Eles desembarcaram de avião de Manaus para Lajeado para trabalhar nas obras da cidade e se encantaram com o monte de prédios que tem aqui, mas não gostaram da comida. É muito arroz. Surpreendem pela eficiência e pela diligência em enviar dinheiro à família. Temos de tomar lições com os haitianos que por terem pouco, valorizam o que está em suas mãos.
Estão na cidade há três semanas, atuando como serventes, pedreiros e operadores em prédios no centro da cidade. Os haitianos ganham, além de salário por nove horas trabalhadas cinco dias por semana, alimentação e alojamento. Há muito tempo que as construtoras enfrentam a falta de mão de obra na construção civil.
Os haitianos que assumem a construção civil de Lajeado dialogam em francês, alguns são fluentes em inglês mas poucos arranham o português. A comunicação é escassa, feita principalmente por sinais, mas a cada dia, o domínio do idioma aumenta.
Estão se revelando bons trabalhadores. O ofício é ensinado pelos colegas e há entre eles vontade de trabalhar e reconstruir suas vidas. Muitos deixaram família no Haiti e com o dinheiro da construção civil, enviam auxílio à mulheres, filhos ou pais.
Dos 14 contratados, três compreendem o português e são interpretes. Dieffi Jean é um deles. Com 20 anos e facilidade para entender o idioma, em três semanas consegue ser entendido e ajuda os colegas. Ele fala francês e inglês. Como servente, está aprendendo o ofício e diz que não quer mais voltar ao Haiti. Gostou de Lajeado.
A extrema miséria no Haiti, os empurrou para a migração a partir de 2010, quando começaram a chegar os primeiros a Manaus. Muitos vivem no limbo burocrático, sem visto de permanência, mas com um protocolo que lhes dá direito a procurar emprego. O governo brasileiro os tem acolhido e com a brecha de trabalharem no Sul, abre-se novas chances.
Os nomes são incompreensíveis aos pedreiros brasileiros, mas eles logo arranjam apelidos ou abreviam a nomenclatura. Wilteam Mattheuls tem 37 anos e veio de Thomazeau, cidade próxima à capital do país e não consegue dialogar. Riclerc Pamphile tenta o português, mas o pedreiro Josef Bonecleticane de 42 anos é quem compreende melhor por estar no Brasil há três meses. Ele tem mulher e filho no Haiti, se assustou com o frio mas está se acostumando. Impressionou-se com os vários prédios da cidade e ainda está tentando habituar seu paladar ao cardápio brasileiro. “É arroz, arroz, arroz de notche e de matina”, diz falando da comida: arroz, feijão, carne e salada.
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