Na região, 14% dos lares são compostos por uma pessoa só. Em Lajeado, o índice sobe um pouco, 15%. São 3.744 almas. Sozinhos sim, solitários, há controvérsias. São dados do IBGE. Mas o que querem esses humanos? Comida congelada, lazer e paz. Os singles são apressados, tudo tem que ser feito ao mesmo tempo agora.
Em Lajeado, apartamentos de um dormitório são os mais alugados. Há pessoas que alugam com dois quartos para abrigar o animal de estimação. Com o avanço salarial, os singles se dão ao luxo de alguns confortos.
Solteirona, eu?
As mulheres ampliam o bloco do eu sozinho, seja pela separação, por trabalho ou pela simples opção de ser única na casa. Pode ser bom, ruim ou mais ou menos. Depende do ângulo para o qual se mira, do tipo de solidão em que a pessoa mergulha e da percepção que ela tem dessa própria solidão. Mas algo está visivelmente caindo por terra: o estigma da “solteirona” que não casou e se refugiou em seu próprio mundo.
O psicólogo Sérgio Pezzi salienta que esse estereótipo vem sumindo. A obrigação de estar sozinho foi trocada pela opção. “Como as mulheres ganham mais espaço no mercado de trabalho, com poder aquisitivo crescente, elas optam por morar sozinhas e questionar o tipo de relacionamento que querem.”
O fato de morar só não significa que a pessoa não tenha capacidade afetiva, mas revela um movimento cada vez mais na moda: o individualismo.
O mercado está para o single
Os supermercados estão preparados para receber o cliente que vai às compras sozinho. Meia dúzia de ovos, frutas divididas, embalagens com unidades menores. A paulista Sandra Regina Gonçalves Villasboas conhece os dois lados da moeda. É single e gerente de supermercado em Lajeado. Conquistou o cargo há dois meses e não se fez de rogada, saiu de São Paulo para vir morar em hotel. “Eu estou sofrendo com porções grandes. Como não tenho geladeira, um litro de leite é muito”, brinca, falando da impessoalidade da sua moradia. Psicóloga por formação, Sandra é bem resolvida com sua solidão. O tempo livre lhe propicia a pensar e repensar suas relações. Está escrevendo um livro e internalizando o modo único de viver. “O single sempre existiu. Mesmo em grandes famílias você pode se sentir sozinho, e você pode estar sozinho e se sentir completo.”
A multidão da rua dilui o bloco do eu sozinho: mas 15% dos lares falam às paredes |