
Há algo de desafiador em se dispor a entrar na pele de um gari. Uma noite antes de eu ter de acordar de madrugada, me sentia nervosa e até cansada, só de pensar que eu teria de varrer ruas por seis horas ininterruptas, mas para imergir jornalisticamente, seria esta a minha peleja. Eu havia relido um resumo da tese de um psicólogo social, em que ele argumenta que as pessoas são percebidas mais pelas suas carreiras do que propriamente pelo "ser" e quem exerce certos trabalhos considerados subalternos se tornam meras "sombras social". Junto com os colegas de vassoura, me surpreendi por ter recebido sete "ois" de pessoas que me reconheceram. Mas eu via que eles viam a mim, depois de me identificarem e percebi que os garis realmente eram vistos, mas não enxergados, como se fossem transparentes, como se o uniforme verde os colocasse nivelados aos postes, como se fossem iguais as árvores. Mas eles adoram se sentir gente, e sentem isso cada vez que uma pessoa passa e diz "bom dia".
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