelido.
Âmago – parte muito interior , cerne.
Ardiloso – manhoso , esperto.
Arroubo – entusiasmo , fervor , encanto.
Balbúrdia – baderna , bagunça , confusão.
Belicoso – que incita à guerra.
Curra – abuso sexual , esturo com a participação de várias pessoas.
Dilapidar – desperdiçar , estragar , destruir.
Dândi – que procura se vestir com elegância.
Engodar – mentir , enganar.
Fenecimento – fim , término.
Fugaz – passageiro , que passa rápido.
Fleumático – imperturbável.
Frugal – simples.
Homizio – refúgio, guarida, abrigo, esconderijo
Ígneo – próprio do fogo.
Ignóbil – sem caráter , vergonhoso.
ImplÍcito – escondido , não expresso , omisso.
Insolente – desaforado , desagradável.
Irrupção – entrada violenta , pancada forte.
Incólume – intacto.
Inócuo – inofensivo.
Jaez – tipo , categoria.
Janota – bem vestida.
Justapor – colocar perto.
Loquaz – falador.
Nódoa – sujeira , mancha. pode ser também a alcunha de uma pessoa de má fama.
Pachorrento – calmo , sereno , acomodado.
Pacóvio – imbecil , ignorante.
Parco – moderado , econômico , diminuto.
Pedante – nojento , exibido , audacioso.
Perdulário – que gasta mais.
Perene – que dura muito , imortal.
Permuta – troca , câmbio.
Pernóstico – pretensioso , esnobe.
Petiz – criança , adolescente.
Plissado – com rugas.
Prescrutar – vasculhar , procurar , revirar.
Pândego – feliz , alegre.
Pérfido – cruel , traidor , desgraçado.
Ruar – sair sem destino , andar à toa.
Recôndito – escondido, encoberto, secreto, oculto
Rubicundo – avermelhado.
Sumidade – personalidade importante , sábio.
Suscitar – fazer surgir , encorajar , provocar.
Tergiversar – desculpar-se.
Taciturno – calado.
Tênue – fraco , frágil.
Veneta – ataque , acesso de loucura.
quarta-feira, 12 de maio de 2010
Sempre fico de olho nos pensamentos do Varal da Laura. Ela lê um monte e rabisca os livros, (igual a mim). Logo, está cheia de subsídios para compor um arquivo "maneiro" de frases. Volta e meia, encontro um texto que mexe muito comigo a ponto de eu guardá-lo. Desta vez, é do cantor Oswaldo Montenegro. Estou fazendo uma "retuitada" do site da Laurinha. Achei tri a frase, porque me identifico com ela. Sou indecisa para mais de metro, então, a sentença me convém.
Nunca vi um débil mental hesitar.
Todo imbecil é convicto.
O inteligente não tem certeza de nada”
(Oswaldo Montenegro)
Nunca vi um débil mental hesitar.
Todo imbecil é convicto.
O inteligente não tem certeza de nada”
(Oswaldo Montenegro)
terça-feira, 27 de abril de 2010
Como eu me sou!
Uma adulta bordejando pelos seus oceanos dentro de si, ora pacífico, ora tormentosos. Uma criança que não percebe a hora de parar de comer do doce de aniversário e vai se enchendo de mais e mais. Adulta e criança se fundem com suas características mais expoentes e eu me vejo ali, tentando procurar o amor, a serenidade e um pouco de lastro espiritual.
sábado, 24 de abril de 2010
A minha é maior
Minha pimpolha (que já nem é tão cotoco assim, está quase da minha altura) carrega dentro de si, no alvorecer da vida, todo o inconsciente coletivo que nunca foi domado nem no tempo das cavernas. Digo isso porque ontem, estávamos falando na conjuntivite que se abateu coletivamente na minha família. Ela, eu e minha mãe pegamos. Meu pai agora, mais tardiamente. Sorte que não passei a meus colegas de redação, que volta e meia esfregavam os olhos, temerosos de terem se contagiado pelo "mal da Pita". Ao mencionar a doença, ela logo fez questão de dizer: "a conjuntivite do vô está mais fraquinha. Quem pegou a mais forte fui eu."
Desde criança queremos medir as tragédias e gostamos quando as nossas são maiores. Creio que somos projetados para vermos nossas vicissitudes com lente de aumento. Não é que a grama do vizinho seja mais verde, é que nós fizemos questão de termos o drama maior. Nos esforçamos para isso. "O teu problema é grande, mas o meu é bem maior". Por incrível que pareça, constatarmos que o nosso problema é grandão, mais maxi que o do outro, nos da certa recompensa. E até uma gratificação.
Ainda não li nada na psicologia sobre a nossa obsessão por termos tragédias maiores e eu nem falo de grandes tormentas emocionais, tragedinhas pequenas mesmo, como a tal conjuntivite. Foi quando ficou patente, até em minha filha, a vontade de ter conflitos superlativos. Queremos que nossos dramas sejam maiores do que o dos outros para dizermos depois que sofremos mais, que nossa cruz foi barra pesada de carregar. Mas que conseguimos, apesar do torvelinho de dores, nos reassentar no caminho da paz reinante, nem tanta paz assim, mas enfim, uma serena tranquilidade que se acomoda no nosso cotidiano e que não se configura nem como felicidade nem como infelicidade. Um paz tíbia que vem bem a calhar no decorrer dos dias.
Queremos seguir em frente como heróis mais super do que o outro. Afinal, se minha dor é maior e eu fui capaz de superá-la, tendo a ser mais apto que ele. A grande tragédia da vida é que nossas dores são maiores, só para nós mesmos. E se ela acontece comigo, ela sempre será a mais sofrida. Até mesmo minha conjuntivite é mais forte que a sua.
"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."
(Mário Quintana)
Desde criança queremos medir as tragédias e gostamos quando as nossas são maiores. Creio que somos projetados para vermos nossas vicissitudes com lente de aumento. Não é que a grama do vizinho seja mais verde, é que nós fizemos questão de termos o drama maior. Nos esforçamos para isso. "O teu problema é grande, mas o meu é bem maior". Por incrível que pareça, constatarmos que o nosso problema é grandão, mais maxi que o do outro, nos da certa recompensa. E até uma gratificação.
Ainda não li nada na psicologia sobre a nossa obsessão por termos tragédias maiores e eu nem falo de grandes tormentas emocionais, tragedinhas pequenas mesmo, como a tal conjuntivite. Foi quando ficou patente, até em minha filha, a vontade de ter conflitos superlativos. Queremos que nossos dramas sejam maiores do que o dos outros para dizermos depois que sofremos mais, que nossa cruz foi barra pesada de carregar. Mas que conseguimos, apesar do torvelinho de dores, nos reassentar no caminho da paz reinante, nem tanta paz assim, mas enfim, uma serena tranquilidade que se acomoda no nosso cotidiano e que não se configura nem como felicidade nem como infelicidade. Um paz tíbia que vem bem a calhar no decorrer dos dias.
Queremos seguir em frente como heróis mais super do que o outro. Afinal, se minha dor é maior e eu fui capaz de superá-la, tendo a ser mais apto que ele. A grande tragédia da vida é que nossas dores são maiores, só para nós mesmos. E se ela acontece comigo, ela sempre será a mais sofrida. Até mesmo minha conjuntivite é mais forte que a sua.
"O pior dos problemas da gente é que ninguém tem nada com isso."
(Mário Quintana)
sexta-feira, 23 de abril de 2010
Castigo de Tântalo
Ouvi esta expressão hoje pela primeira vez e imediatamente fui procurar no Google, a que se referia meu amigo de emeesseene nesse papo muito elucidativo para mim: "Pita, a felicidade sempre esteve ao seu alcance, mas voce invariavelmente transformou ela em uma castigo de Tântalo"
Em tempo, a expressão "Suplício de Tântalo", refere-se ao sofrimento de quem, desejando muito uma coisa, sempre a vê escapar quando está prestes a alcançá-la.
No Tártaro
O mito grego do rei Tântalo desvela a ambição de um mortal que, não satisfeito em ser notoriamente o "predileto dos deuses", almeja transmutar-se num "deus" propriamente, incorrendo num erro brutal.
Apontando a hýbris (desmedida) em Tântalo, na obra intitulada "O simbolismo na mitologia grega", o renomado estudioso francês Paul Diel, afirma que: "Afoito por sua conquista e esquecido de sua condição mortal e seus limites, Tântalo chega a se exaltar com tal intensidade que lhe sobrevém a tentação de querer se tornar um igual entre as divindades, puros símbolos do espírito".
A fim de obtermos maior clareza sobre esse latente desejo humano e de sua possível perversão, descortinemos o mito legado pelo premiadíssimo tragediógrafo Ésquilo (524-456 a.C.).
A desfrutar néctar e ambrosia, Tântalo, o próspero e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
Presunçoso, no afã de confirmar seu estatuto de "igual" entre os deuses, Tântalo convida a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes oferece o alimento terrestre sob sua forma mais abjeta: a carne de seu próprio filho, Pélops.
Servir essa funesta iguaria, fruto de sua obsessão doentia, simboliza a maior perversão empreendida por um mortal. Eis que os deuses são mesmo oniscientes, reconhecem a blasfêmia e, horrorizados, repudiam a ofensiva dádiva. Somente a deusa Deméter, da agricultura, perturbadíssima com o recente desaparecimento da filha Perséfone (Prosérpina ou Kore para os romanos), desatentamente ingere um pedacinho da carne.
Malsucedido, Tântalo nem se igualou aos deuses, nem os rebaixou a seu nível, pois Zeus, o soberano do Olimpo, restaurador da ordem, ressuscita Pélops reconstituindo o pedaço faltante do ombro por mármore (daí "hamartía", a marca) e delibera sobre qual seria o pior castigo para o herege. Lançaram Tântalo ao Tártaro (a região mais profunda do Hades) como castigo, no qual sofreu enormes suplícios.Na Odisseia (11, 584), Homero coloca o Ulisses a descrever o Suplício de Tântalo. Ele refere que Tântalo estava sempre mergulhado em água até o pescoço e sob uma árvore carregada de saborosos frutos. Sofria incessantemente de fome e de sede, quando tentava mergulhar para beber, a água fugia dele; e quando levantava os braços para agarrar os frutos, os galhos da árvore elevavam-se para fora do seu alcance.
(Luciene Félix/ Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana)
Em tempo, a expressão "Suplício de Tântalo", refere-se ao sofrimento de quem, desejando muito uma coisa, sempre a vê escapar quando está prestes a alcançá-la.
No Tártaro
O mito grego do rei Tântalo desvela a ambição de um mortal que, não satisfeito em ser notoriamente o "predileto dos deuses", almeja transmutar-se num "deus" propriamente, incorrendo num erro brutal.
Apontando a hýbris (desmedida) em Tântalo, na obra intitulada "O simbolismo na mitologia grega", o renomado estudioso francês Paul Diel, afirma que: "Afoito por sua conquista e esquecido de sua condição mortal e seus limites, Tântalo chega a se exaltar com tal intensidade que lhe sobrevém a tentação de querer se tornar um igual entre as divindades, puros símbolos do espírito".
A fim de obtermos maior clareza sobre esse latente desejo humano e de sua possível perversão, descortinemos o mito legado pelo premiadíssimo tragediógrafo Ésquilo (524-456 a.C.).
A desfrutar néctar e ambrosia, Tântalo, o próspero e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
Presunçoso, no afã de confirmar seu estatuto de "igual" entre os deuses, Tântalo convida a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes oferece o alimento terrestre sob sua forma mais abjeta: a carne de seu próprio filho, Pélops.
Servir essa funesta iguaria, fruto de sua obsessão doentia, simboliza a maior perversão empreendida por um mortal. Eis que os deuses são mesmo oniscientes, reconhecem a blasfêmia e, horrorizados, repudiam a ofensiva dádiva. Somente a deusa Deméter, da agricultura, perturbadíssima com o recente desaparecimento da filha Perséfone (Prosérpina ou Kore para os romanos), desatentamente ingere um pedacinho da carne.
Malsucedido, Tântalo nem se igualou aos deuses, nem os rebaixou a seu nível, pois Zeus, o soberano do Olimpo, restaurador da ordem, ressuscita Pélops reconstituindo o pedaço faltante do ombro por mármore (daí "hamartía", a marca) e delibera sobre qual seria o pior castigo para o herege. Lançaram Tântalo ao Tártaro (a região mais profunda do Hades) como castigo, no qual sofreu enormes suplícios.Na Odisseia (11, 584), Homero coloca o Ulisses a descrever o Suplício de Tântalo. Ele refere que Tântalo estava sempre mergulhado em água até o pescoço e sob uma árvore carregada de saborosos frutos. Sofria incessantemente de fome e de sede, quando tentava mergulhar para beber, a água fugia dele; e quando levantava os braços para agarrar os frutos, os galhos da árvore elevavam-se para fora do seu alcance.
(Luciene Félix/ Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana)
quinta-feira, 22 de abril de 2010
Cachorros de palha
“Os humanos pensam que são seres livres, conscientes, quando na verdade são animais enganados.” (John Gray)
Em Cachorros de Palha, o professor da London School of Economics, John Gray, causa bastante polêmica ao afirmar que a técnica evolui, mas a ética humana não. Ele diz que a ciência pode ter aumentado o poder humano, mas também permitiu que o homem causasse maior destruição. O conhecimento, segundo o autor, não nos torna livres, e sim “nos deixa como sempre fomos, vítimas de todo tipo de loucura”.
* Mais no site do Rodrigo Constantino http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/08/cachorro-de-palha.html
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O que é mais improvisado, a cada vez, do que a primavera? E o que é esquecido mais depressa? A própria repetição, tão impressionante, não passa de um logro: é por se esquecerem que as estações se repetem, e justamente por causa do que torna a natureza sempre nova que ela só inova raramente.
"Porque o que dura ou se repete só ocorre mudando, e nada começa que não deva acabar. A inconstância é a regra. O real, de instante em instante, é sempre novo e essa novidade cabal, essa novidade perene é o mundo"
(Acho lindo esse trecho do filósofo Andre Comte-Sponville (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Só para constar a virtude em questão é a Fidelidade)
Em Cachorros de Palha, o professor da London School of Economics, John Gray, causa bastante polêmica ao afirmar que a técnica evolui, mas a ética humana não. Ele diz que a ciência pode ter aumentado o poder humano, mas também permitiu que o homem causasse maior destruição. O conhecimento, segundo o autor, não nos torna livres, e sim “nos deixa como sempre fomos, vítimas de todo tipo de loucura”.
* Mais no site do Rodrigo Constantino http://rodrigoconstantino.blogspot.com/2006/08/cachorro-de-palha.html
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O que é mais improvisado, a cada vez, do que a primavera? E o que é esquecido mais depressa? A própria repetição, tão impressionante, não passa de um logro: é por se esquecerem que as estações se repetem, e justamente por causa do que torna a natureza sempre nova que ela só inova raramente.
"Porque o que dura ou se repete só ocorre mudando, e nada começa que não deva acabar. A inconstância é a regra. O real, de instante em instante, é sempre novo e essa novidade cabal, essa novidade perene é o mundo"
(Acho lindo esse trecho do filósofo Andre Comte-Sponville (Pequeno Tratado das Grandes Virtudes. Só para constar a virtude em questão é a Fidelidade)
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