Já repararam que quando você está com foco em algo
começa a ver sinais ? Por exemplo, se comprou um Fox vermelho, perceberá pela
cidade que existe mais desse tipo de carro do que jamais pensou. Pode ser
coincidência, mas o psicanalista Jung fala em Teoria da Sincronicidade.
Li um trecho de "O Homem e seus Símbolos". Ali
Jung diz que muita coisa que a gente percebe da realidade é permeada por
aspectos inconscientes. No início, a gente ignora o que está no porão da nossa
mente, mas os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo
pensamento e isso é tão espontâneo que pode aparecer em forma
de sonho. São aquelas “coincidências” que nos deixa boquiabertos.
Entenderam? Bem, é complicadinho, mas vale a reflexão.
Esse preâmbulo é que, preocupada com o cheque especial, as
contas e o meu “holerite”, passei a inocular a miséria e o coitadismo e
mergulhada nesse meu dilema vi uma notícia que me chamou atenção. É
a historia de um irlandês que conseguiu viver durante três anos sem
nenhum tostão. Nenhunzinho. – Ah, não acreditei. Fiz igual ao Crô da
novela. Botei a mão na boca e disse: “não, para tudo, paraaaaaaaa”. Olha o
sinal aí gente, eis a sincronicidade de Jung.
Na revista, Mark Boyle se mostra senhor de si. E pasmem, o
homem sem dinheiro é um economista. Com 32 anos quer convencer o
mundo de que o dinheiro é supérfluo. E se ele quer convencer o planeta,
quer me persuadir também. Invejei horrores esse Diógenes moderno.
Poderia ser meu guru, até porque eu não teria muita bagagem para deixar
para trás. Digamos que um Corsa 1995 não é nenhuma relíquia.
Ele jogou tudo fora e foi morar num pedaço de terra na
Inglaterra. Planta o que come e só de pensar que ele não semeia chocolate, já
fico venerando este cristão. Se banha num rio perto de sua casinhola e utiliza
a vegetação como papel higiênico. Deixou o “Snob” de lado. Pelas fotos
que vi na Revista Galileu e depois investigando em sites de ciências, Boyle é
saudável, bronzeado e tem um corpaço. De forma alguma parece um ermitão de
barba grande e olhos esbugalhados. Um “gato” ou talvez um tigre indomado.
Improvável que seja parente da Susan Boyle. A frase que lhe deu o
insight a gente já viu em muitos Facebooks da vida e também nos status de MSNs.
“Seja a mudança que você quer ver no mundo”. Decidiu viver sua própria
mudança e pensou: “se a raiz de toda a insegurança e medo do mundo é o
dinheiro, o que aconteceria se me livrasse dele?”.
Aconteceu tudo. Boyle se viu dentro de uma espiral de
libertação que trocou seu nome para “Liberdade” em gaélico. Boyle garante que
se o mundo for para o brejo, a culpa é do dinheiro. O Homem Sem
Grana, virou manchete em todos os jornais e revistas do mundo. Mas para vocês
verem como são as coisas, só agora me deparei com a história dele. No futuro,
quer fazer uma comunidade que pensa igual a ele. Jura que terá adeptos. “
Muitos querem saber como viver sem dinheiro, já que não têm dinheiro”, destaca
o liberto. Eu sou uma .
O que me impressiona é a pecha que dão a quem quer quebrar
os padrões vigentes. . A
verdade é que a perplexidade em viver voluntariamente com pouca grana causa
espanto e incredulidade. Nossa cabeça simplesmente não aceita que as
pessoas não querem o conforto, o sofá, o micro-ondas. Não é de hoje que é
assim. O personagem mais fascinante da história para mim é o filosofo Diógenes:
uns 400 anos antes de Cristo, ele perambulava pela Grécia, morando dentro
de um barril. Não só desprezava os bens materiais como dizia que
toda fadiga é necessária para obter a realização. Se exercitar e cansar é o
único caminho viável ao homem. Por isso peregrinava pela Grécia. Encontrava
imperadores e fornecia cínicas. Por causa da sua língua, ficou sendo o pai do
cinismo. Diógenes, o cínico não era mau, incitava a ponderar. Era
um crânio anarquista. Só de ler as respostas que ele dava e a forma como
pensava, me arrepio. Dizia ser Diógenes, o cão, enquanto o rei era
Alexandre, o grande. Defendia a ideia de que os humanos deveriam aprender
com os cachorros. Afinal, um cão vive o presente sem ansiedade, aprende
instintivamente quem é amigo e quem é inimigo e não faz estardalhaço sobre o
lugar de dormir. Eu não consigo nem dormir fora da minha cama box e preciso de 12 laxantes quanto estou vem viagem. Preguiça intestinal era coisa que Diógenes mais odiava.
Um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua.
Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois
motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo
a não receber algo de alguém e nem depender de alguém." Diógenes, meu
cínico predileto. Só preciso do meu barril com wi fi. E um iPhone.
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