É tanto “mimimi” cercando o tal BBB que transbordo minha ojeriza.. Fico com nojo dos que são a favor e também dos que são contra. No fundo, só valorizo os que estão indiferentes,embora eu mesma não seja indiferente. Ora sou a favor, ora me tapo de asco.
A pessoa indiferente está tão acima da audiência e da desistência (de assistir) que nem toma conhecimento. Ela silencia não porque não quer travar um embate, ela silencia porque para ela o BBB é tão importante quanto a situação dos apenados russos que cumpriam condenação na Sibéria. Ei, algum de nós já parou para pensar o que existia há algumas décadas no inferno gelado dos gulags? Nem aqui nem na China pensamos nisso. Porque não nos interessa, não desejamos levantar debate. Quando não interessa, você não se irrita. Porque se irritar é tomar conhecimento.
Osho – que é um guru controvertido – disse que qualquer coisa que a sociedade respeita se torna alimento para o ego. E as pessoas estão prontas para fazer qualquer coisa estúpida. A única alegria é que isso trará respeitabilidade. Eu digo que se não te trouxer respeito, vai servir para te trazer o avesso do respeito, mas mesmo assim é um sentimento: você está sendo visto, olhado, escrutinado. Uma vida inobservada é o verdadeiro horror de todos nós. E não me digam que não, porque somos todos humanos. Faça um censo interno tendo Cristo como questionador: qual de vós, se fosse convidado para participar do BBB direis não? Pode ser outro tipo de show da realidade, qual de vós recusareis? Não é pelo dinheiro. Tem muita gente milionária que toparia entrar na casa ou no alçapão de alguma emissora. Pela sensação de importância que ela confere.
Renato Zanellla é um sociólogo com tendência para a filosofia e eu gosto de escutá-lo nas coisas mais bestas ou importantes da vida. Eu já propus a ele que fizéssemos uma “Confraria de Assuntos Aleatórios” dentro do cemitério, porque é perto da morte que se pensa na vida. Ela nunca disse “sim”, todavia, enfatizou algo intrigante sobre o Big Brother. O BBB atrai pela identificação e afasta pelo estranhamento e cativa audiência pelos dois. É uma cultura inútil? Se serve para você se comparar, não. Quando você assiste, inconscientemente se pergunta: até que ponto sou encantador como este fulano ou totalmente sem noção como este sicrano?
BBB é só um nome, pode ser outro programa que aglutina um monte de pessoas em um recipiente humano. Você assiste ao programa porque quer ver a reação dos caras ou das gurias. Você se coloca ali no meio deles. Você, queria ter um diferencial tão importante a ponto de ser escolhido. Mas você é só platéia, então liga a TV e começa: “Bah, mas esse cara está comendo como um escroto. Será que eu seria assim?” Ou. “Caraca, mas essa guria parece uma vadia. Eu seria diferente.”
Esse olhar social que o Zanella me fez ver que existe é legal. Tá, mas e aquelas pessoas que não são tão instruídas, elas vão ter essa visão sociológica? Não sei, eu não estou no corpo delas, eu já desbravei a teoria das cavernas de Platão. Mas eu estou certa de que nós precisamos de pão e circo. Mesmo os mais intelectuais. “Nada mais alienante que o excesso de saber” Se a falta de informação é alienante, o excesso também. Aquele que está tão no alto da erudição não desce para os braços do povo, não consegue acompanhar o termômetro da sociedade. Eu não estou defendendo o BBB, até porque prefiro outro programa do estilo chamado Mulheres Ricas.Me aboleto no sofá e fico do início ao fim e isso não me fará mais estúpida. Já sou intelectualizada e posso me dar ao luxo de curtir bobagens. Reality não me influenciará para o mal. E nem para o bem. Não me fará nada.
Me intriga não o fato de tanta gente assistir, mas a polêmica orbitando o assunto. O BBB é o coliseu romano. Os EUA também tem o seu coliseu, todos os países possuem algo no estilo “panis et circences.”
Em Roma ser gladiador era caminho rápido para a ascensão social. A psicanalista paulista Marion Minerbo escreveu que a entrada no Coliseu era gratuita, e as pessoas da platéia podiam apostar no seu favorito. A gladiatura era tema das conversas no dia-a-dia. “Como na gladiatura, o reality show oferece carne humana para nosso repasto. Somos também o leão na arena”, salientou a doutora em seus escritos prá lá de interessante. Foi na definição dela que me achei. Nós somos os devoradores da carne humana. Queremos nos alimentar de um espetáculo real. Ok, as pessoas dos realitys podem jogar até certo ponto, mas como diz a psicanalista, sem roteiro, ninguém foge ao que é - ninguém pode ser muito diferente do que determina seu inconsciente. Sendo o que são, elas são lançadas a nós, devoradores: “Como esse cara é medíocre” – dissemos nós. “Como ela é fútil” – nos pavoneamos nós, de novo. Como somos superiores. Mas eles são nós. Só que eles estão na tela. Entre eles e nós, a diferença é que nos falta a audiência.. Na gladiatura moderna, nós precisamos ser atores e plateia – ou leões e gladiadores. E como frisa Marion Minerbo, é uma gladiatura feita sob medida para nós. Vá La agora e ligue o som no volume máximo. Escute Mutantes: “Soltei os tigres e os leões nos quintais, mas as pessoas na sala de jantar, são ocupadas em nascer e morrer”. Panis ET Circenses. Não tem pão? Deem-lhe humanos.
Ta mas você leu ate aqui e ainda não entendeu se sou contra ou a favor né. Deixa o BBB na televisão. Só me irrita que a gente fale tanto nele. Eu me irrito comigo.
PS: O homem é um animal sem precedentes. Nos metem na jaula, dão pão e bebida para nossos iguais para verem até que ponto chega a nossa decadência. E o pior disso tudo é que, faríamos exatamente igual se estivéssemos la dentro daquela casa. Nos embebedaríamos e daríamos o circo todo para a audiência. Somos ruminantes, bípedes sem moral. Maluf estava certo: estupra, mas não mata (a audiência)
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