sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Bisavô vai à urna

O aposentado Otto João Lunkes tem 86 anos e um senso de cidadania exemplar. Domingo, dia de missa e de pachorra, será tempo de beijar a urna. Está dispensado de votar mas não se esquiva do compromisso. A urna – dispositivo moderno que evoluiu com o passar do tempo - levará seu eleito. “A primeira vez a gente nunca esquece”, diz a propaganda. Lunkes lembra do seu primeiro voto, há 60 anos. Na época, ele arava a terra e escutava as promessas de um gaúcho fundamentado no populismo. Entusiasmado, deu seu apoio e ajudou a colocar Getúlio Vargas no pedestal. Nunca se arrependeu. Desde então, não deixou de participar do processo eleitoral. Tem a convicção de que um bom político com assessores preparados faz a carruagem de uma nação disparar.

Para Lunkes, Vargas era o braço forte dos trabalhadores. “Saiu de um canto do Rio Grande do Sul para se tornar presidente”. Naquela época o aposentado residia em Cruzeiro do Sul e destaca não existir comemoração nas vitórias presidenciais. Os tempos eram outros, mais discretos. Mas o triunfo do caudilho lhe deixou muito satisfeito. Talvez venha dessa época a certeza de que político deve ter conduta ilibada. O aposentado não admite mácula na vida pública. “Ele deixou de votar em um candidato porque fulano havia se separado”, entrega a esposa Maria Terezinha Lunkes, companheira há 60 anos, que também adota o voto como arma popular.

Voto após a missa

A vida se encarregou de transformar o agricultor Lunkes em motorista de caminhão. A bordo do veículo, viajou por todas as pirombeiras do Vale do Taquari recolhendo frangos e levando ração. Depois de tanto trabalho, se aposentou com um valor que hoje decaiu pela metade. Seu voto não tem nada de facultativo, vai ser dado em protesto às dificuldades que os aposentados enfrentam ao entardecer da vida. “Quero ver se vai melhorar a situação de nosso país, principalmente para os idosos. O salário os aposentados não acompanha o mínimo.” No domingo, a colinha contendo o nome dos seus escolhidos vai no bolso. Fez sua seleção baseado na leitura dos jornais. Para ele, o novo governante deve criar condições para melhorar a educação e aumentar a segurança. E são essas esperanças que serão digitadas na urna. Mas só depois da missa matinal, porque o casal Lunkes tem um trato a ser cumprido com Deus. Otto e Maria Terezinha miram o altar onde está o padre, para Deus olhar pelo Brasil. Um compromisso inadiável será selado em uma seção do Colégio Presidente Castelo Branco (Castelinho). Ele depois volta para casa com o senso de dever cumprido. E vai torcer para que os brasileiros elejam as pessoas certas.

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