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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Pentelhas inteligentes


Nunca tive instinto materno. Jamais pensei em ter filhos.  Ah, deixem-me ser politicamente incorreta. E insintivamente incorreta. Não sigo a cartilha do espermatozoide vencedor.
 Eu achava que eu era uma pessoa desse modelo econômico. Mas Marianna veio há 12 anos sem planejamento e após eu ter engordado 31 quilos. Sim, eu estava uma leitoa e mãe solteira, não é assim tambem, eu morei com o pai dela no Rio de Janeiro. Bem, pelo menos foi no Rio. As tramas que o destino tece sem que a gente se de conta. Descobri o instinto oculto.

As crianças são lindas e pentelhas. Faz parte do encanto pueril. Quando nascem, é mentira que possuem “cara de joelho”. Sempre fico procurado o joelho nas feições dos bebês e nunca encontro. É verdade que para mim, os bebês são parecidos aos chineses: todos quase iguais. Mas não, joelho não. Joelho não tem cabelo e a maioria dos nenéns que vi ultimamente são bem cabeludos.

Mas o bebê cresce e utiliza a lógica. Eu fico impressionada com a inteligência e o sarcasmo contido em algumas respostas infantis. Penso: “porque não pensei nisso”. Se você quer uma resposta sarcástica, pergunte a um baixinho. Ele te diz ironias na cara sem pestanejar. Você permanece sem reação imaginando que a resposta seja fruto de uma santa inocência. Balela. Criança tem outra por dentro. E todas elas loucas para espetar o tridente. São extremamente voluntariosas, até as mais mansinhas. Só dá entrevista para quem acha “vai com a cara”. Só pode. Não é possível tanta indiferença comigo. Estou tendo uma espécie de rejeição infantil.

Aconteceu primeiro no plantio de árvores em Arroio do Meio. Ele tinha nove anos e estava com enxada na mão, todo disposto a colaborar com o Meio Ambiente. Eu cheguei com microfone:

- Aha, um garoto gremista. O que tu ta achando de plantar mudinhas?

- Sim, eu sou gremista.

- Mas me conta, porque tu estás plantando mudinhas?

- Não sei.

Insisti mais um tempo. Como não se tira leite de pedra, desisti:

- Está certo. Vai plantar então!

O segundo encontro com criança-entrevistada ocorreu meia-hora depois, na Expowink, interior de Estrela. O colega Rodrigo Nascimento foi junto e encontrou um garoto super fofo, de 8 anos que deu a ele respostas ótimas. Cheguei quando o menino dizia: “nesta idade a gente ama os animais.”

Achei a resposta fantástica. Gritei ao cinegrafista:

- Neto, vem até aqui. Agora sim, achamos um garoto que fala.

Virei-me para o garoto, ajeitei o microfone e disse: Diga exatamente o que tu falou agora.

Ele:

- “Me esqueci”

Eu: mas eu vou te lembrar: “nesta idade a gente ama os animais”. Diga isso.

Ele

“Te falei que me esqueci”.

Rodrigo veio para ajudar. Diga o que tu disse para mim:

-“Me esqueci”

A mãe, interferiu:

- Diga: “nesta idade a gente gosta dos animais”

“Me esqueci”

O garoto só podia estar zoando com a minha “canopla”. Crianças! Um jeito particular de dizer a verdade. Se o mundo fosse assim, aprenderíamos com a transparência. Mas aí nem os adultos me dariam entrevistas.

Sou aprendiz de lições infantis.