sábado, 13 de novembro de 2010

Chupando as emoções fictícias

Ironia das ironias. Caiu para eu fazer uma matéria sobre felicidade. E eu adorei. Dizem que a gente ensina o que mais precisa aprender. Então me pus fervorosamente a ler tudo sobre o assunto.Na verdade, já lia. Na ânsia de buscar a minha, sempre me interessei por livros científicos que abordassem o tema. (Me recuso a ler auto-ajuda). O meu título de cabeceira é um que versa sobre neurociências e como a felicidade age no cérebro.
Mas bem... lá fui eu pesquisar com psiquiatra o que leva o lajeadense a ter um índice de felicidade de 96,7%. Cruzes, tudo isso, sim. Até o médico achou um dado assustadoramente feliz. E lembrou que aqui estão os maiores índices de suicidio do país. Então é assim: desesperados e eufóricos parecem que fizeram de Lajeado seu reduto. Que cidade cosmopolita sentimentalmente.
No decorrer da matéria, lembrei de um estudo que aponta que as pessoas felizes têm mais vida ativa. As infelizes, pelo contrário, se grudam na frente da televisão. Hehehe. O chapeu serviu para mim. Ultimamente (e isso faz uns bons meses) dei para me aboletar em frente à telinha e de lá não saio no fim de semana. A noite, o lugar da cama ao lado da minha filha é cadeira cativa. La estou eu me reportando ao Araguaia torcendo para o Solano ganhar do Max. Ás 19h, em Ti Ti Ti, compactuo com as peripécias de Victor Valentin, para botar o Lecler no chinelo. E em Passione.."figurati", lá estou eu compadecida do Mauro, que perdeu a Diana por causa da Milena. Se você se identificou com todos esses nomes, meus pêsames meu amigo de rating (aquilo que se chama audiência de um programa), tu és um oligofrênico entrando no pique da globo.Igualzinho a mim.
Eu bolei uma explicação à la Freud. Sim, porque nem tudo está perdido nesse meu cérebro “blondie”. Eu leio também e tenho de fazer disso um recurso intelectual. Acredito eu que tenha me apoderando das emoções da televisão para suprir minha própria carência de emoções. Eu roubo a variação de espírito dos personagens dos folhetins para emprestar a minha existência um pouco de adrenalina, já que sufoquei vida social e amorosa. Não estou me fazendo de vítima e nem reclamado. Só um relato lúcido do que eu acho que ocorre com pessoas que assistem muita televisão. Elas se apoderam de sentimentos alheios fictícios para carregar pouco de gás em suas existências. Um subterfúgio para tornar suas vidas mais interessantes. Não passa de uma ilusão, óbvio, mas engana e serve para tapar o sol com a peneira. Mas, que sol cara pálida se a pessoa está sempre enfurnada na sala ou no quarto?
Em texto publicado na revista "Scientific American", pesquisadores afirmaram que participantes de um estudo disseram-lhes que a televisão chupou-lhes a energia, deixando-os depauperados, com mais dificuldade em se concentrar. Outra curiosa constatação: quanto mais tempo as pessoas passam diante da televisão, menos satisfação elas conseguem obter. Típico de gente infeliz. Por isso que a gente gosta tanto de beliscar quanto está vendo alguma programação. Se come a insatisfação enquanto torcemos para o mocinho. Que coisa mais "schifosa". Está na hora de deixar "Passione" de lado e colocar mais passione na vida. Dio Santo, figurati.

Na ponta da antena: Se você assiste à televisão por cerca de três horas por dia, quando chegar aos 75 anos, terá gastado nove anos inteiros da vida vendo TV.

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