sexta-feira, 3 de junho de 2011

O saber secreto dos maçons do Vale do Taquari

Imagine um segredo mantido em sigilo por três milhões e meio de pessoas em todo o mundo. Quem conseguiria tamanha proeza? A resposta está em uma ordem secular que ganhou fama e projeção em razão de seu poder: a maçonaria. No Vale do Taquari pelo menos 300 homens compartilham rituais em lojas cravejadas de símbolos e arquétipos que ficam restritos a quatro paredes. Templos maçônicos existem em Lajeado, Cruzeiro do Sul e Estrela. Foram construídos sem janelas para manter encarcerados os segredos filosóficos que a ordem tanto preza. Bebe na fonte desse conhecimento a elite mundial. Oficiais da alta patente das Forças Armadas, políticos proeminentes, presidentes foram alçados à condição de mestres maçons e galgaram os degraus da hierarquia da ordem. O homem mais poderoso do mundo, presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, seria um maçom grau 32. O grau 33 é o mais elevado, a última etapa que fecha o ciclo de estudos, é designado como o guardião da Ordem, o Soberano Grande Inspetor Geral (veja quadro). O Vale do Taquari formou 15 maçons de grau 33.
Na região, empresários, engenheiros, dentistas, contadores, professores, médicos e profissionais de todas as formações participam da fraternidade e mergulham no “saber secreto”. Um saber que aguça a curiosidade do universo profano (os não iniciados).
Envoltos em um manto de discrição, maçons da região se mantêm ao largo dos holofotes. Eles podem ser profissionais proeminentes, mas quando o tema envolve a ordem, a resposta é silente. “É constrangedor falar de algo que eu jurei silenciar”, enfatiza um mestre maçom. Na região existem pelo menos cinco lojas maçônicas: três em Lajeado, uma em Cruzeiro do Sul e uma em Estrela. O venerável mestre (aquele que preside a loja) do templo de Cruzeiro do Sul é um homem conhecido na área da saúde.
“Nós vamos ao templo para estudar. Fazemos o estudo do pensamento, mas recheado de simbolismos.” Eis o que desperta tanto fascínio. Entrar num templo maçônico é mergulhar em um espaço codificado. Nas paredes há 12 colunas, uma corda com 81 nós e outros signos, como as pedras bruta e polida, que representam os momentos pré e pós-iniciação. O templo maçônico é estruturado à maneira do universo. No teto há sol, lua, estrelas e as configurações dos planetas. O chão é formado por quadrados branco e pretos, representando a dualidade do universo. Assim, o maçom, ao pisar no templo, esmaga o preconceito e demonstra a comunhão entre brancos e negros e o respeito à diversidade.
Durante as cerimônias, os homens vestem aventais, que são símbolo do trabalho e para demonstrar a sua evolução na ordem. Referem-se a Deus como Grande Arquiteto do Universo, mas um Deus tratado dentro dos valores de tolerância religiosa. Por isso um maçom pode ser judeu, católico, muçulmano. Nas sessões, Deus tem um nome específico. O que não pode é ser ateu. Cada homem tem que acreditar no seu ser divino.
O segredo maçônico
Os maçons são objeto de curiosidade mundial. E muitas vezes se divertem com as teorias e conchavos com os quais supostamente teriam ligação. Boatos, apenas. É tanta coisa especulada pela internet, nos livros e filmes que eles já desistiram de contestar. “Eu juro que eu não conto nada do que acontece na loja. Esse juramento cria curiosidade extrema. Imagine um prédio fechado que não tem janela. A vizinhança enlouquece e pensa: ‘o que esses caras fazem ali?’”, comenta o mestre maçom. Estudam.
O segredo da maçonaria já foi revelado por irmãos que saíram da ordem e publicaram livros. Mas conforme o entrevistado, as obras não descrevem com perfeição os fatos sigilosos. A conclusão às quais muitos estudiosos chegaram é que o segredo da ordem reside justamente em não ter segredo. Existem sim toques, sinais e palavras que servem de identificação do maçom e que só a eles pertencem. O resto é imaginação criada por pessoas de fora dessa associação.

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