Estou lendo a biografia de Sartre e Simone de Beauvoir, me encanto com a vida intensa, inteligente e despudorada dos dois. De uma certa forma, a biografia é um alento para minha alma, porque mergulhando dentro das vidas deles eu percebo como eles eram solitários. Quantas caminhadas solitárias ela passava percorrendo pelas ruas de Paris, e ele, quão feio era e quão humano, quando começou a dar os primeiros sinais de calvície, aos 30 anos, se apavorou. Meu tempo divisor do paraíso foi aos 37 anos. Nunca vou esquecer da primeira sobrancelha branca, estou batendo na porta do inferno e este é o meu sinal tangível de velhice.
Mas voltando a Sartre e Simone, lê-los traz um alento, porque como eu me sinto tão solitária, percebo nele meus próprios sinais vitais. Foi Sartre mesmo quem disse que o "homem está só em sua solidão visceral". E Eu dentro de mim, entendo isso perfeitamente. A solidão é uma dor-pedrinha-de-sapato, está sempre ali cutucando e ganindo mas nunca dá o golpe final de ser uma estocada mortífera. Penso agora que todos os grandes pensadores eram sós dentro de si, viviam no mundo das idéias, casavam com o planeta dos pensamentos e não se adequavam a vida da sociedade. Mas eu, como não virarei nenhuma grande escritora, não tenho pretensos planos de escrever minhas idéias e vãs filosofias copiadas das mentes dos grandes, não encontro nenhum alento. Estava pensando, de certa forma, a solidão só é recompensada com a possibilidade de você ser famoso por causa dela ela. Grandes pensadores são solitários. A mim ela não compensa, mas me apraz saber que não estou sozinha vivendo minha solidão nas vísceras. Mais gente a sente e sentiu lhe imbuiu de vida. Eu sinto ela durante toda minha existência. Solitude, minha companheira de estrada. Minha parada obrigatória. Meu pedágio recorrente.
Brinco com a idéia de que um dia alguém possa vir a escrever minha biografia, baseando no que eu deixo nesse blog. Quem sabe, a idéia não é de todo má. Nesse caso, estou contribuindo agora com meu biógrafo, deixando marcado o quanto a solidão me mutila a alma.
*** "Sou muito inteligente, muito exigente e muito engenhosa para alguém se encarregar completamente de mim. Ninguém me conhece nem me ama completamente. Só tenho a mim"
*** "Eu gostaria muito de ter o direito, eu também, de ser simples e muito fraca, de mulher. Em que mundo deserto eu caminho, tão árido, só tendo o oásis de minha auto-estima intermitente!
(Simone deBeauvoir)
*** Momento narciso
"Um dia, quando eu morrer, quero que meus escritos venham à tona. Essa é minha vingança pessoal contra essa solidão a quem considero uma derrota pública e também íntima.
Um comentário:
Não entra na paranóia desses escritores malucos. A vida é otima, é maravilhosa. Só temos que ter um pouco de paciencia.Estamos solitários hoje, mas isso passa tudo passa e o brilho da vida continua.
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