sexta-feira, 23 de abril de 2010

Castigo de Tântalo

Ouvi esta expressão hoje pela primeira vez e imediatamente fui procurar no Google, a que se referia meu amigo de emeesseene nesse papo muito elucidativo para mim: "Pita, a felicidade sempre esteve ao seu alcance, mas voce invariavelmente transformou ela em uma castigo de Tântalo"
Em tempo, a expressão "Suplício de Tântalo", refere-se ao sofrimento de quem, desejando muito uma coisa, sempre a vê escapar quando está prestes a alcançá-la.

No Tártaro
O mito grego do rei Tântalo desvela a ambição de um mortal que, não satisfeito em ser notoriamente o "predileto dos deuses", almeja transmutar-se num "deus" propriamente, incorrendo num erro brutal.
Apontando a hýbris (desmedida) em Tântalo, na obra intitulada "O simbolismo na mitologia grega", o renomado estudioso francês Paul Diel, afirma que: "Afoito por sua conquista e esquecido de sua condição mortal e seus limites, Tântalo chega a se exaltar com tal intensidade que lhe sobrevém a tentação de querer se tornar um igual entre as divindades, puros símbolos do espírito".
A fim de obtermos maior clareza sobre esse latente desejo humano e de sua possível perversão, descortinemos o mito legado pelo premiadíssimo tragediógrafo Ésquilo (524-456 a.C.).
A desfrutar néctar e ambrosia, Tântalo, o próspero e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
Presunçoso, no afã de confirmar seu estatuto de "igual" entre os deuses, Tântalo convida a todos do Panteão para um banquete em seu palácio e, pondo em teste a onisciência divina, lhes oferece o alimento terrestre sob sua forma mais abjeta: a carne de seu próprio filho, Pélops.
Servir essa funesta iguaria, fruto de sua obsessão doentia, simboliza a maior perversão empreendida por um mortal. Eis que os deuses são mesmo oniscientes, reconhecem a blasfêmia e, horrorizados, repudiam a ofensiva dádiva. Somente a deusa Deméter, da agricultura, perturbadíssima com o recente desaparecimento da filha Perséfone (Prosérpina ou Kore para os romanos), desatentamente ingere um pedacinho da carne.
Malsucedido, Tântalo nem se igualou aos deuses, nem os rebaixou a seu nível, pois Zeus, o soberano do Olimpo, restaurador da ordem, ressuscita Pélops reconstituindo o pedaço faltante do ombro por mármore (daí "hamartía", a marca) e delibera sobre qual seria o pior castigo para o herege. Lançaram Tântalo ao Tártaro (a região mais profunda do Hades) como castigo, no qual sofreu enormes suplícios.Na Odisseia (11, 584), Homero coloca o Ulisses a descrever o Suplício de Tântalo. Ele refere que Tântalo estava sempre mergulhado em água até o pescoço e sob uma árvore carregada de saborosos frutos. Sofria incessantemente de fome e de sede, quando tentava mergulhar para beber, a água fugia dele; e quando levantava os braços para agarrar os frutos, os galhos da árvore elevavam-se para fora do seu alcance.
(Luciene Félix/ Professora de Filosofia e Mitologia Greco-Romana)

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