sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Solitude” domina pub à meia-luz

O tema vem à tona em uma época em que o Censo revela ter quase quatro mil pessoas falando pras paredes. No teatro, a solidão evoca emoções dúbias: abandono ou autoconhecimento

Foto: Carolina Alberton Leipnitz



Uma livraria estilo pub vira movimento divulgador da arte. No palco, a solidão; na plateia, pessoas com mais de 30 anos e duas adolescentes. O tema gruda em quem atinge amadurecimento cronológico ou pessoas sensíveis à ponderação. Mas a solidão é um campo vasto que evoca abandono ou autoconhecimento. Em Lajeado, quase quatro mil pessoas vivem em lares compostos de uma só pessoa, segundo o Censo 2010. “Singles”, que adoram comida instantânea e vivem apressadamente, no ritmo da aceleração dos dias modernos.


Singles podem ser solteiros, separados e viúvos. Ou jovens que vão para outro país em busca de si mesmo. O texto do escritor lajeadense Ismael Caneppele, que hoje mora em Berlim, funcionou como pano de fundo para o pocket show de 50 minutos apresentado na Espazzo Livraria Pub nesta semana. A jornalista Laura Peixoto criou os esquetes baseada na solidão de duas irmãs morando juntas. Ela própria faz a irmã carola, e a atriz Monica Kirchheim dá vida àquela que está entrevada em uma cadeira de rodas. Ambas passam a vida esperando alguém. Enquanto aguardam, implicam entre si: “Padre Hermann não vem mais aqui trazer as hóstias”. A outra retruca: “Também, da última vez você disse que elas estavam azedas”.

Persiste um sorriso na plateia compenetrada. A melancolia misturada ao bom humor, na penumbra do pub, evoca um clima intimista.

“Quando a gente se debruça sobre a solidão, percebemos  o quanto essa privação faz parte da condição humana”, pensamentos da jornalista que abundam na mente, blog ou redes sociais.

Atores singles

Paulo Arenhardt encena o homem que lê. Personagem que abre a cena em uma mesa, acompanhado de um copo de vinho. Com 57 anos e separado, o advogado faz da solidão um exercício. “Tenho vários dias de solidão e é uma ocasião de grandes reflexões e de crescimento de alma. Não sou deprimido.”

Na banqueta ao canto, o artista plástico Alessandro Cenci (38) dá o tom da música. Violão, voz e solidão: “Só eu sei as esquinas porque passei”. Cenci mora sozinho porque acredita que a solidão é um processo criativo. Não há drama na vida single. Quando o homem perceber que a solidão é inevitável, transforma o modo de encarar a realidade. Caneppele, que emprestou seus textos ao pocket show, metamorfoseou o sentimento no outro lado do oceano. E por meio do teatro trouxe a mensagem: “não há necessidade de fotografar a solidão. Ela é sempre o melhor registro”. No fim da peça, os flashes espocaram.

domingo, 20 de novembro de 2011

Bloco do "eu sozinho" cada vez aumenta mais

Mais de 14 mil pessoas no Vale tem apenas as paredes como companhia. Você não está sozinho nessa multidão de gente só.  A maré está para solidão, que não devora, se você souber usá-la como sua parceira.

Na região, 14% dos lares são compostos por uma pessoa só. Em Lajeado, o índice sobe um pouco, 15%. São 3.744 almas. Sozinhos sim, solitários, há controvérsias. São dados do IBGE. Mas o que querem esses humanos? Comida congelada, lazer e paz.  Os singles são apressados, tudo tem que ser feito ao mesmo tempo agora.
Em Lajeado, apartamentos de um dormitório são os mais alugados. Há pessoas que alugam com dois quartos para abrigar o animal de estimação. Com o avanço salarial, os singles se dão ao luxo de alguns confortos.

Solteirona, eu?

As mulheres ampliam o bloco do eu sozinho, seja pela separação, por trabalho ou pela simples opção de ser única na casa. Pode ser bom, ruim ou mais ou menos. Depende do ângulo para o qual se mira, do tipo de solidão em que a pessoa mergulha e da percepção que ela tem dessa própria solidão. Mas algo está visivelmente caindo por terra: o estigma da “solteirona” que não casou e se refugiou em seu próprio mundo.
O psicólogo Sérgio Pezzi salienta que esse estereótipo vem sumindo. A obrigação de estar sozinho foi trocada pela opção. “Como as mulheres ganham mais espaço no mercado de trabalho, com poder aquisitivo crescente, elas optam por morar sozinhas e questionar o tipo de relacionamento que querem.”
O fato de morar só não significa que a pessoa não tenha capacidade afetiva, mas revela um movimento cada vez mais na moda: o individualismo.


O mercado está para o single


Os supermercados estão preparados para receber o cliente que vai às compras sozinho. Meia dúzia de ovos, frutas divididas, embalagens com unidades menores. A paulista Sandra Regina Gonçalves Villasboas conhece os dois lados da moeda. É single e gerente de supermercado em Lajeado. Conquistou o cargo há dois meses e não se fez de rogada, saiu de São Paulo para vir morar em hotel. “Eu estou sofrendo com porções grandes. Como não tenho geladeira, um litro de leite é muito”, brinca, falando da impessoalidade da sua moradia. Psicóloga por formação, Sandra é bem resolvida com sua solidão. O tempo livre lhe propicia a pensar e repensar suas relações. Está escrevendo um livro e internalizando o modo único de viver. “O single sempre existiu. Mesmo em grandes famílias você pode se sentir sozinho, e você pode estar sozinho e se sentir completo.”
A multidão da rua dilui o bloco do eu sozinho: mas 15% dos lares falam às paredes

sábado, 19 de novembro de 2011

Quem não tem está louco!

A loucura me vem seguidamente à cabeça. É inerente. O estigma de "louquinha" combina com o meu brinco, com a minha calcinha seja ela de que cor for. A loucurinha é uma ingrata atrevida. Assiste televisão comigo, teima em digitar meus textos junto ao computador de trabalho.

 Eu sinto o cheiro do seu desodorante. Eu escuto a sua música. Ela gosta de Raul Seixas, Camisa de Vênus (não o preservativo gente, uma banda dos anos 80) e de Bidê ou Baldê. A loucura amiga minha chuta o balde. Eu às vezes fico louca quando ela encarna em mim. Eu sou uma louca que não pensa que Deus sou eu. Eu sou uma "louca" que queria ser sã. Sei que parece ser legal não se encaixar, pensar diferente. Mas pôxa, todo tempo assim você se sente uma "outsider". Ser estranha no ninho todo o tempo é se sentir rejeitada. Talvez se eu morasse em Porto Alegre, eu frequentasse o mundo dos "guetos", das pessoas alternativas. Talvez eu me esbaldasse numa daquelas boates lesbicas. Nem sair de casa eu faço, parece misantropia, mas não é.

A loucura é uma espécie de redenção. Fala a verdade, vai. Você se sente todo importante quando alguem diz: você é louco. Você se acha ousado, atrevido, você não se encaixa porque você se sobressai. Mas as vezes cansa, porque quando você passa de louquinho para "pôrraloca", aí o caldo engrossa.

O seu Oswaldo, CEO do Informativo, o Deus que manda e desmanda nesse jornal e até pode me dar uma bronca por essa crônica, costumava me apresentar assim para as suas visitas: "essa guriazinha toma sopa de garfo. Mas aqui é assim, nesse jornal a gente tem que ter os equilibrados e os louquinhos que é pra contrabalançar."

Agora ele não me chama mais de guriazinha, mas o resto continua igual. A Carine que é a CIO do jornal, isto é controla a informação e a edição - me estabiliza dizendo que eu sou louca no bom sentido. Ela garante que até gosta do meu jeito. Mas por via da dúvida, exige que minhas matérias sejam impreterivelmente relidas pelo Ermilo, que é o CKO, um sujeito chave nas consultorias (da redação, pelo menos). Na verdade, é o editor de Geral.

Loucura, loucura, loucura, diz Luciano Huck. Loucura é uma coisa que quem não tem só pode ser completamente louco, diz a escritora Adriana Falcão. Loucura é bom, ruim, ou assim assado. Os loucos gritam quando são contrariados. Eu falo alto com uma convicção que não tenho, mas como os outros compram a ideia, eu continuo agindo assim. Dá certo. As vezes eu penso que estou ficando louca de verdade. Me desfragmentando de mim. Eu me sinto enlouquecendo e bate um medo terriível. Mas meu psiquiatra me tranquilizou: "o principal sintoma de que você não está enlouquecendo é pensar que está."

No fim, que não é louco não pode ser muito certo. Tenho prá mim que somos tods
F na CID 10 da saúde. CID é a lista internacional de doenças. NO F estão os transtornos mentais e comportamentais. Sou F31. Imaginem que transexualismo é considerada doença mental, pois está na CID 10 como F64.

Eu desconfio de que alguns políticos sejam F63.2 A CID-10 assim define a cleptomania: “falhas repetidas em resistir a impulsos de roubar objetos que não são adquiridos para uso pessoal ou ganho monetário. Os objetos podem, ao invés, ser jogados fora, presenteados ou armazenados.”. Hum, pensando bem nao é a definição certa. Mas para safadeza, não existe F. Sou louca, então!

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Trote apressado

A pauta era em plena "madrugada" de domingo. Acordar às 6h para estar as 7h em Arroio do Meio em tempo de trotar na "caminhada contemplativa". De tênis e com cara de sono, desço emburrada as escadas de casa, porque afina é domingo e eu não coloquei o despertador. Resultado: equipe em frente da minha casa a me esperar.
Quem afinal inventou a ideia de uma caminhada na madrugada de domingo? Pensava eu beiçuda. "Se tiver três pessoas nessa caminhada eu grito". Perderia o sono e a pauta.
Qual não foi minha surpresa quando avistamos no interior de Arroio do Meio mais de cem "atletas". E o prefeito, lépido e faceiro, de tênis, aguentou o tranco de quatro quilômetros.
Surpreendeu-me a disposição dos mais velhos. A turma dos sessenta, setenta, estava muito mais entusiasmada do que os alunos. Eu me dei conta de que os vovôs estão adotando bons hábitos, são os jovens que estão desleixados com o que comem, bebem, ou agem. Mas todo mundo quer ser magro. Eu sou a rainha do ócio, mas naquele momento, queria caminhar os quatro quilômetros. Queria. Eu juro. Respirar frescor e olhar as vaquinhas vindo em nossa direção, todas curiosas com aquele "plantel" de gente. A caminhada nada tinha de contemplativa. Eles nem notavam que estavam em passo apressado, acostumados estão a fazer exercícios diários. Senti inveja e vergonha. Pela primeira vez em muitos anos pensei em acordar sempre assim tão cedo e caminhar. Eu consegui assimilar o prazer dos caminhantes.
Meu colega Rodrigo também. Ele percorreu cem metros, ficou se achando com a "qualidade" de sua performance. Sentou no carro e veio com essa: "nossa, eu já sinto que estou liberando endorfinas. Estou sentindo aquele prazer que os atletas sentem no fim de cada exercício." A risada foi geral. Clube da endorfina em ação.

sábado, 12 de novembro de 2011

Costa larga e pouca "voglia"

Venho observando duas vertentes de defesa e um dilema: há quem não entende gente que defende os animais e não defende crimes contra crianças. De outro lado, estão os defensores de animais que fazem alarde, se organizam, as vezes saem mais cedo do trabalho para protestar diante do Forum. Eles acabam ganhando espaço na mídia porque se mobilizaram, tiveram vontade de agir, mandam e-mails marcando encontros, ligam para confirmar o ato. E no fim, levam animais que - queria ou nao- dão força a ação.
Eu poderia defender os ativistas porque compreendo seu amor pelos bichos. Mas também compreendo o amor por gente. E compreendo a ausência de manifestações contra a crueldade humana.
Mas vou falar o óbvio que é ululante. Nos ultimos tempos, ativistas estão mostrando poder de organização. Parecem muito mais unidos. Parecem menos preguiçosos porque lutam realmente por uma causa. Cumprem a promessa de se fazerem presentes nos locais. É um protesto forte, honesto, esperto e simpático.
Queria muito que as pessoas que não entendem as ONGs fizessem o mesmo. Por exemplo, quando lerem no jornal sobre um estupro, queria que fossem à frente das delegacias. Falar dos outros é facil. Dificil é fazer o que os outros fazem. O errado é sempre o cara do lado. Se os ativistas tem o poder de se unir, porque não criar Ongs de humanistas? De protetores de crianças? Eu não estou falando em fazer trabalho voluntário uma vez por semana em uma instituição de caridade. Eu estou falando em arregaçar as mangas.  Por que ninguém se mexeu quando um homem que estaria condenado a 46 anos de prisão por ter estuprado durante 13 anos as 3 filhas foi "absolvido"? Alguns vão dizer: mas eu nem li no jornal..Mas estava lá, em letras garrafais. Saiu muito na imprensa. Ninguem fez nada. Não houve protestos, não houve um ai sequer. Ninguem nem postou sua indignação no Facebook.
O que eu estou vendo ultimamente e que eu tenho medo é que com as manifestações contrarias aos ativistas, eles nunca mais se manifestem. Aí, nao vai ter defensor nem de humano, nem de animal. E ai tera gente que diz: como o povo é leso, não se manifesta por nada. É muito pacífico!
Lajeado tem 72 mil habitantes. Deve haver uns 200 ativistas na cidade (estou exagerando,  tem menos). Isso significa que sobram mais de 71 mil pessoas para protestar para os humanos. Vamos tirar a população nova: vamos colocar umas 30 mil pessoas. Então, 30 mil pessoas podem muito bem fazer um big protesto. Eu nunca vi nem dez se mobilizarem por estupros, exceto as mulheres do Outubro Rosa que o fazem pelo câncer de mama e alguma entidade que faz algo pela barranca do rio.
Mas então, cadê as 30 mil pessoas que poderiam estar nas DPs??? Quando lerem outro estupro no jornal, poderiam se mobilizar. Levar faixas, cartazes e bonecas (em menção a crianças com a infancia interrompida). E se tivesse a presença de empresários, engenheiros, médicos, arquitetos, mulheres da sociedade, o ato seria ainda mais valorizado. Tenho certeza que renderia manchetes, fotos, entrevistas ao vivo em radio, capa em jornal. Mas protestar no Facebook, blogs, orkut, twitter, ah isso não né. Isso nem é tirar a bunda da cadeira.

11 na cabeça

 Uma rara conjunção de números faz esotéricos, numerólogos e os nativos de escorpião se voltar a esta sexta-feira: 11/11/2011. Quando o relógio cravar 11h11min, o fenômeno vai se tornar a ocorrência mais incomum . É preciso esperar cem anos para que ocorra novamente. Para muita gente é só uma coincidência do relógio e dos astros. Mas alguns acreditam numa data de significados.

Mas  existe uma historia muito bacana que aconteceu com nativos de 11 do 11. Envolve Mariano Rodrigues e a nutricionista Ana Paula Dexheimer. Os dois nasceram há 37 anos no mesmo hospital e foram “trocados” na maternidade. É um fato que ambos relembram com bom humor e contam nas rodas de amizade. Ana Paula estará mudando de idade pontualmente às 11h30min - 19 minutos após a hora emblemática. Ontem, os amigos se reuniram para contar a história que relatam há anos quando as mães - Lory e “Lora” - foram para a maternidade em 11 de novembro de 1974.

As duas gestantes se conheciam, mas uma não sabia que a outra estaria no hospital. Ana Paula nasceu antes, mas foi Mariano que mamou antes no peito da mãe de Ana Paula. Levaram o menino para Lora. “Ele tomou o meu colostro, tem uma dívida eterna comigo”, brinca a nutricionista. O episódio poderia ter parado por aí. Acontece que os bebês cresceram: Mariano se casou uma semana antes de Ana Paula. E foi marido da melhor amiga da nutricionista. “Fomos colegas de catequese e fizemos junto a Comunhão”, informa Mariano. “Nós sempre brincamos que somos irmãos de leite.” Com personalidades expansivas, mas possuindo fortes ponderações, a censura rola solta quando um amigo contradiz o outro. “Nativo de 11 do 11 não faz isso”, admoesta Ana Paula.

Para Mariano, que não acredita em numerologia, nem em celebrar aniversários, o fato os uniu. Hoje, Ana Paula dá aulas de artesanato na sua loja.

Amor marcado pelo 11

Patrícia e Jorge Andres sobem ao altar hoje à noite. O casal de empresários convidou os amigos para festejar a data especial, justamente porque o 11 é onipresente na vida deles. “Só não fizemos a cerimônia às 11h da noite porque seria muito tarde para os convidados”, brinca Patrícia. O casal estrelense se conheceu num dia 11 e fez o casamento civil dia 11 de outubro, às 11h. “Escolhemos a data em função de que tudo que fizemos tem 11.” A sincronia do casal com o número provoca curiosidade e, para eles, um futuro cercado de boas vibrações. “Só faltava não dar certo”, diz a noiva, que é enamorada de sua cara-metade há quase 11 anos.

Ontem, o 11 deu a prova persecutória sobre o casal. Ao selecionar a fotografia que ilustraria a matéria, Patrícia apontou para um retrato em especial e pediu à fotógrafa: “Envia esta”. A profissional sorriu e exclamou: “Adivinhe o número da imagem: 111”.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Telhado de vidro

Às portas de novembro, as roupas encurtam.  Eu prometo um baita streap-tease. Essa nudez será verborrágica

.  Descarto de antemão também o compromisso de me fixar em opiniões eternamente imóveis. Sei que ao escrever, minhas palavras poderão ser usadas como munição no futuro. É tácito, aqui entre nós, mudo de ideias, mas nao de princípios. E eu adoro quando acende uma lamparina na minha cabeça que me indica que é hora de mudar de ponto de vista. Dá uma sensação de progresso. E mesmo quando eu volto atrás, parece que avanço um passo a frente.

Olha só, gente. Eu vou divagar. Mas não devagarinho. É certo que quanto mais a gente pensa, mais palavrinhas saltitam pela nossa cabeça. Eu  estou me propondo a exercitar o meu portal da transparência. Estamos tão acostumados a usar a maquiagem social, que sofremos por não mostrarmos o que vai na alma. Este será o meu teto de vidro e eu tenho medo disso. Mas quero fazer, porque quero testar minha coragem de ser eu. Nós cometemos tantos erros em nome dos extremos ou tentando acertar a mão. As vezes esticamos a corda falando demais, cometendo o "sincericídio". Em nome da franqueza, e porque nos achamos "honestos", detonamos o outro.

E eu creio que olhar para si, encarar teus medos, erros, teu mutismo ou tagarelice interna é uma forma de fazer emergir a lucidez. Se revelar nem sempre é cômodo. Nunca é. Tirar a blusa, a calça, o suéter é relativamente fácil. A proposta é despir a alma. Afinal tudo que traz honestidade significa enfrentamento. Este é um strip-tease que não ousamos com o marido, o parceiro, o amigo. Quanto muito, com o terapeuta ou psiquiatra. Mas não é para eles que temos de ser sedutoras ou sedutores. Este é um strip-tease que nem J.R Duran ou qualquer outro fotógrafo da Playboy poderá retratar. O clique é meu. É seu!

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Cordeiro excluído

Antes de descer, corpo é negado quatro vezes

Família de vítima vai à Justiça para transferir morto ao cemitério católico. Empresário foi separado do túmulo da companheira por ser luterano


Poço das Antas - O corpo de um cristão, um dilema religioso e a imprensa em cima. O caso passaria em branco não houvesse sucessão de coincidências para dar holofote ao sepultamento de Irineu Wasen, sexagenário que na hora da morte sentiu a rejeição de não estar no rebanho certo. Pelo menos no momento derradeiro.
Vítima de um acidente na BR-386, morreu durante o Feriado de Finados. O episódio vitimou ainda sua companheira Eunice Ely e a sogra Carmelita Ely. Pelo número de mortos, a tragédia recebeu atenção dos veículos de comunicação. Mas foi o funeral que causou repercussão. Irineu foi rejeitado quatro vezes. A luta para enterrar o morto foi angustiante e cansativa, relata sua irmã, Ana Lisete Windberg

Irineu Wasen era luterano e morava na capital. Mantinha em dia a mensalidade da congregação em Porto Alegre. Uma série de fatores o tornou “excluído” do rebanho divino. Inicialmente, desejavam enterrá-lo junto à mulher e a sogra no cemitério católico em Poço das Antas. Os familiares tiveram de bater em cinco “portas” até que ele fosse sepultado.

Em busca do “campo santo”

Na primeira vez em Poço das Antas, o padre negou por Irineu não ser católico. Na segunda vez, novamente em Poço das Antas , foi recusado pelo pastor por não fazer parte da congregação.

Na terceira vez, familiares dizem que Irineu foi negado pelo prefeito de Teutônia. Por não ser do município. Logo depois, teria aceitado autorizar o enterro diante da liberação do Ministério Público. Desta vez, teria sido a promotoria a engrossar o impasse.“A promotoria não autorizou alegando que ele não era munícipe”, conta a irmã do empresário, Ana Lisete Windberg, que mora e trabalha em Teutônia.

A quinta porta de Deus foi aberta e o empresário conseguiu ser sepultado: no cemitério evangélico em Linha Clara, interior de Teutônia, junto aos avós. A negociação do enterro teve o auxílio do presidente da comunidade Ariberto Magedanz “Conseguimos a autorização ao meio-dia de quinta-feira”, frisa Ana.“Foi desgastante e até humilhante, passamos a madrugada ligando e negociando”. Às 14h, o caixão do empresário foi colocado no jazigo dos ancestrais.

Na Justiça

Os parentes velaram os mortos absorvidos pelo desgaste de um dilema religioso. Ontem, algumas horas após o funeral, se mostraram indignados e vão levar o assunto adiante. Ana diz que vão procurar a Justiça para sepultar o irmão no cemitério católico, junto com companheira com a qual viveu durante 25 anos.“Eles se conhecem desde pequenos. Uma vida toda juntos e agora estão separados.” Segundo Ana, o casal acreditava na vida eterna e buscava isso na religião. “ Eles era muito religiosos, praticavam o bem e eram pessoas do bem. Pagam seus impostos como um brasileiro, honestos, e agora nesse momento de requerer um direito que a própria constituição lhes dá é negado.” Ana está inconformada pela separação em morte do pai e sua companheira. “Deus não é um só para todos?”


Para Bispo houve “falta de experiência”

O bispo emérito da diocese de Santa Cruz do Sul, Dom Sinésio Bohn, opina que a recusa tanto de padre quanto de pastor tenha sido ausência de experiência. “Falta de treinamento com a sociedade pluralista.”

domingo, 6 de novembro de 2011

Farra filosófica de fim de semana

Schopenhauer me absorveu tanto. Bebi da melancolia dele durante toda a madrugada e não conseguia parar de lê-lo.To me sentido tão lúcida. Uma vida feliz é impossivel, o maximo que se pode ter é uma vida heroica. A vida é uma sucessão de perdas e vai piorando cada vez mais até o pior acontecer. E a morte brinca um pouco com sua presa antes de abocanhá-la. É sempre assim. A lucidez só existe na tristeza. A poesia é perfumaria, é maquiagem social. É museu de cera. E a felicidade não só não existe, como desejá-la é para as almas rasas. É muito pouco desejar ser feliz. Todo mundo quer. O que ninguém consegue é ser sereno.
E que mal há na dor da vida? Olha só..se tu pensar pelo ponto de vista da eternidade, fingir durante uns 80 anos neste muito é muito pouco..

Creio que não era isso o que Spinoza quis dizer quando concebeu a tese "sub specie aeternitatis" (sob a perspectiva da eternidade). O homem comum vê as coisas no tempo, a partir das suas percepções, recordações e imagens, visando objectivos egoístas.  O sapiens abdica do carácter fortuito das coisas e interpreta-as a partir de Deus, na necessidade e eternidade que lhes são próprias.

Espinosa demonstra que a parte eterna da mente consiste no intelecto, cujas idéias representam adequadamente a realidade sob o aspecto da eternidade : “quanto maior é o número de coisas que a mente conhece pelo segundo e pelo terceiro gêneros de conhecimento, tanto maior é a parte dela que permanece ilesa”. 
Todas as idéias da parte eterna da mente, ou seja, do intelecto, nos permitem conhecer aspectos eternos, necessários e imutáveis da realidade.
(http://www.revistaindice.com.br/4marcosgleizer.pdf)


*** Spinoza ainda é demais prá minha cabeça. Em um fim de semana só eu misturei a impernanência do budismo e a realidade eterna de Spinoza.É  ainda encontrei Schopenhauer nua e cruamente sã. Um chopp para Tio Schop, que eu adoro e compreendo. 

Por que há de se orgulhar o homem?Sua concepção é uma culpa, o nascimento um castigo, a vida uma labuta e  a morte, uma necessidade! (Schopenhauer)



Me deseje merda do fundo da tua alma!

Segunda-feira passada foi minha estreia no Pitonicas do jornal O Informativo. Ganhei uma coluna e estou me sentindo a Martha Medeiros do Vale. Até fiz pose parecida. Escrevi tanto que atochei de texto a coluna. Não tive audiência, até eu passei batida pela página na primeira vez que folheei o jornal. Não me contive, murmurei um palavrãozinho.

Aquele básico - vou afrancesá-lo para não chocar você, meu caro leitor, embora esteja crente de que o escute pipocando nas filas de banco. "Mérde". Aliás esse termo no teatro é muito
bem vindo. É uma expressão que os artistas utilizam antes de entrar em cena.
É uma saudação de boa sorte. Não fique "p da vida" se ler nas redes sociais
algum amigo seu que vai encenar uma peça receber o veredicto: "muita mérde
para você". É bom presságio. E se você desejar isso a ele, estará na crista
da cultura teatral. O ator não irá retribuir seu "mérde" com um "obrigado".
Ao contrário, vai desejá-lo a você também.
Uma das explicações para a origem do termo é que antigamente, as pessoas iam para o teatro de carroças. E os cavalos faziam cocô nas calçadas. Assim, quando mais resíduos ali no local,
mais a casa estava lotada. Estrume fora, sucesso dentro.

Fora, o teatro, não disparo tantos palavrões. Mas sou a favor de emiti-los
em determinados momentos. Me desculpem os super-hiper-mega controlados, mas
sair do eixo às vezes é fundamental para manter a sanidade. Chutar o pau da
barraca, descer dos tamancos, berrar atrocidades é legal prá caramba.Bradar
PQP de vez em quando é um método terapêutico. É barato e eficaz. Eu faço
muito isso em trânsito. Se você estiver na minha frente atrapalhando o
tráfego, sinta-se insultado. Como motorista que "trabalha" suas neuras no
trânsito, disparo uma série de palavras inomináveis.
Descobri que soltar palavrão é bárbaro porque depois de alguns minutos, você nem lembra mais do
motivo que lhe fez rugir dessa maneira. Está tão ocupado em "achar" mais
adjetivos para o cidadão, que o motivo da raiva some e você quer brincar com
sua criatividade inventando mais palavras de baixo calão. Começa com os
palavrões mais comuns: Otário, Ôrra meu, FDP. Quando dá conta, está
inventando variantes.

A um tempo atrás, uma pesquisa registrou os dez palavrões mais utilizados. E
pela lista você percebe como o membro masculino é requisitado para curar o
"problema". A palavra mais dita começa com C. Aí você troca alhos com
bugalhos e manda ver no palavrão. A segunda mais proferida é sinônimo da
primeira. Ôrra meu, tanta gente lembra disso o tempo todo.

O reduto do palavrão é a partida de futebol. Você até desliga do jogo para
prestar atenção ao palavrão do cara ao lado. Ele consegue o cúmulo. Xingar o
juiz com um novo e criativo "palavrório". Todo mundo ri. É uma terapia em
grupo. Tão boa quanto o gol. Oléeee! Xingar é um ato de descarregar uma
raiva curta e momentânea. Serve para tirar o stresse. As vezes os piores
palavrões são nossos melhores amigos. Se não fossem eles, os consultórios
psiquiátricos estariam ainda mais abarrotados de gente. Haja dinheiro para
pagar tanta consulta. Na hora de desembolsar, seria inevitável soltar o
verbo: PQP!

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sexo casual dá confiança a eles e detona a auto-estima delas

Mulheres que procuram sexo casual como forma de sentirem-se mais bonitas e confiantes frustram-se no dia seguinte. Para os homens, uma noite de amor sem compromisso eleva o ego e a fama de conquistador.


A amizade colorida sempre existiu mas nunca esteve tão na moda. As baladas noturnas são a senha para relacionamentos sexuais de uma só noite. O sexo sem compromisso populariza-se cada vez mais entre as mulheres, que abrem mão do romantismo em favor da libido.Sem cobranças ou sentimentos, elas vivenciam experiências fugazes, de poucas horas e sem apego. Mas o arrependimento “pinta” no dia seguinte. É o que revela uma pesquisa conduzida por uma psicóloga inglesa Anne Campbell. Ela analisou o comportamento de 1743 homens e mulheres nas manhãs seguintes às relações sexuais casuais, na Grã-Bretanha. Os resultados mostram que 80% dos homens avaliaram o encontro de maneira positiva enquanto só 54% das mulheres julgaram o ato benéfico. A pesquisa revela que depois do sexo, eles demonstraram maior satisfação sexual e autoconfiança. E disseram que gostam de contar aos amigos sobre suas experiências. Já elas informaram se sentir usadas e decepcionadas e ainda se preocupam com a conseqüência da reputação. A pesquisa reflete o pensamento de homens e mulheres da região. No Vale do Taquari, as baladas pipocam nos finais de semana. Sair, flertar e emendar um bate-papo com uma pessoa interessante pode significar um convite ao prazer. O locutor C.R , 29 anos, de Lajeado, fez sexo casual com mais de 30 mulheres. Alto e atraente, as conquistas sempre foram fáceis para ele. Diz que o sexo sem compromisso é uma forma de levantar a auto-estima masculina. “O homem gosta de contar para seus amigos e isso eleva o ego”. Concorda com o estudo quando trata-se de analisar o sentimento feminino. “Acredito que as mulheres frustram-se, porque elas sempre esperam algo mais do homem.”
Dar de "prima", eis o dilema que se Shakeaspeare fosse vivo, reformularia a pergunta: "dar ou não dar? Eis a questão....

**** Quando a vontade vem, vem com a mesma força. "Uma pesquisa revela que em cerca de 30% dos primeiros encontros já acontece uma relação sexual. Em 25%, ocorre entre segundo e terceiro encontro!

Grupo frequenta cemitério para conversar

Os jovens inovam e renovam locais que antes eram conhecidos pelo ar lúgubre. Em tempo de Finados, fica a dica dessa galera descolada. Mas se a moda pegar....Faca na Caveira!


A árvore que produz sombra à sepultura de Waldo Jaeger, enterrado na década de 1940, alimenta a conversa de um quarteto que todas tardes, encontra-se no cemitério evangélico de Lajeado. Localizado no Centro, o local é murado, mas o portão de ferro entreaberto é a brecha para acolher quatro jovens.. A faixa etária varia entre 15 e 17 anos, o estilo de vida é uniforme: típico “Carpe Dien” (aproveite a vida) de uma forma rebelada. Nenhum estuda, todos amam música e bares, de preferência alternativos e gratuitos. Lucas é o extrovertido da turma: ele quem designou “Waldo” como protetor do grupo. Alojados a beira do túmulo e resguardados do sol, bebem refrigerantes e fazem o lanche. “Eu não tenho medo de gente morta”, salienta Priscila. Dois piercings no lábio, um no nariz e um no bridge (entre os olhos), seu perfil roqueiro se molda ás tribos urbanas que povoam as grandes cidades. “Gosto de aproveitar a vida.” Sair, conversar com os amigos, ouvir ACDC e Ozzy Osbourne. Não é adepta da televisão porque MSN, redes sociais e cemitério lhe ocupam o tempo. Toca guitarra e bateria, mas não gosta de rótulos. “A gente não segue um modelo, não temos um padrão.”

A turma rejeita estigma de góticos, cult ou emos, muito embora seja mistura de todos esses e outros tantos. A descontração e risadas impera entre os túmulos, mas a bagunça não. A zeladoria liberou a entrada desde que mantenham o lugar organizado. “Aqui é como a casa da gente. A gente conversa e toma refri”, expõe Lucas, sempre disposto ao sarcasmo e ao bom-humor.

O quarteto optou por encontros no cemitério por discrição, embora a iniciativa tenha saído pela culatra. “Não temos muitas opções para ir. E não queremos nos misturar com outras pessoas.” A lógica foi estar entre os mortos. Há quatro anos ocorreu a primeira reunião no cemitério no Bairro Florestal. Por questão de geografia, a turma migrou para o Centro. “É aconchegante”, diz uma voz sentada sobre Waldo. Em função das depredações das lápides porque há baderneiros que violam sepulturas a noite, o local ganhará câmeras. Não é algo que atormenta o grupo, que após a visita, arrecada o lixo produzido nas horas de conversa. “Vamos para o Galera”s à noite?”, indaga Priscila. A turma concorda. Mas a tarde é do Waldo.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Polêmica laringe abaixo!

O  episódio lulista abriu a "glote" do brasileiro: agora todos viramos maniqueistas sem saber que o somos: a primeira corrente quer Lula se tratando no SUS. Decerto é a população que  precisa da saude publica, enfiada guela abaixo e sentiu na pele a tal expressão: "esse ai entrou para o sistema." O sistema é o labirinto do Minotauro: quem entra não sai tão fácil.
Outra corrente preconiza que aqueles que querem Lula no SUS são hipocritas: estão mandando o ex-presidente fazer o que nem eles fariam se tivessem dinheiro. Odeio meio-termo, mas concordo com os dois lados.
Não creio que os primeiros estão fazendo piada tosca com a tragédia de alguém. Na verdade, se assim o fosse, teriam lançado campanha para José de Alencar também ter se tratado no Santa Casa em vez do Sírio LIbanês.  O que eu penso é que  o que o pessoal que entrou para o sistema quer é um último grito de ajuda de Lula. José de Alencar nunca teve tanto crédito com a população. O povo nunca achou que o cara iria nos salvar.Portanto, nem se dignou a fazer campanha pró-Sus para ele.  Lula ainda pode, mesmo na sua tragédia ajudar a gente. Acho que ninguém quer que Lula sinta na pele as mazelas "susianas", mas que ele ligue para Dilma e peça, com a mão de quatro dedos em riste: "Companheira, estou convencido de que nada será digno o bastante se você não melhorar nosso sistema. Agora eu vi, Dilma. Eu senti que precisamos melhorar". Quando o pessoal do SUS pede para o Lula entrar no sistema, não está querendo tripudiar da tragédia. Está querendo que os grandes olhem e orem por aqueles que não podem pagar o Sirio Libanês.
Da mesma forma, concordo com aqueles que dizem que é hipocrita esse tipo de campanha. É obvio que se eu tivesse cem mil reais no banco iria tratar  no "sistema único particular. Todos faríamos. Mas os intelectuais como Dimenstein deveriam compreender o que move essa aparente falta de "empatia" com a doença de Lula não é bestialidade. É desamparo. O buraco é mais embaixo. É um outro tipo de elemento cancerígeno causado por roubalheira política. É um protesto contra  a política corrupta e a falta de sensibilidade do grande escalão.
 Para não ficar em cima do muro, vou deixar minha opinião: eu quero que Lula se recupere no Sírio Libanês e depois de convalescer faça campanha para um SUS Plus. Afinal, Lula é brasileiro, e não desiste nunca. E eu acho que nem nós deveríamos desistir de berrar por nós mesmos. Afinal, câncer de laringe só é causado por tabaco e álcool. Não por protestos.

domingo, 9 de outubro de 2011

Personagem de rua

À sombra da praça

Às 15h30 da tarde a Praça da Matriz não é lugar de criança. Ocupam  brinquedos e bancos prostitutas que negociam o prazer, sujeitos que abraçam garrafas de cachaça, dependentes químicos ávidos pela nicótica, álcool e a pedra madita,  crack. A praça, em frente ao colégio, não acolhe qualquer estudante. Não há um fio de vida jovem saudável nela. Defronte está o setor de inteligência da Brigada Militar. Policiamento ostensivo. O nome não ostenta qualquer confronto. Policiais militares cruzam o local, conduzindo-se altaneiros fora da praça, nem com o “rabo” do olho notam os personagens locais. Disfarçam. Ali, Júlia Teresinha Semler (40) disfarça o tom da vida. Em latim, o nome de batismo indica alguém cheio de energia. Não é assim com Julia, a “Neca” da Praça da Matriz.  Há algum tempo, deixou de morar na rua. O marido e a irmã lhe resgataram dos becos e do coreto da praça para abrigá-la em uma casa no Bairro Hidráulica. Foi, mas não cessou de fumar a pedra da ilusão. O crack a atormenta há quatro anos. “Eu penso o que está havendo com minha vida. Eu não tenho forças, não consigo ir para frente”. Neca chora.  Conhecidos que avistam a cena do outro lado da praça, gritam: “Não te abala, Neca.” Mas Neca, pensando ser sarcasmo, porque na vida de rua nada é de verdade, rebate sem pensar:  “Vai, meu”. O verde, a sombra das árvores, a imagem de certa forma limpa e aprazível da natureza lhe da esperança. É ali que espera por uma internação. “Estou para me internar, estou esperando vaga na fazenda”.  Quando Neca fala, uma janela se abre nos lábios. Pelo menos quatro dentes sumiram do dia para noite. Ela não sabe em que momento os perdeu. “No outro dia levantei, fui olhar na boca e os dentes não estacam mais. A ponte caiu porque eu estava muito drogada.” Neca não furta, pede. Neca não se mistura com os dependentes da praça ou da ciclovia. Mantém sua privacidade no anonimato da área de lazer.


Publicado em setembro no jornal O Informativo do Vale

 Há tempo não conversa com as duas filhas que estão sob os cuidados de uma instituição.  Sem dente e sem documento, reza todo o dia para deus lhe ajudar.  Neca tem medo que o crack seque seus pulmões. “Eu estou esperando (uma vaga). Uma hora eu vou morrer.” Não faz o estereótipo do viciado abusado, amoral e sujo. É desleixada, mas educada. “Aqui todo mundo me adora”. E se apega a esse fio de orgulho como se fosse a ultima autoestima de sua vida.  Na praça, ela permanece do meio-dia às 17h. Diz que se ficar em casa pensa bobagem.  Ali, pelo menos durante cinco horas, seus pensamentos não sejam tão dolorosos. Mas ela sabe que isso também é ilusão, como também o é o prazer ilusório da pedra. Percebe que precisa de mãos que lhe agarrem e se agarra em qualquer estranho que possa representar auxílio. “Se vocês conseguirem uma internação para mim...” 

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Duas capangas grudentas

"Paro e me apoio na balaustrada e meus pensamentos se tornam sombrios. É então que as duas me encontram. A depressão pela esquerda, a solidão pela direita. Sequer precisam mostrar seus distintivos. Pergunto a elas?
- Como vocês me encontraram aqui?
A depressão, sempre bancando a esperta, diz:
- Como assim, você nao está feliz em nos ver?
A solidão, a mais sensível das duas, diz:
- Desculpe, mas talvez eu precise seguir a senhora durante a viagem. É minha missão.
Então elas me revistam. Esvaziam meus bolsos de qualquer alegria que eu tivesse carregado até ali. A depressão chega a confiscar minha identidade, sempre faz isso. A solidão começa a me interrogar. Pergunta se eu tenho algum motivo de estar feliz. Essas duas capangas continuam a me seguir.
- "Não é justo vocês virem aqui. Já paguei vocês", digo.
A depressão acomoda-se na minha cadeira preferida, acende um charuto, enchendo o aposento com sua fumaça desagradável. A solidão deita-se na minha cama e se cobre com as cobertas. Estou sentindo que vai me obrigar a dormir com ela de novo esta noite.
Verbos que interagem com a depressão e a solidão

*** Trecho que me marcou talvez porque eu me identifiquei profundamente com eles. Essas duas déspotas, sempre reinaram magistralmente sobre meu Nilo vestido de eu. D&S, quem dera fossem tão estilosas quanto Dolce e Gabbana. A depressão sempre come do meu feijão e me faz  ingerir tabletes de chocolate com ela. A solidão se planta no meu quarto como uma deusa a quem eu tenho de servir. Malvadas, elas aparecem com tapete vermelho e holofotes luminosos no livro: Comer, Rezar, Amar.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A derrota no pódium

 Estou me obrigando a escrever em um exercício para calçar as sandálias da humildade. Nada que me faça bem, mas é que é a primazia de uma alma sedenta por algum tipo de evolução. Em 48 horas eu vi meu mundo de escritora promissora ruir. Eu que tanto me achei este ano. Eu que me sentia uma peróla perdida no Vale ainda nao descoberta. Eu que acreditava que deveria ter adesivos com meu rosto nos veículos do jornal, a exemplo de Martha Medeiros: Leia hoje, Andreia Rabaiolli!.Eu sou o que? Uma jornalista sufocada pela propria jactância. A frustração roeu meu estômago ontem quando descobri que nao havia conquistado o premio de reportagem dos jornais diários gaúchos. Ôrra, não ganho nem no pampa. A frustração me comeu toda hoje quando descobri que não tive vez no concurso da Alivat. Ôrra, não ganho nem no Vale. Uma raiva me comeu. Raiva de mim mesma, de nao ser a melhor. De estar aquém do que eu achava. Eu perdi e não coloco a culpa na incapacidade de os jurados me compreenderem, de o outro texto ter menos qualidade, de que o assunto estava fora do contexto. Eu perdi e o erro é meu e hoje é dia de vitimizar. Como eu gozo o meu momento de vítima. Há um prazer, uma profunda fruição no fato de eu me dar dó.  A minha pena neste momento é a pena que me redime.
Meu cio emarfanhado de eu. Meu mio. Meu unico som nesta sexta-feira que evoca balada, mas que para mim nada tem além de uma nota fracassada. Meu flanco desguarnecido se chama rejeição. Não Freud, não me dê conselhos acerca disso porque sou absolutamente irracional, criança e birrenta quando se trata de aprovar ou rejeitar. Eu odeio rejeiçao em qualquer instância e qualquer plano. E tudo eu vejo como uma rejeiçao pessoal. Nao ganhei? fui rejeitada. Não tirei o segundo lugar? Nem estou ai. Segunda opção eu nunca quis ser. Não me chamem para ficar no podium ao lado do primeiro lugar. Se nao posso segurar a taça nao quero servir de chuveiro para a champanhe do senhor vencedor. Irredutivelmente ridicula, sigo as palavras de Airton Senna: o segundo colocado é o primeiro perdedor. Sou alpha ou nao sou nada e sendo nada vim de onde sempre tive de estar. Trágica? Sim, tragicômica. Hoje é meu dia de fazer tempestade no seu copo de água. Mas para você, é so um copo de água, para mim é tempestado e é bom que seja grande. Porque gosto de vitória até nas derrotas. Elas também devem ser de boa envergadura.
Eu: tabula rasa
Eu devia aprender com a derrota. Mas ela se torna tão grandiosa que eu viro sua inimiga infima. Eu posso conviver com a solidão mas nao consigo derrotar o temor da rejeição. Não namoro porque tenho medo de ser abandonada. Não lanço olhares de flerte porque temo não ser correspondida. Não faço teste em televisão porque tenho horror a ser recusada. Arriscar nada é arriscar tudo. Não arrisco nada porque tenho esperança de que um dia, quando eu arriscar, vou ganhar tudo. Uma doce ilusão que vou protelando no dia-a-dia para viver na minha casa grande, dentro da redoma que me protege da rejeição. Dentro da masmorra que me livra da ação. Dentro da minha perda, do meu pior vício, do meu sonho sem quinhão. É o meu porão, é a minha história e a minha derrota e ela merece ser contada por mim. Com todas as palavras que eu utilizaria para reverenciar a minha vitória. A minha derrota é só minha e eu a celebro no podium do meu fracasso. Um texto sem acento, no qual me assento.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

O toque da graxa

Um palco invisível, o Centro da cidade é a ribalta de personagens que latejam dentro dele, em paredes que não existem

Tormento e labuta, sonhos e luta. O Centro abriga 800 pessoas por quilômetro quadrado, mas a multidão está só na presença de si mesma. Enquanto a luz do sol banha a cidade, ruídos, descargas, buzinas, passos apressados, a diversidade está estampada num mosaico que ninguém vê: mas há personagens que evocam curiosidade, dor, comiseração ou sensação de identificação.

Julio Cesar da Cruz Gonçalves não é o Rei Midas, aquele que transforma tudo em ouro a cada toque. Mas possui o toque da graxa. Com 24 anos e uma educação que veio da rua - porque Julinho sabe: “Vivendo na rua a gente aprende um monte de coisa, tanto boas quanto ruins” - o engraxate com estampa de skatista cresce na profissão que elegeu ainda aos sete anos. Esfregando sapatos e botas, Julinho junta R$ 1,2 mil ao mês. “Tiro bem engraxando. Mais do que emprego fixo.” Junta-se ao salário o esforço com capinas, roçadas e lavagem de carros. Mas como todo empreendedor tem o carro-chefe do seu negócio, é na graxa que Julinho tem seu maior quinhão.


Julinho aboleta-se antes das 7h na Padaria Suíça. Fica aquartelado ali o dia inteiro esperando a clientela. E não espera muito. Nos primeiros minutos, começam a aparecer seus fregueses: médicos, advogados, empresários que antes de rumar ao escritório vão fazer o café-da-manhã. Julinho percebe a profissão do freguês pelo pé. “Se o sapato está bem ajeitado é um advogado, doutor, promotor ou juiz. Aquele que tem um mais velho é porque não tem condições de comprar sapato toda hora.” O preço é o mesmo para pobres ou para ricos: R$ 2,5 a engraxadinha. Para mulheres, geralmente se eleva. Explica-se: o gênero feminino adora botas com canos altos. Como necessita de mais cera, o valor dobra. Elas preferem a cor marrom, eles optam pelo preto. Sua freguesia se reveza entre esses dois tons. “Agora está saindo muito o incolor, para botas claras.” É na psicologia do sapato que Julinho tira o sustento da sua família. Com a labuta, sustenta mulher, filho e construiu a casa no Bairro Santo Antônio. É fácil pagar a Julinho. Mesmo quando não lustra calçados ele recebe moedas: R$ 1 ou R$ 2, gratuitos. Abre a mão e estende o braço: o ruído dos níqueis, acompanhado de um leve agradecimento: “muito obrigado”. No fim do ano, Julinho planeja comprar seu primeiro veículo. Poupa no banco para adquirir um Celta. “Estou fazendo a Carteira de Habilitação.”

No verão o movimento diminui porque as mulheres trocam as botas pelas sandálias. Mas o fato não chega a afetar o negócio de Julinho, que fideliza a clientela modernizando os métodos de engraxe. “Eu uso escova de dente. Passo nos cantos do calçado, lustrando parelho.”

Do promotor ao cobrador, a vida comum passa por cima da caixa de sapato do engraxate. É nessas idas e vindas que ele conquistou o carinho dos clientes da padaria. E dos donos também. Julinho tem a preferência do ponto. O estabelecimento é praticamente seu escritório a céu aberto. “Enquanto fico aqui, os moleques não incomodam. Nem os pedintes.”

Dono do pedaço, o rapaz se consolida no mercado. Diz que a “profissão” está em extinção. “Quando comecei, tinha mais de 20 engraxates. Alguns pararam, outros foram presos e tem aqueles que acham feio.” Para Julinho, “feiúra” é uma palavra apagada do seu vocabulário de Ensino Fundamental. Ainda mais se a função lhe traz apreço. O sol ainda não se põe quando o engraxate encerra as atividades, às 17h. Guarda a caixa em um local secreto e ruma para o supermercado. É hora de comprar mantimentos e levar para a família, no Santo Antônio. Embarca no ônibus com o itinerário traçado para o dia seguinte: voltar à padaria, para cuidar dos calçados de doutores e senhoras.



Julinho: Doutores e advogados engraxam pela manhã

Minicontos

*** Observava o chão. Caminhava lentamente contando as pedras grês em seu caminho. Estacou de supetão. Agachou-se. Retirou solenemente a haste do vegetal que irrompera pela fenda da pavimentação. Sorriu. Apertou o inço como se fosse uma flor de lótus que nasce da lama com imaculadas pétalas. Alargou o sorriso enquanto girava o corpo ao retornar ao gabinete.
- "Mande cancelar o asfalto. A avenida faremos de basalto!"
Reelegeu-se quatro anos depois. Seu maior "santinho" foram as folhas caídas ao chão.
 
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**** A menina pediu à mãe que lhe comprasse um pinheirinho. Percebeu que para se sentir adulta, era preciso começar a regar seu jardinzinho.
 
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***** Chico, o sagui, fazia gestos imitando o guri.
Tato, a tartaruga, "lagarteava" ao sol da manhã.
Mas eram os três veados do mato que, ariscos, movimentavam o pedaço.
A arca não era de madeira, não foi feita para o dilúvio. Era em área caseira.Tampouco Noé era um bicho do mato. Moderno, comandava o experimento como um instrumento, um bisturi.
Schunemann. Destino até no nome. O homem que afasta. Que evita a destruição nefasta. Médico do câncer da mata.

sábado, 3 de setembro de 2011

Matemático em vigília desarma o tempo

Uma pesquisa de aula resultou em uma estatística que se transformou em um sistema de alerta para enchentes. O Vale escuta Jasper mais do que órgãos oficiais. Seu telefone toca sempre que o tempo mostra seu temperamento mais forte

Na infância todos os sonhos estão distantes e as tragédias são amenizadas pelo raciocínio infantil e, lógico de que tudo passa. Na adolescência de Edelbert Jasper (56), a invasão do rio sobre as estradas de Colinas – cidade de 2,6 mil habitantes no Vale do Taquari – era evidência de que não haveria aula. Ele então se regozijava por poder ficar em casa.  
Na maturidade, aos 56 anos, o matemático Jasper sabe: o rio é temperamental e as tragédias se sucedem sem o olhar vigilante do homem. Mais de meio século de observação comprovando a oscilação da natureza lhe rende o título de “Homem das Águas”.  Não há um certificado que comprove a honraria, mas as previsões certeiras de Jasper – de que quando o rio se eleva até a cota 24  haverá enchente na cidade - se espalham à boca pequena pelo rincão.
O Rio Taquari  dá vida a um vale de 320 mil habitantes. Sempre esteve no foco de visão de Jasper, mesmo sem querer. O garoto  que vibrava com as cheias na época de estudante se tornou universitário – e fez uma conexão do rio com os números. Bancário envolvido com a comunidade, meditava sobre as enxurradas enquanto finalizava a faculdade. Intrigava-o a invasão das águas no ginásio de esportes, no salão e nas casas sem que alguém pudesse dar um alerta  em um espaço de tempo suficiente para impedir a destruição.
Lembranças de 22 anos  irrompe em sua mente: “Escutei pessoas gritando apavoradas porque elas não sabiam que a água chegaria”. Uma vã tentativa de fugir de uma cheia que ninguém avisou que viria.
Há mais estatística na natureza do que supunha Jasper na época. Ele descobriria sete anos depois dessa enchente que seu olho salvaria os bens de muita gente, mas antes, enfrentaria um período de ceticismo.
Jasper desenvolveu um sistema de alerta que se fortaleceu como o socorro da região. A ideia ganhou forma na faculdade de Matemática. Para receber avaliação em um trabalho em Estatística, Jasper embarcou no mundo dos cálculos. Escolheu o rio e seu enigma para decifrar os miasmas das cheias.  Escrutinou o tempo de 1977 a 1997 e em uma linha de tempo de 20 anos, relacionou a quantidade de chuva com a cota do rio. Comparou a chuva em três cidades-chaves – Vacaria, Passo Fundo e Lagoa Vermelha. Com base no volume que caía nesses municípios, descobriu o número mágico – 70 – que representaria precaução ou destruição.  “Descobri que a partir da média de chuva de 70 milímetros em toda bacia do rio Taquari-Antas,  a cheia pode acontecer.” Jasper celebrou a descoberta de uma forma muito própria. Nos períodos chuvosos, começou a interagir com os ribeirinhos: “Vamos sair de casa porque a chuva está chegando e o rio vai invadir.”
Uma voz no trovejar do tempo. A voz de um homem contra um rio que estava longe de sair do leito. Como acreditar? A voz murmurava o aviso nas casas próximas ao campo de futebol, área mais baixa de Colinas. A voz ia até ao homem da oficina, batia na loja ao lado. A voz ligava para o prefeito. Mas a cidade tinha seu próprio sistema de controle. A voz era inaudível.
Mas enquanto a tempestade combalia o agricultor, o tempo cronológico favoreceu o matemático. Com o tempo, os habitantes começaram a acreditar.
Na cadeira de Estatística, pela análise do comportamento das enchentes, Jasper recebeu nota 9,5. Talvez hoje o mestre o avaliasse como tarefa nota dez, diante do efeito de sua pesquisa. Antes o Vale conseguia antever inundações em seis horas.  Os cálculos e observações de Jasper anteciparam as previsões em até 30 horas. Assim, o povo ribeirinho ganhou um dia a mais para retirar os móveis de casa e ser alojado pela Defesa Civil em abrigos.
Graças a uma cadeira de Estatística, ele virou vigilante do Vale.  Os números o levaram a “chefe” do seu município. Em 2000, venceu as eleições municipais com  56,89% dos votos e reeditou a vitória em 2004, com 53, 67%. Mas seu número favorito sempre foi o 3. É uma predileção mística, que faz  Jaspe emudecer.
Durante oito anos, o matemático acumulou as funções de prefeito e homem do tempo. Seu telefone é de fácil acesso. Nenhum contribuinte de sua cidade se intimidava em ligar, mesmo tarde, para fazer a pergunta recorrente: “Prefeito, até quanto o rio vai subir?”.
O rio é cheio de mistérios porque a vida é líquida e o homem, um ser que jorra emoção. A ciência da estatística é exata, mas da água não. Por isso, além dos números, o conhecimento empírico é o grande parceiro de Jasper. Tanto tempo vendo os pingos de chuvas se transformarem em lagoas e dissolver vidas lhe reforçou a intuição. Água e números, uma previsão que fez Jasper salvar dez mil pares de sapatos certa feita. Tudo porque o homem da loja acreditou no matemático.
A ciência de Jasper é humanizada. A enchente tem nome.  Se atingir a cota 27, inundará a oficina do Cláudio. Se chegar a 39, afetará a loja da curva do município. Se o rio começar a subir, o telefone não para. Na enchente de julho, 40 anônimos buscavam sua orientação, queriam saber as cotas em Lajeado, Estrela e Colinas. “Eu não conheço as pessoas. Mas há algumas que sempre ligam.” Jasper aprendeu a identificar o som. De Estrela, a voz familiar de uma senhora sem nome lhe diz que está cotado para meteorologista do povo. “Me diga, seu Jasper, eu tenho que ir para casa?” Jasper então pede a cota em que sua casa está, verifica nas suas estatísticas e avisa: “Dá um jeito de ir para casa e tirar suas coisas. A enchente vem vindo.”
A alguns anos, Jasper importou uma pequena estação meterológica da Suécia. O equipamento portátil mostra a velocidade e direção do vento, intensidade da chuva, temperaturas. O pluviômetro  mede a quantidade da chuva e uma biruta relata a direção do vento. Mas é a observação no rio e no tempo que consegue uma tarefa de Noé: sem arca, salva o povo ribeirinho. Jamais lhe passou pela cabeça  estivesse exercendo um tipo de trabalho voluntário. O tempo, voluntarioso, evoca em Jasper outro tipo de sentimento: paixão.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A Independência verdadeira

Pertinho da Independência do Brasil, retirei da biblioteca pública um livro que circunstancialmente, se revelou uma surpresa. Na fluida narrativa de Laurentino Gomes leio a real situação da Proclamação da Independência, muito mais prosaica e brasileira do que o contexto glamorouso com o qual estamos acostumados nos livros de História. E muito mais divertida também. Literalmente, morri de rir com as cenas que se desenrolaram nas páginas e ao contar aos meus colegas, gargalhadas corriam soltas. A princípio, ninguém acredita que tenha sido realmente assim. Mas eu sempre digo que a realidade tem mais cenas de ficção do que jamais a ficção teria.
Então para enfatizar, o livro foi baseado em um trabalho de pesquisa sério, cujo trabalho é corroborado por cartas trocadas na época, em 1822.
Dom Pedro I fez a independencia com apenas 23 anos. No dia da proclamação, a natureza fisiológica do regente foi mais forte do que a vontade de liberdade. Antes de dar o brado da absolvição, o nobre passou por poucas e boas. Uma dor de barriga o dominava durante todo o caminho. Ao que tudo indica, o principe estaria com diarreia e durante o trecho ate as margens do Ipiranga, teve que se esgueirar várias vezes pela relva, para "prover-se" dos matagais. Em dado momento, parou em um estábulo onde foi acudido por uma dona de casa que lhe fez um chá que lhe acalmou o estômago. Então ele, um padre, um maçom, e alguns criados percorreram a colina do Ipiranga. Dom Pedro possuia uma egua gateada em vez daquele cavalo soberbo e branco ao qual estamos acostumados visualizar nas pinturas épicas. A mula não tinha nenhum charme, porém forte e confiável, bastante boa para subir a ladeira que deixava a todos atordoados.
O grupo de tropeiro era muito jovem, a maioria tinha 23, 24 anos. Próximo ao rio Ipiranga, chegaram notícias de Portugal: de que o princípe deveria voltar porque ele não era mais regente, e sim um mero "delegado". Os portugueses, indignados com o jovem rebelde e abrasileirado, tiraram dele os poderes que antes lhe delegaram. O rapazinho deveria voltar a Europa e se educar e não ficar por aí esperneando pela independencia.
Dom Pedro, irritado com a petulância, perguntou ao padre Belchior:
- E agora padre?
O padre respondeu prontamente:
- Declara a independência, alteza!
(Foi com outras palavras, mas quase isso)
Dom Pedro caminhou alguns passos, de repente estacou no meio da estrada e proclamou o Brasil separado de Portugal. Não houve o grito Independência ou Morte. O famoso brado só aconteceu mais tarde e consta na historia como "segundo brado do Ipiranga'. Aconteceu minutos depois do primeiro. Com voz forte, Dom Pedro declara: Independência ou Morte!
E depois disso o Brasil precisou pegar dinheiro emprestado dos outros países para se equipar com armas, cavalos, navios a fim de enfrentar Portugal. Eis a origem da nossa dívida externa. Brasil, um país que nasceu falido! Não faliu porque com 200 milhões de brasileiros, conseguiu dinheiro suficiente para bancar os 76 impostos que vigoram na pátria em que Dom João (pai de Dom Pedro), raspou os cofres ao voltar para a Europa. Não faliu porque tem gente que aposta que nossa pátria de chuteiras pode corcovear no segundo tempo. Não faliu porque somos brasileiros e não desistimos nunca (segundo Lula)....
E ainda assim podemos dar certo. Temos o jeitinho...

domingo, 21 de agosto de 2011

Sentindo um assalto

Eram 18h30 de uma sexta-feira fria. Havia acabado de sair da redação pois durante o dia, trabalhara na luta de Brizola e os 50 anos da Legalidade. O dia em que um taura macho enfrentou os generais. Saíra do reduto jornalístico com a sensação de dever cumprido, sem saber que dois minutos após, um outro dever estaria em minha frente. O dever de sentir o que passa uma vítima de assalto.
Acabara de colocar a mão no iogurte da geladeira quando ouço uma voz fraca: "E um assalto, é um assalto, não façam movimentos." Dois homens encapuzados protagonistas do ato. Fixei os olhos em um durante alguns segundos, pensando ser brincadeira. Olhei a arma, era lustrosa demais. Parecia leve demais. E certamente pela frouxidão da voz de comando, ERA UMA BRINCANDEIRA. Mas não era porque logo após eles tentavam coagir: "Vamos matar um. Vamos matar um."
Percebi que passava por um verdadeiro assalto. Sem pensar, agachei-me. Meu objetivo era jogar a bolsa no chão e pegar a chave do carro e os documentos. Sabia que a falta de carta de motorista, identidade, cartões, me daria uma dor de cabeça danada. Não deu tempo. O bodoso veio atrás da prateleira ao meu lado me intimar. "Larga, larga". Tomou-me a bolsa vermelha com toda minha vida dentro. Estou sem identidade. Nunca tive antes, sempre me achei meio errante. Mas agora não posso provar que eu sou eu. E isso vai me dar um trabalhão. Estou sem identidade, sem Sicredi, sem Refeisul, sem Unimed, sem Carteira de Habilitação, sem CPF, e sem inspiração pra falar desse mundo injusto e desolador.
Levaram a chave do meu carro. Eu não tinha copia em casa. A noite, tivemos de achar um chaveiro que se dispussesse a levar o carro prá casa dele e fazer "miolos" novos. Trocar todos os segredos do carro. Todo esse trabalhão por dois minutos de assalto.
No outro dia, tive de ir a polícia fazer registro. Não tinha um tostão para pagar nem o ônibus porque afinal minha carteira fora levada (tinha uns reais dentro) e meu cartão de credito também. Fui a pé, sem bolsa e sem nada. Me sentia invisível, eu não tinha tiracolo, parece que estave desanexada do mundo. No caminho a policia, entrei em duas lojas para comprar uma bolsa sem dinheiro e sem documento. Explicara que havia sido assaltada e que quando o banco restabelecesse o cartão eu pagaria. Queria fazer no crédito. Mas as lojas so trabalhavam com cartão.
Foi um assalto fútil. Um assaltinho, nem tomou grandes proporções para valer uma cronica, diante de tantos assaltos com mortes que a gente percebe na imprensa. Mas foi meu assalto. Foi o assalto que me tornou invisível perante a sociedade. Foi um assalto que me tornou invisível perante mim. Caminhado sem lenço e sem documento até o Centro, para bloquear cartões, ir na CDL e outras providências, lembrei-me dos mendigos que habitam na Praça da Matriz. Muitos deles me disseram que já não tinha mais documentos, eu então me dei conta de o quao impactante é viver sem noção de origem ou referencia. Um paria social.
Consegui comprar uma bolsa na terceria loja em que eu tinha crediário. Mesmo com crediário, a lojista teve de pedir permissão a gerente, se poderia fazer esse tipo de negociação. Ou seja, quando tu é vítima, tu fica ainda mais vítima das coisas que te cercam. Porque em situação normal, seria so eu pegar o artigo e levar ao caixa, já que a loja tinha todas as minhas informações e eu so pagaria um mês depois. Mas como fui vítima e estava sem nada, ela ainda tinha de pedir permissão. Isso me deu tanta raiva quanto eu tive dos assaltantes.
Fui pra casa com a bolsa vazia, mas ao menos com algo em cima do ombro, para me sentir menos estrangeira no meu mundo social. Aguardo que alguma boa alma encontre os documentos e os leve para a Delegacia. Ligo todos os dias para a DP e Brigada Militar verificando se foram encontrados. Ainda não.
Fico relembrado meus atos na hora do assalto. Ora pergunto porque não reagi. Deveria ter feito um gesto brusco e tirado a arma do cara. Ora pergunto porque me agachei. Deveria ter ficado paralisada. Ora fico com vontade de entrar em um curso de Defesa Pessoal. Aliás, creio eu que nas escolas, os alunos deveriam ter aulas de Defesa Pessoal em vez de Educação Física. O MEC deveria urgentemente repensar o currículo escolar.

Facebook
Coloquei no Facebook uma frase bem-humorada de Millor Fernandes: "Ser pobre não é crime, mas ajuda muito a chegar la". Imediatamente, recebi reações adversas. De que os maiores ladrões são os políticos e os colarinhos brancos. Retruquei que só porque os maiores ladroes são os de colarinho, a gente não tem de dar anistia e perdão para os ladrões menores. As cadeias e polícias estão abarrotadas de ladroezinhos que nasceram e viveram nas favelas. É lógico que a pobreza é um fator de motivação para o crime. Quem duvida é doido. Sem horizonte social, sem ter nada a perder, sem emprego que pague o mínimo de dignidade, é muito mais fácil assaltar uma fruteira do que ficar coçando o saco se lastimando pela vida. È louco também que não entende que não dá para generalizar. Tanto pobres quanto ricos fazem isso. So que estamos tentanto ser politicamente corretos e queremos "defender" os que tem menos em nome da nossa pseudo-compaixão pelos oprimidos. Acontece que é preciso usar o principio da isonomia. Temos de punir tanto pobres quanto ricos. O fato de ricos roubarem não exclui que pobres não façam isso, mas sim e a gente nao tem de dar anistia pra eles. Se você cerca sua propriedade para impedir que vacas e bois comam o pasto e os dois invadem ruminando tudo, você só vai punir os bois e deixar as vacas?Não, vc vai pedir para o dono do rebanho levar esses animais maléficos porque está de saco cheio de todos eles.
Amanhã eu terei de ir a pé para o trabalho e voltar tambem. E terei de fazer isso algumas semanas ate que venha a segunda via da minha CNH. Sim, pq eu tenho de andar na lei e nao posso descumprir as regras de dirigir sem documento. Tudo por um assalto chinfrim. Enfim, continuo concordando com Millor Fernandes: Ser pobre não é vergonha. Tem muito pobre sem-vergonha.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

O fim de O Vale da Insensatez

Aumenta o número de suspeitos da morte da viuva milionária. A DP de Lajeado recebeu uma denúncia de Fontoura Xavier de que o assassino seria nativo de lá. O suspeito é o sortudo que ganhou a Mega Sena milionária de 119 milhões e que depois ficou visado por fraudar a loteria. O homem em questão teria tido negócios escusos com Teodoro Amaral, mas Teodoro deu um calote nele e ficou com a grana.
O homem, descobriu que Teodoro estava morto e matou a Norma para pegar o dinheiro de volta. Ele teria comprado um carro importado numa das revendas de Lajeado e fugido rumo ao Uruguai.

Enquanto a polícia vai atrás das pistas, o advogado Evandro Muliterno de Quadros cuida do espólio da viuva. Segundo o Chiarelli Corretor, Norma havia comprado pelo menos duas manões no Alto do Parque (mas ficou furiosa com o valor do IPTU). Ela também era sócia oculta da Sprtis. (Sim,Norma era uma baladeira e nos anos 80 gostava de ser chamada de Rainha da Sucata).
Há indícios também de que ela estaria fechando neogicação para comprar o Clube da Loira da Bicicleta, mas como morreu o negócio nao foi fechado, Chiarelli perdeu a comissão e a loira ficou triste. Teve que partir para a esquina do Antoniazzi, onde fez concorrencia com a Malu.

Norma foi enterrada no Cemitério Católico do Hidráulica, junto com os nomes quatrocentoes de Lajeado. Milhares ja confirmaram pelo Facebook a participação na missa de sétimo dia que será feita na Paróquia Santo INácio. O padre Antonio PUhl organiza os preparativos. A preocupação é com os abrigados da enchente que estão no pavilhao ao lado. A Defesa Civil aumenta a fiscalização na hora da cerimônia pois teme que os desabrigados junto com os caigangues façam um protesto no estilo: "Minha casa, minha vida".


O destino dos personagens
Natalie - depois de chafurdar no anonimato e perder a popularidae, Natalie entra em depressão e é atendida no Caps em Lajeado. Medicada com sertralina, rivotril e carbolitium ela se mantém estável e pensa em ser capa da Revista Tititi da Tina Ruschel

Douglas e Bibi - Douglas volta para o Mobral e enquanto estuda, a Bibi se diverte com os seguranças do Country Club

Jandira - vira namorada da ex de Araci. AS duas se acabam em baladas GLS em Porto Alegre. Querem promover a primeira no Bar do Gão,, mas vão esperar passar a epoca das chuvas. HOmologaram o contrato de união estavel no cartório de Lajeado e deram uma festinha no NIlo Beauty. O Nilo fez cabelo e maquiagem de graça para o casal.

Pedro e Marina - se separam no primeiro ano de casamento. Estavam morrendo de tédio. Pedro conhece o sofazão e se torna frequentador assiduo, junto com alugns colegas de Lajeado. 


Wanda - Apaixonada por jóias, se torna balconista do Weimer Acessórios no Unichsopping. Tem que trabalhar sabados até tarde da noite.

Tia Nene - vai parar na Central onde desvirtua os ensinamentos dos 12 passos do AA. Para ela, é assim: "So por hoje, tomarei mais um gole."


Raul - vira consultor do Ardemio Heineck e tem um alto cargo na Camara da Industra e Comercio do Vale do Taquari. Palestra seguidamente na Acil. A Camila Pitanga vira mulher dele, mas tem uma recaida e vive seus dias de Bebel na Rua dos Marinheiros em Estrela.

Andre - Sem saco pra tudo isso, se muda para Angola. Vira professor de Desing e acolhe os alunos do intercambio da faculdade da cidade

Vitória - quebra e vende a empresa. Com a morte da Norma, as ações provocaram reflexo no indice Down Jones. Vitoria teve o maior prejuizo da historia. Foi o crash da sua vida. Bsca se reeguer e mantém contato com o CFC Vitória. Não precisaria nem mudar o nome do negocio.

O jornalista semi-homofóbico é contratado pelo jornal O Informativo. Fica subalterno do editor Emilio Rotta no setor de polícia. Os dois se confrontam todo o dia e seguidamente sobem para a sala do seu Oswaldo onde assinam termo de advertencia.

Ismael - Recolhido ao Presídio Estadual de Lajeado, fez amizade com o ex-comparsa de Seco e é lider de sua ala. Gerencia o tráfico por smartphone no Cantão do Sapo.

Leo - O Leo mata mais um e salta. Boe, Gape, Policia Civil de Lajeado, Estrela, Montenegro e Encantado mobilizada. Delegado Reis trabalha com a hipótese de que Leo teria sido comparsa de Seco em assaltos a bancos marcantes na região. Bico Fino Brothers Band chamado a compor uma nova versão dos Rollings Stones: I cant get no, satisfaction". Seria a trilha que levaria Leo para o superlotado presido de Lajeado, onde ele morreria exterminado por ratos e baratas
.


Eunice -A Liga de Combate ao Cãncer do Vale convidou Eunice, ex-diretora da Liga da Família Carioca para desfilar de lingerie no salão comunitário evangélico de Lajeado. Eunice vai apresentar a lingerie top, aquela que conquistou o Ismael. O evento será revertido a instituição.
A presença de Eunice faz parte dos serviços comunitários os quais ela foi condenada a prestar a comunidade


Juíza Patricia Acioli - Essa nunca entrou para a história e jamais terá seu crime desvendando. Nem ela, nem a amante do Bruno e nem o zé ninguém da esquina. Porque a vida minha gente, tem tanta coisa impressionante que os humanos mais parecem personagens de ficcção

Atenção
Os personagens são fictícios. Qualquer semelhança com a vida real é mera coincidencia.

Assinado: Gilberto Braga

A morte de Norma no Vale da Insensatez

Repercute no Vale do Taquari a morte de Norma, ex-presidiária e viúva do Teodoro na novela Insensato Coração. A equipe de reportagem do Jornal O Informativo descobriu, depois de exaustivas investigações, quem de fato é o assassino da viúva.
Há uma semana Norma já havia solicitado, ao promotor Neidemar Fachineto, ampla proteção e acolhida na Casa de Passagem do Vale. O pedido foi indeferido pela delegada Márcia Scherer, que entendeu que a requerente tinha condições financeiras de se hospedar no Imperatriz.
Depois disso, Norma contratou uma equipe de advogados para lhe acompanhar, formada por Flávio Ferri, Jerson Zanchetin e Marco Mejia, que liderava a equipe.
Porém, de nada adiantou.
Norma é morta, anunciou o papa Ratzinger em sua preleção diária no Vaticano.
Mas antes mesmo do Papa ter conhecimento, Delmar Portz proferiu, na tribuna de terça-feira da Câmara de Lajeado: "Eu já sabia!!!!"
A exclamação alvorou os ânimos, tendo repercutido inclusive além das fronteiras do Legislativo, pois causou preocupação inclusive no pré-candidato a prefeito do PMDB no ano que vem, Ito Lanius. Ele, que também preside a Alsepro, mobilizou todos os órgãos de segurança e convocou uma reunião às pressas para recontratar a estagiária do vida urgente, alarmado com o aumento do índice de violência. Afinal, a morte de Norma poderia abrir precendetes no Vale do Taquari. Seria uma "matança".
A blogueira Laura Peixoto, única na plateia na sessão de terça-feira, "furou" Record, Globo, TV Fama e até a Sônia Abrão, e deu em primeira mão a notícia de que Delmar Portz já sabia. O tucano tem informações privilegiadas de que todos os telefones da região estão grampeados e, numa conversa entre o presidente do Lajeadense e o autor da novela, grampeada por alguém (por quer manter sigilo), o promotor Pedro Porto descobriu quem matou nNorma e contou para Portz.
Há informações de que mais membros do "ninho tucano", como Auram Terra, saibam dos desdobramentos deste mistério. Porém, alegou que só pode falar sobre Odete Roitmann e Salomão Hayallla, que ele lembra....
Agora, todos estão temerosos com as consequências. Além da reunião da Alsepro, o promotor Sérgio Diefenbach já convocou extraordinária do Fórum de Enfrentamento à Drogação, porque ele considerou o final da novela, uma droga.
O Executivo também está tomando providências para tentar acalmar os ânimos e esclarecer o caso, rebatendo denúncia de Antônio Schefer de que o culpado é o secretário Mozart Lopes. A prefeita Carmen Regina, inicialmente, pensou que Norma tivesse se afogado na enchente. Ela disse "este é o terceiro Vale mais fértil do mundo e um caso destes não aconteceria jamais em nosso pujante gopverno". Agora, Carmen, com auxílio de seu advogado Venâncio Diersmann, está ingressando com uma ADIN contra o autor da novela. Ela julga ser inconstitucional a Norma morrer na última semana.
Há indícios, ainda, de que a morte de NORMA possa ter sido motivada por uma concorrência. Os suspeitos são o CFC Delazeri e o CFC Vitória. Mas isto é assunto para o próximo capítulo.!!!!

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

A meu respeito

Jornalista e bipolar, controlada com medicação mas sem terapia. Ácida e divertida, tudo ao mesmo tempo!

O que eu quero

Alguem que seja sensivel mas nao derramado. Que me faça ver estrelas, mas nao me tire os pés do chão. Um paradoxo, um infinito particular
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É dos carecas que Deus gosta mais

Uma interessante mente.Para os fundamentalistas, um demente. O judeu americano e jornalista David Plotz  encoraja o mundo a ler a Bíblia. Ele diz que a Biblia deveria ser ensinada em faculdades, escolas e universidades. "Não ler a Bíblica é como ser cego". O cara não é nenhum carola, pelo contrário.  Ele incita a ler justamente para o povo perceber como o Deus do Velho Testamento é cruel. Na Bíblia, o que mais o perturbou foi o fato de Deus pedir e exigir o assassinato de pessoas inocentes. E se a Bíblia fosse intepretada ao pé da letra? O mundo seria segregado entre homens e mulheres  que estariam impuras quando menstruadas.

O mais engraçado
Para Plotz, o fato mais engraçado da Bíblica é a obsessão de Deus com os carecas. Ele afirma que homens carecas são puros e diz várias vezes para rasparem a cabeça e o corpo. (Com a nova onda dos neossexuais, Deus daria se agradaria muito deles). Há até um episodio em que alguns garotos zombam do profeta Elias, chamando-o de careca. Em seguida, um urso aparece e mata 42 crianças por causa disso.

* De acordo com Mark Twain, a Bíblia retrata Deus como um homem de impulsos maus muito além dos limites humanos, sendo classificada por ele a biografia mais condenável já vista por ele.[21] Ainda de acordo com ele, no Antigo Testamento, ele é mostrado como sendo injusto, mesquinho, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais; punindo pessoas pelos pecados de seus governantes, descontando sua vingança em ovelhas e bezerros inofensivos, como punição por ofensas insignificantes cometidas por seus proprietários

domingo, 7 de agosto de 2011

Resumo da ópera

Me comportar?
Cinderela chegava meia noite, descalça. Pinocchio mentia. Aladim era ladrão. Batman dirigia a 320 km/h. Branca de Neve morava com 7 homens. Gargamel fazia chá de cogumelo e conversava com Smurfs. O Mario comia cogumelos. Popeye fumava grama e era todo tatuado. Pac Man corria numa sala escura com música eletrônica comendo pílulas que o deixavam acelerado.
TARDE DEMAIS! A culpa é da INFÂNCIA!

(peguei do Facebook)

As lições da soc - Idade

Os contornos do seu rosto não estão mais no mesmo lugar. O maxilar que antes era definido, agora invade o espaço do queixo. Aquele bócio te irrita tanto. Você, em frente ao espelho de narciso, eleva um tanto a cabeça num ângulo em que nâo vê a papada para fingir que realmente não existe esse queixo duplo. Foi uma mera impressão. Já não se fazem mais espelhos como antigamente.
Mas você vai pintar o cabelo e no salão de beleza, a profissional te obriga a ficar com a cabeça reta bem em frente aquele espelho enorme. Uma afronta. Engessada, sem poder se mexer, aquele queixo duplo aparece novamente. Maior, bem maior, espelho maldito. No salão de beleza, você percebe que a sua está indo embora. Pinte o cabelo. Passe tinta na realidade. Alfaparf, Majiblod, Keune. O seu segredo blondie está se esvaindo como uma areia na ampulheta.
Você só teve quinze anos para desfrutar de sua plena beleza. Só quinze. Seria a vida útil de um..um...um guarda-roupa.  Você se deu conta de que era bela na idade mágica, aos 15 anos. Não quis mais sapato baixo, aderiu ao vestido bem cintado e ao olho esfumado. Você estava pronta para os flertes. Sua beleza crescia em escalada.
Aos 20 anos, olhos claros e viço invejáveis. Aos 25, esperta em sedução. Mezzo jovem, mezzo mulher, uma tentação. Aos 30, você percebe que as cantadas de operários que te irritavam profundamente já não são mais frequentes. Logo você, que gostava de chegar no seu grupo de amigas reclamando das cantadas baratas. "É o cúmulo ser cantada por pedreiro. Que nojo".
Você fez muito bem o papel de bonitona blasé, aquela que está além do físico, que acredita na beleza interior. Sim, você parecia tão espiritualizada e modesta. Você dizia, a beleza é efêmera como se realmente soubesse o que seria isso. Mas era um jogo de cena. Você estava interpretando para você mesma.
Você amava as cantadas dos pedreiros. Só agora aos 35 anos, se deu conta disso. Agora também você descobriu  o sentido de "efêmero". Você nem passou por tantas construções assim em sua vida e sua beleza já entrou em declive.
Em frente ao prédio de 12 andares, você passa devagar, com todos os sentidos atentos. Se regozijará com o primeiro ruído. "Que boneca". Você ainda tem poder menina. Olha disfarçadamente e vê que a exclamação era para a garota atrás de você. Fiu Fiuuuuuu. Não restou nenhum elogio para você. Nem o restolho. E a irritante estudante faz aquele ar de quem não está gostando, igual ao que você fazia.
Seus pensamentos se aceleram e você repassa mentalmente as lisonjas que andou recebendo pela Internet: Mas não pode ser, eu tenho 38 anos, mas todo mundo diz que aparento menos. A idade está na cabeça.
Você quer comprovar sua tese na primeira balada que se motiva a ir. Agarra aquele garoto de 23 anos que lhe diz que você é gostosa e bonita. Um mulherão.
Você está certa. A idade ainda não chegou. Tem o DNA da Vera Fischer. Você está no páreo, na pista para negócio. Tem seu carro próprio, uma profissão e fez um rápido calculo mental: já beijou umas 200 bocas nessa sua carreira de mulher bonita. Nada mal, garota esperta.
Você está em vantagem contra as meninas de 20. Não é que você seja experiente, não, isso não. É só que você experimentou mais e agora sabe as artimanhas. O seu príncipe de 23 sabe disso e é claro está altamente atraido por você. Você virou uma mulher de alta performance.  Os dois passeiam no shopping, vão a barzinhos e mantém um papo com amigos em comum nas baladas. Mas você nunca frequentou a casa dele e nem ele a sua. Você protelou tudo isso não sabe porque. Um dia talvez, mas esse dia nunca chega, porque a senhora dá um fim no romance. Sim, você e não ele.Você descobriu no Facebook dele uma mensagem enviada a um amigo: "Vou sair com a coroa gostosa, hoje"
"Coroa gostosa", "coroa gostosa", "corosa gostosa". As palavras tilitam como um sino funebre. Você esquece o "gostosa" e só foca no "coroa". E então se dá conta da verdade acachapante. Você È coroa. Não lembra? Quantas vezes a balconista perguntou: a senhora quer débito ou crédito? E o vendedor da loja de eletrônicos. Qual foi a indagação mesmo? A senhora quer a vista ou a prestação?Eu quero crédito. Que a vida me dê mais crédito!
Você pensava que "senhora" era só um pronome de tratamento generalizado, mas para a garota de frente da fila, ele utilizou o termo "você". Para ela, é você. E você é senhora. Sem contar no repulsivo hábito aborrecente de chamar  de "tia". Mas isso você dá um desconto, porque eles chama de tia quaquer que tenha acima de 20 anos.
Mas aquele "coroa" exposto no FB pregado ali na tela pelo seu garboso rapaz, ah isso foi demais. Em que momento você não viu que o tempo é uma engrenagem que mastiga a todos que estão na sua esteira? Você quis fugir da lei da vida e está pagando por isso. Eu, você, a Angelina Jolie, todos nós caimos nas garras do tempo.
Todos os seus aniversários - são anos em que se vive a mais. Se você não quisesse viver pode se auto-imolar aos 30 anos. Só assim ficará jovem para sempre. Mas também você não poderá colocar seu pijama e pensar - depois que todos os pés-de-galinha estiverem depositados adequadamente em seus lugares - como se resignou com o crônometro - interno e externo. Uma dificulade depois de vencida, se torna fácil. No final, é só com o tempo que aprende uma das lições mais fatais do ser humano: a idade ensina a envelhecer. Uma lição que Marlyn Monroe jamais aprendeu.

Criar filhos é uma facada no flanco

É minha gente, há exatamente uma semana do Dia dos Pais, vivo um domingo emblemático de uma forma ultranegativa. Tive uma briga homérica com minha filha de 12 anos que envolveu ofensas, tapas e socos. Não consigo ser uma mãe de alta performance, como ensina Içami Tiba. Não consigo ter performance nenhuma nessa seara materno-infernal a que cada pai fica submetido assim que o espermatozóide fecuda o óculo. Depois disso, sai do útero o espermatozoide vencedor. Esse espermatozoide cresce com síndrome de poder e na adolescência acha que é rei. Que pode contestar, confrontar e empunhar a crença de que ele é ele. E ele é tudo que importa. Do utero para a sociedade, existe uma longa caminhada que tem que ser policiada por nós, provedores. A questão é que é phodas, que me desculpem os educadores politicamente corretos. Um cachorro dá menos trabalho e abana o rabo sempre que a gente chega em casa, o adolescente se tranca no quarto e não abre a porta nem que o raio o parta porque está em suas instalações como se estivesse deitado em sua cama de dossel, como se batalhasse e ganhasse ordenado para ter essa vida principesca regada a tecnologia (TV, internet, celular com mp3) e sonhando com seu netbook que vai sair o meu salário.Com toda essa dependência do provedor, ele se acha o tal. A adolescência é uma fase muito cara de pau mesmo.
A briga dominical iniciou porque percebi que ela havia feito um furo no seu pijama top de linha. O buraco era para enfiar o polegar, uma moda customizada inspirada creio eu, na tal Roberta Messi da novelinha idiota Rebelde. Indignada, indaguei-a o porquê do ato. Com a jactância de uma adolescente segura de si, ela disse que ela faz o que quer, que não está errada e que gostou do visual. Cobras e lagartos foram ditos. Nos pegamos nos tapas. Ela me mordeu, eu mordi também. Fomos para os cabelos e a briga só parou com a intervenção dos avós. Não se educa a base de bordoada e isso ela me deixou claro: "Tu vai ser presa e vai morrer na cadeia e eu vou dançar em cima do teu caixão."
Começou a guerra verbal: chamei-a de menininha. Ela me chamou de putinha. E lascou uma frase retirada de novelas de adolescentes: "eu não tenho respeito por ti, só tenho medo. So respeito quem eu admiro".
Quando a gente é adolescente, a gente acha que vai ganhar o embate com essas frases de efeito, que são bonitas e parecem bem articuladas. Cresça e apareça. Por ora, ter medo está bom. Medo implica em fazer a lei vigente do território ao qual ela está instalada. Logo, medo quer dizer não furar pijamas caros (nem os baratos)
Içami Tiba diz que é preciso aplicar em casa a cidadania familiar. Nome bonito que soa como um projeto possível. Mas é tudo tão complicado, muito mais do que os sem-filhos imaginam. Todo mundo diz que o diálogo é a solução. Tiba diz: as crianças estão cansadas de ouvir.Muitas vezes nem prestam atenção na hora da bronca, não há educação nesse momento. É preciso impor a obrigação de que o filho faça, isso cria a noção de que ele tem que participar da vida comunitária chamada família. O filho não pode fazer em casa o que não se faz lá fora na sociedade. Não posso deixar ela furar a blusa, assim como não posso deixar que ela coloque fogo em latas de lixo em atos de vandalismo. Provedor não é amigo. Se o mundo é meritocrata, os pais devem ser também:  Ganha-se destaque por alguma coisa que a pessoa fez; se não mereceu, logo o destaque se perde. Dar a mesma coisa para o filho que acertou e para o que errou não é bom para nenhum dos dois. É preciso ser justo.O pai não pode sustentar e não receber um retorno. É como se ele comprasse uma mercadoria e não a recebesse. Não dá para fazer a criança retroceder e voltar a ser um espermatozóide. É preciso engolir os filhos com tudo o que tem de bom ou de ruim. Eu percebi que assim como a família, a escola, a TV também deseduca. As frases feitas, os bordões da novelinha, tudo incrustrado no comportamento da minha filha, porque ela quer ser Rebelde.
A televisão inventa moda, quem paga o pato são os pais. E seu porventura eu querer ser a Rebelde, o Conselho Tutelar me detona a vida. Socorro, quem quer volta a ser espermatozoide sou eu.

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Nós queremos que nossos filhos tenham prazer sem responsabilidade. Por isso eles são irresponsáveis na busca deste prazer. E o que é uma droga, senão uma maneira fácil de se ganhar prazer? A pessoa não precisa fazer nada, apenas ingeri-la. Nós educamos os filhos para que eles usem drogas. Se ele tiver que preservar a saúde dele, pensa duas vezes.
Pai não pode dar tudo e não controlar a vida do filho. Quando digo controle, quero dizer que o pai deve fazer com que o filho corresponda às expectativas, que o filho faça o que precisa ser feito. Um filho não pode deixar de escovar os dentes ou de estudar e o pai não pode deixar isso passar.