domingo, 17 de outubro de 2010

Solve et Coagula

Aos 15 anos me apaixonei pelos alquimistas e isso durou uns cinco anos, enquanto eu estava entretida em desvendar os antigos mistérios. As meninas da minha idade adoravam as revistas Cláudia e Contigo. Eu não, me absorvia nas leituras de um escritor e ocultista chamado Eliphas Levi, nada tão profundo obviamente, mas o suficiente para eu entender e ficar cativada. Assim, travei contato com o mundo de Hermes Trismegisto, um dos fundadores da ciência hermética, do ocultismo e da alquimia. Não tenho grande sabedoria em assunto nenhum, mas nutro curiosidade por muitos e assim, no alvorecer da juventude, me tornei uma diletante do esoterismo na época. Tenho até hoje um livro que comprei e paguei caro , o I Ching, o considero uma verdadeira joia. Por um tempo tentei jogá-lo, sem sucesso. Depois, o li sem o tomar por oráculo e sua sabedoria é mesmo deslumbrante. Mas bem, vamos falar dos alquimistas homens que, na Idade Média, passavam a vida em seus laboratórios rudimentares buscando transformar metal em ouro, na ânsia pela Pedra Filosofal que lhes daria a eternidade, seria o elixir da longa vida. Os alquimistas eram homens transformadores. Queriam modificar em laboratório o que a natureza demoraria milhões de anos para conseguir. Usando água, fogo e fornos eles passavam a vida tentando transmutar chumbo em ouro. A pedra filosofal seria o diamante, a rocha indestrutível, o eterno. Eis o que acabava ocorrendo com eles. ao passar anos observando as transformações nos metais, eles percebiam uma modificação neles mesmos. Era a alma que se convertia de metal bruto a uma fina jóia. É esta a metáfora da ciência esotérica antiga, crivada de simbolismos muito bem exploradas nos livros de Dan Brow.
Para os alquimistas, antes da luz, é preciso vir o caos. (Nietzsche também diz isso). Porque para você dar lugar a um novo eu, precisa desconstruir o anterior. Os psiquiatras, para o paciente novato alertam-no de que ele pode piorar nas próximas semanas. É que antes de você melhorar, ficará de cara com seu abismo. É a noite escura da alma, mas a luz nasce da escuridão. Os alquimistas prestavam atenção na alma do mundo, uma alma que contrai e expande, tal qual o coração. Suas operações em laboratórios estão calcadas em cima da frase "Solve et Coagula", dissolve e coagula, ou dissolve e una. Eles dissolviam material não nobre e uniam a outros materiais para chegar ao ouro. E neste processo conseguiam transformações empíricas. Quando decidimos procurar um psiquiatra, é isso que estamos procurando: essa transformação. Nossa pedra filosofal seria a lapidação da nossa alma. Todos somos alquimistas no sentido de dissolver o negrume da alma e condensar nossa essência em algo mais espiritualizado. O psiquiatra Carl Jung estudou os simbolismos da alquimia porque percebeu que entre esses cientistas medievais e a sociedade moderna existe muito mais do que possa supor nossa vã filosofia. Tudo é uma coisa só neste mundão de Deus, tudo está interligado. "Assim em cima como embaixo", disse Hermes Trismegisto.

3 comentários:

The Bard disse...

Eu escrevo num blog de ocultismo chamado Artigo 19 (http://artigodezenove.blogspot.com/).
Seu texto está muito bom, meus parabéns. Você entendeu o simbolismo!

Pax et Lux ex Tenebris

Fernanda Machado disse...

Texto sensacional! Parabéns!!

Unknown disse...

Muito bem feito.(obs: comecei a gostar desse universo depois que assisti "Fullmetal Alchemist", pelo o que eu li até agora, o animê foi bem feito em relação a ideia de alquimia. Ainda mais porque junta um pouco de nazismo, que dizem que Hitler procurava poderes como o da alquimia.)