quinta-feira, 29 de março de 2012

Putinga não saiu de mim

Nasci um bebê rosado na meteórica Putinga. Virei ficção por conta do meu humor e bipolaridade. Sofri bullying pela origem da minha cidade e também pelo sobrenome. Na escola Érico Veríssimo, onde hoje o combate ao bullying é o mais intenso de Lajeado, me angustiei pela primeira vez: ela é de Putinga, então é a é putinha. E o pessoal ria sem dó. Criança é o ser mais inclemente que existe. E quanto mais a gente quer deixar passar esse momento, mais se o realça.


Minha angústia maior era em início de ano, quando tínhamos de nos apresentar. "Sou Andreia Rabaiolli". Tudo na cabeça de criança é alvo de troça. Rabo Mole. E lá iam-se os risos e o meu - amarelado - era lembrado em casa com lágrimas e raiva. Porco can, porque eu tenho de ter esse sobrenome italiano e porque minha mãe não correu para eu nascer em Lajeado?
Ó coitada, estranha no ninho de uma grande cidade - cá pensava eu com meus botões. Com o tempo fui me acostumado com o fato de ser de Putinga. Afinal, lá nasceu o Renato Zanella e caiu o meteorito. E também a Nona Pina e a Cinara, mais macho do que todos os campões de MMA juntos. Vítor Belfort tremeria de medo diante de Cinara, macha, mas cheia de peito e com filha grande.

Putinga é a cidade dos fenômenos. O meteorito desceu num dia de São Roque bem quando o padre discursava sobre o fim apocalíptico dos tempos. Veio aquele estouro dos céus, tibrummmmmmm e caiu aquele bloco gigantesco de pedra rolante. As pessoas se esconderam, mas depois, subversiva como só Putinga pode ser, os mais malandros trataram de captar alguns pedaços da pedra e guardar como tesouro. Foi assim que aquelas toneladas foram se espatifando uma a uma, dizimando-se nas casas putinguenses e daqueles que se diziam cientistas. Em nome da ciência, muita gente anda guardando cascalhos meteóricos. Apenas alguns poucos estão guardados para fazer jus ao Livro dos Recordes e no museu da Nasa.
Mais de 70 anos do fato e Putinga ainda se orgulha de ser a Cidade do Meteorito. Uma faixa bem grande lembra do fato: "Bem vindo a cidade do Meteorito".

Luan Santana ainda nao esteve lá, mas se fosse, seria um up na sua carreira. Putinga: meteoro da paixão. Saí de Putinga aos três anos de idade, mas não me livrei do jeito e do comportamento citatino. "Tu saiu de Putinga, mas Putinga não saiu de ti", diz meu chefe que rege minhas pautas, me dia e minha irritação.
Putinga, cidade subversiva, só perde em transgressão para Anta Gorda, município dos cachaceiros e daqueles que a todo custo tentam se livrar dos impostos federais. Bem feito para o Brasil que comprime o cidadão com tantos tributos. Há um nível de sinceridade em Putinga e Anta Gorda nunca visto antes em cidadãos brasileiros. São tão sinceros que chegam a comover. São tão sinceros que chegam a dizer que so roubariam pouco se tivesse no poder. Gente, isso é bom. Ninguém no poder rouba pouco. Só os putinguenses que corromperiam o mínimo possível, inclusive eu.
Pergunta-se a um cidadão de la: o que você acha de Putinga? Putinga é igual casco de cavalo, só cresce para baixo". Ah mas se é para colocar no jornal e se o prefeito está pagando, então bota coisa boa aí.
Putinga jamais viu o apocalipse com o meteorito, mas se valeu dele para se transformar em fenômeno. E quando Nona Pina era viva, foi personagem de muitas entrevistas. Agora, a cidade evadiu-se, os novos procuraram outros caminhos e os mais velhos revivem o passado. Quanto ao meteorito, um pedaço dele está guardado no cofre da prefeitura. E que alguém se atreva a roubá-lo, dio Madonna. Os putingueses, criados a polenta e a vinho, dão uma sova de laço. A Cinara principalmente, porca pipa.

Bombeiro que ganha R$ 1,5 mil/mês salva menina afogada


Em sete minutos, profissionais interceptam ambulância com criança em parada respiratória. Agilidade deu sobrevida até o hospital




Lajeado - Um bombeiro que recebe menos de três salários mínimos por mês conseguiu, ontem, obter uma das maiores gratificações de sua vida: salvar a vida de uma criança de 3 anos.
Com 45 anos de idade e duas décadas de profissão, Claudimir Santos dos Santos virou herói do dia da família Bairros. Seu senso de espírito salvou Cassiane Bairros da morte. A menina, com três anos, foi socorrida em plena rua.
Ontem de manhã, Cassiane caiu na piscina da casa de sua tia, em Arroio do Meio. “Foi num piscar de olhos”, disse a tia Nelci Bairros. A família, assustada, chamou a ambulância do município e, ao mesmo tempo, o Corpo de Bombeiros de Lajeado. A ambulância chegou antes e socorreu a menina. Quando acionado, o caminhão dos bombeiros fez o trajeto em sete minutos de Lajeado a Arroio do Meio. O veículo conseguiu parar a ambulância que carregava a menina ao hospital. Claudimir entrou em ação: deitou a menina sobre seus braços, verificou os sinais vitais e descobriu que a respiração estava parada. Com o boca-a-boca, Claudimir soprou ar para Cassiane. Foi esse procedimento que a fez sobreviver.
Cassiane regurgitou líquido e vomitou. Claudimir não parou. “No momento em que comecei a ventilar, ela soltou um chorinho. Fiquei aliviado.” O procedimento demorou cinco minutos.
A batalha ainda não estava ganha. A equipe dos bombeiros carregou a menina no veículo militar até o hospital. Só que durante o trajeto, ela teve outra parada. Em criança, os cuidados são redobrados, porque sentem mais dificuldade do que os adultos de voltar a respirar. Ela sofreu uma segunda parada porque suas vias estavam obstruídas e ela, desacordada. Claudimir a salvou novamente.
Cassiane foi encaminhada para a UTI do Hospital de Estrela. Ontem à tarde, a tia Nelci informou que ela estava fora de perigo. “Ela vai passar por um exame para ver se entrou água no pulmão.” Segundo Nelci, os pais Ivete e Jani Bairros estão agradecidos com a ação rápida dos bombeiros. A menina deve ir para casa ainda esta semana.

Trabalho em equipe
Claudimir mora em Rio Pardo, tem três filhos e 21 anos de profissão. Ontem, a cada meia hora, tentava obter informações da criança. Ainda não havia tido oportunidade de falar com os pais, pois a ação foi rápida e emergencial. Frisa que a salvação foi trabalho de equipe.
Tudo começou com a ligação recebida pelo sargento Jorge de Souza, às 9h32min. Às 9h33min, o caminhão se deslocava para Arroio do Meio com Claudimir, o motorista Eloir Pasch, que fez o veículo “voar”, e os soldados Laércio Beuren, Alan Rieth e Roger Luis Koelzer. Às 9h40min, chegaram ao local. Tanta rapidez foi necessária para salvar a criança. “Existe uma lei que diz que temos de respeitar os limites do trânsito. Mas primeiro temos de salvar a vida. Depois eu respondo pela velocidade”, disse Pasch.
Os bombeiros estão entre os profissionais mais confiáveis do Brasil. Seguem na liderança pelo terceiro ano consecutivo, segundo pesquisa do Ibope. A ação rápida da equipe de Lajeado reforça a credibilidade da pesquisa. No estudo, a instituição militar está à frente até das igrejas, só perde para a “família” e os “amigos”, que estão no topo dos mais confiáveis.

Vida de Facebook

Eu gosto tanto do que disse Nelson Rodrigues que acho ele tão lúcido quanto Schopenhauer. Ah mas ele me inebria e nao me faz ficar na zona de conforto. Quando acho que estou errada lutando contra o jornalismo morno, leio Rodrigues e fico como uma noiva em chamas. Oxalá, reviva Rodrigues na pele de Millôr ou de Scliar, mas todos morreram e agora Brasil?Quem será o morto rotativo na Academia Brasileira de Letras???

“AO CRETINO FUNDAMENTAL,NEM ÁGUA”

"Na vida,o importante é fracassar"

O amigo que é o nosso maior torcedor não é o maior coisa nenhuma, porque, ele próprio, não consegue se prender. Então,começa a fazer insinuações e etc…Como eu sinto, evidentemente, o nosso amigo, o inimigo, com a maior facilidade, então eu prefiro o inimigo”

Nelson Rodrigues eu te amo, Millor eu te amo, Chico Anisio, nem tanto!!



***Madre de Dios, eu chego em casa e vou ver meu querido Ferrero. Vejo ele enrolado num TERÇO..pergunto a Marianna o que houve: ela comeu e so deixou um pedacinho e disse que páscoa e Jesus tem tudo a ver com terço..Cristo!!!!

segunda-feira, 26 de março de 2012

A nau da gordinha desesperada!


Nunca me expus tanto em uma coluna pública, a não ser em meu blog, que tem menos abrangência do que Pitônicas. É uma “jogada” arriscada, mas de puro desespero. Agora são 8 horas da noite desta terça-feira. Estou chorando: 80% daqueles que lerem a crônica terão vontade de me esganar por achar meu terror de uma futilidade sem tamanho. Vinte por cento poderão me compreender. Titubeio em me expor tanto, mas escrever é se expor e talvez este seja meu divã - não clínico - mas público em que despejo minhas verdades com toques humorados que é para cair redondo na mente do meu camarada leitor. Descobri hoje que engordei seis quilos. Não sei quanto a balança apontou no total, virei os olhos. Ao ir ao médico, fiquei de costas para o ponteiro digital. O médico tomou o cuidado de não revelar o peso pois sabe que pode deflagrar minha latente depressão. Me fez fazer exame de sangue e no final me disse: “seis quilos”.



Foi um número acachapante. Uma verdade que você não quer ouvir. Subitamente, fiquei consciente de toda minha gordura. Eu senti uma bola de pilates na minha barriga. Eu sei que em vezes anteriores, quando escrevo isso, o sorriso e a ironia despontam como cruciais no texto. Mas agora não. O drama é inerente a mim. Minha teatralidade também. Normalmente lido na boa, escondendo minhas melancolias nas minhas próprias mise en scene. Todos somos em algum momento atores no palco da vida. Há uma trupe colada em nós, na nossa personalidade. Leio Arthur Schopenhauer para me conservar lúcida, mas humana, demasiada bípede, submerjo nas minhas futilidades: dar valor ao ponteiro da balança é a maior delas.
Eu sei que ninguém gosta de estar fora do peso. É normal. Anormal é sentir-me como eu. Há uma ojeriza, uma compulsão em sair de mim, me livrar desse corpo que me deixa esturricada no manequim 44. Deus, como vocês estão com nojo de mim. Tanta coisa para falar neste espaço: do aumento do número de vereadores, de animais abandonados, de crianças órfãs que precisam de ajuda. De mães desesperadas que perderam filhos em tragédias. De famílias que perderam tudo com incêndio. Dezenas de pessoas que fazem hemodiálise no Hospital Bruno Born e estão há anos na fila do transplante. Eu sei. Eu já fui na casa de todos eles, já lagrimei com cada uma dessas situações.
Mas por favor, eu peço que me deixem ser egoísta e falar hoje aqui de uma tristeza que eu não carregava há muito tempo. Escrever é se expor. E para mim é uma forma de desabafo. Eu preciso escrever para talvez, tomar uma atitude comigo mesma. Eu sou minha algoz. Dirão vocês: “fecha a boca, sua cretina, não exponha em praça pública o que você pode fazer na cozinha de sua casa.” A questão é essa: eu não quero emagrecer magicamente. Quer me controlar. Quanto mais persigo meu autocontrole, mais a autofagia me demora.
Um psicólogo americano,Roy Baumeister, atesta que o autocontrole é mais importante que a autoestima. Defende que o sucesso depende mais da capacidade da pessoa controlar seus impulsos, de adiar o prazer imediato em nome de um objetivo maior no longo prazo. Ele lançou livro chamado Willpower (Força de Vontade) , creio que ainda não está disponível no Brasil, mas em breve estará. Li entrevistas concedidas em revistas. Baumeister diz que a autoestima é mais uma consequência do que uma causa. O autocontrole ajuda as pessoas a serem mais bem sucedidas do que a autoestima. E segundo ele, a força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. “É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”
Entre a teoria e a prática, há muitos chocolates, sorvetes e batatas fritas bloqueando essa percepção científica. Há muito mais tentações no mundo moderno. É possível gastar, online, ir no shopping e consumir R$ 200 reais em orgia gastronômica, apenas porque você está irritado com seu chefe.. Temos uma quantidade razoável de força de vontade, mas se não a usarmos corretamente e de maneira efetiva, podemos nos tornar mais vulneráveis aos perigos.- A vida corre e, a todo momento, precisamos usar nossa força de vontade para mudá-la. Então, nobre cientista, como comer menos sem precisar de uma camisas de força? Ele recomenda, no caso da obesidade, se alimentar com saúde sem ganhar peso. Diz que a melhor forma para mudar um hábito é a repetição.
E se eu não conseguir comer a cenoura com regularidade? Se não conseguir acatar o compromisso comigo mesma?Um mês trancada num quarto austero, com água, verdura e atada ao pé da cama me dariam a fama de Ulisses, de a Odisseia. Ele se atou no mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias. Não confio em meu autocontrole, preciso de uma camisa de força. O doce canto do chocolate torna meu braço grosso como uma coxa. A nau de Ulisses chegou gloriosa a seu destino. A minha - nau de uma gordinha só – ruge desesperada presa a um manequim 44.

PS: hj, ao postar a crônica no O Informativo, recebi muitas mensagens de estímulo, inclusive de gente que sentiu o desespero do Indice de Massa Corporal e que me motivou a ir adiante. Grata, gente!

A educação das calçadas opostas



A educação da calçada ou a Calçada da Educação. A prefeitura inaugura um prédio histórico que revela provocações inusitadas. Todas positivas


Lajeado - Uma rua histórica marca a memória de gente que virou autoridade e revela o contrafluxo pitoresco existente na cidade. É a democracia da diversidade que convive lado a lado, cada qual seguindo seu curso. Um na calçada da instrução, outro na da sedução.
Ontem , com a inauguração do Prédio Histórico da Secretaria da Educação, o aspecto comportamental de Lajeado ficou evidente na Rua da Borges de Medeiros, uma via que armazena nas fendas dos paralelepípedos tantas vivências quanto calçados, sapatos ou desejos.
Um é o desejo da educação – que num prédio rebuscado com colunas em alto relevo e capitéis – garante a preservação da cultura e o aprendizado dos sete mil alunos que já estão aí e outros milhares que virão. O número 370 fica sendo agora o endereço do cabedal da instrução. Antigo e revigorado por fora, mantendo o patrimônio. Novo e revigorado por dentro, mantendo a funcionalidade. No gabinete da secretária Rejane Ewald, reproduções de obras de Monet e Rembrandt, réplicas que mencionam crianças e um certo ar “cult” de uma secretária que na infância, brincava no mesmo local, prédio e ambiente. “Quando eu olho para as paredes eu vejo as cortinas daquele tempo.” Em 1958, Rejane jamais sonharia que 54 anos depois, entraria ali como “comandante” da fragata da Educação.
No outro lado da rua, em frente, o prédio 342 é tão histórico quanto o da Educação. O que diferente é o comportamento, embora ambos façam parte da cultura da cidade. O prédio da Rodoviária Velha tem frontões decorativos e nas janelinhas dos sótãos, a imaginação leva o pedestre a pensar longe: o que se faz ali em cima?
A rodoviária já não existe mais, mas o nome permanece porque colou na mente dos que vem de fora. “Aqui é o lugar do colono”, informa o barbeiro Hilário Kremer que há 21 anos aprendeu a aparar barba, cabelo e bigode da clientela do interior.
“Quando eu tinha oito anos, vinha comer picolé na rodoviária”, expressa seu “Krema”, que inoculou o sotaque alemão. Hoje é espectador da vida que transcorre na calçada da Borges. Da sua barbearia, observa o movimento do prédio da Educação: equipe de apoio trabalhando infatigavelmente para os alunos do município.

Cada um no seu quadrado

Encostado ao seu ofício, o fluxo do ir e vir da Rodoviária Velha, um lugar de ônibus que virou bar. Mulheres – que talvez pela baixa instrução – ingressaram no comércio da vida, funcionam como chamariz para aposentados. “Muitos homens vem aqui por causa do banheiro, ficou perigoso utilizar os da Praça da Matriz.” Mas é a ala feminina quem dá a atratividade maior. Tudo funciona com um certo “acatamento”. ‘Aqui existe mais respeito do que em muitos bares.”.
Kremer defende o comércio confinado do corpo. “A prostituição fica dentro. Ninguém vê. Muito melhor do que se elas estivessem paradas nas esquinas.” Seu “Krema” é amigo de toda a gente da rua. Das prostitutas, comerciantes e educadores. E muitas vezes, vê passar pela sua porta outra personagem histórico da rua, o diácono Vitório Bohn, que mora numa casa octogenária. “Essa rua merece um carinho especial”, considera ele aprovando a ida da Secretaria da Educação para contrabalançar as calçadas.
No meio da rua - enquanto alunos tocam na flauta e no trompete o Hino Nacional da inauguração do prédio – Bohn sorri diante do contraste. Um prédio faz frente ao outro, mas como diz seu “Krema”, cada um está no seu quadrado.

Todas as histórias convergem



O prédio que abriga a trupe da Educação já foi banco e biblioteca pública. Está no inventário do Patrimônio Cultural da cidade, assim como o da frente, que já foi considerado uma escola isolada do município. Havia uma educadora muito “querida” na cidade, que dava aulas ali. Quando virou rodoviária, o perfil de clientela mudou. Os alunos migraram, os homens permaneceram. A Rodoviária Velha é ponto de referência na rua, pelas histórias reveladas e secretas.
A prefeita Carmen Regina teve um dos momentos de maior emoção ontem, quando quebrou o protocolo e chorou na inauguração. Carmen educou seus filhos na Borges de Medeiros. Definiu a reforma da estrutura como “um sonho ousado” e antes do discurso, fez um gesto simbólico: brincou de orquestrar os meninos da banda da Escola Francisco Oscar Karnal.
A Rua Borges de Medeiros não é uma encruzilhada. Talvez seja uma convergência de vidas e estilos. Numa quadra - a mais popular - há oito prédios históricos, uma escola, casa de música, barberaria, uma rodoviária que nem rodoviária é mais e a Secretaria da Educação. Um diácono bem humorado – Vitório Bohn - todos os dias passa por ali para ir a Igreja. Ele também é musico. Um barbeiro simpático – Hilário Kremer – fica por ali para abrir seu negócio. Não importa a calçada pelas quais as pessoas transitam, a reprodução do Modigliani no gabinete da secretária Rejane dá o tom da educação. Sincera, afável, culta. A fachada da Rodoviária Velha, com letreiro vermelho, garante o inóspito. É o recanto dos aposentados. Sincero, simples, popular. A educação converge por todas as histórias de vida.

quinta-feira, 22 de março de 2012

Pinçando minhas próprias frases

É sempre lamentável dizer adeus,
nem tanto pela despedida
quanto pelas pelancas embaixo do braço...



* Eu nao gosto de gente muito modesta. Se tu for modesto demais, nem demonstre isso pra mim, guarde isso para você. Eu sou inteligente. E não disfarço.Eu gosto de pessoas que sentem realmente como são, nem gosto de falsa modéstia. Se é bom, tem que falar sim. Tem gente que nao quer falar porque têm medo que a gente diga: "ah, tu vai me achar convencido"




Eu faço a contrapopaganda. Sério,,eu quero ver quem é o corajoso que me compra. Eu sou o capitão Nascimento de mim mesma. Eu digo: ah tu quer entrar na minha vida cara? Então pede prá sair. Só para ver a convicção dele em ficar. Não sei se isso tem funcionado. Porque eu TO SEM TROPA DE ELITE. Nao consigo recrutar ninguém




Nunca consegui não culpar uma pessoa que não erra nunca. São pessoas que eu visualizo como corredor de hospital. Sabem as paredes de um hospital, os quartos, os móveis, as cores? São clara, limpas, assépticas. Não tem nada fora do lugar, limpinhas, higiênicas. Não tem nada de ruim, nem de bom também. Pessoas-Hospital não incitam a ira na gente, nem a bondade, não despertam simpatia, simplesmente existem alheia à nossa vontade. A gente dá oi, faz um comentário sem realmente esperar a resposta dela, porque ela não nos conduz a nenhum pensamento. Oxalá conseguissemos simpatizar com o gosto do chuchu, que não tem caloria, mas nao tem gosto nenhum, fica dificil a gente ingerir, né!!!Pessoas asspéticas são tão limpinhas que nem fazem "cacas" na vida. Viver tem que ser perturbador e as pessoas tem que perturbarem a gente de alguma forma. Eu prefiro o gosto da pimenta ao do chuchu




É um saco ter obrigação de ser feliz, seja de qualquer jeito e a qualquer preço. Desde a infância somos assombrados com a possibilidade de não sermos felizes. A própria expectativa de ter que ser feliz de qualquer maneira ferra tudo. Eu também estou condicionada com essa cartilha da felicidade que nos fizeram engolir desde a pré-escola: trabalho, dinheiro, família, filhos e tal. "É tudo tão perfeito, se tudo fosse só isso. Mas isso é menos do que tudo, é menos do que eu preciso"




Sou adepta do imperativo politicamente incorreto: "Na dúvida, ultrapasse". Entre ficar a ver a vida passar ou me lambuzar nela, opto por me besuntar nas vivências. Quero me emporcalhar de vida, lamber os beiços, seja de mel ou de fel





Penso que falo verdades em excesso, nem tudo tem que ser escancarado. Assumo aqui um "mea culpa". Arrependo-me em 89% das vezes dessa verborragia que sai de mim sem hesitação. Talvez porque quero incitar insconscientemente a franqueza alheia. Desejaria mesmo que as pessoas, em qualquer situação fossem sinceras comigo, só para perceber como reagiria a isso. Já lii de mim cobras e lagartos. É um tapa na cara, pelo menos você pode encará-la como um exercício de auto-conhecimento




Mas por que a gente se atrai pelos pegadores? Porque é bacana entrar na dança dos sedutores, eles são muito mais melosos e enfatizam muito mais tuas características legais do que os caras sérios, então a gente se sente especial, tendo a atenção de um homem assediado.
Temos a mania de idealizar os pegadores porque não dá tempo de vermos os defeitos deles. Eles somem antes.




O ruim de envelhecer é que a gente fica obrigado a amadurecer. Como se as coisas que a gente aprendeu e doeu durante a vida, fossem impelidas de não mais acontecerem, afinal, pressupõe-se que se a gente não aprende pelo amor, aprende pela dor. E se eu não aprender com nenhum dos dois? Tem certas coisas que são inestimáveis, tem certo erros que são domésticos, de estimação, acontecem sempre. A maturidade é um álibi frágil. Não uso ela como meio de defesa para provar que a tenho. Eu nem tenho, eu só avanço em anos, mas não atinjo a ponderação. Eu só matuto sobre maturar, mas continuo na creche à beira da meia idade. Meia idade? Tá, sou dramática, pode me chamar de Maria do Bairro, a mexicana.




Eu entorno meu próprio caldo. Eu entro em pane, revés emocional.Pinço minhas urtigas sentimentais, eu sinto. Um palavrão bem afiado brada:: será que tu vai me vencer, sua vida de merda?A vida me unha a cara, me fere na virilha e me salpica sal nas feridas. Ando minada de mim.




Não consigo me definir com a ressonância das palavras. Quando creio que sei o que sou, vem o meu eu e muda a opinião que há em mim. Eu bagunço meu pensamento com meus desejos, quero-os todos, quero-os tortos. Há um clamor imediato, estático e recorrente. Não sou eu, é minha alma que brada: quero ser magra
(eu)
A PÁSCOA NÃO MEXE TANTO COM A MINHA FÉ COMO QUANTO COM MEU CORPO: OVOS DE CHOCOLATE: DEZ SEGUNDOS NA BOCA, DEZ ANOS NO DERRIÉRE!!!





Eu não consigo esquecer de mim, me deixar guardada na prateleira e sair comigo sem me ter a tiracolo, para encarar o sol com a leveza, das desdores. Eu queria me interromper. (Pita)

terça-feira, 13 de março de 2012

Essa guria toma sopa de garfo

Faz 20 anos que seu Oswaldo me conhece:2012 completa duas décadas da primeira vez em que eu o vi. Ele sempre me chamou de “guriazinha”. Até hoje diz assim, mesmo que eu esteja com 40 anos. Ainda quando eu era pirralha que saía de Garelli para fazer as páginas policiais do jornal, ele me falava: “tu toma sopa de garfo. Mas é bom que esse jornal tenha os loucos e os normais para ser equilibrado.” E assim eu fui assegurando meu lugar entre os insanos da redação


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Eu conheço o seu Oswaldo há três dias:pudera ainda não saber escrever seu sobrenome. É difícil de conhecê-lo porque ele tem tanta história e mesmo que seja transparente como uma tela branca, sempre tem mais coisas para saber. Seu Oswaldo é tela branca, não tabula rasa. Mas eis o motivo da crônica em plena semana do Dia da Mulher: é que seu Oswaldo é meu leitor. Como que isso não vai ser lisonjeiro, gente?Como?Quinta-feira, 9h da manhã. Sou chamada para ir na sala da direção. Repórter que vai na sala de Deus,sobe por três motivos: para cobrir as visitas que são numerosas; para reclamar de uma situação ou para levar uma carraspana. Eu só gosto de ir para fotografar as visitas. Quando não tem forasteiro no jornal e alguém me diz: “Pita, sobe no seu Oswaldo”, fico tensa. God, não fui eu.
Seu Oswaldo tem uma mesa longa do lado da sala principal. Ele se aboleta na cadeira e fala tanto quanto os visitantes. Tem sempre o costume de apresentar os repórteres aos convidados, mas nunca de um jeito formal: Este é fulano, da editorial de Geral. Jamais, fala assim. Seu Oswaldo foge do lugar-comum. Na quinta-feira, me apresentou assim: “esse é um bichinho que incomoda, mas eu a leio sempre, já de olho para saber o que vai falar de mim.” Em dado momento me diz: “Pita, um leitor tu tem e sou eu”. Eu me inflo de orgulho e para agradá-lo, mesmo sem ele saber, gostaria de escrever seu sobrenome certo. Mas não dá: invariavelmente olho no jornal o nomezinho holandês grifado. Aquele w junto com o “e” me deixa confusa e ele se irrita quando vê seu nome errado.
Duas coisas pecaminosas: escrever von Leeuwen equivocadamente e mascar chiclete. Deus é capaz de provocar um armagedon na redação. E ele acha que a gente não sabe que ele fica espiando pela janelinha da redação, observando se alguém está movimentando a boca sem falar. É praxe os veteranos advertirem aos jornalistas novatos: “está mascando chiclete, se o seu Oswaldo te pegar..” e a reprimenda paira no ar.
No ano passado, seu Oswaldo foi presentado com um iPhone. Morri de inveja. Subia e descia com a engenhoca pedindo para os guris viciados em tecnologia como se usava. Fuçou, fuçou e aprendeu. Com 83 anos, ele responde aos e-mails dos seus funcionários. Envia textos que acha interessante e dá uma lavada de modernidade nos octogenários comuns. Dia desses, explicou para um alfaiate mais novo que ele: “nós não damos cópias de fotos porque não fazemos mais revelação de filme. Só passamos por e-mail”. Eu vi que o senhor alfaiate não estava entendendo nada e me marcou sobremaneira o abismo entre os dois homens da mesma época. Um na era digital, outro na da máquina de escrever. E os dois de suma importância para a história do Vale: um fez a imprensa, outro se tornou personagem que saiu na imprensa.
Seu Oswaldo me surpreendeu porque na quinta-feira, pela primeira vez fiquei sabendo que o pai dele queria que ele fosse médico. Jamais quis trilhar a profissão do pai e partiu com 17 anos para fazer sua vida. Parece tudo tão distante para um homem que já fez kraf maga, uma arte marcial israelense com golpes rápidos e que foi ensinada aos militares. E como tudo é cíclico, o kraf maga do seu Oswaldo do século 19 retorna à cena, se popularizando apenas agora entre os brasileiros. Seu Oswaldo já sabia.
Afeito às ciências esotéricas, seu Oswaldo tem um pensamento poderoso. Ele sabe o poder da mente. E sai com cada frase engraçada. No Dia da Mulher, as funcionárias ganharam maquiagem. Era um entra e sai de mulherio na sala de reuniões que o chefe foi vistoriar. Ele disse: “não estou gostando nada disso”. O pessoal se preocupou: “Por que, seu Oswaldo”. Ele lasca: “como a turma meio-termo vai ficar?”A risada prevaleceu. Não cabe na frase preconceito. É senso de humor e de espírito. Eu penso que o seu Oswaldo é nosso Silvio Santos. Ele diz as coisas sem papas na língua e faz a política das portas abertas. Acolhe quem quer que seja na sua sala, vai tomar cafezinho no setor comercial e larga os jornais do dia na redação. Os repórteres sempre reclamam que ele recorta as notícias. Mas Deus, pode. Só não escrevam van Leeuwen com V maiúsculo. Ele periga dar um gole de krav maga em você. Só falta aderir ao Facebook. Ôôôôôô, seu Oswaldo vem aí!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Férias:” vada a bordo”

Depois de 20 dias de férias, algumas latas de brigadeiros a mais no meu derriére e a carteira vazia (já estava vazia quando eu entrei em férias), a labuta me chama. Se há algo produtivo fora da vida de viajar no gozo de suas folgas é ficar em casa praticando o “nadismo”. Refiz uma versão do ócio criativo preconizado pelo italiano Domenico Di Masi para o ócio privativo: exprime privação, afinal você não conta com dinheiro suficiente para uma relés viagem ao tão popular litoral norte (Jurerê então, nem sonhar). Mas é também privado porque é sua preguiça privê: individual, e você não tem que fazer nada para ninguém ver. Nada melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar comigo mesma. Quem nasce para Rita Lee continua deitando e rolando mesmo na prisão.

O estresse é a maior epidemia mundial e nessa vida tão alucinada, eu sou uma das mais estouradas e agitadas da redação. Faço par com o colega Rodrigo Nascimento. Os editores precisam controla, eles dizem: “ menos gente, bem menos.”
É que há uma obrigação interna nos dizendo: faça mais, faça mais. E a gente cai nesse ciclo infernal da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Resultado: viramos “bombados” psíquicos movidos a sertralina, fluoxetina, carbamazepina e outras “inas” vendidas nas farmácias. Saúde não se compra com aspirina. Lugar de ser feliz não é supermercado. Mas a fruteira do lado do jornal contribuiu para aumentar dois centímetros nos meus quadris. Sorvete, chocolate, televisão e coca zero sem nenhuma culpa.
Então, nessas últimas semanas, eu fiquei cansada de estar tão descansada. Chegava a trocar de ambiente só para fazer nada em outro espaço.
Assim, depois de cinco horas ininterruptas atirada no sofá da sala, mudava para o quarto e depois para a área, numa pobreza de espírito que dava dó de ver. O gaúcho Marcelo Bohrer vem propagando há alguns anos a filosofia do fazer nada. Montou até um projeto chamado Clube do Nadismo,que faz encontros mensais reunindo pessoas que não fazem nada. Sabe porque ser nadista virou façanha? Porque com tablet, smartphones e computadores é muito difícil passar 24 horas sem acessá-los. A gente se sente fora do mundo sem eles, embora não tenha sido esse o meu caso nessas férias. Acessei tudo, li, e ainda sobrou tempo para a preguiça e para aprender alguma coisa diferente todo o dia. Esse, aliás é um esforço que faço há tempo: aprender algo novo a cada 24 horas. Não é uma tarefa hercúlea. Pode ser uma palavra, uma dica, um livro, um nome. Pode ser até um palavrão. “Vada a bordo,cazzo”
Nestas férias, eu aprendi a voltar a infância. Passar um período com um bebê de dois anos te resgata o tempo perdido. Pedro, meu sobrinho, foi o benfeitor. Me atualizei com músicas e tendências: diga sem pensar quais são os nomes dos cinco backyardigans? Ah não sabe, na certa você está ainda no tempo dos Teletubbies. Vou te dar a real: os “backys” são muito mais legais. E eu sou a Uniqua, porque o Pedro é o Tayrone. Você está boiando? Ah, larga essa pasta de executivo em cima da mesa e volte ao prefácio de sua vida: infância. Ainda dá tempo: São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração. “Vada a bordo das férias, Cazzo”
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Se liga no Domenico di Masi
Para ser feliz no trabalho, é necessário transformar o trabalho em ócio criativo: isto é um mix de trabalho (para produzir riqueza), estudo (para produzir conhecimento)e jogo (para produzir alegria)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

A privacidade pede invasão


Primeira aula de pós em jornalismo e todos os colegas conhecidos. O universo jornalístico regional é restrito, mas nao o virtual naquele que temos de trabalhar todo o tempo do curso.
Há boas surpresas em voltar a sala de aula após nove anos. Você reencontra o ambiente da academia, um cheiro de cultura e conhecimento no ar ficam tão impregnados quanto aqueles pasteis fritos que espalham o aroma após o intervalo.
A sala do pós de Macs - computadores que fizeram brilhar meus olhos. Me senti numa universidade dos Estados Unidos. Pode botar ai: Harward.
Fizemos uma experiência bacana nos catalogando e nos conhecendo através das redes sociais. Tiago me pegou e eu peguei o Tiago. No fim, nossas definições enveredaram para o lado psicológico, algo que eu sempre adoro, pq é o que mais fala, vive e palpita dentro de nos.
Então ai vai a leitura de Tiago sobre mim:

Vasculhando a vida da Pitta na i
nternet, descobri uma coisa que, na real, já sabia: ela possui grande interação com as redes sociais. No Facebook, publica, curte e compartilha cerca de três produtos diários. Muitas vezes, mistura assuntos relacionados ao Jornal O Informativo, com aspectos de sua vida particular. Num minuto, publica fotos suas - aliás, prática tradicionalíssima - e, no instante seguinte, divulga materiais informativos e variados. Utiliza, por vezes, o seu particular humor corrosivo, que diverte os amigos que não hesitam em curtir tudo aquilo que ela posta. Não há publicação que não possua pelo menos meia dúzia de comentários ou "likes", independentemente de a postagem ser uma foto sua na praia, ou uma foto da escola de samba do carnaval de Encantado - parte de sua cobertura de imprensa do final de semana. O que demonstra que ela não está solitária nas suas divagações.
No Twitter (@pittex), também possui grande frequência de postagens. Tem por hábito utilizar muitas fotos. Aliás, tem como pano de fundo fotos também suas. Lá, se descreve como jornalista e bipolar. Ácida, divertida e criativa ao mesmo tempo. No microblog publica links que remeterão para o Face e vice-versa, numa mistureba bacana que vai da cultura pop - com análises do Big Brother - até a utilidade pública ou mesmo avaliações políticas. Aliás, a sua grande participação faz com que outros sujeitos relacionados a rede também lembrem dela, citando-a, eventualmente em suas publicações. Caso da blogueira lajeadense Laura Peixoto, que fez breve post sobre ela no último mês de janeiro. A propósito dos blogs, a Pitta também possui um: pitonicas.blogspot.com. Lá se descreve como uma adulta bordejando em um mar de sensações. "Intensa nos meus pensamentos, extensa nos sentimentos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Extrovertida e criativa. Expansiva, italiana, estourada, passional. Visceral! Não gosto de nada que é raso, de água pela canela", afirma ela com o seu jeito muito particular, que deve ser não apenas aquele das redes sociais. Mas, provavelmente, também o da vida.


O QUE O FACE DISSE DELE
Tiago Cristino Barcelona

Tiago é mais novo do que eu um eito, 31 anos, mas como gosta do Barcelona, supoe-se que seja cosmpolita e tenha uma visão de diversidade, portanto ele não se importaria de travar um relacionamento com uma garota dez anos mais velha do que ele. `E claro que ele não faria isso, porque com a quantidade de fotos que ele tem da namorada, parece ser fiel e ter orgulho da Nataly. Com 243 amigos no Face, não preza pela quantidade e sim pela qualidade.
Tiago é um tipo low profile. Expoe raras fotos no facebook e dá valor a informação de trabalho. Atuas na rádio, gosta de esporte, mas não expoe muito seus gostos pessoas. Acho que temos um caso ai de evasão de privacidade em plena era da invasão. Não compartilha muita informação no Facebook e provavelmente é contra aquele tipo de envio de aplicação, como meu calendário e aqueles memes que todo mundo gosta de enviar tipo: se você ama sua mãe, compartilhe. Eu diria que Tiago é um introvertido virtual.
A Nataly é menos popular que o namorado, portanto é ele quem deve puxar a relação porque ela só tem 77 amigos. Ele então é a cara metade midiatizada e ibopizada. Nascida em São Paulo, revela que Tiago tem mesmo pendor comsmopolita.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Mulheres da cidade procuram Ricardões da loira



Há um ano travei contato com ela para uma matéria que repercutiu, mexeu com os brios e a moral da cidade. Desde então, Traudi - a Loira da Bicicleta - sempre me procura para pedir opiniões ou informações. Dar um oi.
Traudi virou a "amiga" estigmatizada, aquela que ninguem quer ter na frente dos outros, porque afinal, a prostituição apesar da demanda, sempre feriu os olhos da sociedade. A humanidade quer fazer tudo por trás, com o perdão do trocadilho
..hehehe. A Loira sempre lutou para conseguir seu dinheirinho, sempre mirrado, sempre correndo atrás da máquina. Colocou uma faixa no seu clube de uma loira só para atrair a clientela. Agora, já tem duas faixas, a sua e a da Malu, que achou um bom marketing e está fazendo propaganda da sua casa rosada. Propaganda a céu aberto divide as atenções, mas a Loira é movida pela novidade e agora traz outra a região: Clube de Ricardões.
Ela me conta que no seu seleto clube de homens, já tem selecionado 35 rapazes de 21 a 32 anos. "O mais velho tem 32". São universitários, executivos (será) e lutadores que encararam o desafio de trabalhar na Delirus por complemento de renda e prazer. Essas foram as duas justificativas ditas para a Loira na hora do cadastro. São homens de toda região que atende pelo nome de guerra - Mayco, Douglas e outros tantos similares.
Mas porque a loira foi me procurar? Ela não sabe como fazer um blog e precisa de um urgentemente. Há mulheres no pedaço exigindo avidamente por fotos dos homens. "Elas querem ver o produto antes de contratar." E a loira estás ansiada por colocar o bloco na rua. Em época de Carnaval, vai que a freguesia aumenta. A procura pelos Ricardões anda intensa e por todos os tipos e idades de mulheres. "Até as patricinhas". O blog vai virar a vitrine do negócio e porque não? Loira me conta que há tempo Lajeado precisava de uma agência de Ricardões, porque é uma cidade "sexual'. O povo gosta. E porque não? Essa é a pergunta que não quer calar. Baseada nela, Loira aproveita para se candidatar a vereadora em Lajeado. E porque não é justamente seu slogan. "Se médicos podem ser vereadores, porque não uma profissional do sexo". Me argumenta que política e prostituição são as profissões mais antigas do mundo. O político se prostitui e a prostituta faz política. Ela jura: não troca voto por sexo. Não agora...E os Ricardões, todos eles estão motorizados e atendem nas casas...


Foto: (Traudi diminuiu o ritmo da bicicleta, engordou um pouco ela reconhece e agora quer apostar no mercado de cybercafetina)

sábado, 11 de fevereiro de 2012

A voz de Paulo Francis

Dizem que ofendo as pessoas. É um erro. Trato as pessoas como adultas. Critico-as. É tão incumum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. Meu tom às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação do amante rejeitado.

Concordo

Em cima do muro nao e o melhor lugar pra ficar. as vezes quem tenta se proteger em cima do muro, deve saber que é o local em que primeiramente a bala atinge. Eu penso também que o jornalismo imparcial é o medroso. Vc nao pode provar sua coragem com prudencia em demasia...

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

O meu pai entrou em depressão com a morte do Wando. É que ele descobriu que o cantor tinha 66 anos e o pai tem 67. Ele sempre fica assim, achando que a morte vem buscá-lo ..fica de butuca, escondido na esquina da vida!
Já se tornou obsessão. Sempre que alguém morre, ele não chora, pergunta a idade primeiro: depois desaba, igual criança.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

O espírito do tempo!


Semana passada meu pai acordou contando: "essa noite eu chorei. Chorei e chorei. Porque eu me lembrei que eu tenho 67 anos e o tempo passa rápido demais". O tempo é um fantasma que o acossa cada vez que um amigo falece. Quando alguém morre, imediatamente ele pergunta a idade. Se o defunto tem 70 anos, em um piscar de olhos faz as contas: bah, só falta três para mim.
Eu rio dele. Mas é uma forma de compactuar com esse medo. Aos quatro anos, era uma menina tímida agarrada à mãe. Os olhos verdes e as bochechas salientes não se notam na foto preto e branco que minha mãe teve o capricho de fazer nos idos dos anos 1970 com a ajuda de um profissional. Trinta e dois anos depois, coloco uma colagem com as imagens de minha filha Marianna, misturada às minhas. O tempo passou também para ela que está com 12 anos e eu tenho saudades não apenas do meu tempo de quatro anos, mas do tempo dela, aos quatro. Eliane Brum disse que aos 40 é inadiável a compreensão de que não dá para ter tudo. Escolher é ganhar e perder, ao mesmo tempo. Ou, sendo mais precisa, talvez ganhar, com certeza perder. Grande parte dos meus sonhos eu deixei para trás, outros eu refiz e em algumas partes eu me acomodei, talvez tenha cansado de combater o Bom Combate. Talvez tenha dado uma nova roupagem ao meu Bom Combate ou ele tenha sido remanejado para a vida da minha filha, coisa que eu não quero de forma alguma fazer. Cada ser humano tem o direito de ter os seus próprios sonhos e o dever de cair do cavalo quantas vezes for preciso.
O que sempre tivemos, em qualquer idade, é uma vida: limitada, imperfeita, mortal. E quando eu rio de meu pai, eu admito que seu temor é o temor de todos nós. Mas ele fala. Talvez com 70, eu também venha a falar, se chegar lá. E com 70, eu vou estar fazendo colagens com minhas fotos de 40 e dizer: como eu era feliz e não sabia. O tempo sempre torna o passado perfeito porque a gente idealiza as lembranças. O tempo faz a gente olhar as fotos e se achar meigos, lindos, magros, com a tez cheia de viço. O tempo faz a gente ter saudades de como vivia e sentia no passado, quando nem naquele tempo passado a gente sentia isso. 

Aos 15 anos, eu pensei que estaria na Rede Globo aos 30, sendo a bambambam do Globo Repórter quando chegasse aos 30. Foi um choque enorme descobrir que eu era apenas uma mãe comum, dirigindo um  Corsa 1995. Não dá mais tempo de eu ser a versão feminina do Caco Barcellos e nem de substituir a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional.  Mas dá para ir se acomodando com alguns valores que vão sendo anexados em sua vida: você já não almeja mais morar no Rio de Janeiro e nem aquela história de ser a melhor do país. Essas vaidades da juventude passam, não que não seja bom tê-las. Mas o tempo te faz perceber que outras coisas estão me jogo: uma certa maturidade, um certo des-espero e você aprende a não esperar o sucesso absoluto, o amor perfeito, o ibope alto. E você percebe que será assim também com sua fillha: eu chorava pelo RPM, ela chora pelos Rebeldes. Acho bobo hoje, essa tietagem obsessiva, mas não falo nada a ela, embora fique aflita com tanta comoção. Vai passar e por isso hoje faço questão de tirar fotos dela, embora ela não goste. Sei que quando tiver 40 anos, vai relembrar de o quanto a adolescência era doce. Ou rebelde.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Troque seu voto por um político decente


Nunca me interessei por política. Erro crasso na minha educação, ainda mais que enveredei para o jornalismo e sendo assim, não poderia titubear em aprender mais sobre essa arte que surgiu na Grécia e foi pensada pelos filósofos que vagavam pelas polis (cidade-estado). Mas nunca me esquivei de votar genuinamente. Voto mesmo, sem anular o meu direito. Embora muitas vezes tenha acreditado que o candidato não honrou minha confiança. Creio que cada brasileiro já se sentiu assim, nessa pátria de marajás e reis da maracutaia.
Nas eleições presidenciais,  me propus a pensar e ouvir os presidenciáveis, atentar para os candidatos ao governo estadual e saber das ideias dos postulantes a Assembleia. Em muitas noites fui fiel ao horário eleitoral. E nos debates na televisão, detectei a ironia de Plínio Sampaio. Fui uma telespectadora atenta de sua lingua ferina. Parecia ele uma metralhadora giratória, dando tiro para tudo quanto era lado. Mas tenho em mim que o melhor não foi exposto nos palanques. O ouro que reluzia estava ali, no anonimato, no meio da multidão, à porta da plebe.Seiva embrutecida pela lida do trabalho, vi homens duros, espadaúdos, figurar em propagandas do Serra, Dilma e Marina respondendo a indagação pontual de que o candidato iria melhorar sua vida. Mesmo sendo propaganda, mesmo que eles tivessem sido pagos, vi a vontade de que a realidade fosse essa: Meu Deus, tenha piedade do povo e fazei com que ele faça realmente tudo isso que está professando.  Nessa pátria tupiniquim, temos nova chance agora neste ano, queremos eleger caciques honrosos. Vamos olhar um pouco para os postulantes para não chiar depois.
Os deputados recebem  R$ 26 mil de salário. O povo é pacífico, tépido até. Ninguém enceta uma inssureição contra os malandros do Congresso.  Tem um vídeo circulando nas redes sociais que mostra a diferença entre  a Suécia e o Brasil.
*** Na Suécia, prefeitos e governadores não têm direito a residência oficial. Deputados estaduais e vereadores não recebem sequer salário e também não têm direito  em  gabinete: trabalham de casa.

*** Farras aéreas não costumam fazer parte do noticiário político, já que nenhum deputado tem direito a cota de passagens. Todos os voos devem ser marcados na agência de viagens do Parlamento. Além disso, políticos suecos também não têm impunidade garantida pelo cargo. O país não oferece imunidade a seus políticos.

*** Quando a gente pensa na Suécia, imaginamos um mar de luxo para os políticos de lá. Afinal, o país é rico e bem desenvolvido. Talvez seja pela postura dos politicos que atingiu este patamar: deputados federais dormem em apartamento de 40 metros quadrados, sem máquina de lavar roupa e em um único cômodo.  São apartamentos funcionais.
*** Os gabinetes são simples, eles não tem assessores e nem motoristas. Livre de privilégios, eles conseguiram a excelência sueca.
*** No Brasil -  Cada um dos 513 deputados federais possui 60 mil - verba mensal para gastar com material de escritório e pagar até 25 assessores parlamentares. Os deputados federais brasileiros estão entre os que podem contratar mais gente.
*** Ele tem mais 15 mil de verba indenizatória - É para gastos com gasolina, comida, hospedagem, aluguel de escritório (sim, além dos que eles têm no Congresso) e consultorias – sendo que consultoria pode ser qualquer coisa que os deputados decidirem chamar de consultoria
*** Além do 13º, há mais dois salários extras no início e no fim do ano legislativo, para dar uma força. UM deputado nosso custa portanto cerca de R$ 100 mil reais.

Não é cedo para desejar bom voto a todo mundo. Por mais alheios que somos e somos alheios, há ainda eleitores estandartes da cidadania. E só por eles, vale a pena votar bem.  "Alea jacta est"

Cinza gato

Elegi a leitura como passatempo, prazer e hábito. Preciso mais, alguém para ler e imaginar histórias comigo. Sou sintomática, me penitencio pelo que não fiz me inebrio com o que já fiz. Sou exagerada, como toda bipolar que vive num mundo bipolar. Extrapolo na tristeza, me inundo de alegria. Bem-humorada, carrego o sarcasmo como qualidade ou defeito, depende do seu ângulo de visão. Gosto de rock, sufoco o funk com o som de The Police, Doors ou estilos mais românticos como Kid Abelha, sendo anos 80, ta valendo o embalo! Acredito piamente no elogio da loucura ou em qualquer elogio, quando alguém passa a mão no pelo de um gato (mesmo que seja de rua feito esse dai) ele ronrona. Da mesma forma, quando se elogia humano: é assim, doce enlevo da alegria. E éssa frase é schopenhauer.

segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Chega de ser tigresa de unhas negras


Eu não sou feminista. Nem machista. Eu sou masculina e feminina. Já tive meus momentos frágeis, já tive meus momentos de rinoceronte. Ah quando estou com raiva viro uma jamanta.  Mas sou uma jamanta mulher. Vá La que eu não sou muito delicada. Eu nem combino com lenços de sedas finos. Mas eu sou mulher. Na academia, me dão menos peso no leg press. E se eu ousasse, até usaria saias. Porque eu sou mulher. E os homens, são homens. 

Eles não tem visão periférica, eles conseguem desenvolver músculos antes de nós, mas em compensação demoram muito mais para falar. Sendo assim, existe sim diferença entre os gêneros. Que diacho de igualdade entre sexos. Arre, eu fico arretada com esse enguiço na evolução feminina. Tudo começou quando elas queimaram sutiã em praça pública, em 1960, para protestar contra a opressão masculina. Desde então, não tivemos mais sossego. Hordas de mulheres empoderadas incitaram o protesto: temos direitos iguais. E toda calcinha se viu no direito de comprar essa briga. Vivemos um turbilhão de eventos que nos levam e obrigam a ser modernas, independentes, decididas e objetivas. Nunca mais tivemos direito de ser dependentes e frágeis emocionalmente. Eu quero meu direito de volta. Necessito ter um colo masculino, chorar, sentir-me protegida e de um homem que ajude-me a administrar as contas. Eu não sei usar cartão de crédito. Não sei se ele é de débito ou crédito. Burra às pampas. Nem quero que o homem pague, afinal tenho necessidade de ser parceira na hora de batalhar. Aliás, nem sei se quero homem. Mas quero ter o direito de se quiser tê-lo, saber que ele é parceiro. Mas putz, desejo que ele me diga: "amor, não esqueça, hoje vence o seu carnê, posso pagar a você." Eu nem exijo direitos tão iguais. Até porque com tanta evolução, ainda ganhamos 30 por cento menos na folha salarial para exercer a mesma e competente função no mercado de trabalho. Aqui no Vale do Taquari, nós temos de trabalhar oito dias a mais do que eles, suando a camiseta para igualar os salários.

Mas com essa lenga-lenga de: “você é mulher, não queria direitos iguais? Agora agüenta, vamos rachar a conta”, os homens pegaram no nosso calcanhar de Aquiles.

Eu não quero rachar a conta. Quero ser tão interessante para ele que ele não se importe de – pelo menos nas primeiras vezes, até estabelecer a conquista – pagar a minha parte. Careta? Ridícula? Estúpida? Insensata? Não. Mulher. Eu nunca vou ser igual as eles. Eu nasci com meus quadris largos demais. Faz parte do parto. Eu sou de Vênus, ele é de Marte. Quando se aborrecem, eles querem silêncio e solidão. Já entre elas, as preocupações resultam na matraca desenfreada, pois falando acalmam-se. O ego masculino é movido à base de conquistas - o feminino é pura emoção, ja segredou o escritor John Gray.

Quer uma prova de que os gêneros jamais se equipararão? Diálogo. A mulher fala uma coisa, o homem entende outra. Isso não significa que a gente não possa votar, ser delegadas, promotoras e presidentes.. Não significa que eles não possam trocar as fraldas de seus filhos e ajudar nas tarefas em casa. Afinal, o tempo das cavernas ja passou e eles já não caçam javalis a unha. E nem nós ficamos acocoradas fazendo “uh, uh” parindo filho sobres filhos. Nós nos civilizamos. Eu ate acho que a gente deveria ganhar salários iguais. Afinal, quando toca no bolso eu vou sempre puxar a brasa para o meu assado. Sou mulher, não sou boba.

Mas pôxa, com essa balela de direitos iguais eu preciso cair matando em cima de um macho alfa, porque assim se porta uma mulher independente. Eu, hein.Quero ter direito a usar lingerie de algodão bem simples e confortável. E vou te falar, eu uso calçola. Aqui na redação, todo mundo sabe e debocha da minha cara. Ou seria dos meus glúteos? Não suporto fazer o tipo mulher fatal, independente, autossuficiente que sabe insinuar-se perante rendas finíssimas e um bumbum irretocável, próprio para usar fio dental. Eu nem sei fazer direito baliza e que mal há nisso? É antropológico não saber. Não tenho a mesma percepção espacial dos homens. Sou mulher. Desde o mundo das cavernas é assim, porque agora eu preciso ser braço na direção. Pinóia. Não tenho essa obrigação. Quero ser tratada como rainha do lar quando estou no lar. Sim, adoro trabalhar fora, ser eficiente na minha função, não sou de forma alguma subserviente. Tenho minhas opiniões, muitas são contudentes.

Mas eu não quero ser super mulher todos os dias. E eu quero homem que chore, mas que troque o pneu do carro. Não precisa ser tão macho a ponto de gerar uma Maria da Penha. Hay que ser macho sem perder a sensibilidade. E eu, hey de ser mulher sem perder a dependência. Inha, meu nome é Mariazinha. Amélia da calçola grande. Eu troco meus dias de tigresa de unhas negras por uma pacífica existência de gatinha manhosa. Miau.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Carne para nosso repasto


 É tanto “mimimi” cercando o tal BBB que transbordo minha ojeriza.. Fico com nojo dos que são a favor e também  dos que são contra. No fundo, só valorizo os que estão  indiferentes,embora eu mesma não seja indiferente. Ora sou a favor, ora me tapo de asco.
A pessoa indiferente está tão acima da audiência e da desistência (de assistir) que nem toma conhecimento. Ela silencia não porque não quer travar um embate, ela silencia porque para ela o BBB é tão importante quanto a situação dos apenados russos que cumpriam condenação na Sibéria. Ei, algum de nós já parou para pensar o que existia há algumas décadas no inferno gelado dos gulags? Nem aqui nem na China pensamos nisso. Porque não nos interessa, não desejamos levantar debate. Quando não interessa, você não se irrita. Porque se irritar é tomar conhecimento.
Osho – que é um guru controvertido – disse que qualquer coisa que a sociedade respeita se torna alimento para o ego. E as pessoas estão prontas para fazer qualquer coisa estúpida. A única alegria é que isso trará respeitabilidade. Eu digo que se não te trouxer respeito, vai servir para te trazer o avesso do respeito, mas mesmo assim é um sentimento: você está sendo visto, olhado, escrutinado.  Uma vida inobservada é o verdadeiro horror de todos nós. E não me digam que não, porque somos todos humanos. Faça um censo interno tendo Cristo como questionador: qual de vós, se fosse convidado para participar do BBB direis não? Pode ser outro tipo de show da realidade, qual de vós recusareis? Não é pelo dinheiro. Tem muita gente milionária que toparia entrar na casa ou no alçapão de alguma emissora. Pela sensação de importância que ela confere.
Renato Zanellla é um sociólogo com tendência para a filosofia e eu gosto de escutá-lo nas coisas mais bestas ou importantes da vida.  Eu já propus a ele que fizéssemos uma “Confraria de Assuntos Aleatórios” dentro do cemitério, porque é perto da morte que se pensa na vida. Ela nunca disse “sim”, todavia, enfatizou  algo intrigante sobre o Big Brother. O BBB atrai pela identificação e afasta pelo estranhamento e cativa audiência pelos dois.  É uma cultura inútil? Se serve para você se comparar, não.  Quando você assiste, inconscientemente se pergunta: até que ponto sou encantador como este fulano ou totalmente sem noção como este sicrano?
BBB é só um nome, pode ser outro programa que aglutina um monte de pessoas em um recipiente humano.  Você assiste ao programa porque quer ver a reação dos caras ou das gurias. Você se coloca ali no meio deles. Você, queria ter um diferencial tão importante a ponto de ser escolhido. Mas você é só platéia, então liga a TV e começa: “Bah, mas esse cara está comendo como um escroto. Será que eu seria assim?” Ou. “Caraca, mas essa guria parece uma vadia. Eu seria diferente.”
Esse olhar social que o Zanella me fez ver que existe é legal. Tá, mas e aquelas pessoas que não são tão instruídas, elas vão ter essa visão sociológica? Não sei, eu não estou no corpo delas, eu já desbravei a teoria das cavernas de Platão. Mas eu estou certa de que  nós precisamos de pão e circo. Mesmo os mais intelectuais. “Nada mais alienante que o excesso de saber” Se a falta de informação é alienante, o excesso também. Aquele que está tão no alto da erudição não desce para os braços do povo, não consegue acompanhar o termômetro da sociedade. Eu não estou defendendo o BBB, até porque prefiro outro programa do estilo chamado Mulheres Ricas.Me aboleto no sofá e fico do início ao fim e isso não me fará mais estúpida. Já sou intelectualizada e posso me dar ao luxo de curtir bobagens. Reality não me influenciará para o mal. E nem para o bem. Não me fará nada.
Me intriga não o fato de tanta gente assistir, mas a polêmica orbitando o assunto. O BBB é o coliseu romano. Os EUA também tem o seu coliseu, todos os países possuem algo no estilo “panis et circences.”
Em Roma ser gladiador era caminho rápido para a ascensão social. A  psicanalista paulista Marion Minerbo escreveu que a entrada no Coliseu era gratuita, e as pessoas da platéia podiam apostar no seu favorito. A gladiatura era tema das conversas no dia-a-dia.  “Como na gladiatura, o reality show oferece carne humana para nosso repasto. Somos também o leão na arena”,  salientou a doutora em seus escritos prá lá de interessante. Foi na definição dela que me achei. Nós somos os devoradores da carne humana. Queremos nos alimentar de um espetáculo real. Ok, as pessoas dos realitys podem jogar até certo ponto, mas como diz a psicanalista, sem roteiro, ninguém foge ao que é - ninguém pode ser muito diferente do que determina seu inconsciente. Sendo o que são, elas são lançadas a nós, devoradores: “Como esse cara é medíocre” – dissemos nós. “Como ela é fútil” – nos pavoneamos nós, de novo. Como somos superiores. Mas eles são nós. Só que eles estão na tela. Entre eles e nós,  a diferença é que nos falta a audiência.. Na gladiatura moderna, nós precisamos ser  atores e plateia – ou leões e gladiadores. E como frisa  Marion Minerbo, é uma gladiatura  feita sob  medida para nós. Vá La agora e ligue o som no volume máximo. Escute Mutantes: “Soltei os tigres e os leões nos quintais, mas as pessoas na sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer”. Panis ET Circenses. Não tem pão? Deem-lhe humanos.
Ta mas você leu ate aqui e ainda não entendeu se sou contra ou a favor né. Deixa o BBB na televisão.  Só me irrita que a gente fale tanto nele.  Eu me irrito comigo. 


PS: O homem é um animal sem precedentes. Nos metem na jaula, dão pão e bebida para nossos iguais para verem até que ponto chega a nossa decadência. E o pior disso tudo é que, faríamos exatamente igual se estivéssemos la dentro daquela casa. Nos embebedaríamos e daríamos o circo todo para a audiência. Somos ruminantes, bípedes sem moral. Maluf estava certo: estupra, mas não mata (a audiência)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Vale do Taquari tem mercado para os neossexuais

O novo homem é macho e vaidoso. Mas não tanto quanto o metrossexual. Eles são cuidadosos com a aparência. Os homens modernos costumam atrair mulheres em decorrência da sua autoconfiança. São vaidosos sem perder a masculinidade. Preocupam-se com a saúde, os exercícios e vão sempre ao mesmo cabeleireiro. O Vale tem potencial neossexual...

Não é preciso ser do mundo rosa para fazer  da vaidade o seu ponto de harmonia. Os homens descobriram há algumas décadas que podem ser machos, afetuosos e lindos.  São os chamados “neossexuais”, uma categoria masculina que vem movimentando o mercado de cosméticos, salões de beleza e clínicas estéticas.  São másculos, sem perder a sensibilidade.  São viris, fortes e desejados. O contingente de vaidosos aumenta a cada ano. Quando vão ao salão de beleza, são exigentes com  o corte. Além disso, eles aderiram a depilação, pedicure e manicure. Pensa que as mulheres não gostam? Elas adoram homens caprichosos.. A vaidade masculina liberta de preconceitos  e o Brasil, país já tradicional quando o assunto é vaidade, ocupa a segunda posição do ranking feito pela Euromonitor de cosméticos para homens, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. 
Por que os homens estão se cuidando? Porque a sociedade se transformou e as mulheres mudaram. O estímulo da mulher ou da namorada conta muito nesta nova vaidade do sexo masculino. Elas estão mais exigentes, e eles querem agradá-las e a si mesmo.
 O Vale do Taquari é um nicho de mercado masculino. Os centros de beleza tem clientes fieis e os consultórios e clínicas estéticas, viram aumentar a freguesia  “de cueca”. A região , tem se revelado celeiro de belos homens. Todos eles é claro, dão devido valor à aparência, mas  tomam cuidado para não se tornarem obsessivos. Ser vaidoso sim, ser “metrossexual”, não. O segredo é o meio-termo. “Neossexual”. 
 Duvida? pergunte aos cabeleireiros. Luciano Farias diz que para o homem, a aparência saudável virou marketing pessoal.  E eles são mais fieis que elas nos salões.No centro de beleza de Luciano, a ala masculina é responsável por 80% tratamento facial.  O homem gosta de hidratar, tonificar e remover as células mortas da pele.Fazem esfoliações para remover manchas e o bronzeamento masculino já ultrapassou o das mulheres.   A depilação também é procurada. Axilas, virilhas, tórax e pernas.   O salão atende muitos homens loiros que fazem reconstituição do pelo.  O olhar fica mais marcante. Aqui em Lajeado, os homens bem-sucedidos são os que procuram zelar pela imagem.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Meus anti-herois sobem no pódium em 2012

Quarenta e oito horas depois da virada do ano eu decidi minhas resoluções de ano novo. E decidi isso num lampejo porque nunca, mas nunca mesmo me atribuo algum tipo de responsabilidade de um ano para outro. Se nunca dá certo de uma segunda para outra, imagine então esperar um ano para saber que fracassou.

 Por isso, o único foco desde ano, depois de passar a virada em casa e nem querer ser cumprimentada porque Oxala vai reinar, decidi virar a casaca. Vou trocar a casaca, porque depois de tanta comilança, perdi o cós. Estou me sentindo a sucursal da Cosuel e quando caminho mais aceleradamente, me dá a impressão de coxas se confrontando sendo roçadas no fino tecido da bermuda. Me sinto parte do livro do Jô Soares, As Esganadas. E com tanta revolta calórica que me atordoa o coração, decidi dar um tempo aos meus heróis: um ano. Pelo menos um ano não tentarei viver como Buda, nem incorporar o pensamento de Schopenhauer e bem capaz que vou ler Nietszche neste ano. Escolhi a dedo meus ídolos: Homer Simpsons, Sue, a treinadora do seriado Glee e Garfield. Este último é meio lugar comum, mas eu estou bem a fim de ser lugar-comum. Seja como for compartilho com ele a tese: “ Mostre-me uma pessoa que gosta de caminhar e eu lhe mostrarei uma estranha pessoa com gosto pela dor.”

O Garfield sabe exatamente a dicotomia da vida: os gordos odeiam amar a comida e os magros amam odiá-la. É por isso que sou como ele: prefiro calçar as botas a fazer exercícios. Faz um mês que estou na academia, não sinto amor pelo Leg-press ou pelo supino, conto os 30 minutos cravados que fico lá mas ainda tenho esperança de me viciar em endorfina. Serei do clube dos marombados, mas enquanto esse dia não chega, sou mais Garfield: Eu adoraria as manhãs, se elas começassem mais tarde!

Meu outro anti-heroi que vou cultuar ate o fim do ano bissexto: Homer, um pai de família americano rude, acima do peso, grosseiro e preguiçoso. Homer foi considerado o mais influente personagem de desenho na televisão. Homer é uma sátira da família americana, tudo nele é politicamente incorreto. É um “loser”. Nunca fui para os EUA mas pelo que vejo nos filmes os americanos tem uma obsessão por achar “losers” ou os perdedores. Alguém vai ser escolhido, principalmente se não tiver popularidade ou renda. No país da competição, viver de birita, de preguiça, com pouca grana como Homer não faria sucesso na faculdade ou High School.

Se não fosse protagonista de desenho famoso, Homer com certeza seria em um filme americano, no máximo o garçom obeso de uma cidadela quase abandonada. É esse o papel que dão a loser. Mas No fundo, Homer não se importa. Ele diz que a “ vingança é um prato que se come três vezes ao dia”.

E há nele uma filosofia inerente digna de ser citada nos anais dos losers: “A iniciativa é o primeiro passo para o fracasso”. Depois de anos e anos me servindo de profetas como Augusto Cury e Thimoty Robbins, descobri que Homer é meu guru. “Se algo é difícil de fazer, não vale a pena ser feito!” Bingo. É dele também a sábia orientação: “ Se algo está dando errado, culpe o cara que não fala inglês”. No nosso caso, vamos culpar aqueles que não falam português. Atenção nesse item, gente. Vamos culpar só quem não fala, porque se for quem não escreve, teremos um exército de culpados.
E por ultimo, Homer fez uma pergunta que eu nem sabia que existia. Mas depois que eu a vi, achei que não poderia viver sem ela: “ Deus, porque eu tenho que gastar 2 horas do domingo na igreja ouvindo as diferentes maneiras que irei para o inferno!”.

Garfield e Homer são personagens relativamente “velhos” para mim. No final do ano passado, vi pela primeira vez o seriado Glee, que obviamente foi liberado para a televisão aberta. E sim, eu vi Glee, apesar dos 40 anos, tenho alma de adolescente. Eu e minha filha ficávamos esperando ansiosamente as 11h de sábado para começar a série. E que ninguém ousasse nos tirar de lá. No início detestei até a morte, Sue Sylvester, a treinadora vilã. Insensata, insensível, egoísta, mas engraçada.Segundo a Desciclopédia, é mais macha que os vampiros do Crepúsculo juntos. Gosta de destruir os sonhos das outras pessoas a todo e qualquer preço, de tão ruim que é a personagem, ficam verossímil. Sue sabe que é casca grossa. Ela reconhece isso:

“” Mandei tirar as glândulas lacrimais … não usava elas mesmo ! É na arrogância que Sue faz seu palco filosófico com verdades abissais. E eu acho esta uma grande verdade: Não é fácil sair da zona de conforto .As pessoas vão acabar com você. Vão dizer que nem devia ter tentado.Mas escutem isso...Não há muita diferença entre um estádio cheio de fãs e um bando de gente te xingando. .Ambos estão apenas fazendo barulho.Como encarar isso é com você.Convença-se que estão torcendo por você.Se fizer isso,um dia,eles irão."

Não esqueci o Doutor House, considero sua filosofia inspiradora: “Qualquer um pode odiar a humanidade depois de levar um tiro. É necessário um grande homem para odiar antes disso.” Mas ele é viciado em Vicodin, que ele pega na farmácia do hospital. É um analgésico para tratamento de dor cronica, utilizado em pacientes com cancer. Não sou muito de narcóticos. Uso sertralina.
Meu pai de cabelos arrepiados na passagem do ano: parece o Homer  Simpson

Frases avessas

“Eu vou pedir a vocês que cheirem seus sovacos. Esse é o cheiro do fracasso e está contaminando meu escritório.” (Sue Sylvester – Glee)

“ Existem três frases curtas que levarão sua vida adiante: Não diga que fui eu!, Oh, boa idéia chefe! e Já estava assim quando cheguei”(Homer Simpson)
Ah, que bem me sinto hoje! Tenho vontade de ser amável com toda a gente. Deve haver algo de errado comigo ! (Garfield)

“Tudo que eu queria é apenas um dia no ano no qual eu não fosse visualmente agredida por feios e gordos. Essas retinas precisam de um dia de folga.” (Sue)

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

O que eu ainda não sabia e fiquei sabendo este ano sobre o Vale

Este foi o ano em que o Censo deu nome aos numeros do Vale do Taquari. Em todos os cantos da região, as estatísticas sinalizaram que melhoramos, mas que precisamos melhorar ainda mais.

***No Santo Antônio, bairro pobre de Lajeado, tem uma mulher que não se entrega para o destino. Terezinha luta pra colocar comiga na mesa para o filho dos outros.“Prefiro ver a criança levantar de barriga cheia da mesa. Eu me sinto feliz.”

 *** Ainda no Santo Antônio tem o clube de uma loira só que é prostituída, mas foi estuprada aos 11 anos. Era ciclista, mas já não pedala mais. Engordou a olhos vistos. Mas sua história comove. Hoje, diz ter síndrome do panico, mas se vira nos 30 para sobreviver.


*** Descobri que Itapuca é a cidade dos sem-banheiros: das 716 casas do município, 46 sequer tem banheiro, o que representa 6,4%. É um dos índices mais elevados do Estado. A gente de Itapuca tem o costume tão arraigado que dispensa o banheiro em favor da “latrina”. “Muita gente não quer o banheiro, continua utilizando a patente.”

*** Descobri que enquanto alguns municípios vivem a era do tablet, em Taquari, cidade que possui uma das maiores cooperativas de luz, 39 casas não possuem energia elétrica. É o maior número de barracos sem luz na região, representando 0,42%.


*** Descobri que em Sério está a terceira pior renda per capita. A população cultiva hortas para não gastar em supermercado, que no lugarejo é raro.

** Que em Travesseiro,  mais de 90% das pessoas tem a casa quitada. O repouso dos habitantes de Travesseiro é tranquilo porque ali quase todos tem casa própria. 


*** Estrela é a cidade da faxina. Imprime rigor na limpeza e coleta 98,76% do lixo segundo o Censo. A área rural também é contemplada

 *** Descobri que tem uam familia de colombianos refugiada em Lajeado. Eles fugiram do trafico no país deles. Estão sob a tutela das Organizações das  Nações Unidas e da Associação Antônio Vieira, braço da ONU no Rio Grande do Sul.  Um cadeirante colombiano fica trancado no aparamento e sem acessibilidad, aprende português pela televisão

*** No Vale do Taquari, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelou que 53 casais gays foram contados pelo Censo. Das 38 cidades da região em 12 foram identificadas uniões estáveis homoafetivas. Em Lajeado, 29 casais.  Roca Sales surpreende: há quatro uniões estáveis declaradas no município de 10.250 habitantes.

***Nova Brescia  tem os homens mais ricos do vale. Eles ganham 2.298, enquanto a mulher 979. 

*** Descobri que Fazenda Vilanova tem o maior percentual de negros da região. Mas ainda assim é pouco: alemães e italianos dominam no Vale.

***Canudosdo Vale  abriga as mulheres mais ricas, que ganham 44% a mais do que a media geral.  Ou 1288.

** No Vale, de cada quatro casamentos, um fracassa: enquanto 1.125 pessoas casaram,  381 separaram.

*** Em Lajeado,  houve mais divórcios do que separações: 125 contra 56.  Mas um desamor não pode ser fatal.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Natal existe para aliviar nossa consciência

*** Eu fiz esse texto de um so fôlego. Sem corrigi-lo, sem mudar sequer uma palavra. Porque queria que ele saísse tal qual eu penso, como se fosse uma fotografia do pensamento, com todos os erros e defeitos a que tenho direito pensar. Nenhuma vírgula será mexida, quis captar o meu sentimento do momento, sem polir com palavras bonitas, sem botar panos quentes. E deu nisso...



Eu não sei o que pensar do Natal. Acho-o cruel porque as crianças pobres ficam com a maior vontade de ter um presente que não seja doado ou algo que seja novo mas que custe mais do que R$ 15 reais.Sim, porque quando a gente se dispõe a ser generoso, duvido muito que alguém se habilita a dar presente maior a 15, 20 ou R$ 50. É muito, a gente acha que pobre nem merece tanto. E quando porventura contribuímos com esse alto mimo, nos sentimos super bons, bacanas e evoluídos. Ou seja, os R$ 50 que gastamos com o queridinho nos fez melhor a nós do que propriamente a ele. Que Natal é esse então que a gente gasta, engorda e enrola os outros com a falácia da solidariedade?

O Natal é cruel porque traz em si a aura da família estruturada, que acalenta, que se adona da noite em uma mesa espetacularmente decorada com comida em abundância, pai, mãe e parentes sorrindo festejando a confraternização. Que bestialidade para quem tem pai alcoólatra, mãe com câncer e irmão deficiente. E nós, como já compramos a merreca do presentinho para o afilhado pobrezinho, nos isentamos da culpa da terrível noite alheia. Porque agora não é mais conosco. Já fizemos nossa parte adotando uma criança dos Correios e dando o que ela pediu na cartinha que no fundo, não roga apenas por um brinquedo singelo. Ela quer atenção, quer futuro. Ela quer acabar com os Natais, porque as datas evidenciam a desestrutura familiar dela e a colocam em cheque com outras famílias, nas quais se propagandeia o acalento. Mal sabe a criança, tadinha, que todas as famílias são tristes. Que o Natal é apenas uma propaganda de refrigerante. Que essa balela de celebração é tão inexistente quanto o velhinho.

Por favor, não estou sendo mordaz e nem árida. Eu simplesmente não dou bola para o Natal. Uma vez, eu ficava triste. Agora perdi a capacidade de me entristecer. Sou indiferente à época. Só me serve para sinalizar que o décimo-terceiro vem aí. E então fico satisfeita por ter um salário extra na conta que some em três dias porque tenho de comprar presente em nome do Natal.

Eu não me espiritualizo em dezembro. Não faço balanço mental do que fiz de bom ou de ruim como fazem os secretários de Lajeado avaliando o ano de suas pastas. Minha vida não é uma pasta e eu também não me iludo com a idéia de que vou mudar.

Eu choro. Mas choro por coisas simples, que me constrangem porque são lágrimas tão inusitadas que não dá para justificar uma certa sensibilidade.  Eu choro por dentro quando vejo uma criança pobre recebendo um presente da sociedade. Choro de tristeza mesmo. Eu sei que aquele presente não vai resgatá-la de sua vida desgraçada. Eu sei que a boneca, o carrinho, a bola ou o material escolar sem marca não vai redimi-la de uma família desestruturada.

Ela vai receber o presente do Noel. Vai sorrir para ele, a gente vai se aliviar na hora por pensar: está tudo bem, ela ganhou seu presente. Terá um bom Natal. Mentira. Prá começar, o presente foi dado a ela antes do Natal, não na noite natalina, na hora exata em que as famílias se unem para a celebração. A gente antecipa a celebração porque na data mesmo, estaremos com nossos parentes, lépidos e faceiros ou pseudofaceiros achando que fizemos nossa parte. Mintchura.

A boneca presenteada vai dar satisfação durante dois dias. Depois disso, o pai vai continuar alcoolizado, a mãe sem grana e a despensa vazia.  Mas nós fomos as boas pessoinhas natalinas. O Natal só presta pra aliviar nossa consciência suja.

Olha, eu acho que mesmo que seja uma boneca miserenta, a gente tem que dar. Mas mudança mesmo, mitigação da dor e da ruína humana, só com menos presente e mais esforço. Ou nós, presentes de corpo e alma na vida dessa gente. Mas isso a gente não faz. O presente físico é um presente caro demais. Deixemos para os poucos iluminados. Compremos o perdão e a autoindulgência à prestação. No crediário, o mundo prega a bondade. E dá ajuda em conta-gotas.
João Vitor tem 4 anos e ganhou um rancho do Papai Noel dos Correios. Toda familia vai se fartar. Ele retirou ansiosamente a bolacha do pacote e deu uma mordidona, se rindo todo...

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Genética não é destino

Na terça-feira 13  ganhei meu presente de fim de ano. Ela me veio em forma de história de vida e tinha tudo para ser um brado lastimoso de um destino inglório.  Mas foi como se a história de seu Decker me injetasse um gás, uma dose extra de endorfina natural ou oral. Um pai, um marido e um representante comercial, ele, o melhor personagem de 2011, eleito por mim, numa história tão contagiante que não pude deixar propagar pela redação inteira. “Que história incrível.”

Seu Decker não tem os dois rins e há um ano e oito meses não faz xixi. Quando me  confrontei com sua história, assoviei  num pio de descrença: o queeeeeeeee, não tem rim? Impossível. Como que os médicos nunca me disseram que uma pessoa poderia viver sem rim?. É crível que as pessoas vivam sem olhos, mas o pior cego é aquele que não quer ver. No caso, eu, uma criatura tapada na frente do seu Decker, com cara abobalhada questionando três vezes: o queeeeeee, o senhor não faz xixi?

Não faz não. Imediatamente me veio aquela sensação incômoda de ter vontade de fazer xixi e não poder. Imaginei-o segurando a urina por dois dias.  48 horas, até encarar a sessão hemodiálise para retirar três litros de água. Seu Decker emagrece três quilos toda vez.  Entra na sessão com 77 quilos e sai com 74.  É o peso seco. Uma vigilância eterna.  Seu Decker tem que cravar nos 74. É o reloginho da boa-saúde.

Ele tem uma doença esdrúxula que nem faço questão decorar.  Me detive no efeito que ela produziu no seu corpo. Seu rim cresceu tanto que chegou a pesar cinco quilos. O outro, quatro. Ao todo, nove quilos de rins.  Situados um de cada lado no segmento da coluna lombar, faziam um peso desgraçado.  Para seu Decker, era como se estivesse grávido de rins. Trigêmeos dissera ele.

Depois que tirou os órgãos reprodutores de urina, desinflou.  E teve de aprender a fazer xixi pelas veias.  A hemodiálise é seu vaso sanitário. Só que ele não pode ir até o banheiro e arriar as calças e fazer pipi. Precisa esperar 48 horas. E precisa esperar também um rim. Um, dois, três anos e o cadáver-solidário não vem. Por três vezes bateu na trave, mas outras pessoas foram escolhidas.

Seu Decker não é filósofo. Mas por um destino congênito aprendeu a compilar a frustração.  Ele extirpou a derrota junto com os rins.  E no lugar colocou doses maciças de treinamento mental. Seu Decker foi acometido por muito mais mazelas do que a maioria das pessoas, todavia, ele tem as feições e o ar mais saudável do que a maioria dos pacientes. A façanha de Decker não é viver sem rins. A façanha de Decker é viver sem agonia.

Quando a gente faz matéria de pessoas que precisam de transplante, aparece alguém em cadeira de rodas ou debilitado, com o rosto triste e olhar de paisagem. Seu Decker não tem olhar de paisagem, seu decker nem depende do governo para sustentar sua família e uma casa bacana em Estrela. Ele não se encostou na previdência social.

Os rins cresceram e ele continuou trabalhado.  Ele vendeu filtro carregando os dois rebentos involuntários dentro da barriga.  Uma gestação muito maior do que nove meses.  E depois ele retirou-os e continuou trabalhando. E em vez de lastimar que teria de passar nove horas por semana na hemodiálise, fez das sessões sua sala de aula. Seu Decker é grávido de entusiasmo, isso cirurgia nenhuma tira dele. Ele fez de seus pensamentos um reino, não uma jaula. Setenta por cento das doenças são curadas pela mente, me diz ele. Seu Decker, que tem nome de ave, é um Aristóteles moderno.  Enquanto muitas pessoas entendem que a felicidade é algo aleatório que nos é dado por circunstancias externas, os pensadores gregos relacionavam a atitudes corretas: felicidade depende de uma postura ativa. Não somos fantoches das nossas doenças ou humores.  A neurociências já diz que um dos segredos  da felicidade está na possibilidade de controlarmos nossas emoções negativas.  O que Decker nos deixa de presente é uma prova cabal de que a infelicidade pode ser controlada, enquanto ser feliz é algo que podermos aprender. Genes, portanto, não equivale ao destino. Que o diga seu Decker.