terça-feira, 20 de maio de 2008

Carente irremediável

Estou sentada sentindo o tec tec dos teclados, quando escuto uma frase inspiradora no meio da redação: "Quanto mais velhas são as mulheres, mais fácil elas se entregarem (sexualmente falando). Isso é pura carência". A frase foi dita em um momento descontração, em meio a papos de repórteres desferida por uma mulher. MULHER. (Casada, é claro). Pelo fato de ela repercutir uma sentença que vai de boca em boca, subentende-se que não sinta carências (du vi do). Que privilégio. Eu sinto, sou uma carente irremediável. Eu estou sempre carente. C-A-R-E-N-T-E. Ah eu assumo essa faceta tãooooo tenebrosa que me faz ser repudiada. A carência é a lepra dos relacionamentos. Tripudiamos de quem é carente. As nossas necessidades sempre não guardadas na última gaveta da penteadeira. Elas não podem aparecer. Soltá-las da gavetinha interna é anunciar a confusão. Carência não combina com marketing pessoal. Inadmissível. "Ma per che, Dio Santo?". É meu sangue de italiana que fervilha. Carência não é crime e nem pode ser vista num tom tão degradante. Simplesmente é ..."falta de". Olhem no Google, peguem o amansa burro. Aurélio ou Houaiss. Não é feio ser carente. Brega é não ter sentimentos. Não conseguir nem sentir carência porque não se sente nada, isso sim é falta de alma. Viver encaixotado. Quadrado. Privado de suas sensações. A carência mostra uma parte que deve ser suprida. Ela existe para podermos lutar, correr atrás e tentar saná-la. Ela está aí para podermos incitar nosso espírito de luta. Fugir de uma pessoa carente porque ela pode ser pegajosa é o "ó do borogodó ". É a fuga de si mesmo. (Eu aposto, APOSTO, que todo mundo tem carências, por mais acanhadas que sejam). Quando pudermos começar a assumir nossas carências, será um passo adiante para iniciar a preenchê-las. Tão simples como Ivo viu a uva. Viu, gente!

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