quinta-feira, 3 de junho de 2010

Mais de mim

Hoje o dia tem um sol lindo, parece que se abriu para inalar as festividades de Corpus Christi que replicam pela região. Esses raios solares não me atingem. Parece que nasci com um escudo contra a felicidade. Alma privada de luz, envolta em uma manta sombria de ideias que não me levam a lugar nenhum. Um amigo meu me disse, há dois anos que eu era uma errante. Tal lucidez ante essa estapafúrida constação na época me chocou. Mas eu retive a informação e concordo com ele. Deixamos de nos falar, eu e ele, mas se pudesse, lhe diria que ele tinha razão. E sempre que eu penso na palavra errante, lembro da sua presença centrada e decidida, nada do que eu sou.
Esta semana eu fui ao psiquiatra. Vou lá para manter a medicação e avaliar se eu preciso aumentar a dose ou trocar os fármacos. Tomo antidepreessivo e estabilizadores de humor. Sempre pendemos nossa conversa para um viés filosófico, en passant, ele fala de Marcel Proust, eu emendo com a teoria do "eterno retorno" de Nietzsche. Ele diz que são poucas as mulheres com as quais se pode falar sobre isso e aproveita para me elogiar: "Viu como você tem qualidades". Mas eu não engulo esse louvores pessoais. E ele então ressalta: "quando você começa a se criticar, sai de baixo".
Eu não sei o que esperar da vida. Não sei o que ela quer de mim. Eu estou com uma certa idade, quase quarenta anos rodando na face da Terra. Eu não construi nada em minha vida. Eu, com um sopro de inspiração, consigo escrever histórias bonitas de outras pessoas para estampar nas páginas de jornais. Eu sou volúvel, cheia de dúvidas, indecisa, um certo egoísmo que não me larga. Eu penso em budismo e leio sobre o assunto para me tornar melhor. Todas as segundas-ferias, eu vou ao Centro Espírita e saio de lá com o firme propósito de ser mais caridosa. Essa semana também aprendi o significado da palavra "alteridade". Gostei, refleti sobre. Alteridade é a capacidade de se colocar no lugar do outro. Se fizéssemos esse exercício com certeza desenvolveriamos a tolerância e a benevolência.
Eu estou escrevendo tudo isso para dizer que não me acho boa como pessoa. E talvez por isso, as coisas boas não cheguem até mim. Eu considero o amor um dos episódios mais auspiciosos na vida de uma pessoa. Eu sinto vergonha de não ter um. Eu me sinto desamparada. Ser solteira às vésperas dos 40 anos é ratificar o fracasso pessoal. Sim, eu me cobro, eu me sinto excluída dos universo dos pares. Na cabeça das pessoas, deve passar o questionamento: "algum problema ele deve ter para estar sozinha". A solidão mutila. Ela te arranca uma por uma as esperanças, cada vez que um relacionamento não dá certo. Estar banido do mundo dos pares, para mim é a pior exclusão. E quando eu me olho no espelho, eu vejo uma mulher amputada sentimentalmente.

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