Sou um estardalhaço de existir, só para citar Clarice Lispector. É incrível como um sentimento pode invadir com tanto ímpeto a alma, o corpo e a mente. Estou num pavor galopante, que se eleva aos píncaros, dobrou a curva e vem descendo.
Schopenhauer, o filósofo da melancolia salienta que o homem e a vida estão fadados ao fracasso. Porque o homem deseja e todo desejo uma vez satisfeito vira um outro desejo. E assim o ciclo não para é igual a samsara, a roda dos desejos budistas.
Mas eu sei bem que estou caminhando em uma corda bamba. Estou me sentindo mais vulnerável do que nunca, na dependência desse súbito e feroz sentimento.
Assim como me torno eufórica neste instante, noutro posso me corroer de aflição. Que angústia mordaz. É a instabilidade provocada por esse prazer - prazer bom e ruim - que me remete a um estado de embriaguez. Tenho em mim todos os sonhos românticos do mundo, mas acompanhados de um alto teor etílico.
Baudelaire exortou seus leitores a se embriagarem. "Para não sentirdes o terrível fardo do tempo que vos abate e vos empurra para o chão, embriagai-vos incessantemente."
Eu pareço tomar grandes picos de anfetamina. Meu centro da fome não acusa mais que é hora de comer, passo o dia sem me alimentar. E da mesma forma, a noite eu não durmo. Sou capaz de conversar comigo por horas e horas imaginando diálogos, fazendo perguntas, construindo situações e lembrando detalhes de conversas. Eu passo tim tim por tim tim tudo o que foi dito e me vem um estado febril de euforia como se a jovem adolescente que eu fora voltasse a encarnar em mim. Eu busco me policiar. Mas a insensatez virou me destino. Sei que quanto maior a altura, maior o tombo. Esse sentimento de felicidade me invade, mas assim também sera retumbante a tristeza, que virá na epoca propícia.. O meu coração se rasga de medo. Palpita num descompasso acelderadíssimo. Estou sempre na expectativa de que algo vai acontecer por conta dessa sensação que me abocanhou e soca a boca do estômago. E se porventura fico saciada do desejo nessa hora, na próxima quero mais. É algo que preciso regar todos os minutos das 24 horas. Uma sensação inflamável, incômoda que nem urtiga. Me amedronto com o que vai ser de mim. Esse medo me amordaça o estômago. Azeda o meu feijão. Me deixa a beira do penhasco. Só porque eu ouso voar a seis mil pés de altura.Mas eu não tenho asas. Só um coração que anda a galope.
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