terça-feira, 17 de abril de 2012

Eu quero um barril com wi fi



Já repararam que quando você está com foco em algo  começa a ver sinais ? Por exemplo, se comprou um Fox vermelho, perceberá pela cidade que existe mais desse tipo de carro do que jamais pensou. Pode ser  coincidência, mas o psicanalista Jung fala em Teoria da Sincronicidade. 

Li um trecho de "O Homem e seus Símbolos". Ali Jung diz que muita coisa que a gente percebe da realidade é permeada por aspectos inconscientes. No início, a gente ignora o que está no porão da nossa mente, mas os acontecimentos brotam do inconsciente como uma espécie de segundo pensamento  e isso  é tão espontâneo  que pode aparecer em forma de sonho.  São aquelas “coincidências” que nos  deixa boquiabertos. Entenderam? Bem, é complicadinho, mas vale  a reflexão.
Esse preâmbulo é que, preocupada com o cheque especial, as contas e o meu “holerite”, passei a inocular a miséria e o coitadismo e mergulhada nesse meu dilema vi  uma notícia que me chamou atenção. É a  historia de um irlandês que conseguiu viver durante três anos sem nenhum tostão.  Nenhunzinho. – Ah, não acreditei. Fiz igual ao Crô da novela. Botei a mão na boca e disse: “não, para tudo, paraaaaaaaa”. Olha o sinal aí gente, eis a sincronicidade de Jung.
Na revista, Mark Boyle se mostra senhor de si. E pasmem, o homem sem dinheiro é um economista. Com  32 anos  quer convencer o mundo de que o dinheiro é supérfluo.  E se ele quer convencer o planeta, quer me persuadir também.  Invejei horrores esse  Diógenes moderno. Poderia ser meu guru,  até porque eu não teria muita bagagem para deixar para trás.  Digamos que um Corsa 1995 não é nenhuma relíquia.
Ele jogou tudo fora e foi morar num pedaço de terra na Inglaterra. Planta o que come e só de pensar que ele não semeia chocolate, já fico venerando este cristão. Se banha num rio perto de sua casinhola e utiliza a vegetação como papel higiênico. Deixou o “Snob” de lado.  Pelas fotos que vi na Revista Galileu e depois investigando em sites de ciências, Boyle é saudável, bronzeado e tem um corpaço. De forma alguma parece um ermitão de barba grande e olhos esbugalhados. Um “gato” ou talvez um tigre indomado.  Improvável que seja  parente da Susan Boyle.  A frase que lhe deu o insight a gente já viu em muitos Facebooks da vida e também nos status de MSNs. “Seja a mudança que você quer ver no mundo”.  Decidiu viver sua própria mudança e pensou: “se a raiz de toda a insegurança e medo do mundo é o dinheiro, o que aconteceria se me livrasse dele?”.
Aconteceu tudo.  Boyle se viu dentro de uma espiral de libertação que trocou seu nome para “Liberdade” em gaélico. Boyle garante que se o  mundo for para o brejo, a culpa é do dinheiro.  O Homem Sem Grana, virou manchete em todos os jornais e revistas do mundo. Mas para vocês verem como são as coisas, só agora me deparei com a história dele. No futuro, quer fazer uma comunidade que pensa igual a ele. Jura que terá adeptos.  “ Muitos querem saber como viver sem dinheiro, já que não têm dinheiro”, destaca o liberto. Eu sou uma .
O que me impressiona é a pecha que dão a quem quer quebrar os padrões vigentes. . A verdade é que a perplexidade em viver voluntariamente com pouca grana causa espanto e incredulidade.  Nossa cabeça simplesmente não aceita que as pessoas não querem o conforto, o sofá, o micro-ondas.  Não é de hoje que é assim. O personagem mais fascinante da história para mim é o filosofo Diógenes:  uns 400 anos antes de Cristo, ele  perambulava pela Grécia, morando dentro de um barril.  Não só desprezava os bens materiais como dizia  que toda fadiga é necessária para obter a realização. Se exercitar e cansar é o único caminho viável ao homem. Por isso peregrinava pela Grécia. Encontrava imperadores e fornecia cínicas. Por causa da sua língua, ficou sendo o pai do cinismo.  Diógenes, o cínico não era mau, incitava a ponderar.  Era um crânio anarquista. Só de ler as respostas que ele dava e a forma como pensava,  me arrepio. Dizia ser Diógenes, o cão, enquanto o rei era Alexandre, o grande.  Defendia a ideia de que os humanos deveriam aprender com os cachorros.  Afinal, um cão vive o presente sem ansiedade, aprende instintivamente quem é amigo e quem é inimigo e não faz estardalhaço sobre o lugar de dormir. Eu não consigo nem dormir fora da minha cama box e preciso de 12 laxantes quanto estou vem viagem. Preguiça intestinal era coisa que Diógenes mais odiava.
Um dia Diógenes foi visto pedindo esmola a uma estátua. Quando lhe perguntaram o motivo de tal conduta ele respondeu "por dois motivos: primeiro é que ela é cega e não me vê, e segundo é que eu me acostumo a não receber algo de alguém e nem depender de alguém." Diógenes, meu cínico predileto.  Só preciso do meu barril com wi fi. E um iPhone. 

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