É um livro que os estudantes pensam durante todo o ano e fazem por partes. A primeira parte ela já entregou a professora e depois, com uma frustração de ter tirado B, me entregou o trabalho. Ela própria ficou muito orgulhosa do resultado e eu mais ainda, até porque me espantei com tudo o que ela percebeu em mim e sobre a vida dela. Ás vezes, um filho é o melhor espelho que você pode ter: ele revela os seus potenciais e os seus fracassos, ele revela até mesmo seus alçapões secretos.
Marianna escreveu o prêambulo e pelo texto, percebi o que ela não falou a mim. Um dia, ela me perguntou o que era "desinência". Eu expliquei, citando Millôr Fernandes, porque ele gostava de usar essa palavra. Ela pensou e disse: "gostei dessa palavra". E quando eu vi o texto, percebi que ela tratou de encaixar a palavra desinência no início do seu livro da vida.
Gostei muito da minha escrevinhadora: eis o resultado..o B de Marianna!
Por Enquanto
Sabe aquela historia da princesa e do príncipe ? Ela a outra
metade dele e vice-e-versa, declarações apaixonadas, beijos quentes e calmos ,
como se fosse o primeiro , onde na desinência tem o clichê “Felizes
para sempre” ?
Então ... Esta não é a história .
Ela , loira do cabelo até o ombro, olhos azuis um
tanto fracos, um corpo nem muito e nem pouco. Ele não se sabe-la as feições ,
talvez um moreno ou loiro, sabe-se pouco, lembra-se pouco, mas leva-se muito .
Ela no interior do Rio Grande do Sul, no ano de
santo cristo não me lembro . Ele no Rio de janeiro tentando “sacanear” mais um
bocó por ai .
Não estou dizendo que ele era um golpista nem
sinônimos deste, longe disto. Muito pelo contrario, pelo que se ouviu, era
esperto , ágil , pensativo e um bolso furado. Nome sujo na praça, comia do bom
e do melhor, vivia nos melhores hotéis e apartamentos, vistas de frente pro
mar, boa lábia, sabia passar até um leopardo para trás , tanto em perna
quanto em cabeça.
Ela na faculdade de jornalismo cansada de escutar o
“blábláblá” do professor entrou em um tal de chat da uol ( sim existia naquele
tempo). Não demorou e um cara bom de lábia foi a elogiando, a conhecendo, indo
com calma mas rápido ao mesmo tempo, ingênua a pobre coitada nem notou que
estava caído em mais uma armadilha do destino ( vulgo amor , os dois são a
mesma coisa , sempre ferram com a gente) .
Todas as noites ela e ele conversam via internet (
como eu disse , sim já existia naquele tempo ) . Um tempo se passou e uma
proposta tentadora foi sugerida. Ele viria passar alguns dias no interior do
Rio Grande do Sul , se desse certo ela iria para o Rio de Janeiro junto a ele .
Topou , como eu disse , era ingênua.
Alguns dias depois lá estava ele, com as malas na
Rodoviária de Lajeado, como boa moça Andreia foi busca-lo, não, ele não era dos
mais bonitos, mas era gentil, carinhoso, educado ... A sensualidade não
importou naquele instante .
Os pais dela ( meus avós) gostaram do Mauro, parecia ser
bem sucedido, e além do mais morava no Rio de Janeiro. Tudo até em então estava
do bom e do melhor, aos pais lhe cabiam a ideia da filha deles passar a residir
no RJ, ficaram com certo medo mas cederam, lhes pareciam um futuro certo ...
Depois de uns três ou quatro dias , Andreia e Mauro
partiram para o Rio de Janeiro. A cidade maravilhosa era um mundo novo
para alguém que vinha do interior do RS , cada lugar novo para explorar ,
praias belas para conhecer e um transito infernal para enfrentar .
Ele morava no Leblon em frente ao mar , o apartamento era
vago de espaço, mas a vista era linda . Todo santo dia de manhã minha mãe
caminhava no calçadão do Rio , avistou famosos correndo na praia , e se
encantava cada vez mais com a cidade .
Mas ela também teria que ajudar nas contas da casa . O
aluguel estava atrasado, era caro pois o apartamento onde moravam era um dos
melhores do Leblon.
Uma empresa de anúncios virtuais seria montada, estava
tudo certo , a chances de dar certo eram as mesmas de dar errado .
O tempo passou e o negocio tinha andando e as crises de
casal chegado . Eles brigavam por tudo mas o principal assunto era o dinheiro,
e com a noticia de que eu viria ao mundo alguns dias de pois as coisas apenas
pioraram , mas meu suposto pai acima de tudo acompanhava minha mãe ao pré-natal
e essas coisas que gravidas tem de fazer.
Acho que ele seria um bom pai , queria poder conhece-lo,
talvez um futuro longe ou próximo pouco se sabe sobre o amanhã.
A noticia da gravidez surpresa de minha mãe não amenizou
as coisas , as brigas foram ficando mais frequentes e insuportáveis. Não tinha
outra saída , a não ser minha mãe voltar para casa e me ter na pequena cidade
do interior do Rio grande do Sul .
Como não havia outra saída , foi isto que ela fez . Voltou
para Lajeado em um dia que meu pai não estava em casa , pegou apenas algumas
coisas e se mandou dali .
Estava novamente em casa com os seus pais, e
preocupada com a chegada da mais nova habitante deste mundo redondo mas
quadrado ao meu ver. Depois de três meses as roupas deixadas no Rio de
janeiro voltaram para o lugar de nunca deveriam ter saído , as gavetas do
armário do quarto da casa dos Rabaiolli do bairro Americano da cidade de
Lajeado do estado do Rio Grande do Sul . Não se sabe a causa dele ter mandando
as roupas de minha mãe apenas três meses depois de sua volta para casa, talvez
raiva , talvez esperança , ou quem sabe não tinha dinheiro para mandar nem via
sedex os trapos de minha mãe .
“ [...] Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como esta , nem
desistir nem tentar agora , tanto faz , estamos indo de volta pra casa [
...] “ -
Por Enquanto ; Renato Russo .
Um comentário:
Putz!!! Tô chorando!!! Como essa professora teve a coragem de dar "B"????? Ela tem perspicácia, ironia, fluidez, estilo e personalidade no que escreve!! Vai botar a Pitinha no bolso ( e olha que sou fã nº 1 dela!!!)... Meu Deus, tomara que se torne uma "Jorge Amado" e não uma jornalista... e, se optar, ainda assim, em seguir a tendência da mãe, será, sem dúvida uma "Marianna Brum"... pq ela será única... amo tanto essa menina que tb é um pouco minha... ai, ai... babando total...
Dinda Rê
Renata Breier Porto
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