quinta-feira, 29 de março de 2012

Putinga não saiu de mim

Nasci um bebê rosado na meteórica Putinga. Virei ficção por conta do meu humor e bipolaridade. Sofri bullying pela origem da minha cidade e também pelo sobrenome. Na escola Érico Veríssimo, onde hoje o combate ao bullying é o mais intenso de Lajeado, me angustiei pela primeira vez: ela é de Putinga, então é a é putinha. E o pessoal ria sem dó. Criança é o ser mais inclemente que existe. E quanto mais a gente quer deixar passar esse momento, mais se o realça.


Minha angústia maior era em início de ano, quando tínhamos de nos apresentar. "Sou Andreia Rabaiolli". Tudo na cabeça de criança é alvo de troça. Rabo Mole. E lá iam-se os risos e o meu - amarelado - era lembrado em casa com lágrimas e raiva. Porco can, porque eu tenho de ter esse sobrenome italiano e porque minha mãe não correu para eu nascer em Lajeado?
Ó coitada, estranha no ninho de uma grande cidade - cá pensava eu com meus botões. Com o tempo fui me acostumado com o fato de ser de Putinga. Afinal, lá nasceu o Renato Zanella e caiu o meteorito. E também a Nona Pina e a Cinara, mais macho do que todos os campões de MMA juntos. Vítor Belfort tremeria de medo diante de Cinara, macha, mas cheia de peito e com filha grande.

Putinga é a cidade dos fenômenos. O meteorito desceu num dia de São Roque bem quando o padre discursava sobre o fim apocalíptico dos tempos. Veio aquele estouro dos céus, tibrummmmmmm e caiu aquele bloco gigantesco de pedra rolante. As pessoas se esconderam, mas depois, subversiva como só Putinga pode ser, os mais malandros trataram de captar alguns pedaços da pedra e guardar como tesouro. Foi assim que aquelas toneladas foram se espatifando uma a uma, dizimando-se nas casas putinguenses e daqueles que se diziam cientistas. Em nome da ciência, muita gente anda guardando cascalhos meteóricos. Apenas alguns poucos estão guardados para fazer jus ao Livro dos Recordes e no museu da Nasa.
Mais de 70 anos do fato e Putinga ainda se orgulha de ser a Cidade do Meteorito. Uma faixa bem grande lembra do fato: "Bem vindo a cidade do Meteorito".

Luan Santana ainda nao esteve lá, mas se fosse, seria um up na sua carreira. Putinga: meteoro da paixão. Saí de Putinga aos três anos de idade, mas não me livrei do jeito e do comportamento citatino. "Tu saiu de Putinga, mas Putinga não saiu de ti", diz meu chefe que rege minhas pautas, me dia e minha irritação.
Putinga, cidade subversiva, só perde em transgressão para Anta Gorda, município dos cachaceiros e daqueles que a todo custo tentam se livrar dos impostos federais. Bem feito para o Brasil que comprime o cidadão com tantos tributos. Há um nível de sinceridade em Putinga e Anta Gorda nunca visto antes em cidadãos brasileiros. São tão sinceros que chegam a comover. São tão sinceros que chegam a dizer que so roubariam pouco se tivesse no poder. Gente, isso é bom. Ninguém no poder rouba pouco. Só os putinguenses que corromperiam o mínimo possível, inclusive eu.
Pergunta-se a um cidadão de la: o que você acha de Putinga? Putinga é igual casco de cavalo, só cresce para baixo". Ah mas se é para colocar no jornal e se o prefeito está pagando, então bota coisa boa aí.
Putinga jamais viu o apocalipse com o meteorito, mas se valeu dele para se transformar em fenômeno. E quando Nona Pina era viva, foi personagem de muitas entrevistas. Agora, a cidade evadiu-se, os novos procuraram outros caminhos e os mais velhos revivem o passado. Quanto ao meteorito, um pedaço dele está guardado no cofre da prefeitura. E que alguém se atreva a roubá-lo, dio Madonna. Os putingueses, criados a polenta e a vinho, dão uma sova de laço. A Cinara principalmente, porca pipa.

Um comentário:

Anônimo disse...

Odeio quando de criança, há meninos tao malvados que fazem bullying. Isso deveria estar proibido e controlado por profissionais confiaveis como os professores da escola.