domingo, 5 de fevereiro de 2012
O espírito do tempo!
Semana passada meu pai acordou contando: "essa noite eu chorei. Chorei e chorei. Porque eu me lembrei que eu tenho 67 anos e o tempo passa rápido demais". O tempo é um fantasma que o acossa cada vez que um amigo falece. Quando alguém morre, imediatamente ele pergunta a idade. Se o defunto tem 70 anos, em um piscar de olhos faz as contas: bah, só falta três para mim.
Eu rio dele. Mas é uma forma de compactuar com esse medo. Aos quatro anos, era uma menina tímida agarrada à mãe. Os olhos verdes e as bochechas salientes não se notam na foto preto e branco que minha mãe teve o capricho de fazer nos idos dos anos 1970 com a ajuda de um profissional. Trinta e dois anos depois, coloco uma colagem com as imagens de minha filha Marianna, misturada às minhas. O tempo passou também para ela que está com 12 anos e eu tenho saudades não apenas do meu tempo de quatro anos, mas do tempo dela, aos quatro. Eliane Brum disse que aos 40 é inadiável a compreensão de que não dá para ter tudo. Escolher é ganhar e perder, ao mesmo tempo. Ou, sendo mais precisa, talvez ganhar, com certeza perder. Grande parte dos meus sonhos eu deixei para trás, outros eu refiz e em algumas partes eu me acomodei, talvez tenha cansado de combater o Bom Combate. Talvez tenha dado uma nova roupagem ao meu Bom Combate ou ele tenha sido remanejado para a vida da minha filha, coisa que eu não quero de forma alguma fazer. Cada ser humano tem o direito de ter os seus próprios sonhos e o dever de cair do cavalo quantas vezes for preciso.
O que sempre tivemos, em qualquer idade, é uma vida: limitada, imperfeita, mortal. E quando eu rio de meu pai, eu admito que seu temor é o temor de todos nós. Mas ele fala. Talvez com 70, eu também venha a falar, se chegar lá. E com 70, eu vou estar fazendo colagens com minhas fotos de 40 e dizer: como eu era feliz e não sabia. O tempo sempre torna o passado perfeito porque a gente idealiza as lembranças. O tempo faz a gente olhar as fotos e se achar meigos, lindos, magros, com a tez cheia de viço. O tempo faz a gente ter saudades de como vivia e sentia no passado, quando nem naquele tempo passado a gente sentia isso.
Aos 15 anos, eu pensei que estaria na Rede Globo aos 30, sendo a bambambam do Globo Repórter quando chegasse aos 30. Foi um choque enorme descobrir que eu era apenas uma mãe comum, dirigindo um Corsa 1995. Não dá mais tempo de eu ser a versão feminina do Caco Barcellos e nem de substituir a Fátima Bernardes na bancada do Jornal Nacional. Mas dá para ir se acomodando com alguns valores que vão sendo anexados em sua vida: você já não almeja mais morar no Rio de Janeiro e nem aquela história de ser a melhor do país. Essas vaidades da juventude passam, não que não seja bom tê-las. Mas o tempo te faz perceber que outras coisas estão me jogo: uma certa maturidade, um certo des-espero e você aprende a não esperar o sucesso absoluto, o amor perfeito, o ibope alto. E você percebe que será assim também com sua fillha: eu chorava pelo RPM, ela chora pelos Rebeldes. Acho bobo hoje, essa tietagem obsessiva, mas não falo nada a ela, embora fique aflita com tanta comoção. Vai passar e por isso hoje faço questão de tirar fotos dela, embora ela não goste. Sei que quando tiver 40 anos, vai relembrar de o quanto a adolescência era doce. Ou rebelde.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário