quinta-feira, 4 de março de 2010
A túnica da alegria
Fermenta em mim uma nova vontade de renascer. Depois de tantos meses me sentir um zumbi, sucumbindo a cada hora diária, o fel que dizimava minh"alma se esvai para o ralo. Dou o cano nele. Sinto subir, estou escalando o precipício. Alpinista de mim mesma, subo segurando as paredes. Emerjo da dor. Vestida de cor de rosa, saio parida da vida. Sacudida como a árvore forte, já não escuto mais o meu choro mudo. Não me cabe revolver as circunstâncias pelas quais volto a me reconstruir como pessoa. Mas sinto um baque. Uma estocada do medo que me atormenta sempre que saio dos braços da tristeza. Assalta-me a impressão de que não sei viver sem ela, essa melancolia, bile verde que se espraia e faz tocas no meu espírito. Juro juradinho que a alegria me desencoraja. Me deixa em frangalhos. Não sou íntima dela, portanto estou pouco a vontade com ela. Entre mim e a alegria, há um silêncio mordaz. Essa estranha que agora ousa se aproximar, me faz temer. Ela me abraça, eu afrouxo os braços. Temo possui-la. Esse pote de mel tão doce me embaraça. São fios de ouro que se deitam na palma da minha mão. Mas não ouso tocá-los. Pode ser uma tarântula pronta a dar o bote, a soltar seu veneno. Tenho medo de despencar da árvore da alegria. Ficar no raso não produz tombo. A tristeza é rasa, opaca, mas quem cai, daí não passa. Queria me sentir amada pela alegria, inoculo o desejo de deixá-la me abraçar. Mas meu medo é mórbido. Sou um aborígene fugindo dela. Preciso vir a tona, a civilização. Que meu coração se amanse, que eu termine me desprendendo da rede da tristeza, que ouça o canto da consolação. Que a alegria jogue pedrinhas em minha janela. Que ela seja meu cachecol no inverno, minha esteira no verão, minha túnica em noites de gala.
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