domingo, 26 de abril de 2009

Retirei do blog Páprica Doce e é um pensamento que compartilho:
"Aquilo que enxergamos nos outros e repugnamos, pois é exatamente o que temos de pior dentro de nós. Quando queremos fazer justiça com as próprias mãos, é porque temos que eliminar no outro aquilo que existe em nós. Por mais absolutista que Hobbes tenha sido em suas escrituras eis o legado: “Lê-te a ti mesmo”.Olhar para dentro de si e examinar o que estamos pensando é primordial para não cometermos injustiças, pois a sombra não é apenas uma sombra, é outro."

sábado, 25 de abril de 2009

O Umbigo do mundo

Na pequena cidade de Jerash, Adrastéia, do segundo andar do pequeno mas bonito shopping , vislumbrava a estátua de ferro incompreensível e contemplava o corredor abaixo, onde as pessoas transitavam e com feições alegres ou indiferentes ao ambiente, murmuravam umas com as outras seus pequenos projetos cotidianos de vida. Uma ida ao mercado, compras nas butiques enfeitadas ou simplesmente, sentar na praça de alimentação para uma conversa descontraída. Adrastéia percebia tudo isso e enquanto observava cenas rotineiras seu rosto era inescrutável para aqueles que não a conheciam.
- Eu sou um projeto que não deu certo - dizia ela mentalmente para ela mesma. Eu, um fracasso público. Como tudo pôde dar tão errado na minha vida? - Vociferava ela com a voz presa na garganta, sem emitir um unico som sequer.
Todos os sons estavam dentro dela. Adrastéia, que em grego quer dizer "Aquela de quem não se pode fugir", teve seu nome selado por seu destino. Há uma semana, ela pensara em se matar. Tirar a vida seria abreviar seu sofrimento psíquico, uma enfermidade mais da alma do que física. Ela sentia-se imensamente só. Seus relacionamentos eram velozes como a descarga de um trovão. Ela sentia que não fora suprida de beleza. Seu corpo era fora do padrão e os primeiros sinais de expressão envolta dos olhos começavam a enfear sua tez. Adrastea era articulada, formada em Filosofia na faculdade de Jerash, gostava de ler Nietzsche, André Comte-Sponville e Arthur Schopenhauer, filósofo com o qual se identificava e inoculava as lições de que a vida é apenas uma passarela para a morte. A morte, que brinca um pouco com sua presa antes de comê-la.
Ali, naquele templo de consumo, o maior da região de Decapolis, ela sentia sua solitude maior do que o complexo de compras e divagava, enquanto esperava sua filha Marahanna sair do cinema. Há nove anos, quando sua filha nascera em outra cidade, fruto de uma união relâmpago com um homem a quem nunca amou, Adrastéia decidiu chamar sua menina por um nome que lhe soasse suave e belo mas que também apresentasse algum significado. Decidiu por Marahanna porque julgava quem em hindu significava "caminho do mar".
Adrastéia se sentia ínfima. Sem nenhum atrativo e nem qualquer valor. Não percebia chamar atenção dos homens. Não, ela não chamava. Ela queria sair de sua pele, poder sentir que era desejada e mais do que isso, que conseguiria levar um relacionamentoa diante. Ela queria perceber que todo seu ser seria amado por um homem, alguém a quem ela elegeria. Mas nunca foi assim. Adrastéia não era a que rejeitava, era a que era enjeitada.
- Todas as vezes eu fui rejeitada. Sempre foram eles, os homens que me negaram. Por que minha vida deu errado? Por que tinha de ser assim?Talvez seja melhor que ao contrário de melhorar minha estima, eu a piore ainda mais, porque só então eu não terei mais a pretensão de ter alguém ou ser feliz. Porque eu estarei com a autoestima tão em baixa que não ousaria querer reerguê-la.
A Teoria de Adrastéia era simples. Quando você não pode solucionar um problema, quando algo é tão maior do que sua alçada, então você passa a ignorá-lo. Um mendigo não está preocupado com a devastação na Amazônia, porque este é um problema que foge de sua alçada. O dilema dele é apenas arrumar comida para se sustentar no dia seguinte.
Adrastéia pensava na sua solidão e nas questões de vida e de morte. E também julgava que talvez estivesse nesse estado de espírito há anos, por se achar o umbigo do mundo. Para os gregos, o umbigo é o centro do mundo- Omphalós. Adrastéia foi retirada de suas reflexões mentais com a chegada de Marahanna. As duas então rumaram para casa. Logo findaria o dia e a noite expulsaria o sol do horizonte. Com sua dor pungente ela haveria de encontrar uma perspectiva. Sufocaria suas dores na leitura.
- Ler me tira a dor do mundo - resumiria ela em um dos seus escritos.
Ela pensa em Schopenhauer e se sente uma fôlha sêca que oscila no ramo de uma árvore, e sabe que no outono, será sua próxima queda. Ela acredita que vá sucumbir, mas quando a vida a engole até o poço, ela consegue navegar. Singra por todas as grutas dentro de si. E sabe que não pode titubear. Sua vida árida pode não representar muito para ela mesma, mas existe uma filha a quem ela deve conduzir até a entrada da idade adulta. Talvez depois ela se permita pensar no repouso da alma. Talvez ela ainda possa ter tempo de ser feliz. Ela espera. Ela não espera. Ela desespera.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Hiato emocional




Tenha em mente que você tem um big terreno que está esperando árvores, flores e samambaias serem plantadas. No entanto, a área ainda é um trecho de terra seca e sem verde. Árida. Transfira esse terreno para dentro do coração. Esse vazio é o hiato emocional, aquele espaço que não tem jeito de ser preenchido, nem cenas românticas nem beijos enternecedores se vislumbram da janela da alma. Simplesmente porque não há ninguém na mente ou no vasto espaço cibernético para bancar o príncipe consorte de um coração que quer pulsar de forma mais forte. Nem na parte direita do cuore, nem na esquerda. Em nenhum dos ventrículos existe a menor menção de visualizar um mancebo. Que falta de enlevo. É chato voltar para casa depois de um dia cheio de trabalho e perceber que no lar, de pijama, você não tem mais nada a esperar. Vai tomar sua papinha dietética e vai dormir, sem os maravilhosos arroubos romanescos propagandeados pelos filmes de Holywood. Na sua cama box, que serve para dois corpos bem robustos, ninguém vai roubar a coberta ou te jogar para o canto. É a Síndrome do Berço Vazio. No hiato emocional você não chora por ninguém, não tem medo de ser traída, não se angustia com rompimentos, seu coração é igual a uma cratera: cheia de vácuo. Não há um cavaleiro-heroi. Tudo o que existe de grande e colorido é a imagem da tevê: é Faustão ampliando ainda mais a sua solidão, no domingão insosso.
FOTO: A Síndrome do Berço Vazio assola corações

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Esse mundo é Schopenhauer

O mundo se vislumbra em minha mente com uma clareza incrível: tudo o que eu li no budismo se descortina na visão de Schopenhauer. Comecei a me interessar pelo cara ao ler A Cura de Schopenhauer, de um autor que gosto muito Irvin Yalon, o mesmo que escreveu Quando Nietszche Chorou. Eu adoro essas "conversas" íntimas com essas obras porque é quando posso me familiarizar com uma filosofia simplificada. Filosofia aliada a psicanálise. Amo muito tudo isso, bem talvez seja uma visão meio Macdonalds de ver as coisas, mas eu prefiro me emparrurar de idéias filosóficas e engordar na mente do que abrir a bocarra prá ingerir um big mac e deixar a mente cheia de vácuo.
Voltando a Schopenhauer, o filósofo do pessimismo. Esse cara é tri. Absolutamente sem ilusões sobre a porcaria que é a vida, mas ele não diz isso de uma forma em que ele possa se vitimizar e achar uma droga esse mundo de dor, ele diz isso como uma constatação, assim como o budismo que fala que tudo é sofrimento, tudo é impermanente, e tudo passa. Schop reitera que tudo é movido a vontade, temos vontade de tudo. Somos movido a desejo, e no momento em que realizamos o desejo, ingressamos em um estado tedioso para dar vazão a novamente um outro desejo e assim tudo se sucede nessa eterna insatisfação cheia de vontades. Encontro nesse pensamento uma relação flagrante com Andre Comte Sponville, aquele que escreveu Felicidade, Desesperadamente. De uma certa forma, os pensamentos se complementam, se cercam de verdades e eu com meus sentimentos cheios de tédios e melacólicos vou formando a minha opinião de que a vida é isso mesmo: uma sucessão de preocupações até a morte. Temos de ter a preocupação prá nos livrarmos do tédio. Eis o que Schop diz:
"O quinhão de quase todos os homens durante sua vida resume-se em pesares, trabalho e miséria, porém, se tôdas as aspirações humanas se realizassem, como que se preencheria o tempo? O que preencheria sua vida? "

CONSIDERE ISSO
Todo desejo é sofrimento, pois é a expressão de algo que nos falta e de que necessitamos com urgência. E enquanto o desejo é infinito e eterno, a satisfação é limi-tada e breve - semelhante "a uma esmola dada a um mendigo, suficiente para para mantê-lo vivo hoje a fim de que a sua miséria ge prolongue no dia seguinte..." Do desejo satisfeito já nasce um novo desejo e alcançamos uma vez um estado de saciedade, surge o tédio, tortura igual à do desejo. Assim a vida é como um pêndulo que oscila entre o sofrimento e o tédio, e a nossa existência é "um negócio que não cobre as despesas..."

A DOR É UMA COISA POSITIVA
Vivemos inconscientes e desatentos: nossa atenção desperta no mesmo instante em que nossa vontade encontra um obstáculo e choca-se contra êle.

ELE DISSE
*A morte é vitoriosa, pois desde o nascimento esse é o nosso destino e ela brinca um pouco com sua presa antes de comê-la.

* Os reis deixaram aqui suas coroas e cetros; os herois, suas armas. Mas os grandes espíritos, cuja glória estava com eles e não em coisas externas, levaram com eles a sua grandeza.

BEM COLOCADA
Achei genial essa frase dele, de certa forma é assim que eu penso mesmo e igual a Schop, estou quase desistindo da ideia, ele resumiu de forma simples e sensacional o casamento em idade mais avançada. Seguinte: com a idade, Schop desistiu da ideia do casamento com pouco mais de 40 anos. Ele dizia: "Casar-se em idade avançada é como percorrer a pé três quartos da estrada, depois comprar uma passagem muito cara pelo trajeto completo". Hahahah
Eu digo: Casar-se na idade madura é como querer pagar o ingresso de uma balada as 3h da madrugada, o melhor da festa você já perdeu e tem de pagar o ingresso integral apenas pela última hora e meia de diversão. Não vale a pena!