Ah..arre eu vou admitir a duras penas: eu assisto a novela Tititi. E adoro. Confesso, confesso que quando a impagável Jaqueline disse: "muitos me adoram, mas ninguém me ama", me senti a própria personagem enjaulada na televisão, mas com uma vida real correndo à revelia aqui em Lajeado. O folhetim tem um aspecto filosófico latente que Schopenhauer acharia interessante analisar.
Jaqueline, surtada, sou eu em meu melhor momento. Yo também sou moldada com todos os meus exageros dos anos 80. Amo, amooooooooo anos 80, "charrete que perdeu o condutor", cantaria Raul Seixas, naqueles doces tempos em que as calças deandê contornavam a silhueta das mulheres de polainas.
Jaqueline, no espectro de Cláudia Raia, deslocando-se com seus maxiacessórios no corpo de 1,80 de altura, sou eu, compactada em um universo de 1,60, mas não menos complicada e visceral.
Agora que a novela está no fim, só agora, tive a ideia de separar um caderno para transcrever as tiradas mais originais que os personagens emitem. E não é só a Jaqueline que desfere golpes hilários em forma de frases. Tem Dorinha, a ex-modelo falida que vocifera a suas pupilas: "a paixão é fugaz e uma péssima administradora de recursos". Os pós-adolescentes Mabi e Lipe são o intelecto de primeira grandeza incorporados ao folhetim. "Os românticos são vencidos pelos predadores", expressa Lipe em uma das falas em que busca o amor da filha de Jaqueline. Algumas dos diálogos são verbetes. Outros, clichês surrados, que, tratados com humor, viram pérolas repolidas.E eles citam Schopenhauer com a maior propriedade! Como diria Jaqueline, se minha inveja fosse um doberman, as duas crianças prodígio estariam aos pedaços.
Como a carente Jaqueline, sou uma atriz de mim mesma, que não caibo em nenhum folhetim, mas que estou muito bem representada numa personagem fictícia.Sim, por baixo dessa crosta opaca se esconde um belo diamante. Que jamais será lapidado, porque me escondo em camadas de depressão crônica, uma sujeita que só ri quando Jaqueline lasca: "que mal eu fiz na outra encarnação, será que fui engraxate de Hitler?"
*** Pois é, e de tudo isso eu concluo igual ao Calvin: Marx dizia que a religião era o ópio das massas... ele ainda não conhecia a televisão.
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