segunda-feira, 26 de março de 2012
A nau da gordinha desesperada!
Nunca me expus tanto em uma coluna pública, a não ser em meu blog, que tem menos abrangência do que Pitônicas. É uma “jogada” arriscada, mas de puro desespero. Agora são 8 horas da noite desta terça-feira. Estou chorando: 80% daqueles que lerem a crônica terão vontade de me esganar por achar meu terror de uma futilidade sem tamanho. Vinte por cento poderão me compreender. Titubeio em me expor tanto, mas escrever é se expor e talvez este seja meu divã - não clínico - mas público em que despejo minhas verdades com toques humorados que é para cair redondo na mente do meu camarada leitor. Descobri hoje que engordei seis quilos. Não sei quanto a balança apontou no total, virei os olhos. Ao ir ao médico, fiquei de costas para o ponteiro digital. O médico tomou o cuidado de não revelar o peso pois sabe que pode deflagrar minha latente depressão. Me fez fazer exame de sangue e no final me disse: “seis quilos”.
Foi um número acachapante. Uma verdade que você não quer ouvir. Subitamente, fiquei consciente de toda minha gordura. Eu senti uma bola de pilates na minha barriga. Eu sei que em vezes anteriores, quando escrevo isso, o sorriso e a ironia despontam como cruciais no texto. Mas agora não. O drama é inerente a mim. Minha teatralidade também. Normalmente lido na boa, escondendo minhas melancolias nas minhas próprias mise en scene. Todos somos em algum momento atores no palco da vida. Há uma trupe colada em nós, na nossa personalidade. Leio Arthur Schopenhauer para me conservar lúcida, mas humana, demasiada bípede, submerjo nas minhas futilidades: dar valor ao ponteiro da balança é a maior delas.
Eu sei que ninguém gosta de estar fora do peso. É normal. Anormal é sentir-me como eu. Há uma ojeriza, uma compulsão em sair de mim, me livrar desse corpo que me deixa esturricada no manequim 44. Deus, como vocês estão com nojo de mim. Tanta coisa para falar neste espaço: do aumento do número de vereadores, de animais abandonados, de crianças órfãs que precisam de ajuda. De mães desesperadas que perderam filhos em tragédias. De famílias que perderam tudo com incêndio. Dezenas de pessoas que fazem hemodiálise no Hospital Bruno Born e estão há anos na fila do transplante. Eu sei. Eu já fui na casa de todos eles, já lagrimei com cada uma dessas situações.
Mas por favor, eu peço que me deixem ser egoísta e falar hoje aqui de uma tristeza que eu não carregava há muito tempo. Escrever é se expor. E para mim é uma forma de desabafo. Eu preciso escrever para talvez, tomar uma atitude comigo mesma. Eu sou minha algoz. Dirão vocês: “fecha a boca, sua cretina, não exponha em praça pública o que você pode fazer na cozinha de sua casa.” A questão é essa: eu não quero emagrecer magicamente. Quer me controlar. Quanto mais persigo meu autocontrole, mais a autofagia me demora.
Um psicólogo americano,Roy Baumeister, atesta que o autocontrole é mais importante que a autoestima. Defende que o sucesso depende mais da capacidade da pessoa controlar seus impulsos, de adiar o prazer imediato em nome de um objetivo maior no longo prazo. Ele lançou livro chamado Willpower (Força de Vontade) , creio que ainda não está disponível no Brasil, mas em breve estará. Li entrevistas concedidas em revistas. Baumeister diz que a autoestima é mais uma consequência do que uma causa. O autocontrole ajuda as pessoas a serem mais bem sucedidas do que a autoestima. E segundo ele, a força de vontade é um dos ingredientes que nos ajudam a ter autocontrole. “É a energia que usamos para mudar a nós mesmos, o nosso comportamento, e tomar decisões”
Entre a teoria e a prática, há muitos chocolates, sorvetes e batatas fritas bloqueando essa percepção científica. Há muito mais tentações no mundo moderno. É possível gastar, online, ir no shopping e consumir R$ 200 reais em orgia gastronômica, apenas porque você está irritado com seu chefe.. Temos uma quantidade razoável de força de vontade, mas se não a usarmos corretamente e de maneira efetiva, podemos nos tornar mais vulneráveis aos perigos.- A vida corre e, a todo momento, precisamos usar nossa força de vontade para mudá-la. Então, nobre cientista, como comer menos sem precisar de uma camisas de força? Ele recomenda, no caso da obesidade, se alimentar com saúde sem ganhar peso. Diz que a melhor forma para mudar um hábito é a repetição.
E se eu não conseguir comer a cenoura com regularidade? Se não conseguir acatar o compromisso comigo mesma?Um mês trancada num quarto austero, com água, verdura e atada ao pé da cama me dariam a fama de Ulisses, de a Odisseia. Ele se atou no mastro do navio para não sucumbir ao canto das sereias. Não confio em meu autocontrole, preciso de uma camisa de força. O doce canto do chocolate torna meu braço grosso como uma coxa. A nau de Ulisses chegou gloriosa a seu destino. A minha - nau de uma gordinha só – ruge desesperada presa a um manequim 44.
PS: hj, ao postar a crônica no O Informativo, recebi muitas mensagens de estímulo, inclusive de gente que sentiu o desespero do Indice de Massa Corporal e que me motivou a ir adiante. Grata, gente!
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