quinta-feira, 19 de abril de 2012

Jonas e a metáfora da baleia




Alguém ai se lembra de que Jonas era um profeta servo de Deus e que foi engolido por uma baleia porque fugiu para que Deus não o achasse? Nem Pai Google de Oxum lembra disso porque quando se coloca na busca “Jonas” aparece o galã lajeadense que o BBB catapultou. Talvez motivada pelo nome bíblico, dona Marlene colocou o nome no bebê e a baleia, no futuro, seria a fama. “A baleia é sua casa, sua cidade, dentro dela guarda suas gravatas, seus ternos de linho”, cantas Sá e Guarabira numa das hermosas músicas da dupla.

Mas o Jonas moderno, que foi escrutinado na televisão, não é cegado pela baleia, e nem depois foi devolvido  à vida numa praia em Nínive. É sim, e isso é verídico, um cara que foi dado às feras, como no Coliseu romano, quando a política do Pannis ET Cicerncis navegava o mais poderoso governo da terra. Mas nós somos os devoradores e os devorados. E com tanta ânsia quanto vomitávamos o preconceito contra a beleza. “Esse cara não tem nada de bom. É só um rostinho bonito”, também vamos a ele fotografar. Para pegar carona na fama, ainda que seja para dizer para o nosso  pequeno círculo em que somos famosos. “ó, eu estive com Jonas. Se eu tive com ele, eu mereço ser visto”.  É engraçado porque não dá para falar que Jonas sequer teve vontade de ir ao BBB. Que eu saiba , ele não enviou sequer um  vídeo, foi fisgado por um olheiro, e como bom administrador monetário, fisgou o peixe. Eu também fisgaria.
Ele é original quando diz, portanto, que o BBB e a atuação não fazem parte de seu sonho. E talvez por isso possa se dar ao luxo de ser ele mesmo. O cara não faz restrições tipo: “não falo da minha vida íntima”,  “não me pergunte isso nem aquilo.” O cara fala e também não dá o desprazer de desprezar algo que lhe desagrada. Ele critica, mas não despreza.  Pondo estas questões na mesa, se as celebridades ficassem ao nível de Jonas, estaria de ótimo tamanho.
O cara pode não ter uma Fundação Gol de Letra para financiar. Mas também, ele mal saiu do BBB e tampouco faz vergonha para ninguém. O cara é bom galera, intrinsicamente bom. E isso está na lata. Eu até acho que a gente acha ele mais bonito do que ele de fato é. Porque por três meses inoculamos nas fotos e imagens, o pictórico de um cara centrado, sensato e gente fina. Jonas é barriga tanquinho, angariou fama e é sim, gente fina. Porque só porque faz sucesso não pode ser gente fina?
Mas eu me espanto com a voracidade das pessoas. Eu não acho que as pessoas queiram Jonas tanto assim realmente quanto eu vi no Centro da cidade. Meu Deus, elas quase viraram o carro. Eu pensei: “aiiiiiiiii, vão arranhar a pintura, vão estragar o carro”.  Os dois seguranças arrastaram o galã para dentro da loja. Ele ficou espantado, juro que vi um ar de surpresa nele com tamanha recepção.  As pessoas não querem Jonas tanto assim, elas querem um pedaço do sucesso dele. E isso contagia. Tu nem acha o cara tão fenomenal assim, quando se  dá por conta, está láa no epicentro da multidão tentando vê-lo com sofreguidão.
A fama espanta até o famoso.  Mas há um ingrediente na fama que diferencia um famoso de outro ou de livrar a pessoa da subcelebridade. É o carisma, algo intangível, mas diz-se de alguém com luz própria, não propriamente bonito, mas que exerce uma atração. Carisma está ligado ao modo como uma pessoa influencia um grupo, uma multidão e isso para mim tem a ver, com genuinidade. Quando tu olha para uma pessoa e sente que o que ela está dizendo não é atuação e quando você vê que apesar das hordas de fãs histéricas, o sorriso continua genuíno, pô, essa pessoa tem carisma.  Quem é que aguenta, gente, mesmo com 50 mil na jogada, rir de verdade por horas a fio? Existem 29 tipos de sorrisos, só um é verdadeiro. E isso a neurociência prova. E nós também.
Jonas não é santo e nem faz questão de ser. Ele disse que ficou por ficar na casa com as gurias e que há alto índice de piriguetagem. Não falou isso com desprezo, falou porque nós perguntamos. A imprensa pergunta, bisbilhota e provoca. Ele não recuou, não encobriu o véu, não se fez de rogado.
Mas ainda assim eu me espanto porque em 20 anos de cobertura de políticos, shows, cinema e eventos, nunca vi tamanho frisson. Nem Tiago Lacerda, Letícia Spiller e Caco Ciocler juntos causaram tanto alvoroço quando estiveram aqui. E se for questão de proximidade e simpatia, temos a Shirley Mallmann. Nem ela causou isso. Se for por estar na Globo, Lacerda é da Globo.
Então, as vezes não é nem o canal, e a proximidade. É o grau de Carisma das pessoas. Creio que a Gisele Bundchen tem isso. Onde vai causa celeuma e olha que não é a mulher mais linda do mundo. É linda, mas não a mais.
Dilma já veio aqui como ministra. Não causou  nem cócegas. Política é um assunto chato pra gente ser tiete. Mas creio que deveria ser um assunto mais urgente. Deveríamos andar atrás dos deputados assim como andamos atrás de Jonas.




Em cada um de nós há uma pontinha de inveja desse sucesso inesperado: “Pô, esse cara nem lutou tanto e já nasceu bonito e vai ganhar papel na Globo. Pô, que saco. E eu aqui descascando batata no porão.”
Jonas quase foi um filho do asterisco, mas depois pai e filho se fortaleceram. Um é a cara do outro, mas o descendente não vai ser ausente na sua descendência. Isso também está na cara.
O sociólogo francês Pierre Bordieu detectou quatro formas de capital que foram consagrados por ele.O capital social (quem conhecemos); Capital Econômico ( o que temos); Capital Humano (o que sabemos) e Capital atrativo ( beleza física, charme e elegância). Pesquisas indicam que só 2% dos homens de todo o planeta são extraordinariamente bonitos. Porque Jonas não vai usar o que lhe foi dado em profusão?
Li na revista Época há algum tempo e eu guardei a reportagem, que um pilar na sustentação teórica do valor da beleza está na escassez. Os 2% ou 3% de pessoas bonitas na população são raros o suficiente para que haja mais demanda do que oferta por elas. Não existe neutralidade diante da beleza.  As pessoas se sentem bem na presença dos belos.  Freud diz que o prazer de olhar é igual ao de tocar e isso impulsiona o canal erótico. Os cientistas criaram um termo chamado efeito aura. A beleza é associada ao êxito, saúde, liderança e caráter. O “efeito aura” cria a expectativa de perfeição em torno da beleza física e favorece espontaneamente (e injustamente) quem nasceu bonito. É. Injusto, é, mas também ninguém denigre Stephen Hawking por ser um crânio inteligente.

Um comentário:

Caetano disse...

Excelente texto. Concordo em tudo o que escreveste nele, não só quanto ao caráter do rapaz, que realmente parece ser "do bem", simples, simpático, despojado e sem frescura, como da atitude pirada da tietagem. E respondendo, sim! As pessoas que insistem em tirar uma foto com ele querem pegar carona em seus "15 minutos de fama".

Ciríaco