Eu não sou feminista. Nem machista. Eu sou masculina e feminina. Já tive meus momentos frágeis, já tive meus momentos de rinoceronte. Ah quando estou com raiva viro uma jamanta. Mas sou uma jamanta mulher. Vá La que eu não sou muito delicada. Eu nem combino com lenços de sedas finos. Mas eu sou mulher. Na academia, me dão menos peso no leg press. E se eu ousasse, até usaria saias. Porque eu sou mulher. E os homens, são homens.
Eles não tem visão periférica, eles conseguem desenvolver músculos antes de nós, mas em compensação demoram muito mais para falar. Sendo assim, existe sim diferença entre os gêneros. Que diacho de igualdade entre sexos. Arre, eu fico arretada com esse enguiço na evolução feminina. Tudo começou quando elas queimaram sutiã em praça pública, em 1960, para protestar contra a opressão masculina. Desde então, não tivemos mais sossego. Hordas de mulheres empoderadas incitaram o protesto: temos direitos iguais. E toda calcinha se viu no direito de comprar essa briga. Vivemos um turbilhão de eventos que nos levam e obrigam a ser modernas, independentes, decididas e objetivas. Nunca mais tivemos direito de ser dependentes e frágeis emocionalmente. Eu quero meu direito de volta. Necessito ter um colo masculino, chorar, sentir-me protegida e de um homem que ajude-me a administrar as contas. Eu não sei usar cartão de crédito. Não sei se ele é de débito ou crédito. Burra às pampas. Nem quero que o homem pague, afinal tenho necessidade de ser parceira na hora de batalhar. Aliás, nem sei se quero homem. Mas quero ter o direito de se quiser tê-lo, saber que ele é parceiro. Mas putz, desejo que ele me diga: "amor, não esqueça, hoje vence o seu carnê, posso pagar a você." Eu nem exijo direitos tão iguais. Até porque com tanta evolução, ainda ganhamos 30 por cento menos na folha salarial para exercer a mesma e competente função no mercado de trabalho. Aqui no Vale do Taquari, nós temos de trabalhar oito dias a mais do que eles, suando a camiseta para igualar os salários.
Mas com essa lenga-lenga de: “você é mulher, não queria direitos iguais? Agora agüenta, vamos rachar a conta”, os homens pegaram no nosso calcanhar de Aquiles.
Eu não quero rachar a conta. Quero ser tão interessante para ele que ele não se importe de – pelo menos nas primeiras vezes, até estabelecer a conquista – pagar a minha parte. Careta? Ridícula? Estúpida? Insensata? Não. Mulher. Eu nunca vou ser igual as eles. Eu nasci com meus quadris largos demais. Faz parte do parto. Eu sou de Vênus, ele é de Marte. Quando se aborrecem, eles querem silêncio e solidão. Já entre elas, as preocupações resultam na matraca desenfreada, pois falando acalmam-se. O ego masculino é movido à base de conquistas - o feminino é pura emoção, ja segredou o escritor John Gray.
Quer uma prova de que os gêneros jamais se equipararão? Diálogo. A mulher fala uma coisa, o homem entende outra. Isso não significa que a gente não possa votar, ser delegadas, promotoras e presidentes.. Não significa que eles não possam trocar as fraldas de seus filhos e ajudar nas tarefas em casa. Afinal, o tempo das cavernas ja passou e eles já não caçam javalis a unha. E nem nós ficamos acocoradas fazendo “uh, uh” parindo filho sobres filhos. Nós nos civilizamos. Eu ate acho que a gente deveria ganhar salários iguais. Afinal, quando toca no bolso eu vou sempre puxar a brasa para o meu assado. Sou mulher, não sou boba.
Mas pôxa, com essa balela de direitos iguais eu preciso cair matando em cima de um macho alfa, porque assim se porta uma mulher independente. Eu, hein.Quero ter direito a usar lingerie de algodão bem simples e confortável. E vou te falar, eu uso calçola. Aqui na redação, todo mundo sabe e debocha da minha cara. Ou seria dos meus glúteos? Não suporto fazer o tipo mulher fatal, independente, autossuficiente que sabe insinuar-se perante rendas finíssimas e um bumbum irretocável, próprio para usar fio dental. Eu nem sei fazer direito baliza e que mal há nisso? É antropológico não saber. Não tenho a mesma percepção espacial dos homens. Sou mulher. Desde o mundo das cavernas é assim, porque agora eu preciso ser braço na direção. Pinóia. Não tenho essa obrigação. Quero ser tratada como rainha do lar quando estou no lar. Sim, adoro trabalhar fora, ser eficiente na minha função, não sou de forma alguma subserviente. Tenho minhas opiniões, muitas são contudentes.
Mas eu não quero ser super mulher todos os dias. E eu quero homem que chore, mas que troque o pneu do carro. Não precisa ser tão macho a ponto de gerar uma Maria da Penha. Hay que ser macho sem perder a sensibilidade. E eu, hey de ser mulher sem perder a dependência. Inha, meu nome é Mariazinha. Amélia da calçola grande. Eu troco meus dias de tigresa de unhas negras por uma pacífica existência de gatinha manhosa. Miau.