A vida é assim. A mulher engravida, fica sabendo que é menina, prepara o quarto com fitinha mimosa e sonha quão feliz será sua filhinha. Aí a Laura nasce. Paparicos, princesa prá cá, princesa prá lá. Os pais dando vazão ao tradicional dilema de que se existe princesa, há de se ter um príncipe. Um cavalheiro, gente fina, boa praça. Sõ não salva do dragão porque os bichos mais perigosos estão confinados no zoológico. Mão hão de tirá-la da solidão e do duro estigma, depois dos 30 de tiazona.
Então crescemos com esse paradigma. Desde a tenra idade as mamães, babás e tatas nos apregoam, com sutileza, através de fábulas uma bela vida. Elas estão nas histórias da Cinderela e da Bela Adormecida. O príncipe sempre está lá. Firme e forte, para salvá-la, como tem de ser um final feliz. Dormimos com isso na caxola.
A Sofia, boa guria, a Catarina, nobre menina, a Maria Eduarda, a danada, já crescem pensando que vão encontrar o seu.
Na adolescência, cheia de ruge e batom, permeia seus sonhos com filmes modernos. Na cadeira do cinema invejam a cena em que a mocinha cativa o cara sedutor - aquele Deus grego - e dá um big beijo de língua. Está selado o compromisso. The end.
Ao entrar prá faculdade percebe que as coisas não são bem assim. Uma olhada no jornal - da região mesmo - e a constatação: o censo diz que há 1390 mulheres a mais no Vale do Taquari. Outros tantos - não detectados no levantamento porque isso seria discriminação, segundo o IBGE - de hermafroditas, homossexuais.
Bom, é preciso campear um príncipe com isso que está aí. Então ela arregaça as mangas, olho no olho, mão na mão e despesas a rachar. Afinal, o princípe quer igualdade e isso começa ao jantar.
Ele também já não está muito disposto a esperar você entrar em casa para arrancar o carro e mostrar com quantos cavalos de aço se faz um cara bom de braço.
Você vai dormir com a sensação de um soco no estômago e com a comida que você pagou ainda entalada na garganta. Lembra do conto de fadas e verifica que conto de fadas tem esse nome porque é puro conto. 171. Mas as mulheres não desistem. Persistem. Querem o seu cavalheiro com escudo e bravos. Aguerridos. Mas sem máscaras. Querem um homerm para chamar de seu. Mesmo que não façam parte do clã da Távola Redonda. Mesmo que sejam galãs enrustidos, sem o glamour pintado na tela do cinema. Quem não tem Sir Lancelote, caça com pedreiro, bodegueiro, caminhoneiro...
Mesmo que seu príncipe nem seja corajoso para erguer uma lança, mas estóico o suficiente para atrelar sua mão à dela durante uma passeadinha no shopping...
Bravo o suficiente para chamarem-na de princesa em frente a seus iguais
Heróis o bastante para assumirem um único compromisso. Não estamos enclausuradas na torre do Castelo, não queremos o enfado de uma vida regrada e virginal sem emoções ou paixões..não queremos compaixões
Queremos sim um principe real. Mesmo que ele seja boy, metaleiro, pedreiro, padeiro, empresário, repórter ou picareta de carros. E para ser príncipe, não é preciso muito. Para nos salvar da boca do dragão, basta nos dar amor e afeto exclusivos. Queremos sentir-nos as princesas únicas. Será que é pedir de mais de um homem?
Então, por favor Deus, dai-nos sapos. Pelo menos assim a gente sabe como transformá-los em principes. Basta um simples ósculo. Um apenas.
Sim, porque com os homens de hoje, a gente beija, beija e não dá nada!
* Crônica escrita em 2003
Um comentário:
...porteiro, jardineiro, caminhoneiro, e outros eiros. Tenho uma amiga q diz q os melhores são os eiros. ahahahahahh
Beijo!
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