Depois de 20 dias de férias, algumas latas de brigadeiros a mais no meu derriére e a carteira vazia (já estava vazia quando eu entrei em férias), a labuta me chama. Se há algo produtivo fora da vida de viajar no gozo de suas folgas é ficar em casa praticando o “nadismo”. Refiz uma versão do ócio criativo preconizado pelo italiano Domenico Di Masi para o ócio privativo: exprime privação, afinal você não conta com dinheiro suficiente para uma relés viagem ao tão popular litoral norte (Jurerê então, nem sonhar). Mas é também privado porque é sua preguiça privê: individual, e você não tem que fazer nada para ninguém ver. Nada melhor do que não fazer nada, só para deitar e rolar comigo mesma. Quem nasce para Rita Lee continua deitando e rolando mesmo na prisão.
O estresse é a maior epidemia mundial e nessa vida tão alucinada, eu sou uma das mais estouradas e agitadas da redação. Faço par com o colega Rodrigo Nascimento. Os editores precisam controla, eles dizem: “ menos gente, bem menos.”
É que há uma obrigação interna nos dizendo: faça mais, faça mais. E a gente cai nesse ciclo infernal da Síndrome do Pensamento Acelerado (SPA). Resultado: viramos “bombados” psíquicos movidos a sertralina, fluoxetina, carbamazepina e outras “inas” vendidas nas farmácias. Saúde não se compra com aspirina. Lugar de ser feliz não é supermercado. Mas a fruteira do lado do jornal contribuiu para aumentar dois centímetros nos meus quadris. Sorvete, chocolate, televisão e coca zero sem nenhuma culpa.
Então, nessas últimas semanas, eu fiquei cansada de estar tão descansada. Chegava a trocar de ambiente só para fazer nada em outro espaço.
Assim, depois de cinco horas ininterruptas atirada no sofá da sala, mudava para o quarto e depois para a área, numa pobreza de espírito que dava dó de ver. O gaúcho Marcelo Bohrer vem propagando há alguns anos a filosofia do fazer nada. Montou até um projeto chamado Clube do Nadismo,que faz encontros mensais reunindo pessoas que não fazem nada. Sabe porque ser nadista virou façanha? Porque com tablet, smartphones e computadores é muito difícil passar 24 horas sem acessá-los. A gente se sente fora do mundo sem eles, embora não tenha sido esse o meu caso nessas férias. Acessei tudo, li, e ainda sobrou tempo para a preguiça e para aprender alguma coisa diferente todo o dia. Esse, aliás é um esforço que faço há tempo: aprender algo novo a cada 24 horas. Não é uma tarefa hercúlea. Pode ser uma palavra, uma dica, um livro, um nome. Pode ser até um palavrão. “Vada a bordo,cazzo”
Nestas férias, eu aprendi a voltar a infância. Passar um período com um bebê de dois anos te resgata o tempo perdido. Pedro, meu sobrinho, foi o benfeitor. Me atualizei com músicas e tendências: diga sem pensar quais são os nomes dos cinco backyardigans? Ah não sabe, na certa você está ainda no tempo dos Teletubbies. Vou te dar a real: os “backys” são muito mais legais. E eu sou a Uniqua, porque o Pedro é o Tayrone. Você está boiando? Ah, larga essa pasta de executivo em cima da mesa e volte ao prefácio de sua vida: infância. Ainda dá tempo: São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração. “Vada a bordo das férias, Cazzo”
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Se liga no Domenico di Masi
Para ser feliz no trabalho, é necessário transformar o trabalho em ócio criativo: isto é um mix de trabalho (para produzir riqueza), estudo (para produzir conhecimento)e jogo (para produzir alegria)
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