Alguém ai se lembra de que Jonas era um profeta servo de
Deus e que foi engolido por uma baleia porque fugiu para que Deus não o
achasse? Nem Pai Google de Oxum lembra disso porque quando se coloca na busca “Jonas”
aparece o galã lajeadense que o BBB catapultou. Talvez motivada pelo nome
bíblico, dona Marlene colocou o nome no bebê e a baleia, no futuro, seria a
fama. “A baleia é sua casa, sua cidade, dentro dela guarda suas
gravatas, seus ternos de linho”, cantas Sá e Guarabira numa das hermosas
músicas da dupla.
Mas o Jonas moderno, que foi escrutinado na televisão, não é
cegado pela baleia, e nem depois foi devolvido à vida numa praia em Nínive. É sim, e isso é
verídico, um cara que foi dado às feras, como no Coliseu romano, quando a
política do Pannis ET Cicerncis navegava o mais poderoso governo da terra. Mas
nós somos os devoradores e os devorados. E com tanta ânsia quanto vomitávamos o
preconceito contra a beleza. “Esse cara não tem nada de bom. É só um rostinho
bonito”, também vamos a ele fotografar. Para pegar carona na fama, ainda que
seja para dizer para o nosso pequeno
círculo em que somos famosos. “ó, eu estive com Jonas. Se eu tive com ele, eu
mereço ser visto”. É engraçado porque
não dá para falar que Jonas sequer teve vontade de ir ao BBB. Que eu saiba , ele
não enviou sequer um vídeo, foi fisgado
por um olheiro, e como bom administrador monetário, fisgou o peixe. Eu também
fisgaria.
Ele é original quando diz, portanto, que o BBB e a atuação
não fazem parte de seu sonho. E talvez por isso possa se dar ao luxo de ser ele
mesmo. O cara não faz restrições tipo: “não falo da minha vida íntima”, “não me pergunte isso nem aquilo.” O cara
fala e também não dá o desprazer de desprezar algo que lhe desagrada. Ele
critica, mas não despreza. Pondo estas
questões na mesa, se as celebridades ficassem ao nível de Jonas, estaria de
ótimo tamanho.
O cara pode não ter uma Fundação Gol de Letra para
financiar. Mas também, ele mal saiu do BBB e tampouco faz vergonha para
ninguém. O cara é bom galera, intrinsicamente bom. E isso está na lata. Eu até
acho que a gente acha ele mais bonito do que ele de fato é. Porque por três
meses inoculamos nas fotos e imagens, o pictórico de um cara centrado, sensato
e gente fina. Jonas é barriga tanquinho, angariou fama e é sim, gente fina.
Porque só porque faz sucesso não pode ser gente fina?
Mas eu me espanto com a voracidade das pessoas. Eu não acho que
as pessoas queiram Jonas tanto assim realmente quanto eu vi no Centro da
cidade. Meu Deus, elas quase viraram o carro. Eu pensei: “aiiiiiiiii, vão
arranhar a pintura, vão estragar o carro”.
Os dois seguranças arrastaram o galã para dentro da loja. Ele ficou
espantado, juro que vi um ar de surpresa nele com tamanha recepção. As pessoas não querem Jonas tanto assim, elas
querem um pedaço do sucesso dele. E isso contagia. Tu nem acha o cara tão
fenomenal assim, quando se dá por conta,
está láa no epicentro da multidão tentando vê-lo com sofreguidão.
A fama espanta até o famoso.
Mas há um ingrediente na fama que diferencia um famoso de outro ou de
livrar a pessoa da subcelebridade. É o carisma, algo intangível, mas diz-se de
alguém com luz própria, não propriamente bonito, mas que exerce uma atração.
Carisma está ligado ao modo como uma pessoa influencia um grupo, uma multidão e
isso para mim tem a ver, com genuinidade. Quando tu olha para uma pessoa e
sente que o que ela está dizendo não é atuação e quando você vê que apesar das
hordas de fãs histéricas, o sorriso continua genuíno, pô, essa pessoa tem
carisma. Quem é que aguenta, gente,
mesmo com 50 mil na jogada, rir de verdade por horas a fio? Existem 29 tipos de
sorrisos, só um é verdadeiro. E isso a neurociência prova. E nós também.
Jonas não é santo e nem faz questão de ser. Ele disse que
ficou por ficar na casa com as gurias e que há alto índice de piriguetagem. Não
falou isso com desprezo, falou porque nós perguntamos. A imprensa pergunta,
bisbilhota e provoca. Ele não recuou, não encobriu o véu, não se fez de rogado.
Mas ainda assim eu me espanto porque em 20 anos de cobertura
de políticos, shows, cinema e eventos, nunca vi tamanho frisson. Nem Tiago
Lacerda, Letícia Spiller e Caco Ciocler juntos causaram tanto alvoroço quando
estiveram aqui. E se for questão de proximidade e simpatia, temos a Shirley
Mallmann. Nem ela causou isso. Se for por estar na Globo, Lacerda é da Globo.
Então, as vezes não é nem o canal, e a proximidade. É o grau
de Carisma das pessoas. Creio que a Gisele Bundchen tem isso. Onde vai causa
celeuma e olha que não é a mulher mais linda do mundo. É linda, mas não a mais.
Dilma já veio aqui como ministra. Não causou nem cócegas. Política é um assunto chato pra
gente ser tiete. Mas creio que deveria ser um assunto mais urgente. Deveríamos
andar atrás dos deputados assim como andamos atrás de Jonas.
Em cada um de nós há uma pontinha de inveja desse sucesso
inesperado: “Pô, esse cara nem lutou tanto e já nasceu bonito e vai ganhar
papel na Globo. Pô, que saco. E eu aqui descascando batata no porão.”
Jonas quase foi um filho do asterisco, mas depois pai e
filho se fortaleceram. Um é a cara do outro, mas o descendente não vai ser
ausente na sua descendência. Isso também está na cara.
O sociólogo francês Pierre Bordieu detectou quatro formas de
capital que foram consagrados por ele.O capital social (quem conhecemos);
Capital Econômico ( o que temos); Capital Humano (o que sabemos) e Capital
atrativo ( beleza física, charme e elegância). Pesquisas indicam que só 2% dos
homens de todo o planeta são extraordinariamente bonitos. Porque Jonas não vai
usar o que lhe foi dado em profusão?
Li na revista Época há algum tempo e eu guardei a
reportagem, que um pilar na sustentação teórica do valor da beleza está na
escassez. Os 2% ou 3% de pessoas bonitas na população são raros o suficiente
para que haja mais demanda do que oferta por elas. Não existe neutralidade
diante da beleza. As pessoas se sentem
bem na presença dos belos. Freud diz que
o prazer de olhar é igual ao de tocar e isso impulsiona o canal erótico. Os
cientistas criaram um termo chamado efeito aura. A beleza é associada ao êxito,
saúde, liderança e caráter. O “efeito aura” cria a expectativa de perfeição em
torno da beleza física e favorece espontaneamente (e injustamente) quem nasceu
bonito. É. Injusto, é, mas também ninguém denigre Stephen Hawking por ser um
crânio inteligente.
Um comentário:
Excelente texto. Concordo em tudo o que escreveste nele, não só quanto ao caráter do rapaz, que realmente parece ser "do bem", simples, simpático, despojado e sem frescura, como da atitude pirada da tietagem. E respondendo, sim! As pessoas que insistem em tirar uma foto com ele querem pegar carona em seus "15 minutos de fama".
Ciríaco
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