domingo, 1 de maio de 2011

Missão de paciência

A missão era passar 12 horas no Pronto Socorro. Doze horas é o período da jornada de um médico plantonista. Ele não tem um expediente de oito horas como todos os trabalhadores. As jornadas costumam ser de 12 ou mesmo 24 horas. Optamos por 12 porque tá de bom tamanho para duas jornalsitas cansadas como eu e a fotógrafa Lidiane Mallmann que aceitou de bom grado o convite para ficar comigo todo o tempo retratando tudo o que se passava dentro do serviço de emergência do Hospital Bruno Born.


A noite escolhida foi sexta-feira, por sugestão do coordenador do plantão, médico Fábio Fraga, um cara bacana, calmo e com uma equipe orquestrada, que sabe fazer todos os movimentos simetricamente calculados sem nenhum pavor. Essa história dos filmes, aquela correria histéria retratada nos anos 80, se não me engano na série Plantão Médico, é meio teatral.Nem dá para ter tanta correrria assim porque a maioria dos pacientes que estariam na sala de observação iriam infartar de susto. O jeito é manter a calma e Fábio Fraga treinou durante anos para manter a serenidade. Verdade seja dita, os enfermeiros e técnicos também. Eles são personagens que nunca aparecem como protagonistas nas histórias de salvamento, mas sua perícia é louvável. Esses sim ganham pouco: 900 reais por mês. Muitos enfrentam jornada dupla e chegam a trabalhar até 30 horas direto.
Mas bem, é tanta informação para contar, que logicamente não vai caber em uma reportagem, terei de fazer uma triagem das informações interessantes. Vou focar histórias de vida, gente aflita pela resolução de seu problema, medicos que nada podem fazer porque nao cabe a eles resolver o que o sistema nao resolveu. O sistema, ah, o sistema - é algo tão complicado, tão enigmático e tão simples. É um paradoxo que não se resume apenas ao Sistema Unico de Saúde. Estamos todos dentro de um sistema chamado Brasil, onde pouca coisa funciona para o usuário da saúde. As pessoas agonizam e o médicos (que ganham R$ 55 reais por hora) não querem mais serem plantonistas pela batelada de processos a que estão expostos, porque são o para-choque do sistema. Tudo reflete neles. Pessoas desgostosas, que esperam meses por uma cirurgia eletiva que o SUS deveria pagar, filhas apavoradas com a iminência da morte da mãe. Não é a pressão do trabalho que mata o médico, é a reclamação, a ineficiência do sistema.A impotência, estar de mãos atadas e ser culpado por isso.
Tem horas, que o médico deveria ser chamado de paciente. Porque tem que ter uma baita paciência com as pessoas alcoolizadas que chegam por volta das 5h da manhã. Elas balbuciam coisas incompreensiveis, muitas não querem ser medicados e demonstram impaciência em se manter ali para esperar o soro ou finalizar o tratamento. Ossos do ofício.

2 comentários:

brechodamuri disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Thiago Sturmer disse...

Muito bacana o trabalho. Parabéns às duas.