quinta-feira, 23 de junho de 2011

Comédia MTV - Forró do Twitter - Tem que "twitta"

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Adote uma jornalista bipolar!

Esse vai ser um anúncio absolutamente sincero,sem a maquiagem que vem na carona das relações cibervirtuais. Estou na prateleira dos disponíves há um bom tempo. Sou jornalista e bipolar, tomo remédios para estabilizar o humor, que é caústico, corrosivo e criativo. Não se engane com meu rostinho. Tenho 40 anos e acredite, é muito duro admitir isso. Só agora, estou reconhecendo aos pouquinhos que a idade chegou até mim como o Titanic que me pegou de cheio em pleno mar da juventude.
Sempre mentia a idade nos sites, mas tá, to mudando isso. Portanto, se vocè dá bola para a idade, não mande mensagem, não mande elogios, não me fleche com o cupido virtual, não me adicione aos seus prediletos. Até porque eu dou bola para a idade. Sim, eu não quero um homem com mais de 45 anos. Veja bem, aceito mais novos, rechaço os bem mais velhos, a não ser que tenha pinta de Brad Pitt.
Não veja esse perfil de maneira arrogante, ele é só uma maneira bem-humorada de dizer as coisas que penso. Creio que vou ficar sozinha mesmo, justamente por essa alta exigência (ou baixa exigência) cronológica. Mas sabe, se não for para ser alguem atraente aos meus olhos, então aceito a solteirice com resignada prostração. Não, não me acho bela e nem tenho cacife para ser tão exigente. Mas sou, não consigo reverter meus valores românticos. Por isso que estou solteira: sou nota 6 e quero um cara nota 8. É dificil conciliar isso no mundo das vaidades, porque em termos de beleza, a equidade dita o relacionamento. As vezes a gente encontra um casal díspar, mas esses são exceção e geralmente a autoconfiança do feio compensa sua falta de simetria facial.
Quero um carinha legal, medianamente belo para mim, na faixa dos 30 a 40 anos. Acima de 1,75 e que saiba escrever medianamente bem, porque sou jornalista e presto atenção às palavras. Gosto de humor inteligente e pessoas que gostem de conversar de tudo um pouco.
Se você não se encaixa nessas características mas confia muito no seu taco, tá valendo. Eu adoro pessoas seguras de si. Não sou cheia, não sou arrogante, não sou vaidosa. Só sou sincera e espero que isso não doa nos leitores.
 
 

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Um iPhone a um namorado!

Prazer, meu blog, Andreia. Venho a você com muita frequencia, posto todos os tipos de coisas e meus mais leves sentimentos. Mas há muito tempo eu não me escancaro para você como eu costumava fazer quando eu ainda te achava mais um Croissant de Emoções do que um Pitônicas.
Sabe, blog, há uns dois anos eu deixei de sentir aquele vazio crônico que fazia desfalecer a alma. Que me molestava e me amordaçava psicologicamente. Mas eu estou ciente de que eram naquelas horas que eu mais entrava dentro de mim, que eu mais refletia e ponderava sobre o ser humano. Aquela Pita ultra-carente, que expunha seus sentimentos aos quatro ventos e morria de vontade de um amor, deu lugar a uma Pita menos romântica. Árida, talvez? Sim, talvez sim. Eu cansei tanto de procurar o amor, que me cansei dele de vez. Hoje não procuro e nem ao menos quero. Estou escrevendo isso um dia após a data dos namorados, talvez por refletir nessa minha nova condição. É anti-humano não querer ninguém? Eu vejo as pessoas me cobrando: "arrume um namorado", "você é casada?", "O quêeee, ainda não casou?". Sofro do estigma de solteirona e não acho mais isso ruim. Depois que parei de buscar um namorado, me libertei daquilo que a sociedade me algema: ter um par. Sabe, blog, as vezes a gente quer ter um par para mostrar a todos que não fracassamos pela sensualidade. Que somos tão bons, a ponto de alguém nos amar. É um fracasso público, após os 30 anos, não ter alguem apaixonado pela gente. E era por isso que eu corria tanto atrás de um amor: para mostrar que também posso ser gostosa e vitoriosa nessa seara.
Mas sabe, blog. De alguma forma tudo isso mudou em mim. Talvez sejam os medicamentos que eu estou tomando por ter uma personalidade bipolar. Talvez o lítium, a carbamazepina e a sertralina tenham suprido o vazio através da química farmacêutica. Não é o certo. Eu me pego perguntando até quando isso vai durar: será que vou voltar a ser hiper-carente novamente? Será que vou voltar a querer um namorado?
Desculpa, quero me casar COMIGO!
Na redação, eu vejo e escuto histórias das gurias em vias de namorar, ficando ou conhecendo pessoas. Tem uma colega que adora a música do meu celular (Losing My Religion) porque lembra do seu semi-namorado. Ontem, no dia do amor, eu ouvi pessoas dialogando: "O que você ganhou ontem?" - "Ah eu ganhei isso e mais isso".  Sinto-me excluída disso, uma outsider da paixão. Vivenciei-a em muitos momentos, entretanto, agora, aos 40, não consigo pegá-la. O amor para mim é como um touro xucro, nem a unha consigo laçá-lo. Eu sempre quis que com o amor eu me amasse. Talvez eu tenha comprado o preenchimento de mim mesma na farmácia. Por ora, a Eurofarma e a Roche são os meus parceiros sentimentais. Hoje, eu prefiro um  iPhone do que um namorado. Talvez algum dia, eu descubra novamente que o amor é o calor que aquece a alma. Ou talvez eu compactue para sempre com Clarice Lispector:"Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite". Uma solidão com Iphone nunca me completaria: a maçã está sempre mordida.

quinta-feira, 9 de junho de 2011

Na serena vereda dos "Matutus"

Graças ao Censo, eu incorporei esta semana um conceito que eu própria inventei (ou pode ser que não, que ele já exista e eu na minha ignorância encampei a ideia). É o contexto de "pobreza saudável". Se é que existe uma miséria bonita eu a encontrei na comunidade de Matutu, uma localidade entranhada nos recônditos de Fazenda Vilanova. As casas são de madeira, bem pobres mesmo e tudo o que é minoria excluída impera ali. Negros camponeses pouco instruídos. O computador está para os afros de Matutu assim como o Admirável Mundo Novo de Huxley está para este planeta atordoado de estresse. Mas é o seguinte: em Matutu a serenidade perdura sobre todas as coisas.
Fui ali para fazer uma matéria onde os negros se concentram e aprendi que a felicididade é a coisa mais antitecnologica do mundo. A nobreza de Dona Maria inebria. Mirrada, encurvada e louca para distribuir morangas de presente aos visitantes, a matriarca negra de 79 anos tem um índice de felicidade bem mais elevado que o meu. O contraste está nas fotos. Eu, com casaco, manta e boina pertenço ao mundo do consumismo. Ela, com indumentária singela, pertece ao mundo interior. Aquele que a leva a essência dela mesma.

Alma simples

Localidade de povo humilde, que planta para comer, os negros de Matutu não sabem a origem do nome. Há indícios de que o local seria um quilombola indígena não oficial. Mas, quem povoou aquelas bandas foram os avós de Maria.. Eles assentaram-se ali, araram a terra e dela fizeram frutificar pomares e horas. Isso foi há mais de 100 anos. Hoje, Dona Maria é a matriarca que mora sozinha em uma casinha pobre e de madeira, assim como todas as outras do lugarejo. Mas a vida ali é muito saudável e as pessoas felizes. É diferente daquela miséria lastimosa que se encontra em zonas urbanizadas. Maria, quase sem dentes, seis filhos, seis netos e dois bisnetos. Cria porcos, galinhas e adora colher morangas. Vive uma vida sem estresse e quando precisa de médico, o carro da prefeitura a recolhe para ir ao posto de saúde. A matricarca dos Matutu é viúva há 28 anos, utiliza a enxada com habilidade e não se importa com as frestas no assoalho da casa. “Eu não sinto frio.” E para comprovar que as raças se interligam, sua refeição tem a substancial polenta, comida típica dos italianos. “Tudo que é bóia é boa.”


Contraste: o indice de felicidade de  Dona Maria é maior que o meu


terça-feira, 7 de junho de 2011

O lado Coca Cola da vida!

E foi assim, deu prá mim. Chamei meu colega Rodrigo para carregar o pneu. Chamei a colega Susana para tirar as fotos. Depois veio o fotógrafo Frederico para reforçar a imagem visual. Tudo por conta de viver um slongan criativo para a Fruki. Na frente do jornal O Informativo, pagamos mico, subimos em cima de uma moto que eu nem sei quem é o dono para testarmos um flerte ilustrativo, a fim de fazer bonito no comercial que valeria uma máquina fotográfica. Foi mal. Não fomos os melhores. Alguém nos ganhou. Adeus máquina, hello Coca Zero.  Volto para o efeito "cocamentos", para a multinacional que não se importa com o terceiro vale mais fértil do mundo. Retorno para o lado capitalista, símbolo do pós-guerra americano. Eu entrei no "American Way of Life" ainda nos anos 80, quando surge a Diet Coke e a New Coke, que foi logo tirada do mercado porque os consumidores não a aprovaram. E quando Renato Russo estufava o peito para cantar: "Quando nascemos fomos programados a  receber o que vocês nos empurraram com os enlatados dos U.S.A., de nove as seis", eu repetia o refrão: "Geração Coca Colaaaaaaaaaaa".  Então, é isso aí né gente. Lembram do slogan? "Coca Cola é isso aí". Pois é, apesar de lendas e polêmicas de que a cola provoca danos a saúde, eu curto.  E eu acho minha mãe essa coca-cola toda. E eu acho o David Beckham a última coca cola do deserto. E eu acho que se não tiver Coca, pode ser Fruki. O nosso guaraná é o melhor de todos:"Eu tenho razões para acreditar." Pena que o meu lado Coca Cola da Vida prepondera sobre meu lado guaraná. De qualquer forma "Viva positivamente" com qualquer dos dois refrigerantes. "Viva o que é bom" prá você. É isso aí.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

A subvida na Praça da Matriz

Quando chega dezembro, a Praça da Matriz recebe decoração natalina e eventos que enaltecem a solidariedade do período. Os mendigos então são retirados para não denegrir a cena, as luzes e o espírito da época.  São tocados embora pelos passantes. Em algumas ocasiões, as assistentes sociais tentam dissuadi-los de morar no coreto. Recomendam outro local menos evidente, nada que estrague um dos cartões-postais da cidade. Casais que perambulam pelos becos juntos, preferem o açoite do frio da rua do que a separação geográfica. Eles também amam e talvez este seja o sentimento que os mantém vivos, apesar da vida errante.  
 É a subvida urbana, escancarada no coração da cidade, uma sinopse moderna de pessoas afogadas com a corda da discriminação. Eles não têm voz, porque são bêbados e drogados. Subverteram a vida deslizando para o precipício. E por transgrediram regras éticas e morais, estão jogados no depósito da sociedade. Muita gente os chama de “vagabundos”. Poucos sabem a história por trás da miséria.

A queda de Rafael
Rafael tem 30 anos e está num estado deplorável. Casaco sujo, faltam-lhe dois dentes e tudo que tem cabe num saco plástico. Há dois anos ele e a companheira, Gislene moram na rua.  Rafael não quer ser internado sem a companhia da esposa. Da mesma forma, não quer ir para abrigos para dormir longe de Gislene. Eles decidiram afundarem-se juntos porque não há um abrigo para casais.  Quando estava no auge da profissão de vendedor, recebia R$ 4 mil mensais de comissão. Mas o vício lhe surrupiou as oportunidades. O filho foi a vítima que foi dada para a adoção e  Gislene é a parceira que lhe ajuda a catar comida nas latas de lixo. A sociedade é a mão que não salva. Só julga, discrimina e rebaixa. “Eles pedem para a gente sair da praça. Prá deixar o lugar limpo e bonito. Eles querem é trocar o lixo de lugar.”

Ajuda de fariseu
Altair Gaspar mora há 30 anos na rua, desde a adolescência é alcoolatra. Palavras dele: "o preconceito é pior que a ajuda. A ajuda deles é a ajuda de fariseu. Não é uma moeda que vai resolver o problema. A gente quer atenção. Falta dignidade. A gente não é bicho."
Altair chorava ao dar a entrevista:"a gente quer atenção"
Palavras da vida real. De um excluído, sujo e atirado, de um homem que ainda tem a sensibilidade de chorar, do alto dos seus 45 anos de vida esfarrapada. A realidade é um soco no estômago, diferente daqueles que já foram espalmados na face de Altair. “Muitas vezes a gente já foi acordado daqui da praça a chutes e coice. Eles queriam que a gente fosse embora. Queriam deixar a cidade bonita.”
Altair foi assaltante e durante 20 anos cumpriu pena. Em 2007, saiu da jaula para receber o sol. Seria um recomeço. Mas não foi. Ele não quer mais furtar, roubar ou transgredir porque não suportaria enfrentar o cárcere novamente. Assim, partiu para a esmola. São poucos os que realmente lhe estendem a mão: R$ 1 mil reais não redimiriam Altair.  Na imundície do coreto da praça, o poema de Manoel Bandeira deveria estar exposto em letras garrafais: “O bicho não era um cão, não era um gato, não era um rato. O bicho, meu Deus, era um homem”

sábado, 4 de junho de 2011

Dia de Milha

Acordo com a aragem que prenúncia que o inverno está próximo. Mas o sol lá fora indica que o sábado será ameno, como todos os sábados têm de ser: aconchegantes, sem estresse, o dia da pipoca e das comédias românticas. Mas hoje, sem perceber, minha filha cumpre um ritual de passagem: ela faz 12 anos, biologicamente ingressa na adolescência. É aniversário e temos traçado o nosso programa: um Dia de Milha - dia de mãe e filha - um trato nosso que fizemos há uns três anos. Algo assim como um tempo só nosso dedicado aos nossos "eus" maternais e filiais.
Saímos de manhã para cumprir o acordo do Dia de Milha: pouco dinheiro no bolso, muita vontade de comprar tudo, mil ideias na cabeça e uma câmera na mão. Escolhemos dois filmes, compramos pipoca e refrigerante para dar vazão a nossa simbiose sabática. O dinheiro foi escasso, mas o programa muito rico. O Dia de Milha me redime dos dias de semanas que não almoço com ela, dá amparo e respaldo a uma educação que não vai fazê-la cair na sedução de uma vida louca regada a estimulos sensoriais e  fugazes das drogas ou do ficar obsessivo para se autoafirmar. O Dia de Milha é baratinho, mas este, nem  a Gol oferece porque a viagem é muito mais profícua do que aquela feita à Grécia sozinha.


O Dia de Milha à meia tarde teve a presença da Dinda Rê, um palmo mais baixa do que a afilhada (o que a deixa louca), a fã  sacramentada do Fábio Junior teve de ouvir Seminovos e  se esforçar para compreender a novíssima linguagem da geração Z. Fomos ao shopping e o presente da dinda chegou em forma de cultura. Nanna ganhou um livro (registre-se em ata que foi ela quem pediu para ganhar um livro) e ouviu histórias da época em que Renata era chamada de Rapousa, inclusive uma reflexão sobre o uso e o gosto da maconha. Não é muito nova para essa abordagem atrevida? Não, não é. Adolescente guarnecido melhora o discernimento do que deve ou não fazer para si e para sua vida. E assim acaba o Dia de Milha: com três gurias rindo e uma garotinha que caminha para se entrosar no Universo: este local de um só verso que contém toda a poesia do mundo.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

O saber secreto dos maçons do Vale do Taquari

Imagine um segredo mantido em sigilo por três milhões e meio de pessoas em todo o mundo. Quem conseguiria tamanha proeza? A resposta está em uma ordem secular que ganhou fama e projeção em razão de seu poder: a maçonaria. No Vale do Taquari pelo menos 300 homens compartilham rituais em lojas cravejadas de símbolos e arquétipos que ficam restritos a quatro paredes. Templos maçônicos existem em Lajeado, Cruzeiro do Sul e Estrela. Foram construídos sem janelas para manter encarcerados os segredos filosóficos que a ordem tanto preza. Bebe na fonte desse conhecimento a elite mundial. Oficiais da alta patente das Forças Armadas, políticos proeminentes, presidentes foram alçados à condição de mestres maçons e galgaram os degraus da hierarquia da ordem. O homem mais poderoso do mundo, presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seria um maçom grau 32. O grau 33 é o mais elevado, a última etapa que fecha o ciclo de estudos, é designado como o guardião da Ordem, o Soberano Grande Inspetor Geral (veja quadro). O Vale do Taquari formou 15 maçons de grau 33.
Na região, empresários, engenheiros, dentistas, contadores, professores, médicos e profissionais de todas as formações participam da fraternidade e mergulham no “saber secreto”. Um saber que aguça a curiosidade do universo profano (os não iniciados).
Envoltos em um manto de discrição, maçons da região se mantêm ao largo dos holofotes. Eles podem ser profissionais proeminentes, mas quando o tema envolve a ordem, a resposta é silente. “É constrangedor falar de algo que eu jurei silenciar”, enfatiza um mestre maçom. Na região existem pelo menos cinco lojas maçônicas: três em Lajeado, uma em Cruzeiro do Sul e uma em Estrela. O venerável mestre (aquele que preside a loja) do templo de Cruzeiro do Sul é um homem conhecido na área da saúde.
“Nós vamos ao templo para estudar. Fazemos o estudo do pensamento, mas recheado de simbolismos.” Eis o que desperta tanto fascínio. Entrar num templo maçônico é mergulhar em um espaço codificado. Nas paredes há 12 colunas, uma corda com 81 nós e outros signos, como as pedras bruta e polida, que representam os momentos pré e pós-iniciação. O templo maçônico é estruturado à maneira do universo. No teto há sol, lua, estrelas e as configurações dos planetas. O chão é formado por quadrados branco e pretos, representando a dualidade do universo. Assim, o maçom, ao pisar no templo, esmaga o preconceito e demonstra a comunhão entre brancos e negros e o respeito à diversidade.
Durante as cerimônias, os homens vestem aventais, que são símbolo do trabalho e para demonstrar a sua evolução na ordem. Referem-se a Deus como Grande Arquiteto do Universo, mas um Deus tratado dentro dos valores de tolerância religiosa. Por isso um maçom pode ser judeu, católico, muçulmano. Nas sessões, Deus tem um nome específico. O que não pode é ser ateu. Cada homem tem que acreditar no seu ser divino.
O segredo maçônico
Os maçons são objeto de curiosidade mundial. E muitas vezes se divertem com as teorias e conchavos com os quais supostamente teriam ligação. Boatos, apenas. É tanta coisa especulada pela internet, nos livros e filmes que eles já desistiram de contestar. “Eu juro que eu não conto nada do que acontece na loja. Esse juramento cria curiosidade extrema. Imagine um prédio fechado que não tem janela. A vizinhança enlouquece e pensa: ‘o que esses caras fazem ali?’”, comenta o mestre maçom. Estudam.
O segredo da maçonaria já foi revelado por irmãos que saíram da ordem e publicaram livros. Mas conforme o entrevistado, as obras não descrevem com perfeição os fatos sigilosos. A conclusão às quais muitos estudiosos chegaram é que o segredo da ordem reside justamente em não ter segredo. Existem sim toques, sinais e palavras que servem de identificação do maçom e que só a eles pertencem. O resto é imaginação criada por pessoas de fora dessa associação.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Lições que eu tirei por aí

* Só os corajosos conhecem o fracasso. Logo quem fracassa não é um fracassado é um corajoso. Fracasso não significa que Deus o abandonou ... Significa que Deus tem uma idéia melhor.

*Ninguém vai empurrar você escada acima.

*Não há como se motivar alguém que não queira ser motivado.

*Você precisa começar a amar o que faz, e então você começará a produzir mais, a trabalhar melhor.

Mesmo que o trabalho não seja o dos seus sonhos, que o salário não seja o ideal, você deve pensar: "isso aqui é temporário, eu vou fazer o melhor aqui para, no futuro, conseguir algo melhor".

* Não adianta ser o melhor sozinho, você precisa saber se relacionar, ou seja, formar uma equipe. Não adianta o Gerente ser uma estrela. Ele precisa formar uma constelação. Toda a equipe precisa brilhar. Cada um dentro da sua intensidade. E, principalmente, não tentar apagar o brilho de alguém, que é o que mais acontece , infelizmente.

* Quando brilha, você começa a mostrar para os outros que é possível, daí todos brilham. Porque as únicas coisas que você dá e não pede é amor e luz. Quanto mais você dá, mais você ganha.

*As pessoas que não tem uma espiritualidade não vão longe. Quem não acredita em Deus até sobe, mas quando chega no topo, se perde, porque não sabe para onde ir. Se perde na arrogância, se perde na vaidade, na auto-suficiência e cai, e o que parecia ser o topo, começa a ser o início de um precipício.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

O preconceito nosso de cada dia

Fiz uma matéria com a Loira da Bicilcleta. O nome dela é Traudi, tem 45 anos e pedala 20 quilometros por dia. Há cinco anos ela caiu na vida, virou prostituta mesmo, com os cabelos chamativos e a malha puída, ela não ganha muito nos seus miserentos dias de meretriz. Traudi, meretriz triste e feliz, estuprada aos 11 anos e prostituída aos 40 anos. Rendeu uma página. Penei para conseguir liberar a matéria no jornal. Existia o temor de que a reportagem poderia ser uma apologia a profissão. Como se a profissão mais velha do mundo precisasse de apologia. Cair na vida nem sempre é fácil, exige peito, se me permitem o trocadilho e uma boa dose de coragem para enfrentar os puritanos.
A matéria foi publicada no sábado, dia nobre para leitura de textos especiais: 48 horas depois, o burburinho está instalado: alguns gostaram da reportagem, outros não. E são estes que vociferam e ligam para a redação a fim de saber porque o jornal fez uma matéria desse estilo. Eu explico aqui: eu acho que os jornais precisam cada vez mais de vida real, menos de pompa. Menos de fontes oficiais. A vida anônima, aquela das ruas é que palpita no seio de cada ruela. Não quis apologizar nem demonizar. Só quis apresentar os fatos numa linguagem eloquente e acessível. Se faz mal para adolescentes lerem a matéria? Não. Eu recomendo a leitura. Fiz minha filha de 11 anos ler e não tenho medo que ela vá partir para a prostituição por isso. Eu tenho medo é dos papos no MSN, das fotos que se envia pelo Orkut, dos papinhos adolescentes travados no recreio da escola pública ou particular. Eu tenho medo é do preoceito desenfreado desta gente que vive no terceiro vale mais fértil do mundo e sob a aura de preservar as tradições, quer que a gente continue num jornalismo morno, que não aquece nem esfria nada. Que não humaniza, que nao tem cheiro, nem gosto ou sabor. Eu tenho medo é dos vereadores, que querem aumentar sua horda. Querem ser 15, em vez de dez e nenhum deles foi na audiencia pública promovida pela prefeitura para prestar contas do que gastou. Eu tenho medo é do ostracismo no qual a sociedade mergulhou, tanto pela função social que sempre foi inócua quanto pela função política, que nunca existiu.
Eu prometi, quando me formei em jornalismo, buscar desafiar as verdades inabaláveis que teimam em cercear nosso caminho. Eu prometi, não esperar cansada a fúria do algoz, nem baixar a cabeça diante das mordaças, mas lutar sempre pelo ser humano, pautando minhas ações na consciência, na ética e na justiça, por mais difícil que possa ser.
A loira da bicicleta me deu flores, em retribuição à matéria. Eis o click!
Eu prometi: "Embora ameaçadora a escuridão, fazer do jornalismo uma ferramenta, uma espada se for preciso, para que minhas palavras não nasçam mortas e o destino não se torne preciso. Para que minhas noites sejam tranquilas e que esta noite não seja em vão. Eu jurei e ainda juro"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

Testemunhas do leito zero

Tudo aconteceu rapidamente e sem prévia negociação. O celular tocou e eu atendi. Uma hora depois, já estava dentro da sala de cirurgia, esperando para assistir um homem ter seu crânio aberto com bisturi e ver o lado mais interno do ser humano. Aquele que a gente nunca vê, a não ser os médicos. A matéria era clara: mostrar a agonia de pacientes que esperam leitos de UTI. Um fato recorrente na região, mas dessa vez, a reportagem foi chamada para assistir "in loco" um paciente que não devia estar na cirurgia, porque ele não devia ter dando entrada no hospital da cidade. Não havia leito para ele. Em palavras toscas, o "paciente foi enfiado goela abaixo" pelo sistema. O sistema, aquele no qual eu, você e o João do Morro 25 estamos inserido. Aquele, único da saúde brasileira.
Eu e a fotógrafa Lidiane Mallmann repetimos a parceria. Jornalista e fotógrafa a postos. Logicamente consideramos um "privilégio" ter estado lá, naquela hora e dia e local. Desmistifiquei muitas coisas dentro daquela sala. Primeira delas: médico atende celular sim, dentro da sala de operações. É algo meio surreal, mas é tão normal quanto um padeiro que faz seu trabalho. As pessoas conversam, fazem observações. Era meio dia e o medico brincou. "Perdi o sorteio do bife em casa", enquanto costurava a cabeça do paciente. A Lidiane pensava. "Nesse momento ele é Deus". Ele detinha em suas mãos o poder de dar vida ao jovem ou de sufocá-la para a eternidade. Só que vê, quem olha bem naquela hora, percebe a magnitude do ato. O poder que emana de um neurologista, ou cardiologista. Alguns médicos "istas".
Foi fascinante pelos detalhes. O crânio sendo aberto, o osso sendo cortado, o hematoma sendo drenado. Mas antes de tudo isso, a preparação. Nada pode dar errado em nenhum átimo de tempo. A sala de cirurgia tem duas cores: verde e azul. Nas pessoas com uniforme verde, você pode tocar. Nas de azul, jamais. E nem nos panos azuis. Somos povoados de bichos, de vermes invisíveis (e ainda queremos ser glamourosos). Na hora da cirurgia, a assepsia é total. Pessoas de azul vão tocar diretamente no paciente, por isso são totalmente higienizadas. Elas não poder mexer nem nas calças que estão caíndo. Se isso ocorrer, os verdinhos entram em cena e levantam o cós da calça. Mas o médico de azul: never. Tudo isso é para evitar infecção.
Algo que causou impacto: os panos que estão na cabeça do paciente, são costurados na pele do crânio. É uma medida de proteção para que eles não escorreguem. Nenhum detalhe escapa, porque se escapar, o paciente pode morrer e o médico, ser acusado de negliência. A vida é fascinante. A  luta para manter a vida palpitando, mais ainda. E hoje eu agradeci por ser jornalista. Minha profissão me leva a locais que nenhum turista com 200 mil na conta bancária consegue ir. Ele pode viajar a Grécia, mas só eu e a Lidi vimos um maestro orquestrando a vida.

terça-feira, 24 de maio de 2011

O essencial é invisível!

Há meia hora minha filha chorou. E foi o choro mais lindo de todos. Eu fiquei tão feliz. Os olhos vermelhos lacrimejando me deram orgulho. Ganhei na loteca sem nunca jogar. Marianna terminou de ler as 94 páginas de O Pequeno Príncipe e emocionou-se como eu nunca a vira sentir-se assim em filme algum. Foi um livro que fez isso. Não é qualquer livro, já que Saint-Exupéry foi lido por milhões de pessoas em 80 línguas diferentes e todas elas tiveram a capacidade de emocionar-se com o principezinho. Por muito tempo eu guardei esse livro no roupeiro e tentei dá-lo a ela. Mas ela folheava, até tentava relancear algumas páginas, contudo, não ia adiante. Desta vez ela mesma tomou a frente de lê-lo e ao finalizar as páginas, chorou em borbotões. Ao sentar com ela e relembrar dos melhores lances da obra, também chorei. O Pequeno Principe devolve a cada um de nós o mistério da infância. A linguagem acolhe e tudo isso começa no prefácio da obra: "Todas as pessoas grandes foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso."
Infância é também o prefácio da vida. Não dá para sentir pulos no coração com frases que se tornaram manjadas nas dedicatórias das misses, mas que significam profundamente um modo de existência essencial: "Só se vê bem com os olhos do coração. O essencial é invisível aos olhos." Ou essa: "Você se tornas eternamente responsável por aquilo que cativas. Se chegares às quatro, desde as três começarei a ser feliz."

Marianna: cativada pelo livro
 Mas minha filha começou a chorar na página 93: "Esta é para mim a mais bela e a mais triste paisagem do mundo." E quando ela chorou eu sorri, porque ela descobriu a emoção do livro. E eu chorei por ela ter chorado de emoção. E eu chorei porque agora ela me entende um pouco mais. E eu chorei porque minha alma sorriu. E nenhuma pessoa grande jamais entenderá que isso possa ter tamanha importância!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

O que um boato não faz

Mora na Espanha, é traveco de sucesso e segundo os boatos, tem uma piscina que faz inveja a muito empresário tubarão. Tem tantas atribuições que nem sabe porque virou puta. Mas já que virou, é melhor sentar na cama e fazer a  fama. E cá prá nós, Luiza Marilac está bombando na web. O vídeo caseiro virou marketing viral: mais de um milhão de acessos, um texto simples mas muito argumentando em cima de ideias como diria - palpáveis e populares. Marilac conseguiu o que muito artista que está há anos nos tablados ou na sétima arte ainda não conseguiu. Ser visto, comentando, ser replicado por esse vasto brasil cheio de rincão. Ela até pode pagar peitinho no video. O Bolsonaro ou o pastor podem querer convertê-la, como perguntou a inadequada apresentadora do.Superpop. E nós, que temos nossos Bolsonaros enraivecidos aqui no Vale do Taquari,  temos de vê-los engolir redondo essa "bicharada" saliente que ganha adeptos com a midia alternativa da internet. Alternativa não, virou primeira mídia. Aquela que revela os anônimos. Que vislumbra os deslumbrados, que coloca nos holofotes as minorias. A mídia feita de bordões e chavões. Luisa, a Marilac, ganhou o mundo com um texto simples, mas que cola na mente. "E teve boatos que eu estava na pior". Eis todo o texto que ela deve ter decorado em quinze minutos ou feito de sopetão na hora da gravação artesanal.

"Neste verão decidi fazer algo de diferente.  Vou ficar em casa, curtir minha piscina. Beber meus "drink". Dividir com vocês momentos meus. A água está geladíssima...chuáaaaaaaaaaaaaaa...E TEVE BOATOS QUE EU ESTAVA NA PIOR. SE ISSO É TA NA PIOR...P...RRA...O QUE QUER DIZER TÁ BEM (diz ela depois de quase se afogar na piscina, mas sair com toda pompa e circunstância).

O bordão virou hit..Po, Po, Po...ôrra, ôrra..remake super comentado e tocado nos bailes funks. E tem boatos que aqui no Vale do Taquari, tem gente fazendo igual.

domingo, 22 de maio de 2011

Sites de namoro

Gente: percorrendo esse vasto mundo virtual, encontrei na internet dois sites opostos. Um que so cadastra pessoas bonitas e outro que so cadastra pessoas feias. Ambos estão em operação no Brasil e são para solteiros. Se você quer testar seu "indice" de beleza, experimente mandar uma foto para http://www.beautifulpeople.com/ Durante dois dias os integrantes "te analisam". se vc for lindo, vc ingressa no Olimpo. Se for feio, solamento, vc é rejeitado, eles te dão um nao bem redondo na cara. O site vem com o apelo: "onde todos são realmente lindos".  Por dias eu me segurei para não fazer o cadastro. Não queria entrar na nóia de ser rejeitada. Mas a curiosidade foi maior. Ah, não, peguei uma foto que achei passável e envieu e durante 48 horas fiquei na expectativa. Os membros podem te dar a chave do site te elegendo como "bonito" ou "nao, absolutamente não". Meus caros amigos, eu não passei no teste. Que desapontamento. Por mais bizarro que seja um site só para pessoas bonitas, você se sente a pior bolacha do pacote sendo enjeitada desse clube.
Hoje deparei com outro site, mais bizarro ainda. Mas mais engraçado. Só que não me atrevo e não quero entrar lá dentro. O portal http://www.theuglybugball.com/ lida só com os esteticamente prejudicados. O site é exclusivamente para os feios e não aceita pessoas bonitas. Tem como slogam: bem-vindos a realidade. O site tem bons argumentos para arrebanhar metade da população mundial: segundo diz, metade das pessoas são feias. Agora veja essa: metade dos feios tiveram uma vida dura e difícil, portanto, se esforçam mais para serem atenciosos. Uma pesquisa também provou que eles se empenham mais na cama. Mais de 7 mil pessoas curtiram a página no Facebook. Ah, gente, nesse site eu não vou tentar entrar. Vai se sou selecionada!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

A lógica da minha filha


Mundo, mundo, vasto mundo infantil! A lógica da minha filha me assombra devido a verossimilhança com minha forma de pensar. Dizem que a fruta nunca cai longe do pé. É bem verdade.

Hoje ao meio dia, minha filha chega da escola com a nota de Geografia. Ela me mostra a prova com sorrateira fingidez. Tirou 7,5. Eu pergunto: filha, o que foi que tu errou?
Ela me diz: mãe, eu nao sabia essa resposta e improvisei. Ela então me conta que a pergunta era bem prática: Qual o nome dos brasileiros que moram no Paraguai? Sem saber que os "brasiguaios" invadiram as terras vizinha, opta pela resposta inusitada e lasca uma tipica resposta pitônica:  "muambeiros". Claro que a prova vem com um xis bem grande riscado em vermelho e ela me justifica: ah, mãe eu sei que lá tem muamba.
Então eu vi tudo: quem sai aos seus, nao degenera. Não sabia se eu ria ou chorava. Prendi o grito, prendi o riso, dei meia volta e saí.  No caminho vim pensando, minha filha e o termômetro da escola pública. Uma menina nota 7,5 nem a melhor, nem a pior...mas é criativa e se utilizasse respostas criativas para se dar bem na vida, com certeza se formaria com distinção. Em termos de criatividade, o brasileiro é "hour concour". Mas eu quero que minha filha seja nota 9,5 para competir com os alunos do Alberto Torres. Ela bem que poderia improvisar menos e estudar mais.  Se a fruta não cai longe do pé, existe sempre a esperança de que com as gerações, o DNA se aperfeiçoe: é a tal da eugenia, da qual queria que Marianna tivesse o privilégio te ter sido sorteada.


sábado, 7 de maio de 2011

Paciência no mundo da emergência

A aflição e a pressa dentro de um mundo em que ninguém quer entrar, mas que engole usuários que padecem na fila. O drama de pacientes e médicos que são utilizados como para-choque de um sistema que gera reclamações. O SUS. A vida e a morte dentro do pronto-socorro.

A equipe do jornal O Informativo atravessa a noite na emergência do Hospital Bruno Born e acompanha passo a passo a rotina de um médico plantonista.

A missão inicia às 19h30 da sexta-feira. Enquanto os trabalhadores voltam para casa e se preparam para o fim de semana, o médico Fábio Fraga (41) enfrenta mais um plantão de 12 horas. Ele é o coordenador do setor de emergência. Dará retaguarda a acidentados,feridos e alcoolizados. A sexta-feira é longa e por estatística, promete movimentação, a juventude sai para as baladas, ocasionando demanda no serviço. Esta é a sétima noite consecutiva de seu plantão. Durante a semana as horas de sono são escassas, mas ele tem de se manter alerta. Ainda não sabe, mas daqui a duas horas terá de salvar da morte um homem com água no pulmão.

Fraga é um “rato” de hospital. Na faculdade freqüentava casas de saúde perscrutando doenças e pacientes, assistia à série Plantão Médico e almejava ser um deles. Passou em uma universidade federal. Durante anos foi para as aulas com o mesmo sapato, os recursos eram escassos, mas o foco estava na futuro. Ao se formar, vestiu a beca e passou a ser chamado de doutor. Há dois anos, vara as noites no Hospital Bruno Born.

Enfermeiros, médicos e pacientes fazem parte de um sistema complicado e paradoxal que determina ter paciência dentro de uma emergência., que não se não se resume apenas ao Sistema Único de Saúde. Está dentro de uma conjuntura chamada Brasil, onde pouca coisa funciona para o usuário da saúde.

No país, pessoas agonizam esperando tratamentos. Em Lajeado médicos da emergência recebem R$ 55 reais a hora para atenderem no pronto-socorro mas não querem ser plantonistas pela batelada de processos a que estão expostos. O sistema reflete neles: Pessoas revoltadas que esperam meses por uma cirurgia pelo SUS e filhas apavoradas com a excruciante dor da mãe estão dentro do enredo. Não é a pressão do trabalho que aflige os médicos. Eles aprenderam na faculdade a trabalhar sob pressão. Mas a ineficiência do sistema chega a ser indecente. A impotência de estar de mãos atadas e de ser julgado culpado por isso, aflige os profissionais. A vida dentro do pronto-socorro é marcada pela frustração de médicos e pacientes.

19h30 A morte dá entrada

Pelos corredores do hospital, o médico Fábio Fraga, encontra tempo para filosofar sobre a vida e a morte e utiliza a tecnologia do iPhone para ler artigos médicos na internet e interagir em redes sociais. Apesar da popularidade na internet – Fraga tem 1.222 amigos no Facebook - o ciclista Lauro Schweitzer (56) que está na cama da emergência jamais havia encontrado antes o médico. Nunca pode lhe agradecer.

Schweitzer é o caso mais grave da noite. Vítima de um acidente de trânsito sofreu lesão cerebral e pode ficar com seqüelas. É tratado com extrema destreza. Em meio à vida que circula pelos corredores, Schweitzer trava uma batalha entre a vida e a morte com o esforço conjunto de salvação: médicos e enfermeiros na mesma missão.

À 1h da madrugada, sofre parada respiratória. O cirurgião geral Fábio Fraga toma a decisão: induzir ao coma para o cérebro parar de sofrer. O médico residente Rodrigo de Campos Lopes é incumbido de “entubar” o paciente. Colocar tubo na traquéia vai ajudá-lo a respirar. Os procedimentos são rápidos e terminam em 15 minutos. “O estado é gravíssimo”, diagnostica Fraga. O paciente está em coma, mas pelo menos respira. Mas há um outro problema. Aguarda que desocupe um leito na UTI. Os dez estão ocupados. Ele é o décimo primeiro paciente e precisa esperar.

20h30 – À beira da depressão

Ancorada no braço da filha, Neli da Rosa (43) só quer que a dor no abdômen passe logo. A pedra na vesícula lhe tira o fôlego. Mas o que incha de indignação a filha, Indiamara é ver a mãe assim e se sentir impotente. Neli, do Morro 25, é a típica vítima do SUS. A filha relata o drama da mãe que dia após dia frequenta o serviço de emergência para tomar medicamentos para apaziguar a dor. “O médico do posto do Bairro Montanha disse que é caso de urgência” Mas chegando ao pronto-socorro, ela toma soro e remédios e depois volta para casa. O que falta para solucionar o caso dela? Neli está na fila de espera da cirurgia eletiva. Como seu caso não tem risco de vida, ela tem de aguardar. Há 60 pessoas na sua frente para fazer a operação. “Há duas semanas eu não como de tanta dor”, relata enquanto é ministrado analgésico em sua veia. A filha se angustia. O medico Fábio Fraga pede calma à moça que cuida e acaricia a mãe e olha com desalento para lugar nenhum. Ela aguarda o medicamento fazer efeito. Cinco horas e meia depois, Neli e Indiamara saem do pronto-socorro. O relógio marca 2h30 da madrugada. A filha ampara a mãe. Lá fora, o breu. Um fio de esperança de que, pelo menos no sábado, a dor não machuque. Porque a depressão vem de mansinho. Está pegando Neli em doses homeopáticas, enquanto a cirurgia não vem. Neli é uma paciente engolida pelo sistema. E só tem a filha para ampará-la.

As filas são o carrasco do SUS. E Neli a vítima tradicional. “Ela está entrando em depressão e a gente não pode fazer nada”, diz o médico. Os exames dão normais, mas a vida dela está em volta de suas pedras. O SUS deveria extirpá-las. Mas o SUS virou a pedra no caminho.

21h – Diferença entre dor e risco de vida

O
Os médicos sabem que o paciente é vítima do sistema e que é no pronto-socorro que a impaciência do paciente estoura. Por isso, os plantonistas são os que menos têm qualidade de vida.O pronto-socorro é o ponto final. É como se fosse a beira do precipício tanto para o paciente quanto para o doutor, só que este último, como está de jaleco, tem que saber segurar a barra. Paciência para tratar o paciente. Nunca é fácil. Olhares zangados denotam o mau funcionamento do sistema. Em 12 horas, Fraga e sua equipe atenderam 30 pessoas. Destas, 15 poderiam ter sido assistidas por médicos de postos de saúde durante o dia. Mas elas não quiseram pegar filas e rumaram ao hospital.
O enfermeiro Daiton Vaz (27) define o drama pelo qual passa a equipe que vê a via-crúcis dos pacientes: “A minha dor é uma urgência para mim. A tua dor é urgência para você. Mas existe o risco de vida. Por mais importante que seja a dor, ela pode não incorrer em risco”.

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2h45 - A vida não é um relógio

Ninguém pode ser completamente errado no mundo. Mesmo um relógio parado consegue estar certo duas vezes ao dia. Mas a vida no pronto-socorro não é um relógio. Com 3,5 anos trabalhando na emergência, o enfermeiro Daiton Vaz aprendeu que a vida tem mais solavancos que estradas de chão. E ainda assim é possível ressuscitá-la. Em sexta-feira, tem festa, bebida em profusão e os acidentados chegam em procissão. Há todo tipo de ocorrências. A sociedade adoece por um mundo de fatores. Há tentativas de suicídio por ingestão de medicação. Parece que inconsciente coletivo funciona junto “Passam 15 dias sem nenhum caso e numa noite ocorrem três”, explica Vaz. “Às vezes a gente sai daqui com a cabeça enorme e não consegue desligar”.
O pronto socorro é uma grande vitrine da sociedade. As brigas familiares estouram no domingo a noite, após uma semana de trabalho. Existe uma apologia de que o Brasil é um povo alegre, mas as mães ficam com o coração aos pulos ao verem seus filhos saírem a noite, eles podem não voltar mais, pela violência ou pela morte em acidentes. O doutor dá boa noite.


7h30 – Ponto final


domingo, 1 de maio de 2011

Missão de paciência

A missão era passar 12 horas no Pronto Socorro. Doze horas é o período da jornada de um médico plantonista. Ele não tem um expediente de oito horas como todos os trabalhadores. As jornadas costumam ser de 12 ou mesmo 24 horas. Optamos por 12 porque tá de bom tamanho para duas jornalsitas cansadas como eu e a fotógrafa Lidiane Mallmann que aceitou de bom grado o convite para ficar comigo todo o tempo retratando tudo o que se passava dentro do serviço de emergência do Hospital Bruno Born.


A noite escolhida foi sexta-feira, por sugestão do coordenador do plantão, médico Fábio Fraga, um cara bacana, calmo e com uma equipe orquestrada, que sabe fazer todos os movimentos simetricamente calculados sem nenhum pavor. Essa história dos filmes, aquela correria histéria retratada nos anos 80, se não me engano na série Plantão Médico, é meio teatral.Nem dá para ter tanta correrria assim porque a maioria dos pacientes que estariam na sala de observação iriam infartar de susto. O jeito é manter a calma e Fábio Fraga treinou durante anos para manter a serenidade. Verdade seja dita, os enfermeiros e técnicos também. Eles são personagens que nunca aparecem como protagonistas nas histórias de salvamento, mas sua perícia é louvável. Esses sim ganham pouco: 900 reais por mês. Muitos enfrentam jornada dupla e chegam a trabalhar até 30 horas direto.
Mas bem, é tanta informação para contar, que logicamente não vai caber em uma reportagem, terei de fazer uma triagem das informações interessantes. Vou focar histórias de vida, gente aflita pela resolução de seu problema, medicos que nada podem fazer porque nao cabe a eles resolver o que o sistema nao resolveu. O sistema, ah, o sistema - é algo tão complicado, tão enigmático e tão simples. É um paradoxo que não se resume apenas ao Sistema Unico de Saúde. Estamos todos dentro de um sistema chamado Brasil, onde pouca coisa funciona para o usuário da saúde. As pessoas agonizam e o médicos (que ganham R$ 55 reais por hora) não querem mais serem plantonistas pela batelada de processos a que estão expostos, porque são o para-choque do sistema. Tudo reflete neles. Pessoas desgostosas, que esperam meses por uma cirurgia eletiva que o SUS deveria pagar, filhas apavoradas com a iminência da morte da mãe. Não é a pressão do trabalho que mata o médico, é a reclamação, a ineficiência do sistema.A impotência, estar de mãos atadas e ser culpado por isso.
Tem horas, que o médico deveria ser chamado de paciente. Porque tem que ter uma baita paciência com as pessoas alcoolizadas que chegam por volta das 5h da manhã. Elas balbuciam coisas incompreensiveis, muitas não querem ser medicados e demonstram impaciência em se manter ali para esperar o soro ou finalizar o tratamento. Ossos do ofício.

sexta-feira, 29 de abril de 2011

O sim do século

Lady Kate casa em poucas horas com o homem mais cobiçado do mundo. Ela terá um sudito a seus pés. Bem diz a lei: mulheres boazinhas vão para o céu, e as espertas para o castelo. Bom, façamos nós o nosso conto de fadas tupiquinim já que monarquia nessa terra tupi guarani seria ruim de aturar. Mas eu dou um resumo do que toda mulher quer:
A vida é assim. A mulher engravida, fica sabendo que é menina, prepara o quarto com fitinha mimosa e sonha quão feliz será sua filhinha. Aí a Laura nasce. Paparicos, princesa prá cá, princesa prá lá. Os pais dando vazão ao tradicional dilema de que se existe princesa, há de se ter um príncipe. Um cavalheiro, gente fina, boa praça. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu. Mas só quem realmente encontra o seu é a Kate, Waite Kate, que vai morar numa cidade que tem 58 letras e de nome intraduzivel.Tendo as ovelhas como vizinhas. Péssimas amigas dos paparazzi.
Mas bem,nós, na adolescência, cheias de ruge e batom, permeamos nossos sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejamos cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end. É Grace Kelly lascando um beijo grego em Gregori Peck. Alias o vestido da duquesa foi inspirado na atriz que virou princesa. Um luxo de discrição e requinte. Clean, como tem de ser a realeza.
Saímos do cinema e vamos para a faculdade campear um principe com isso que está aí. Então arregaçamos as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.
Percebemos que o cara não nos salva do dragão, até porque o dragão costuma ser a sogra. Não há salvação possível. E você lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do trono real britânico. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado do Reino Unido. Quem não tem William casa com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...Quem não tem William casa com Harry. Ele foi Top Trend no Twitter, tem brasileira jurando que vai ser a próxima princera. Harry e rebelde e dado a arroubos alcoolicos. Minha própria colega ja disse que gostaria de protagonizar cenas com ele e com vodka. Achei que a Pippa - não aquela do No Limite - a irmã da noiva mesmo, é bem bonita. Linhagem nobre. Merece ser crème de la créme. O que eu acho mesmo é que toda história de amor vale uma audiência de dois milhões de pessoas e uma vida longeva...todo conto de fadas merece credibilidade mesmo que seja vivido aqui no Vale do Taquari!

PS: Porque tanta balbúrdia em cima de um casamento??
Márcia Ely tem a explicação: "Ha uma superpopulação de sapos no mundo, por isso essa festa toda quando aparece um principe de verdade"

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Anos 80



Ninguém sabe o que é realmente nostalgia antes de chegar aos 40. Eu fui numa festa anos 80 e senti isso. Eu que gosto tanto do Egito e da Idade Média, tenho uma duzia de Peter Pans dentro de mim dizendo para eu não envelhecer. Mas talvez eu so queira ter aquela liberdade da juventude de outrora, aquela calça velha desbotada e aquela cambada que eu chamava de amigos e com os quais eu ia acampar ao som de B52, The Police e Men at Work. Confere a matéria.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

A morte nua e crua

Todo mundo deveria ganhar um choque de realidade prá poder perceber o imperceptível: que a vida de uma pessoa não vale mais do que um átimo. Que todos os esforços grandiosos para se chegar a fama, todos os atos vis, todo o escarceu em torno de uma existência boa e confortável, tudo isso e nada disso, resiste ao que? Ao choque de um caminhão. A gente sonha e labuta tanto pra ser menos do que ferro. Eu vi muitas mortes na minha profissão de jornalista. Eu vi 13 corpos juntos, em série, era uma visão forte. Densa. Mas nada foi tão impactante quanto a cena que presenciei hoje. Eram 8h30 min, eu chegava ao jornal, pensando no cafe da manha. Nesse instante, um aposentado, pai de família, cruza a rodovia estadual e colide de frente com o caminhão. Morte instantânea. Trimmmm, toca o telefone da redação: sou incumbida de fotografar. Seria mais uma morte qualquer, estamos tão banalizados com ela que fazemos a função automaticamente. Não foi assim. A curiosidade me impulsiona e me trai. Me envolve e me faz regurgitar o gosto cruel do fel da vida. Eu teimei em abrir a porta do veículo. O senhor curioso do meu lado, alertou: "a visão lá dentro é horrível". A frase me atiçou. Ao abrir a porta traseira vi os miolos num montinho, bem pertinho de mim. Alguns pedaços do tutano explodiram no vidro traseiro. Mas o impacto final foi ver o cadáver sem calota craniana. O homem estava escorado ao vidro, mas sem a tampa da cabeça. Dava pra ver os vasos e o esqueleto do cérebro ali, aberto, num show de horrores que me fez franzir o cenho e enjoar. Eu olhei para ele e olhei para mim: sou assim também. Somos todos assim. Por que então a gente luta por status, beleza e poder? Somos tão feios, mas tão feios, que nós mesmos temos nojo da gente. Nós olhamos a tragédia na televisão para sanar nosso desejo de tânatos. Mas nós somos a propria tragédia. Queremos comer banquete, mas tanto o caviar quanto o pão endurecido do dia anterior produzem o excremento humano. E isso tudo sai dentro de nós, sejamos operários ou reis. E no entanto, queremos sempre ser reis. Todo mundo sabe que o nosso destino é a morte. Mas quem a vê assim tão nua quanto eu vi hoje, consegue compreender o que está escrito no livro do Eclesiastes.O livro registra a busca de Salomão por significado e propósito na vida, mas o resultado final é deprimente: "tudo é vaidade e vento que passa". Salomão percebeu que a vida é vazia e sem significado. Ele disse que era como caçar o vento: nunca se consegue pegá-lo. Estaremos constantemente frustrados se procurarmos ganhar algo na vida que não está nela. E no fim, todos vamos para a vala comum. A coisa mais democrática da vida é a morte: há uma para todos.


O que o Rei Salomão descobriu




  1. Nenhuma realização. Nada realmente acontece na vida. Há uma infindável e cansativa sucessão de acontecimentos, mas não há resultado. O sol se levanta, põe-se, e levanta-se novamente. Muita atividade, nenhuma mudança. O vento sopra para o norte, sopra para o sul, e sopra para o norte novamente. Muito movimento, nenhuma realização. Os rios correm para o mar, e correm para o mar, e correm para o mar. Estão em constante movimento mas jamais se esvaziam e o mar jamais se enche


  2. Não se pode mudar nada. Nunca se consegue, realmente, fazer muita diferença. As coisas vão acontecer quando acontecerem e pouco haverá que se possa fazer para mudar isso. Há muitas coisas importantes sobre as quais não temos, absolutamente, nenhum domínio: o clima, as condições econômicas, a guerra, a doença, a morte. - Não se pode prever nada. Há tantas incertezas, tantas perguntas sem respostas na vida Podemos nos juntar a Jó ao perguntar por quê, e acompanhá-lo no passar de muitos dias agonizantes sem nenhuma resposta.


  3. - O mesmo destino para todos. A mesma coisa acontece aos homens bons e aos perversos. "Este é o mal que há em tudo quanto se faz debaixo do sol: a todos sucede o mesmo". A morte é muito democrática; há uma para todos.


  4. - O acaso governa. "Vi ainda debaixo do sol que não é dos ligeiros o prêmio, nem dos valentes, a vitória, nem tampouco dos sábios, o pão, nem ainda dos prudentes, a riqueza, nem dos inteligentes, o favor; porém tudo depende do tempo e do acaso" O sucesso não está sob o nosso comando. O melhor sujeito nem sempre ganha. Às vezes a vitória é apenas uma questão de sorte.


  5. - Nenhuma retenção. Aqui nada é durável. Poucos anos depois que morrermos ninguém se lembrará de nós nem se importará conosco. Nosso legado será passado para alguém que não trabalhou por ele e que, conseqüentemente, não o apreciará nem usará como nós o faríamos. (***Gary Fischer)

quinta-feira, 14 de abril de 2011

A tristeza de Bethoven

Durante todo o dia chuvoso, ouvi queixas ferrenhas sobre a chuva e a destruição que dela decorreu. Os humanos vociferaram alto, mas é de um cão que trago o resumo da desolação. Bethoven, um cusco peludo de 12 anos, semi-cego e amarrado à madeira da casa, não sabia para onde ir. A água nas patinhas, nos pelos longos e ele ali, com os olhinhos brancos - a cegueira formava umas bolinhas brancas nas vistas. Ele não sabia que os canos estavam entupidos, que os bombeiros não tinham a mangueira adequada para sugar a água. Ele não sabia que o asfalto tomou conta de toda a terra. Ele não sabia que o berço da criança de um mês estava submerso. Eu acho que ele so queria sair dali. Ele aceitaria até fazer companhia para os gatos da vizinha, que se refugiaram no alto do sofá. Mas ele estava ali, molhado, como eu. So que eu tinha o direito de ir e vir. Ele não. Bethoven, nem a nona sinfonia prá te salvar.

Aldeia enfezada!

Se Forquetinha fosse um estádio de futebol, os eleitores jogariam Gre-Nais. Não existiriam confrontos com times como Lajeadense ou Caxias, porque o povo da terra é maniqueísta. Não se trata de palavrão. É uma filosofia vivenciada pela população no dia a dia, mesmo sem saber seu significado. Resume-se em dividir os lados entre bem e mal. Não há meio-termo.
A cidade de 2,6 mil habitantes vive nos extremos desde que foi emancipada, em 1996.Picuinhas de um lado, boatos de outro. Munição que se prolifera na cultura do forquetinhense, assim como o fato de nascer bilíngue, algo que lhe dá autonomia na comunicação. Mas quando se trata de política, não há diálogo possível com a trincheira do lado. O bem e o mal depende da visão do eleitor.
Mergulhada em convicções partidárias, a cidade não se dá conta de sua paixão inflamada. Ao serem abordados, os eleitores afirmam: “Eu não me meto em política”. Numa cidade em que qualquer boato vira nitroglicerina, ter jogo de cintura é o desafio dos pequenos comerciantes. É a categoria que mais sofre pressão para “abrir” o voto.
O município parece uma aldeia medieval. No alto da colina, o prédio da Administração tem hastes de madeiras encaixadas entre si, dando um caráter estético diferente. A ligação natural entre o enxaimel e a Alemanha é como um cordão umbilical. Com arquitetura privilegiada ou não, os partidários lançam pedras no telhado um do outro. Ainda bem que a expressão "telhado de vidro" é so algo figurado.

sábado, 9 de abril de 2011

Ressaca pós-massacre

"12 mortos e 190 milhões de feridos”, estampou o “Diário de Pernambuco” na sexta-feira, um dia depois do massacre na escola de Realengo. Foi o título que resumiu com maior sensibilidade a sensação geral de tristeza. Quem teve a brilhante ideia foi o editor do jornal Fred Figueiroa. Grande título, grande sacada, a dor permanece de todos nós. E o medo também, mesmo aqui na província do Vale do Taquari. Um dia depois eu fui à escola experimentar o sentimento das pessoas e averiguei que o ódio pelo atirador é tão proporcional quanto à dor que ele causou.As pessoas não queriam que ele morresse. As pessoas queriam matá-lo. Ouvi de uma menina de 13 anos: "ele devia ressuscitar para morrer de novo." O suicídio foi leve demais. Uma lei do retorno que não teve tempo de ser aplicada de forma como o povo queria. Não houve a morte por vingança e é isso que instigou a raiva. A sensação de impotência é uma das mais frustrantes do ser humano.

domingo, 3 de abril de 2011

Partida de futebol!

Vou dar a letra para vocês: eu não gosto de futebol, eu não sei o que aqueles homens ficam fazendo dentro de campo, correndo e resfolegando atrás de uma gorduchinha de couro. Nos dois dias que precederam a partida do Lajeadense e Colorado acompanhei a euforia dos repórteres esportivos escalados para cobrir o duelo e eu, outsider, fui junto porque era a plantonista da TV Informativo. Caiu logo no meu plantão, diacho.
Vi a partida como um asno percebe o código de Hamurabi. Aguentei firme com cara de conteúdo, entre os cinegrafistas da Rádio Gaúcha. Vez ou outra ia até a salinha de transmissão da Rádio Independente solicitar uma avaliação da partida. No confronto em que todos se julgaram técnicos, eu era a única bola tonta da arquibancanda. Mas encarei o desafio assim como o Lajeadense encarou o Internacional. Matei no peito a minha ignorância futebolística e ainda tive a audácia de entrevistar o técnico Celso Roth. Chegando perto, o vi vociferando aos microfones sobre as precárias instalações do estádio. Cortaram a luz do vestiário e os jogadores do Inter tiveram de tomar banho frio. No vestiário dos visitantes, existe apenas um vaso sanitário. Roth estava estupefato. Everton Giovanella defendeu a honra do alvi-azul e dos cidadãos, mas é certo que o Inter, que há 12 anos não pisava na cidade, voltou a Porto Alegre com mácula em relação a imagem e recepção do muncípio. Eu que estava feito uma barata tonta tentando entender o que ocorria dentro do campo percebi muito bem a animosidade que se formou fora do gramado.
No fim, mas bem no fim, fiz a constatação:gostei da experiência. Até coloquei o microfone na cara do jogador Leandro Damião. Mas a cara do D"Alessandro, esse ainda não conheço não. Só sei de uma coisa, um episódio que eu refutava (eu não queria ir de jeito nenhum no jogo) se transformou em uma experiência legal. O 1 a 1 foi bom para o Lajeadense. Mas na vida, esqueça o empate. É como diz Martha Medeiros:"Vença. Perca. Ofereça a si mesma algum resultado" O meu foi ótimo.

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quarta-feira, 30 de março de 2011

Ode ao promotor

Enquanto ele fala em "chaga social", eu suspiro. Enquanto ele rebate a necessidade de "proteção social", eu gracejo internamente e assim que ele arremata com a importância da "conscientização de todos", eu compreendo: ele é o cara. Nada contra o Obama julgar que Lula "is the man". Longe de mim contestar o superpoderoso. Mas é que ele realmente não conhece a potência da promotoria pública de Lajeado. Dentro dela mora um anjo. Lindo, esbelto, alto e com poder de arrebatar olhares. De soslaio, é claro, porque com autoridade dessa envergadura não se brinca e nem se fornica. Mas, ave César, se há um homem da lei que merece todo o realejo é esse tal de ....nononinonon. O nome é sigilo de redação. Lá, todo mundo sabe que arrasto uma asa secreta para esse paladino das regras. Mas esse é um assunto "in off".
Sendo abusada, digo que achei a metade da laranja. Pena que outra meia laranja encontrou-o primeiro. Assim eu continuo sendo meia e não direi nem meias-palavras sobre esse assunto fora da pauta porque não sou louca de perder a fonte. Sou só uma bipolar moderada tendo de manejar a hecatombe que me invade quando o olho com fingido desinteresse e pergunto profissionalmente sobre "a solução para tratar os adolescentes em desacordo com a lei."
Um Apolo dedicado a Justiça pública. A beleza é só a moldura de uma personalidade que o acompanha majestosamente. Mas ele vale todo esse discurso panegírico. Educado, com trejeitos moderados, tem consciência dos problemas sociais. O epicentro de todo esse garbo é uma declaração despretensiosa: "as pessoas buscam uma felicidade efêmera fora delas, quando a felicidade está nelas". God..foi nessa hora que eu vi gnomos: lindo e evoluído, a última coca-cola do deserto. Deus colocou um Adônis espiritualizado na minha frente para retirar o doce logo depois. Este homem, suprassumo do homo sapiens, entornou todas as minhas aspirações românticas com um único gesto de mão. No dedo anular circundava uma aliança dourada indicando que todo homem que reluz desse modo é ouro. Um ouro já entesourado por alguém com cacife para bancar esse alto relicário. Ah...eu sei, eu sei que o mundo é injusto. Mas ele bem que poderia ser injusto a meu favor! Mundo dura lex, sed lex.

sexta-feira, 18 de março de 2011

Cheia de 40!

Ufa. Cheguei lá...aos trancos e barrancos posso me considerar gatona da meia-idade. Gatia. Tia. Tia para todos os alunos nas escolas onde ingresso para entrevistar professores. Tia para os moleques da calçada. Tia para a juventude malévola que tem espinha na testa. Tia até para marmanjões de 25 anos. Tia um cacete. Moleque que dispara um "oi tia" deveria ir para a Fundação de Apoio Socio Educativo (Fase). Sou tia só para meu sobrinho de dois anos, filha da minha mãe e praticamente irmã da minha filha. Todos os graus de parentesco constam na minha árvore genealógica, chega de sobrinho bastardo. Pelo fim da saudação de rua: OI TIA. Abaixo a tia. Senão baixo o cacete verborrágico: pestinha insolente.
Fazer anos é algo tão paradoxal. A pessoa me cumprimenta e diz: "parabéns". Mas eu sei que ela está pensando: "bah, ela já tem 40". Quer dizer, isso não é uma congratulação, chega a ser um sentimento de comiseração. Mas eu aguento, depois vou à desforra no aniversário dos outros.
Então, hoje teve festinha na redação. Juntamos uns troquinhos e compramos salgadinhos. Mas a diversão ficou por conta dos dois minutos de espetáculo: Eu, Rôdi e Lu vestimos perucas e óculos e cantamos a paródia. Carlos fez a apresentação.


Cheia de 40 (Cante como Cheia de Mania, do Raça Negra)

Cheia de ruguinha
Antitecnologica
Velhinha robusta
Sabe ser escandalosa

Com essa idade ainda dança assim
domina toda redação
o povo fica sem saber o que fazer
querem me enxotar mas eu nao vou
não vou

Então me ajudam a esconder
Essa dança pro seu Oswaldo não ver

quinta-feira, 17 de março de 2011

Flesh, o indefensável


Um pastor belga está sendo treinado no Canil da Brigada Militar em Arroio do Meio para ajudar o policiamento na Copa do Mundo. Flesh é um filhote de seis meses com 25 quilos que adora buscar bolinhas de tênis que cheiram a dinamite ou pólvora. O treinamento é feito até ele figar viciado na brincadeira e não nas substâncias. Para ele, a bolinha fedendo a TNT é a caça viva.Assim que ele a encontra, fica sentado, indicando que aí tem carga explosiva. Para o adestrador Cardozo, Flesh vai mandar bem no Mundial. No que depender do treinador, o cão vai ter performance similar a Ronaldinho Gaúcho. Flesh, o convocado do Vale para o Mundial.

*** No mundo canino, vivi um dia de adestradora, ou quase isso. Vesti a proteção de braço e me impus coragem para experimentar a força da bocada. As fotos saíram hilárias. Esta é a imagem que em que aparento ser mais valente. As outras..repórter cagada!

sábado, 12 de março de 2011

Seu epitáfio!

Ele, @DdCoimbra deu adeus ao Twitter hoje, às 23h59 min. No derradeiro tuíte, escreveu: "a fidelidade é uma merda" e deixou cerca de 24 mil seguidoras sem chão, inclusive eu, que estou me sentindo uma viúva virtual. Sendo assim, refleti sobre o epitáfio dele. Aqui jaz um homem que gostava de Jos. Adeus homem da malemolência da praia, agora só vou te ver em textos impressos por aí, sem os tuítes personalizados que tanto te aproximaram de leitoras como eu. Ai, que vontade de cortar meus pulsos virtuais...pensei em puxar a tomada, estragar o cabo USB, mas esse suicídio não leva a nada.David Coimbra quer superar Moacir Scliar na imortalidade, então adiós...só me resta pensar em epitáfios - o meu, o seu, o nosso. Sugiro alguns para minha lápide:
"Enfim, livre do Diazepan" ou algo mais reflexivo tipo "Já estou no amanhã. E te espero". Um viciado em internet manda bem se tiver como últimas palavras: "Enfim, off line". Um espertinho poderia querer dar as boas-vindas: "Fique tranqüilo! Só quem é vivo, sempre aparece"
É legal que o epitáfio esteja relacionado com o modus vivendi da pessoa.
Em grego, "epitáfio" quer dizer "sobre a tumba" e é uma espécie de último pio humano que a gente dá sobre a Terra. Muita gente famosa deixou seu epitáfio pronto antes de morrer. Alguns são bem humorados e criativos como este: "Sabia que você viria". Mas há outros muito interessantes:

"Perdoe-me por não me levantar"
- Groucho Marx, artista do cinema

"É uma honra para o gênero humano que tal homem tenha existido."
- Na lápide de Isaac Newton, na Abadia de Westminster

•“O tempo não pára…”
- Na lápide de Cazuza, Cemitério São João Batista, RJ

Sem o melhor amigo, sem o pior inimigo
- Lucius Cornelius Sulla, ditador romano

Isto é tudo, pessoal!
- Mel Blanc, dublador do Pernalonga

Desculpe a poeira
- Dorothy Parker, escritora americana

Non fui, fui, non sum, non curo (Eu não era, eu era, eu não sou, eu não me importo)
- Famoso epitáfio latino

segunda-feira, 7 de março de 2011

O véu que liberta!


Vejam só, enquanto o povo se esbalda na folia, muçulmanos de três estados escolhem Lajeado para rezar por Alá. Eles estiveram hospedados no Weiand Turis Hotel durante quatro dias e durante esse período acordaram as 5h da manhã para as orações. As mulheres, com "hijabs" lindos e coloridos, chamam a atenção. Hijabs são véus que escondem o cabelo, mas não o rosto. Cada qual pode personalizar o seu véu. Vi alguns muito bonitos, em tons vibrantes e com tecidos impressionantes.
A opinião que os muçulmanos têm do Carnaval não é muito favorável. E sabe o que impressona em mim? É que no fundo, concordo com eles. Considero muito mais produtivo se entocar num hotel com um sheik (pessoa que estudou Teologia Islâmica)do que saracotear pela avenida mostrando os peitos. Nunca me engracei pelo Carnaval. Nunca foi minha lenda pessoal botar meu bloco na rua de uma forma assim tão ostensiva fisicamente. Mas também não me escandalizo com o que vejo.
Só percebi que ao manter contato com o mundo islâmico, derrubei aquele estereótipo fundamentalista que me cercava. Não vi fanatismo, mas antes, a postura de gente respeitosa e que vive de uma forma serena. Bem mais do que nós. Engraçado, a gente sempre pensa que as mulheres são oprimidas pelos trajes e modo de vida, mas uma delas, Rima, professora de árabe me falou exatamente o contrário: "me sinto liberta". Com isso ela quis dizer que está alforriada da ditadura da beleza, algo que nós mulheres cristãs, sentimos como o mais temível grilhão, pois estamos sempre preocupadas com o peso, com a estética, com as rugas e a barriga sarada. Elas preferem ser valorizadas pela mente, confidenciou-me Rima. Esta é uma reflexão bem interessante: o véu que liberta só esconde o corpo mas enrijece a alma. E se o povo daqui não compactua das crenças islâmicas, o episódio serviu para pelo menos, popularizar o termo "hijab". Vai que no Carnaval que vem você se volte para Meca e prefira cuidar mais do espírito do que do corpo. No Brasil, um milhão de pessoas já fazem isso. Não é pouca coisa. Alá que o diga.

PS: Os islâmicos despertaram curiosidade entre os empregados e demais hóspedes do hotel devido às vestimentas e os hábitos. Um grupo de turistas alemães impressionou-se com a postura herdada do povo árabe. O decoro nos gestos, vocabulário e vestimenta determina a prática da retidão e a supressão da sensualidade. A equipe de funcionários teve de ser treinada para recepcioná- los. “Recebemos instruções para não cumprimentar as mulheres, estendendo as mãos e para agir de forma muito respeitosa”, disse o gerente. O hotel disponibilizou um salão para o grupo fazer as cinco orações cotidianas e outro para palestras.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Confissões de um exorcista!

O Vale do Taquari tem um poderoso padre exorcista. Nesta semana, ele foi chamado à região metropolitana para atender dois supostos casos de possessão demoníaca. O jornal O Informativo (eu) acompanhou o desafio.
Eu e o padre saímos ainda de madrugada.Enquanto eu servia o chimarrão para ele, o parapsicólogo (sim ele é parapsicólogo e doutor em psicanálise) me falou de fenômenos como Telergia. A viagem passou voando. Ele reiterou que acredita no diabo, sim, mas nao naquele ser figurado com cara de monstro. Para ele, o diabo é muito atraente. E por isso, muito mais perigoso.
O padre Hilário Dewes foi forjado na Igreja Católica para ser exorcista. E é. Mas lida muito mais com técnicas de parapiscologia para expurgar capetas insistentes que se introjetam na mente mudando a rota da energia vital.Ele atende a inúmeros chamados de supostas possessões demoníacas.Foi até para Paris a título de cuidar de um encapetado. O padre também é doutor em psicanálise. Trinta anos de experiências, lhe valeram a alcunha de "padre bruxo". Ele prefere um apelido menos místico e mais pragmático. "Eu digo que sou o padre bombril". As mil e uma utilidades se estendem do campo da fé para a mente. Ele benze, batiza, reza missa, faz hipnose, regressão e se precisar exorcizar, não se faz de rogado. Esconjura o satanás com a mesma calma com que toma chimarrão. Em um ano na diocese, estima ter atendido 30 casos em Lajeado. Epísódios de pessoas que levitam objetos ou ateiam fogo na casa são mais comuns do que se imagina, salienta Dewes. Os familiares, contudo, ocultam de amigos e vizinhos, assustados com os fatos porque o desconhecido é sempre temeroso.

** A viagem com o padre foi muito produtiva. Descobri que as pessoas são impressionáveis e que muitos demônios são mesmo os tormentos da mente. Como faz questão de dizer o vigário, "não pense que é assim tão fácil para o diabo entrar no corpo". Apesar disso, ele tem os apetrechos para o exorcismo: Bíblia, terço e trechos bíblicos que já estão decorados. De óleos a base de oliva para ungir os possessos lança mão. O quê? Você não acredita no diabo? Pois deveria...ele acredita em você.

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terça-feira, 1 de março de 2011

Salmodiando!

Tomei uma resolução e agora ninguém mais vai aguentar: vou colocar o gogó no mundo. Cantar é uma linguagem universal, um dos prazeres mais viscerais do ser humano. Vou colocar a cachola para funcionar porque ideias é que não me faltam. Salmodiarei paródias o dia inteiro. É meu protesto bem-humorado para sair da pindaíba (embora eu tenha a plena ciência - um jornalista NUNCA sai da pindaíba). Roberto Carlos, forró, axé, é no embalo dos ritmos que erguerei a minha voz, nada melodiosa, é certo, mas cheia de vontade de acertar o passo.

HIT DO MOMENTO
Aumento é bom prá mim

Vou sim, quero sim, posso sim,
um aumento é bom prá mim

O meu Corsa eu tenho de trocar
Escola particular para minha filha tenho que bancar
Tenho que pagar
Fruteira, farmácia,plano médico boçal
Iptu atualizado dessa cidade neanderthal

Quero sim, posso sim, mereço sim


HIT DO ROBERTÃO
Jesus, um frila

Tem um frila, tem um frila
tem um frila me esperando aqui

Olho pro lado e vejo um sindicato sem voz ativa
Olho para o outro e vejo a Rola Moça como perspectiva
Pego e me sento e faço um curriculo super turbinado
Rogo pro céu e peço um super aumento, senão tô lascado

Jesus Cristo....


No ritmo de Tropa de Elite

Fator previdenciário, osso duro de roer
Pega o Celso, pega a Helena
Também vai pegar você!

sábado, 26 de fevereiro de 2011

O avesso do glamour no Oscar


Amanhã tem Oscar. A Rede Globo topou a parada e vai televisionar a festa mais glamorousa do cinema. Celebridades, aquelas que figuram no Olimpo, deslumbrarão o mundo com vestidos suntuosos e jóias de pesados quilates. Tapete vermelho, flashes e o planeta embasbacado: Angelina Jolie e Brad Pitt são reais. E lindérrimos. A nós, meros mortais medianos, foi destinado uma gordurinha na anca, o nariz aquilino demais e bem que a gente fecha o olho para a barriguinha saliente do nosso parceiro. Não somos de Hollywood, ah tá, tudo bem a gente pode fazer figuração num comercial da Fruki. O máximo que o nosso corpitcho chega é se exibir na telinha local em uma propaganda de creme hidratante para a DiHellen. Isso, a Ana Paula Quinot conseguiu. Convenhamos, ela merecia bem mais. No mínimo, ser confirmada no elenco de um programete Global.
Mas bem, estou querendo falar do fascínio que o mundo dos famosos exerce em quem não está no topo do universo. Pessoas, eu, você e o João. Nós que compramos Caras para vislumbrar o prato e o castelo de férias dos famosos. E olha que esses são tupiniquins. Imagina se aproximar de um da terra do Tio Sam. Fantastíque.
Amanhã, meus senhores, o Brasil terá um representante de luxo. O documentário ‘Lixo extraordinário’ concorre na categoria de melhor filme estrangeiro. E quem vai estar lá será o gari carioca Tião Santos: a única vez que usou terno e gravata foi quando se elegeu presidente da Associação dos Catadores do Jardim Gramacho, o maior aterro sanitário da América Latina. Amanhã, a turma do Jardim Gramacho estará de olho na telinha e orgulhosos de Tião que fará boa cena vestindo grifes de duas marcas cariocas.
Eu acho bárbaro que o mundo olhe para o avesso do glamour. Temos que nos orgulhar mais de nós mesmos e menos das ficções. Podemos trocar o Senhor e Senhora Smith, pelo senhor Santos, sobrenome que brota aos borbotões por essa terra de chuteiras.
Há dois anos, trabalhei como gari por um dia. Foi uma experiência como eu diria, invisível. Eu percebi a invisibilidade social pela qual eles estão engolfados. Não existe "olá" para o catador na maior parte do dia. Eles estão tão acostumados com a indiferença, que se tornam indiferentes a eles mesmos. Sentem-se resignados em ser invísiveis. Existe uma absurda diferença entre os uniformes: o do médico suscita admiração e respeito. O do gari...a invisibilidade que se dá a um "poste".
O psicologo Fernando Braga da Costa trabalhou com os garis e comprovou que em geral, as pessoas enxergam apenas a função social do outro. Quem não está bem posicionado sob esse critério, vira mera sombra social. Se a gente passasse pela experiência, talvez conseguiria se livrar desse estigma burguês. E vislumbrasse o seu João do Lixão, como um trabalhador com direito a ganhar "bom dia".
Amanhã, o Oscar vai inevitavelmente para Tião Santos, que está louco para ver o Nicolas Cage de perto. Ele é o cara. Herói real.Aqueles que suplantam a ficção.

PS: O documentário nacional não levou a estatueta: Apesar da derrota, só a presença de Tião entre os astros de Hollywood já foi considerada uma vitória para a comunidade. "Tudo o que ele fez foi para mostrar a nosso pai até onde poderia chegar. Se ele estivesse vivo veria que o Tião é um vencedor", disse Carla Simone dos Santos, irmã do catador.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Coração insepulto


A lei da vida determina que os pais enterrem os filhos. O contrário é intragável, desumano, espúrio. Quando Nersi Thomas teve certeza de que seu filho morrera, o mundo despencou. Sepultou Alex Thomas ante o olhar perplexo da sociedade, mas soube que seu coração permaneceria insepulto.Alex foi assassinado há 25 anos por sete rapazes da classe média na praia de Xangrila. O crime gerou comoção nacional porque naquela época não era comum jovens matarem outros. Se hoje, para cada assassinato houvesse nomes de ruas, o Brasil não teria mais esquinas. Mas ele ganhou a sua, dois anos após sua morte. A Rua Alex Thomas é estreita e compacta como foi a existência do estudante. É uma alameda da dor. Ou da lembrança.

(Escrito às 5h da madrugada do dia 25 de fevereiro, 25 anos após a morte de Alex Thomas)

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Meu mundo de R$ 13

Se Maysa cantava "meu mundo caiu" com toda emoção interplanetária que requer a performance de uma cantora de sucesso, eu sibilo entre dentes, "meu mundo se ergueu", no ritmo em que Tiririca cantaria Florentina. Descobri o poder do RS 13. Cabalístico, este é um algarismo que melhora minha autoestima. Eis meu propulsor motivacional. Me deixa um pouco melhor, mais rica, me faz sentir mais mulher de sucesso. Quase uma Giuliana Morrone falando de Hollywood. Explico: estou fazendo matérias fora de hora.
Há três semanas, descobri que minha hora extra valoriza R$ 3 reais. Assim, de R$ 10 passo a ganhar R$ 13 contos de réis para ficar um pouco mais à frente do computador, falando com as fontes. Uma verdadeira operária das palavras.
Meu mundo se abriu. Se há uma luz no fim do túnel, não é o trem que vem vindo. É o patrão chegando com a laterninha, sinalizando que se eu não serei rica, ao menos terei a possibilidade de ganhar R$ 250 a mais por 20 horas de suor excedentes. Revigorada, acordo todos os dias com uma missão: trabalhar até às 17h e fazer uma hora extra. Se conseguir duas, melhor: 13 mais 13 são R$ 26. (dim dim, barulhos de moedinhas caíndo).
Aprendi a calcular rapidamente nos dedinhos o valor do suor extraordinário. Com nove horas de labuta, pago o curso de inglês da minha filha. Criei uma obsessão pelo 13. Virou automático calcular tudo. Na vitrine, o preço da etiqueta me impele a fazer contas: esse tamanco vai me custar seis horas. A academia é mais barata, me custaria cinco horas. Mas o Iphone, esse vai demorar mais um pouco. Seriam 70 horas. E o tablet, que morro de vontade de ter, eu me esguelaria no serviço: 145 horas. Nunca vi maçã tão cara e tão desejável. Será que Deus fez o mundo na sua hora-extra?
Minha imaginação vai longe nessa ânsia platônica de consumismo virtual. Eu transmuto calças, blusas, colégio particular, medicamentos, tudinho em serviço. OMG, não tenho tanto tempo na vida para fazer hora extra (na redação, a gente chama de ponto-caderno). Por isso, fiz da coca-cola zero minha referência.Com R$ 13, compro seis latinhas. Uhuuuu, Jesus me ama. E me refresca a alma com pouca caloria. Para uma serva sedenta de cifras, o 13 é a última coca-cola do deserto. Erguei as mãos e dai glória a Deus...

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Tempo vil

Sempre me neguei a trabalhar por dinheiro. Não estou surtando, explico: minha labuta tinha a ver puramente com paixão e ideologia. Stendhal, grande escritor, já dizia que é um privilégio ter como profissão a paixão. A ordem dos fatores não altera a fruição. É um privilégio ter como paixão a profissão. Acreditei piamente nisso durante anos. Nunca fui ambiciosa, mas não tinha sequer metas rasas a respeito de sistema financeiro pessoal. Nunca foi minha lenda.Agora, aos 40 vi que pequei. E pequei por vários motivos. Ganho pouco e com 20 anos de profissão, me considero um fracasso. Porque andei 20 anos e recebo R$ 100 reais a mais daqueles que estão começando hoje. Quer dizer, não é só questão de orçamento. O buraco é mais embaixo. O rombo é na autoestima e não tem reajuste que irá compensar. Mas como viver não é necessário e trabalhar sim, todos os dias o alarme do celular avisa-me que é hora de subir nos tamancos e ir. Mas eu não tenho mais a ideologia que tanto fazia reluzir de fascínio o jornalismo. Eu a perdi há pouco, bem pouco tempo. Minha ideologia estava diretamente vinculada à minha meta. Antes, tinha por objetivo aprender uma palavra nova por dia. Mas não uma palavra do dicionário e sim as quais eu lia em livros ou resgatava em revistas. Foi com essa meta que fiquei conhecendo a beleza de um "exegeta" ou de um "prosélito" e a limitação de um "parvo". Troquei esse objetivo por outro mais duro e cínico. Meu foco é ganhar R$ 26 reais a mais diariamente. Este é exatamente o valor de duas horas extras, que faço para incrementar a renda. Troquei a literatura pelo vil metal. Isso me mata, mas é por sobrevivência. Que ironia funesta.

***E assim é o mundo; às vezes, sinceramente, desejo que Noé e sua comitiva tivessem perdido o barco.

(Mark Twain)

quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

 
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"A infância não, a infância dura pouco. A juventude não, a juventude é passageira. A velhice sim. Quando um cara fica velho é pro resto da vida. E cada dia fica mais velho" - (Millor Fernandes)

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Uma personagem clonada em mim!

Ah..arre eu vou admitir a duras penas: eu assisto a novela Tititi. E adoro. Confesso, confesso que quando a impagável Jaqueline disse: "muitos me adoram, mas ninguém me ama", me senti a própria personagem enjaulada na televisão, mas com uma vida real correndo à revelia aqui em Lajeado. O folhetim tem um aspecto filosófico latente que Schopenhauer acharia interessante analisar.
Jaqueline, surtada, sou eu em meu melhor momento. Yo também sou moldada com todos os meus exageros dos anos 80. Amo, amooooooooo anos 80, "charrete que perdeu o condutor", cantaria Raul Seixas, naqueles doces tempos em que as calças deandê contornavam a silhueta das mulheres de polainas.
Jaqueline, no espectro de Cláudia Raia, deslocando-se com seus maxiacessórios no corpo de 1,80 de altura, sou eu, compactada em um universo de 1,60, mas não menos complicada e visceral.
Agora que a novela está no fim, só agora, tive a ideia de separar um caderno para transcrever as tiradas mais originais que os personagens emitem. E não é só a Jaqueline que desfere golpes hilários em forma de frases. Tem Dorinha, a ex-modelo falida que vocifera a suas pupilas: "a paixão é fugaz e uma péssima administradora de recursos". Os pós-adolescentes Mabi e Lipe são o intelecto de primeira grandeza incorporados ao folhetim. "Os românticos são vencidos pelos predadores", expressa Lipe em uma das falas em que busca o amor da filha de Jaqueline. Algumas dos diálogos são verbetes. Outros, clichês surrados, que, tratados com humor, viram pérolas repolidas.E eles citam Schopenhauer com a maior propriedade! Como diria Jaqueline, se minha inveja fosse um doberman, as duas crianças prodígio estariam aos pedaços.
Como a carente Jaqueline, sou uma atriz de mim mesma, que não caibo em nenhum folhetim, mas que estou muito bem representada numa personagem fictícia.Sim, por baixo dessa crosta opaca se esconde um belo diamante. Que jamais será lapidado, porque me escondo em camadas de depressão crônica, uma sujeita que só ri quando Jaqueline lasca: "que mal eu fiz na outra encarnação, será que fui engraxate de Hitler?"

*** Pois é, e de tudo isso eu concluo igual ao Calvin: Marx dizia que a religião era o ópio das massas... ele ainda não conhecia a televisão.